Opinião
28 de outubro de 2025- Visualizações: 1825
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Brasil, celeiro de missões: reflexões sobre um modelo contextualizado e brasileiro de fazer missões
Por Silas Tostes
10º Congresso Brasileiro de Missões
Escrevo a partir do contexto da Missão Antioquia (MA), a primeira agência missionária interdenominacional transcultural brasileira – antes dela, já existiam outras agências, mas essas eram denominacionais.
Nos anos 1970, a MA surgiu no Seminário Presbiteriano Renovado, em Cianorte, Paraná, sob a inspiração do ministério da missionária Barbara Burns. O objetivo era desafiar a igreja brasileira, que contava com cerca de 6 milhões de membros e se destacava na evangelização nacional, pois crescia – e ainda cresce – no Brasil. Contudo, a evangelização de outros povos e culturas era vista como uma atividade reservada aos cristãos ocidentais, que possuíam mais experiência e recursos.
Faltava à igreja brasileira uma fundamentação bíblica e informações globais que a levasse a crer que a missão redentora de Deus em Jesus envolve a evangelização mundial, incluindo, portanto, a atuação em outras culturas.
Foi exatamente na década de 1970 que o Congresso de Lausanne, em 1974, desafiou o Sul Global, então chamado de Terceiro Mundo, a se engajar na evangelização mundial. O Pacto de Lausanne, em sua introdução, define esse propósito: “Cremos que o evangelho é a boa notícia de Deus para todo o mundo, e estamos determinados, por sua graça, a obedecer à comissão de Cristo de proclamá-lo a toda a humanidade e fazer discípulos de cada nação”.
Evidentemente, nossa proclamação do evangelho deve andar de mãos dadas com ações de misericórdia, pois refletiremos melhor o amor de Deus em salvar por meio de Jesus.
O desafio transcultural de Lausanne 1974 foi apresentado por Ralph Winter. Em sua plenária intitulada “A mais alta prioridade: evangelismo transcultural”, ele demonstrou que a tarefa da evangelização mundial estava longe de ser concluída. Naquela época, havia cerca de 13 mil etnias, chamadas por ele de “povos não alcançados”, que ainda não haviam sido evangelizadas. Winter destacou que a maior barreira não era geográfica, mas cultural.
Nesse contexto, nos anos 1970, pós-Lausanne 74, surgiu a Missão Antioquia, com foco em missões transculturais. Não apenas a MA, mas também novas agências missionárias emergiram em todo o Sul Global. A história mostra que, entre os anos 1970 e 2025, houve um mover missionário de Deus no mundo.
Paralelamente, as agências do mundo ocidental e as agências denominacionais brasileiras também cresceram nesse período, assim como o número de evangélicos no Brasil e no mundo.
Em outubro de 2025, por ocasião do 10º Congresso Brasileiro de Missões, o Centro para o Estudo do Cristianismo Global (Center for the Study of Global Christianity – CSGC), sediado no Seminário Teológico Gordon-Conwell, nos Estados Unidos, estima que o Brasil possua 38 mil missionários, sendo a segunda maior força missionária mundial. Essa estimativa inclui católicos e grupos que, de modo geral, são considerados seitas por nós evangélicos.

O texto acima demonstra que a MA não surgiu em um vácuo histórico. Tanto a igreja brasileira quanto o movimento missionário brasileiro foram desafiados e inspirados pela força missionária ocidental, que já havia “inventado várias rodas” que não precisavam ser reinventadas. Que “rodas” são essas que agora também as giramos?
No nosso caso, operamos a partir de nosso modus operandi, com um DNA genuinamente brasileiro. Quais são nossos pontos fortes? Veja a seguir.
Mobilização. Envolve visita a igrejas e publicação de livros, como Cartas que Vêm de Longe, Filhos Longe da Pátria, Islamismo e a Trindade, Islamismo e a Cruz de Cristo, Jihad e o Reino de Deus e Jornada pelo Cuidado Integral: análise histórica e contextual do cuidado integral dos missionários segundo uma perspectiva brasileira.
Para mobilizar, também organizamos a Conferência Missionária Anual para adultos e a Conferência Missionária para jovens, ambas realizadas em novembro, no Vale da Bênção. Essas conferências contam com a participação de missionários experientes que compartilham relatos sobre igrejas e projetos nos campos missionários, servindo como fonte de inspiração.
Treinamento. É no treinamento que o candidato pode discernir: “Sou chamado ou não? Quero seguir em frente ou não?”. Se decidir prosseguir, não o fará por romantismo ou idealização irreal da obra missionária. Irá ao campo com os pés no chão, ciente da importância de aprender a língua e a cultura, adotar uma postura de servo e focar na formação de líderes e discípulos.
