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Por Escrito

Memorial de uma tradutora da Bíblia

Por Isabel Murphy e Raquel Alcantara

*Conteúdo extra oferecido na edição 386 da revista Ultimato.
 
De maio a setembro os dias são quentes na cidade de Iowa, no Centro Oeste dos Estados Unidos da América (EUA). Transcorria o ano de 1925 e o jovem casal Wallace Sheffler e Julia aguardava o nascimento de seu bebê. A criança tinha pressa de vir ao mundo e nasceu no dia 14 de julho.  A menininha que recebeu o nome de Eula Margaret Sheffler era prematura, muito pequenina, frágil e necessitava de cuidados especiais. Os pais, de tão jovens que eram e inexperientes, contaram com a ajuda da avó materna de Margaret para criá-la. Margaret costumava dizer que por ter nascido prematura, o seu porte físico sempre foi pequeno e franzino e que ela nunca havia conseguido ser tão coordenada em seus movimentos.
 
Os anos se passaram e a família cresceu com o nascimento de mais três crianças: Katherine, Patrick e Carly. No bairro onde a família morava havia uma igreja evangélica. Em um determinado dia os missionários daquela igreja passaram de casa em casa convidando as crianças para participarem de um evento especial para crianças, a Escola Bíblica de Férias (EBF). Ao chegar na casa de Margaret o convite foi feito à mãe para que enviasse suas filhas para a EBF e ela aceitou o convite. Julia preparou as filhas maiores Margaret e Katherine e as enviou para a igreja. Durante aquela semana as meninas ouviram falar de Jesus Cristo, seu amor, morte e ressurreição. Margaret entendeu a mensagem e aceitou Jesus como seu salvador pessoal; era o ano de 1933 e ela estava com oito anos de idade.
 
Ao chegar em casa, Margaret logo começou a evangelizar toda a família. Aos domingos, ela insistia com todos para que fossem para a igreja com ela, mas o seu pai não acreditava que uma menina de oito anos estava realmente entendendo a decisão que ela havia tomado de seguir a Cristo. Margaret não desistia e sempre conseguia que o pai a levasse para a igreja junto com a irmã Katherine. Não demorou muito e Margaret ganhou a sua irmã Katherine para Jesus e depois a sua mãe. Mais tarde, seu irmão Patrick e sua irmã Carly também aceitaram a Jesus Cristo.
 
A vida seguia tranquila na família Sheffler até que uma tragédia aconteceu. O senhor Sheffler gostava muito de pescar. Um dia ele foi com a esposa e dois amigos pescar em um rio da cidade. A esposa ficou na beira do rio observando os pescadores e fazendo fogo para assar os tão esperados peixes. De repente, o barco onde os homens estavam virou e todos ficaram desesperados. O senhor Sheffler se esforçou e conseguiu salvar a vida dos seus companheiros. Ainda cansado, voltou para resgatar alguns pertences no barco, porém ele não teve condições físicas de salvar a si mesmo e desapareceu no rio. Seu corpo nunca foi encontrado. A notícia do afogamento do senhor Sheffler e o fato de que não teriam o corpo para velar e despedir foi desesperador e um grande trauma para a família. Margaret estava com dezessete anos quando essa tragédia se abateu sobre a sua família e o acontecimento muito influenciou para que ela decidisse estudar Enfermagem na escola técnica. Além dos conhecimentos que seriam adquiridos, o curso possibilitava que os alunos recebessem um pequeno salário, o que seria agora de grande ajuda nas despesas da casa.
 
A mãe e os filhos continuaram a frequentar a igreja e Margaret ficou sabendo da existência do povo indígena Chippewa que habita na fronteira dos EUA e do Canadá. A jovem enfermeira se interessou pelos Chippewa e desejou cumprir o IDE de Jesus entre eles fazendo um trabalho missionário por iniciativa própria. Para realizar o desejo de seu coração missionário, Margaret decidiu ser uma missionária “fazedora de tendas”.  Nos anos que seguiram, ela dividia cada ano em duas partes. Durante seis meses ela trabalhava como enfermeira particular, economizando ao máximo, para ter o seu próprio sustento missionário nos próximos seis meses de trabalho na Reserva Indígena com o povo Chippewa.
 
Por alguns anos, Margaret continuou o trabalho na Reserva indígena como missionária fazedora de tendas. Ela já estava há algum tempo entre os Chippewa, era aceita por todos e chegou ao ponto de ter a confiança deles para assumir a responsabilidade de criar uma criança que foi abandonada pela família.
 
