Opinião
31 de agosto de 2025- Visualizações: 3181
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Oportunidades na medida
O mais importante de tudo é nosso relacionamento com Deus em todo caminho
Por Barbara Helen Burns
É comum ouvir “Ficar velho não é para os covardes!” Não é apenas uma brincadeira. Neste processo que enfrento há alguns anos (estou com 84 anos) há desafios particulares que é bom encarar com uma mistura de fé, humor, aceitação e energia.
A parte de aceitação é um pouco mais fácil para mim, pois como enfermeira trabalhei dois anos em uma residência para idosos. Vi de perto os processos de envelhecimento e a forma como as pessoas reagiram diante deles. Admirei muitas pessoas que demonstravam coragem e humor para viver com várias limitações enquanto procuravam manter a dignidade e a independência. Algumas pessoas foram modelos inesquecíveis. Na velhice nem tudo vai acontecer como planejado ou desejado. Em vez de frustração ou revolta, estes modelos conseguiram entender que isso é natural e esperado.
Humor é essencial para a vida toda, especialmente como missionária transcultural e como velha. Quantas vezes as pessoas riram de mim por causa da língua (às vezes erros sérios envolvendo palavras sujas!) ou por atitudes totalmente inaceitáveis conforme normas culturais (há muito exemplos, alguns recentes!). Poder rir para si mesmo é uma dádiva de sobrevivência aos embaraços da vida.
Há muito a agradecer. Hoje de manhã lembrei os benefícios que tenho recebido onde eu moro e trabalho – a Missão Juvep em Cabedelo, PB. Moro no campus da Escola de Missões Transculturais da Missão Juvep (agora o campus Russell Shedd em honra do nosso grande amigo e parceiro) em uma casa muito agradável e adequada porque quase dez anos atrás o Senhor me dirigiu e providenciou o dinheiro para eu e Mayra Litz desenhar e construir. Eu vim trabalhar como líder e professora no Curso de Missões Transculturais (CPM) de um ano na Missão Juvep em dezembro de 1999. Fiquei impressionada com tantos trabalhos que a missão desenvolvia, inclusive um seminário teológico e projetos de plantio de igrejas no sertão. Pude colaborar com estes outros projetos além de ensinar e liderar com uma bela equipe no CPM.
Depois de anos servindo na Missão, comecei a ter dificuldades com a saúde. Uma obstrução no intestino, depois uma queda com fratura na bacia. Junto com estas duas coisas um problema antigo de equilíbrio piorou, tirando a capacidade de andar sem ajuda. Recebi o maior cuidado dos meus amigos juvepianos nestas situações. Mais recente adquiri Herpes Zoster com complicações e hospitalização. Todos estes problemas levaram à necessidade de ajuda com comida, com locomoção e minha autonomia ficou prejudicada.
Eu me lembro, com muita gratidão todos que me ajudaram. Uma amiga de Campinas, SP, veio morar comigo, uma ajuda inestimável. Além dela cuidar da casa e de mim, como motorista competente, ela me leva para lá e para cá quando preciso. Outros se dispõem a ficar e dormir em casa nos dias que ela não está.
Uma outra coisa que percebi com muito gratidão está relacionada com o trabalho que Deus me deu. Meus colegas na Juvep e especialmente no Seminário Juvep têm o cuidado de continuar a me incluir e a me dar espaço de trabalho na medida do possível. Eles não exigem demais, mas também não desistem de me pedir para dar aulas de curto prazo, participar de reuniões e escrever e revisar documentos. Não estou parada, nem descartada, mas também não estou sobrecarregada. Dou graças a Deus pela inclusão e pelas oportunidades que eles sempre oferecem.
A velhice é uma idade especial de desfrutar o passado. Fui ao Congresso Brasileiro de Missões em 2022 e para minha surpresa conheci muitas pessoas que tinham sido amigos e alunos, até de cinquenta anos atrás. E Deus me ajudou de forma marcante a lembrar os nomes deles. Que alegria passei naquele Congresso. Era como Deus falando, “Valeu a pena!”
A última coisa que posso dizer neste breve artigo é que à medida que estou caminhando para o dia da partida para estar com Jesus, quero facilitar para as pessoas que deixarei para trás. Já deixei um documento confirmando a minha vontade sobre cuidados no fim da vida e a disposição dos bens. Já vendi meu apartamento para amigos e logo vou passar o título do meu carro. A conta bancária tem coassinante e estou anotando o nome de algumas pessoas que desejam uma ou outra coisa aqui em casa. Minha própria mãe foi meu modelo para isso, pois ela cuidou de tudo para os filhos não terem conflitos ou dificuldades depois da morte dela.