O treinamento não é apenas intelectual. Os candidatos, que vêm de nossas famílias e igrejas, muitas vezes trazem consigo experiências de recuperação de dependências, lares desestruturados, crises existenciais ou sexuais. Além do treinamento transcultural, oferecemos oração, aconselhamento bíblico, testes e acompanhamento psicológico. Embora não seja o objetivo principal, muitos testemunham, ao final, que foram curados espiritualmente e emocionalmente ao longo do Curso de Preparo Missionário.
No treinamento, formamos fortes vínculos, que incentivam o futuro missionário a amar e a perseverar no chamado, em parceria com a MA e a igreja enviadora.
Nosso currículo inclui:
Fase 1: teologia da vocação, revisão teológica, teologia bíblica de missões, antropologia cultural, história de missões, contextualização missionária, comunicação transcultural, islamismo, plantação de igrejas e fenomenologia da religião.
Fase 2: caráter do obreiro, perfil psicológico, trabalho em equipe, introdução à linguística, programa de imersão cultural, vida do missionário, elaboração de projetos sociais, captação de recursos, esporte em missões, segurança do missionário e workshops (batalha espiritual, negócios em missões, comportamento social e desenvolvimento comunitário).
Envio: No envio do missionário ao campo, fortalecemos os laços com a igreja enviadora e com os familiares. Nessa fase, assinamos o termo de compromisso, a declaração de vontade e elaboramos o plano ministerial, em conjunto com o missionário, com a igreja enviadora e com um representante da família. Enfatizamos que a MA não substitui a igreja enviadora, mas existe para servi-la.
Acompanhamento no campo: Nos primeiros anos no campo, o missionário é acompanhado regularmente por meio de videochamadas, recebendo encorajamento para perseverar.
Ao longo de todo o processo de mobilização, treinamento, envio e cuidado, Jesus – sua pessoa e obra – é o nosso fundamento, tendo as Escrituras como nossa regra de fé e prática.
Ao Senhor toda honra e glória!
REVISTA ULTIMATO - A IGREJA EM MISSÃO
Ultimato celebra a igreja em missão, a missão da igreja e o movimento missionário brasileiro, cuja história é quase tão longeva quanto a do Brasil.
Ao longo de mais de 10 páginas, o leitor vai encontrar parte das palestras do 10ª edição do Congresso Brasileiro de Missões (CBM 2025), que aconteceu em outubro, em Águas de Lindóia, SP, e lerá, no "Especial", um painel com uma avaliação ampla e crítica do movimento missionário brasileiro.
É disso que trata a edição 416 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» O Mundo - Uma missão a cumprir, John Stott e Tim Chester
» Casas de Chá - As Mulheres do Distrito da Luz Vermelha, Shine Lee
» Igreja em perigo: o reino de Deus nos locais mais hostis ao evangelho, por Marco Cruz
» Perspectiva Bíblica do Cuidado Missionário - resenha, por Raquel Villela Alves
» “Eu não sei fazer nada; só organizar eventos”, por Lissânder Dias
» 10ª edição do Congresso Brasileiro de Missões (CBM) chega ao quarto dia, Notícia
10º Congresso Brasileiro de Missões
Escrevo a partir do contexto da Missão Antioquia (MA), a primeira agência missionária interdenominacional transcultural brasileira – antes dela, já existiam outras agências, mas essas eram denominacionais.Nos anos 1970, a MA surgiu no Seminário Presbiteriano Renovado, em Cianorte, Paraná, sob a inspiração do ministério da missionária Barbara Burns. O objetivo era desafiar a igreja brasileira, que contava com cerca de 6 milhões de membros e se destacava na evangelização nacional, pois crescia – e ainda cresce – no Brasil. Contudo, a evangelização de outros povos e culturas era vista como uma atividade reservada aos cristãos ocidentais, que possuíam mais experiência e recursos.
Faltava à igreja brasileira uma fundamentação bíblica e informações globais que a levasse a crer que a missão redentora de Deus em Jesus envolve a evangelização mundial, incluindo, portanto, a atuação em outras culturas.
Foi exatamente na década de 1970 que o Congresso de Lausanne, em 1974, desafiou o Sul Global, então chamado de Terceiro Mundo, a se engajar na evangelização mundial. O Pacto de Lausanne, em sua introdução, define esse propósito: “Cremos que o evangelho é a boa notícia de Deus para todo o mundo, e estamos determinados, por sua graça, a obedecer à comissão de Cristo de proclamá-lo a toda a humanidade e fazer discípulos de cada nação”.
Evidentemente, nossa proclamação do evangelho deve andar de mãos dadas com ações de misericórdia, pois refletiremos melhor o amor de Deus em salvar por meio de Jesus.
O desafio transcultural de Lausanne 1974 foi apresentado por Ralph Winter. Em sua plenária intitulada “A mais alta prioridade: evangelismo transcultural”, ele demonstrou que a tarefa da evangelização mundial estava longe de ser concluída. Naquela época, havia cerca de 13 mil etnias, chamadas por ele de “povos não alcançados”, que ainda não haviam sido evangelizadas. Winter destacou que a maior barreira não era geográfica, mas cultural.
