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Opinião

Fé, perdão e esperança em meio à perseguição na Nigéria

Quando você age com amor, as pessoas começam a perceber que o amor é mais forte que o rancor

Por Marcelo Santos

Entrevista 

Fred Williams, 56, pastor, atualmente residente em Londres, compartilhou sua jornada dolorosa e transformadora durante a celebração dos 70 anos da Portas Abertas. Com um relato vívido das dificuldades enfrentadas na Nigéria, Fred detalhou como a fé e o perdão têm sido forças poderosas, tanto em sua vida quanto na vida dos cristãos perseguidos na região.

Ultimato: Pastor Fred, sua jornada na Nigéria é marcada por muita resistência. Como você começou sua missão no país e o que o motivou a continuar, mesmo diante de tanta violência?

Fred Williams: Minha jornada missionária começou nos anos 90, após ser ordenado pastor em 1993. Desde o início, me envolvi na plantação de igrejas no norte da Nigéria, uma região marcada por violência e divisão religiosa. Joss, a cidade onde vivi, era um alvo constante de ataques, principalmente nas décadas de 90 e 2000, devido à forte presença muçulmana. Apesar disso, eu sentia que a missão de espalhar o Evangelho era maior do que qualquer medo. Sabíamos que a perseguição estava ao nosso redor, mas nossa convicção era de que a palavra de Cristo precisava ser ouvida.

Ultimato: Em 2001, sua igreja foi atacada. Pode nos descrever o que aconteceu e como isso impactou sua visão sobre a missão e a fé?

Fred Williams
: Em 2001, nossa igreja foi atacada por militantes. Eles chegaram gritando "Allahu Akbar" e rapidamente começaram a incendiar tudo. As igrejas e as propriedades cristãs. Quando vi o fogo e o caos, peguei um rifle, pronto para defender minha família e minha comunidade. Mas naquele momento, Deus me falou: "Em quem você quer atirar, Cristo morreu por eles também". Isso mexeu profundamente comigo. Como poderia eu agir com violência em nome de Cristo? Foi um momento de grande crise espiritual. A decisão de não revidar, apesar do medo e da dor, foi difícil, mas foi a vontade de Deus.

Ultimato: Como você lidou com o trauma e a dor após o ataque, e o que o manteve firme na fé?

Fred Williams
: Lidar com o trauma foi difícil. Vi cenas que não consigo esquecer: crianças decapitadas, homens eviscerados e mulheres queimadas vivas. Isso nos marca profundamente. No entanto, o ensinamento de Cristo me sustentou. Sabia que não podia deixar o ódio tomar conta do meu coração. Deus me orientou a não usar a arma, mas a câmera. Decidi documentar o que estava acontecendo para que o mundo visse a realidade da nossa dor. Isso se tornou uma maneira de trazer luz ao mal que estávamos vivendo.



Ultimato: Você tem uma história significativa sobre a sua interação com os pastores Fulani. Quem são os Fulani e como o perdão e a reconciliação se tornaram parte do seu trabalho com eles?

Fred Williams: Os Fulani são um grupo étnico muçulmano, predominantemente nômade, que tem sido responsável por muitos dos ataques a comunidades cristãs na Nigéria. Eles têm invadido vilarejos cristãos, destruindo propriedades e matando famílias. No entanto, após viver toda essa violência, eu senti o impulso de agir de forma diferente. Decidi visitar as vilas Fulani e levar ajuda prática. Instalamos painéis solares em vilarejos para que as pessoas pudessem carregar seus celulares, já que muitos desses locais não têm acesso à eletricidade. No começo, eles estavam muito desconfiados, pois nós, cristãos, éramos os inimigos deles. Mas com o tempo, o relacionamento foi mudando, pois oferecemos algo sem esperar nada em troca. Hoje, estamos começando a construir uma escola para as crianças Fulani. Esse processo de reconciliação e perdão é o que tem o poder de quebrar o ciclo de ódio. Quando você age com amor, as pessoas começam a perceber que o amor é mais forte que o rancor.

Ultimato: A perseguição religiosa na Nigéria continua a aumentar. Como você vê a situação atualmente e o que pode ser feito para ajudar os cristãos que enfrentam esse sofrimento?

Fred Williams: A perseguição nunca foi tão violenta. Grupos como Boko Haram e os pastores Fulani continuam a atacar e matar cristãos, destruir vilarejos e deslocar famílias. A situação está muito mais grave. Mas, apesar disso, a Igreja na Nigéria continua a crescer. Eles não desistem. Mesmo em face da morte, eles se reúnem, oram e continuam a confiar em Deus. O que precisamos agora é de mais oração e apoio internacional. A Portas Abertas tem sido essencial nesse apoio. Continuar a documentar essas atrocidades e fazer com que o mundo saiba o que está acontecendo é fundamental para que a situação não seja ignorada.

Ultimato: Qual é a sua mensagem para os cristãos no Brasil e para todos que acompanham o trabalho da Portas Abertas?

Fred Williams
: Minha mensagem é clara: não podemos nos calar diante do sofrimento dos nossos irmãos. Os cristãos perseguidos precisam da nossa voz e das nossas orações. Não podemos nos afastar enquanto nossas irmãs e irmãos estão sendo mortos e torturados por sua fé. A missão da Portas Abertas é vital, e todos devemos continuar a apoiar os cristãos perseguidos em qualquer parte do mundo. A luz de Cristo brilha nas trevas, e onde a luz brilha, as trevas não podem prevalecer. Se nos unirmos, podemos realmente fazer a diferença na vida desses cristãos.
  • Marcelo Santos é jornalista e escritor. Trabalha também como ghostwriter e possui passagens por diversos veículos evangélicos e seculares. Atualmente produz e faz as reportagens do programa de rádio Papo de Crente, veiculado, entre outras emissoras, na Rádio Nacional.

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Saiba mais:
» Sangue, Sofrimento e Fé – a missão cristã em contextos de perseguição, Antonia Leonora van der Meer | William Taylor | Reg Reimer, ORG.
» O Mundo – uma missão a cumprir, John Stott e Tim Chester
» Um sobrevivente dos ataques do Boko Haram. “Marcado por ser cristão”, Entrevista
» Programa de atendimento a crianças da JMM é atacado por terroristas na Nigéria, Notícia
» Como devemos responder à perseguição de cristãos?, por Yousaf Sadiq

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