Todos nós estamos neste caminho, cujo o fim para alguns parece distante e para outros, como eu, bem perto. O mais importante de tudo é nosso relacionamento com Deus em todo caminho. Ter certeza de que Ele nos ama, está no controle de tudo e está conosco em tudo é o mais importante. Traz tranquilidade e até alegria mesmo na dor. Aprendi ter comunhão íntima com Ele quando adolescente e nunca consegui deixá-la, mesmo no meio de grandes lutas. É a essência da vida e necessário para tomar o caminho de forma reta e segura.
Para isso acontecer, precisamos passar tempo a sós com Deus e com a Sua Palavra. Satanás vai tentar de tudo para tirar isso, impedir, atrapalhar, mas não podemos desistir. Precisamos de perseverança e firmeza. É o segredo da vida plena servindo o Senhor. O nosso saudoso amigo Rev. Elben Cesar entendia isso e escreveu seu livro Práticas Devocionais para nos ajudar. Era visível que o tempo a sós com Deus fazia parte essencial na vida dele.
A caminhada com Deus é uma aventura. Nunca sabemos o que nos espera ou quais desafios tem na frente. Mas uma coisa é certa, Ele vai nos ajudar a confiar e a glorificá-lo em tudo.
Que o Senhor abençoe cada leitor, seja onde for que esteja no caminho, para chegar ao destino Eterno bem com Deus.
Versão ampliada do artigo Oportunidades na medida, publicado na edição 415 de Ultimato.
Imagem: Unsplash.
REVISTA ULTIMATO – JESUS, A LUZ DO MUNDO
Jesus, o clímax da narrativa da redenção, é a luz do mundo. Não há luz que se compare a ele. Sua luz alcança todo o mundo.
Além de anunciar-se como Luz, Jesus declara que os seus seguidores são a luz do mundo. “Pois Deus que disse: ‘Das trevas resplandeça a luz’, ele mesmo brilhou em nosso coração para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2Co 4.6).
É disso que trata a edição 415 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Aprender a Envelhecer, Paul Tournier
» Fui Moço, Agora Sou Velho... E Daí?, Kléos M. Lenz César
» Práticas Devocionais, Elben Magalhães Lenz César
» Conheça o blog do Movimento Cristão 60+
» A melhor escola missionária: a igreja local, por Barbara Helen Burns
Por Barbara Helen Burns
É comum ouvir “Ficar velho não é para os covardes!” Não é apenas uma brincadeira. Neste processo que enfrento há alguns anos (estou com 84 anos) há desafios particulares que é bom encarar com uma mistura de fé, humor, aceitação e energia.A parte de aceitação é um pouco mais fácil para mim, pois como enfermeira trabalhei dois anos em uma residência para idosos. Vi de perto os processos de envelhecimento e a forma como as pessoas reagiram diante deles. Admirei muitas pessoas que demonstravam coragem e humor para viver com várias limitações enquanto procuravam manter a dignidade e a independência. Algumas pessoas foram modelos inesquecíveis. Na velhice nem tudo vai acontecer como planejado ou desejado. Em vez de frustração ou revolta, estes modelos conseguiram entender que isso é natural e esperado.
Humor é essencial para a vida toda, especialmente como missionária transcultural e como velha. Quantas vezes as pessoas riram de mim por causa da língua (às vezes erros sérios envolvendo palavras sujas!) ou por atitudes totalmente inaceitáveis conforme normas culturais (há muito exemplos, alguns recentes!). Poder rir para si mesmo é uma dádiva de sobrevivência aos embaraços da vida.
Há muito a agradecer. Hoje de manhã lembrei os benefícios que tenho recebido onde eu moro e trabalho – a Missão Juvep em Cabedelo, PB. Moro no campus da Escola de Missões Transculturais da Missão Juvep (agora o campus Russell Shedd em honra do nosso grande amigo e parceiro) em uma casa muito agradável e adequada porque quase dez anos atrás o Senhor me dirigiu e providenciou o dinheiro para eu e Mayra Litz desenhar e construir. Eu vim trabalhar como líder e professora no Curso de Missões Transculturais (CPM) de um ano na Missão Juvep em dezembro de 1999. Fiquei impressionada com tantos trabalhos que a missão desenvolvia, inclusive um seminário teológico e projetos de plantio de igrejas no sertão. Pude colaborar com estes outros projetos além de ensinar e liderar com uma bela equipe no CPM.