Nesse contexto, nos anos 1970, pós-Lausanne 74, surgiu a Missão Antioquia, com foco em missões transculturais. Não apenas a MA, mas também novas agências missionárias emergiram em todo o Sul Global. A história mostra que, entre os anos 1970 e 2025, houve um mover missionário de Deus no mundo.
Paralelamente, as agências do mundo ocidental e as agências denominacionais brasileiras também cresceram nesse período, assim como o número de evangélicos no Brasil e no mundo.
Em outubro de 2025, por ocasião do 10º Congresso Brasileiro de Missões, o Centro para o Estudo do Cristianismo Global (Center for the Study of Global Christianity – CSGC), sediado no Seminário Teológico Gordon-Conwell, nos Estados Unidos, estima que o Brasil possua 38 mil missionários, sendo a segunda maior força missionária mundial. Essa estimativa inclui católicos e grupos que, de modo geral, são considerados seitas por nós evangélicos.

O texto acima demonstra que a MA não surgiu em um vácuo histórico. Tanto a igreja brasileira quanto o movimento missionário brasileiro foram desafiados e inspirados pela força missionária ocidental, que já havia “inventado várias rodas” que não precisavam ser reinventadas. Que “rodas” são essas que agora também as giramos?
No nosso caso, operamos a partir de nosso modus operandi, com um DNA genuinamente brasileiro. Quais são nossos pontos fortes? Veja a seguir.
Mobilização. Envolve visita a igrejas e publicação de livros, como Cartas que Vêm de Longe, Filhos Longe da Pátria, Islamismo e a Trindade, Islamismo e a Cruz de Cristo, Jihad e o Reino de Deus e Jornada pelo Cuidado Integral: análise histórica e contextual do cuidado integral dos missionários segundo uma perspectiva brasileira.
Para mobilizar, também organizamos a Conferência Missionária Anual para adultos e a Conferência Missionária para jovens, ambas realizadas em novembro, no Vale da Bênção. Essas conferências contam com a participação de missionários experientes que compartilham relatos sobre igrejas e projetos nos campos missionários, servindo como fonte de inspiração.
Treinamento. É no treinamento que o candidato pode discernir: “Sou chamado ou não? Quero seguir em frente ou não?”. Se decidir prosseguir, não o fará por romantismo ou idealização irreal da obra missionária. Irá ao campo com os pés no chão, ciente da importância de aprender a língua e a cultura, adotar uma postura de servo e focar na formação de líderes e discípulos.
O treinamento não é apenas intelectual. Os candidatos, que vêm de nossas famílias e igrejas, muitas vezes trazem consigo experiências de recuperação de dependências, lares desestruturados, crises existenciais ou sexuais. Além do treinamento transcultural, oferecemos oração, aconselhamento bíblico, testes e acompanhamento psicológico. Embora não seja o objetivo principal, muitos testemunham, ao final, que foram curados espiritualmente e emocionalmente ao longo do Curso de Preparo Missionário.
No treinamento, formamos fortes vínculos, que incentivam o futuro missionário a amar e a perseverar no chamado, em parceria com a MA e a igreja enviadora.
Nosso currículo inclui:
Fase 1: teologia da vocação, revisão teológica, teologia bíblica de missões, antropologia cultural, história de missões, contextualização missionária, comunicação transcultural, islamismo, plantação de igrejas e fenomenologia da religião.
Fase 2: caráter do obreiro, perfil psicológico, trabalho em equipe, introdução à linguística, programa de imersão cultural, vida do missionário, elaboração de projetos sociais, captação de recursos, esporte em missões, segurança do missionário e workshops (batalha espiritual, negócios em missões, comportamento social e desenvolvimento comunitário).
Envio: No envio do missionário ao campo, fortalecemos os laços com a igreja enviadora e com os familiares. Nessa fase, assinamos o termo de compromisso, a declaração de vontade e elaboramos o plano ministerial, em conjunto com o missionário, com a igreja enviadora e com um representante da família. Enfatizamos que a MA não substitui a igreja enviadora, mas existe para servi-la.
Acompanhamento no campo: Nos primeiros anos no campo, o missionário é acompanhado regularmente por meio de videochamadas, recebendo encorajamento para perseverar.
Ao longo de todo o processo de mobilização, treinamento, envio e cuidado, Jesus – sua pessoa e obra – é o nosso fundamento, tendo as Escrituras como nossa regra de fé e prática.Ao Senhor toda honra e glória!
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REVISTA ULTIMATO - A IGREJA EM MISSÃOUltimato celebra a igreja em missão, a missão da igreja e o movimento missionário brasileiro, cuja história é quase tão longeva quanto a do Brasil.
Ao longo de mais de 10 páginas, o leitor vai encontrar parte das palestras do 10ª edição do Congresso Brasileiro de Missões (CBM 2025), que aconteceu em outubro, em Águas de Lindóia, SP, e lerá, no "Especial", um painel com uma avaliação ampla e crítica do movimento missionário brasileiro.
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