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Opinião

Por uma identidade convicta e apaixonada, mas não triunfalista

O momento requer amadurecimento e autocrítica. Voltemos à Bíblia e ao melhor de nossa caminhada

Por André Ricardo Nunes Martins

Somos um em Cristo, e tão diferentes entre nós mesmos. Estamos presentes nas mais diversas etnias, em todas as classes sociais em diversas nações. Alguns de nós estão em cidades e bairros ricos, são celebridades e gente muito rica. Muitos de nós, porém, estão na periferia, ralando pela sobrevivência. Amargando desprezo e violências. E muitos outros, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Vários de nós têm sofrido abusos de toda sorte: físico, sexual, psicológico, policial... Nós cristãos, a rigor, participamos das agruras e mazelas da humanidade. De iletrados a gente culta, de gente sadia a enfermos da mente ou das emoções. Gente simples ou chique, pessoas de carne e osso com biografias movimentadas ou nem tanto.

Verdade seja dita, o povo de Deus, como gostamos de dizer, não está imune, mas sofre como os demais humanos de tudo de ruim que o pecado e as estruturas sócio-políticas têm criado e imposto: violências, fome, falta de moradia, de emprego, racismo, sexismo, preconceitos e discriminações. Ao mesmo tempo que nós cristãos também estamos nas mansões e palácios, nas elites – segmentos que detém dinheiro e poder.

Há mais em nossa diversidade. Somos diferentes entre nós mesmos no modo de entender e vivenciar a fé e a igreja. Somos católicos romanos e ortodoxos, somos protestantes de primeira e sucessivas gerações, pentecostais e também igrejas isoladas que vêm desde os primeiros séculos da caminhada cristã. Como qualquer grupo humano, temos dificuldades em criar e manter consenso, temos lutas internas por poder e controle. Como religião institucionalizada, padecemos das mazelas de qualquer crença. Enfrentamos problemas quanto ao legalismo, à hipocrisia, à abordagem da heresia e apostasia, à disciplina e zelo pelo que é essencial.

Claro que um discurso oficial de igreja dirá algo diferente. Cada igreja ou denominação há de julgar, com raríssimas exceções, que traduz o melhor do legado cristão, que vivencia com maior fidelidade o que foi prescrito por Jesus Cristo e os apóstolos. Além da doutrina e interpretação da Bíblia, liturgia, administração e interações com demais cristãos e pessoas de outros credos, nós, cristãos, também divergimos sobre questões políticas, sociais e mesmo sobre nossa identidade. Nesse diapasão, temos daqueles que dizem que apenas sua igreja é seguidora fiel de Cristo e outros que evitam a todo custo admitir que nesse mister há quem já perdeu a essência da fé e mesmo qualquer preocupação sobre isso. Sem falar na mesquinhez de quem, por conveniência rasteira, acusa a uns e a outros de apostasia.



Se meu propósito aqui fosse propor um círculo imaginário de consenso doutrinal, ética e equilíbrio cristãos, que tarefa ilusória seria essa. Também não estou a falar pelos demais. Só não me furto a contribuir nesse debate. Faço-o, com temor reverente, com amor, humildade e paciência.

1.
Nossa identidade tem uma dimensão coletiva e outra individual; sobre a primeira, individualmente, contribuímos quase nada; a segunda já é mais de nossa conta, ainda assim sem controle total; falhamos individual e coletivamente em vivenciar princípios e valores do evangelho; a Bíblia expõe as falhas do povo de Israel no Antigo Testamento e os percalços da igreja no Novo; faremos bem em considerarmos isso, é dado objetivo.

2.
Ter em conta a falibilidade da igreja e dos cristãos individualmente deve levar-nos a uma caminhada pessoal e coletiva mais humilde, em que nos empenhamos em tentar acertar e em que abrimos mão da idolatria da perfeição e da hipocrisia do fingimento; ao testemunharmos ao mundo aquilo em que cremos, falemos que viver toda essa beleza e riqueza espiritual é difícil também para nós e só o podemos alcançar pela graça.

3.
Desejar que pessoas sem religião e mesmo de outras religiões tornem-se cristãs não é em absoluto uma ofensa e a missão de proclamar não deve nunca ser desrespeitosa; o evangelho deve ser experimentado como convite respeitoso e amoroso, não como imposição.

4.
Fomos feitos cristãos para servir ao mundo, não para sermos servidos; o Rei Jesus entrou na história como servo sofredor e comissionou seus seguidores a imitar seu exemplo de vida e de entrega por amor.

5.
A Bíblia e o melhor da abrangente tradição cristã propõem princípios dialógicos e salutares, não regrinhas temporais e culturais, para o todo de nossas vidas, incluindo o trabalho, as relações familiares e interpessoais, a sexualidade, a política; a tentação de erigir cartilhas opressoras e cercar e controlar o povo de Deus como gado é recorrente, perniciosa e deve ser exposta e combatida.

6.
Nossa identidade não deve ser explorada, nem vivida de modo ufanista e interesseiro sendo a conversão e mesmo a permanência na fé algo que depende da graça de Deus; certos de que não merecíamos, mas Deus nos fez seus servos e mesmo sendo pela graça também nos esforçamos por imitar o nosso Senhor.

7.
A pretensão de que os cristãos são melhores que pessoas de outras religiões e os sem religião não tem base bíblica e só atrapalha nosso caminhar e testemunho.

8.
Temos uma cosmovisão que também espelha diversidade, a depender de culturas, épocas e comunidades, e se mesmo nós não a vivemos na integralidade e constância como exigir isso de não cristãos? Convencer pelo exemplo é uma coisa; outra bem diferente é impor.

Na esfera pública brasileira, a imagem de cristãos e de evangélicos especificamente tem ganhado conotações negativas em razão de certas práticas e da relação promíscua de muitos líderes com a política e agentes políticos. O momento requer amadurecimento e autocrítica. Voltemos à Bíblia e ao melhor de nossa caminhada.

  • André Ricardo Nunes Martins, jornalista, mestre em comunicação e doutor em linguística. É presbítero em disponibilidade e membro da Igreja Presbiteriana de Brasília, no Distrito Federal.

Imagem: Unsplash.


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