Depois de anos servindo na Missão, comecei a ter dificuldades com a saúde. Uma obstrução no intestino, depois uma queda com fratura na bacia. Junto com estas duas coisas um problema antigo de equilíbrio piorou, tirando a capacidade de andar sem ajuda. Recebi o maior cuidado dos meus amigos juvepianos nestas situações. Mais recente adquiri Herpes Zoster com complicações e hospitalização. Todos estes problemas levaram à necessidade de ajuda com comida, com locomoção e minha autonomia ficou prejudicada.
Eu me lembro, com muita gratidão todos que me ajudaram. Uma amiga de Campinas, SP, veio morar comigo, uma ajuda inestimável. Além dela cuidar da casa e de mim, como motorista competente, ela me leva para lá e para cá quando preciso. Outros se dispõem a ficar e dormir em casa nos dias que ela não está.
Uma outra coisa que percebi com muito gratidão está relacionada com o trabalho que Deus me deu. Meus colegas na Juvep e especialmente no Seminário Juvep têm o cuidado de continuar a me incluir e a me dar espaço de trabalho na medida do possível. Eles não exigem demais, mas também não desistem de me pedir para dar aulas de curto prazo, participar de reuniões e escrever e revisar documentos. Não estou parada, nem descartada, mas também não estou sobrecarregada. Dou graças a Deus pela inclusão e pelas oportunidades que eles sempre oferecem.
A velhice é uma idade especial de desfrutar o passado. Fui ao Congresso Brasileiro de Missões em 2022 e para minha surpresa conheci muitas pessoas que tinham sido amigos e alunos, até de cinquenta anos atrás. E Deus me ajudou de forma marcante a lembrar os nomes deles. Que alegria passei naquele Congresso. Era como Deus falando, “Valeu a pena!”
A última coisa que posso dizer neste breve artigo é que à medida que estou caminhando para o dia da partida para estar com Jesus, quero facilitar para as pessoas que deixarei para trás. Já deixei um documento confirmando a minha vontade sobre cuidados no fim da vida e a disposição dos bens. Já vendi meu apartamento para amigos e logo vou passar o título do meu carro. A conta bancária tem coassinante e estou anotando o nome de algumas pessoas que desejam uma ou outra coisa aqui em casa. Minha própria mãe foi meu modelo para isso, pois ela cuidou de tudo para os filhos não terem conflitos ou dificuldades depois da morte dela.
Todos nós estamos neste caminho, cujo o fim para alguns parece distante e para outros, como eu, bem perto. O mais importante de tudo é nosso relacionamento com Deus em todo caminho. Ter certeza de que Ele nos ama, está no controle de tudo e está conosco em tudo é o mais importante. Traz tranquilidade e até alegria mesmo na dor. Aprendi ter comunhão íntima com Ele quando adolescente e nunca consegui deixá-la, mesmo no meio de grandes lutas. É a essência da vida e necessário para tomar o caminho de forma reta e segura.
Para isso acontecer, precisamos passar tempo a sós com Deus e com a Sua Palavra. Satanás vai tentar de tudo para tirar isso, impedir, atrapalhar, mas não podemos desistir. Precisamos de perseverança e firmeza. É o segredo da vida plena servindo o Senhor. O nosso saudoso amigo Rev. Elben Cesar entendia isso e escreveu seu livro Práticas Devocionais para nos ajudar. Era visível que o tempo a sós com Deus fazia parte essencial na vida dele.A caminhada com Deus é uma aventura. Nunca sabemos o que nos espera ou quais desafios tem na frente. Mas uma coisa é certa, Ele vai nos ajudar a confiar e a glorificá-lo em tudo.
Que o Senhor abençoe cada leitor, seja onde for que esteja no caminho, para chegar ao destino Eterno bem com Deus.
Versão ampliada do artigo Oportunidades na medida, publicado na edição 415 de Ultimato.
Imagem: Unsplash.
REVISTA ULTIMATO – JESUS, A LUZ DO MUNDOJesus, o clímax da narrativa da redenção, é a luz do mundo. Não há luz que se compare a ele. Sua luz alcança todo o mundo.
Além de anunciar-se como Luz, Jesus declara que os seus seguidores são a luz do mundo. “Pois Deus que disse: ‘Das trevas resplandeça a luz’, ele mesmo brilhou em nosso coração para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2Co 4.6).
É disso que trata a edição 415 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.
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