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Opinião

Samuel Escobar: “Sejam meus imitadores” - fotografias de uma biografia

Lamento. Samuel Escobar (1934-2025)

Por Valdir Steuernagel

Pode até parecer estranho, mas tem textos bíblicos que parecem ficar numa atitude de espera até encontrarem um lugar para se aninhar dentro de nós. E, uma vez aninhados, eles exalam sentido. Assim aconteceu com um desses textos no qual Paulo se coloca, de maneira explícita, como referência no seguimento a Jesus, dizendo aos “difíceis crentes” de Corinto que deveriam ser imitadores dele como ele é de Cristo (1Co 11.1). Noutra ocasião ele diz aos receptores da carta que está lhes enviando Timóteo, “o qual lhes trará à lembrança a minha maneira de viver em Cristo Jesus”, apontando para a coerência entre o que ele vive e o que ele ensina “por toda parte, em todas as igrejas”, repetindo “suplico-lhes que sejam meus imitadores” (4.16-17).

Ainda que em nossa cultura evangélica costumemos afirmar que não devemos olhar para as pessoas, mas para o próprio Jesus quando falamos sobre segui-lo, a súplica de Paulo encontrou ninho dentro de mim quando escrevi um recente tributo a Samuel Escobar, que já está em sua nona década de vida. Não espero que você saiba quem ele é, mas espero que, juntos, entendamos um pouco do que Paulo queria dizer à medida que falo da influência de Samuel em minha vida.

Eu tinha 21 anos quando o encontrei pela primeira vez, e no decorrer do tempo tive várias oportunidades de encontrá-lo, ciente de que estava sendo discipulado por este caminhante da vida e da missão. Um caminhante que não poupava nem “sola de sapato” nem “tempo de cafezinho” para me ensinar a seguir e a servir a Jesus Cristo, modelando-me com sua própria vida.

O primeiro encontro se deu em 1972, numa pequena cidade argentina chamada Villa Maria, onde passei um mês sentado aos seus pés. Com sua generosa e sorridente presença, Samuel ensinou na ocasião a um pequeno grupo de estudantes de diferentes lugares da América Latina que seguir a Jesus Cristo significava compromisso e conhecimento. Samuel era um evangelista de estudantes universitários e para isso investia enorme tempo aprendendo o que os estudantes estavam aprendendo para melhor se comunicar com eles. Com Samuel aprendi que, na missão, era preciso querer aprender para poder encontrar o outro.

Isso se mostrou na prática quando o encontrei pela segunda vez, então com 24 anos, participando de um programa de formação de líderes estudantis latino-americanos na cidade de Lima, no Peru, em 1975, também por um mês. Recém-formado em teologia e iniciando meu ministério estudantil, eu estava ávido por aprender, e Samuel nos levou à famosa Universidade Nacional Maior de São Marcos – que, na época, respirava o ar da expectativa revolucionária e o alimento prioritário era a ideologia marxista; como cristãos, tínhamos o interesse de estabelecer contato missional com os estudantes locais. Acompanhados por Escobar, vimos que ele sabia o que fazia e tinha clareza quanto ao que desejava. Ele era respeitoso e cuidadoso no contato com os estudantes e tinha feito seu dever de casa, isto é, havia se especializado no conhecimento da doutrina marxista para poder conversar com os estudantes que abraçavam essa ideologia. Com Samuel aprendi que missão se faz assim: com graça, com respeito e com conhecimento.



Num dos finais de semana, no decorrer daquele primeiro encontro em Villa Maria, pegamos a estrada rumo a Córdoba, onde ele morava na época, e vimos na prática que a fé cristã, para Escobar, se expressava como casa aberta e a missão se vivia como família, algo que Silêda e eu buscaríamos integrar em nossa vida. Com ele aprendemos a simplicidade da vida e a dimensão familiar do ministério, vindo a conhecer sua esposa, Lilly, e a saber que seus filhos se chamavam Lilly Ester e Alejandro.

Samuel foi um líder global dentro do mundo cristão, como expresso em sua palestra no icônico Congresso Mundial de Evangelização, realizado em Lausanne, em 1974. E foi como um líder assim que foi abrindo caminho para pessoas mais jovens como eu irem encontrando o seu lugar no seguimento a Jesus, vindo a compor uma mesa onde houvesse espaço para a mulher e o homem, diferentes etnias e vários saberes no mútuo compromisso de uma fé integra, inteira e relevante, em consonância com o que o próprio Jesus viveu e ensinou.

Assim como houve uma primeira vez, houve uma última; e este encontro aconteceu em 2017, na Espanha, quando ambos fomos preletores num encontro que celebrava os 500 anos da Reforma Protestante. Então, nos perdemos na noite madrilenha. Após o término da programação do dia, nós dois decidimos caminhar até o hotel e nos perdemos, até que uma alma generosa nos encontrou e nos levou até o hotel. A noite acabou bem, apesar da minha preocupação, pois estava ao lado de um octogenário.

Naquele encontro, bem recordo, fiquei impressionado com a reverência e o carinho com que a liderança local aproximava-se de Samuel. Ele era peruano, mas ali era espanhol por adoção. Era um deles, vivia como eles e com eles buscava os melhores e necessários caminhos para a vivência de uma missão encarnada, bonita e inteira. Então eu percebi que ele continuava a ser o mesmo discípulo de Jesus, modelando outros, eu entre eles.

Obrigado, Samuel! Ao discernir o seu papel em minha vida, você até me ajuda a entender Paulo quando desafia os coríntios a aprenderem a seguir a Jesus olhando para a vida dele. Assim você fez comigo. Façamos o mesmo com outros. Paulo abriu o caminho.

  • Valdir Steuernagel é pastor luterano, membro da Comunidade do Redentor, em Curitiba, PR, e embaixador da Aliança Cristã Evangélica Brasileira e da Visão Mundial. Editor do livro Caminhos de Um Evangelho Integral, publicado pela Ultimato. @silva.steuernagel.


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O mal e o Maligno existem. E precisamos recorrer a Deus, o nosso Pai, por proteção.

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É disso que trata a matéria de capa da
edição 413 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.

Saiba mais:
» Caminhos de Um Evangelho Integral - Um Roteiro Teológico, Valdir Steuernagel [editor]
» Os pioneiros falam sobre missão integral, Prateleira

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