Deus cuidou de Margaret e de sua família. Alguns anos depois, sua irmã Katherine e o esposo responderam SIM ao Ide de Jesus. Ambos estudaram Linguística no curso oferecido pela missão Wycliffe Bible Translators e se tornaram missionários tradutores da Bíblia. Quando se encontrou com Margaret, Katherine falou do curso de linguística e disse que ela seria uma excelente tradutora da Bíblia. Como estava comprometida com os Chippewa e com a criança que criava, Margaret disse que se fosse da vontade de Deus que ela fosse estudar para ser uma tradutora da Bíblia, três coisas deveriam acontecer.
 
Em uma semana, Deus resolveu as três coisas que Margaret havia colocado diante Dele em oração. A família veio buscar a criança; Margaret recebeu um pagamento atrasado de seu trabalho como enfermeira particular, dinheiro esse que ela nem esperava mais receber e cuja quantia era mais do que ela precisava para pagar o curso de Linguística; e terceira, Deus honrou o trabalho de Margaret entre os Chippewa, pois quando ela os comunicou que deixaria o trabalho entre eles para estudar e ser uma tradutora da Bíblia, a igreja indígena Chippewa resolveu enviá-lo como missionária aos seus patrícios indígenas do Brasil.
 
Os planos de Deus para seus filhos são perfeitos e Margaret experimentou essa verdade em sua família. Ela levou sua irmã Katherine a Cristo; e Katherine, anos depois, levou Margaret a ser uma tradutora da Bíblia em terras brasileiras.
 
Depois da experiência com o povo Chippewa, Margaret cursou Teologia no Betel Seminary na cidade de Saint Paul, Minnesota, e o curso de Linguística da Wycliffe Bible Translators na cidade Norman, Oklahoma (EUA). Filiou-se como missionária na Wycliffe e na Sociedade Internacional de Linguística (SIL) e veio servir ao Senhor no Brasil. Na época, a Wycliffe e a SIL eram uma só organização, porém desempenhavam trabalhos distintos. A Wycliffe cuidava do envio missionário e a SIL da parte acadêmica na produção de trabalhos linguísticos relativos às línguas indígenas brasileiras. Em 1960, aos 35 anos de idade, Margaret pisou em solo brasileiro, na cidade do Rio de Janeiro, onde estava localizada a Sede da Wycliffe-SIL.
 
No Rio de Janeiro estava localizado o Museu Nacional de Línguas Indígenas, hoje Museu do índio, e o então antropólogo e fundador do Museu, Dr. Darcy Ribeiro, convidou a Wycliffe-SIL para contribuir com o Museu. Um contrato foi feito entre as Instituições em que os missionários linguistas deveriam prestar serviço através da realização de análise linguística das línguas indígenas e arquivamento de dados a fim de preservar e resgatar línguas indígenas que já estavam sob ameaça de extinção.
 
Margaret trabalhou no Museu e se dedicou a estudar a Língua Portuguesa. Como parte do curso de aprendizagem de Português morou em Nova Friburgo-RJ com uma família brasileira, prática que era obrigatória a todos os missionários. Aqui no Brasil, Margaret recebeu carinhosamente o nome de Margarida, nome que ela adotou e ficou conhecida por onde passou.
 
A SIL desenvolvia trabalho linguístico entre o povo Kaiwá, no estado do Mato Grosso. Margarida foi enviada para formar equipe com a missionária Loraine Bridgeman no programa linguístico que estava em andamento. As missionárias foram muito bem acolhidas pela Missão Kaiwá. Algum tempo depois Margarida adoeceu com hepatite e ela teve que voltar ao Rio de Janeiro para se tratar. Proibida de voltar para os Kaiwá, na década de 1970 Margarida foi enviada para trabalhar com os Munduruku, no estado do Pará, no programa linguístico da língua Munduruku que estava em andamento e formar equipe com Marge Crofts, pois a colega de Marge havia saído do trabalho para se casar.
 
Margarida prosseguiu os estudos da língua e fez a Análise do Discurso da língua Munduruku. Ela descobriu um elemento da língua, um marcador, que quando usado trocava o sujeito a que estava sendo referido. A descoberta de Margarida contribuiu significativamente para o progresso da Tradução do Evangelho de Marcos que estava em andamento naqueles dias e de todo o Novo Testamento, que foi publicado em 1985, após quinze anos de incansável trabalho das missionárias. Margarida também elaborou uma coletânea de cartilhas de alfabetização na língua Munduruku que são utilizadas até os dias atuais. Após concluído o Programa Linguístico, de Educação Intercultural e de Tradução da Bíblia Munduruku, a equipe entregou o trabalho para a Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira (JMN/CBB). Com o trabalho entre os Munduruku concluído, Margarida voltou aos EUA para cursar o Mestrado em Antropologia, mas ela sempre dizia que o professor que mais impactou a sua vida foi o ancião Arthur.
 
Depois de sua formatura voltou ao Brasil com a firme decisão de investir os anos futuros de sua vida aqui. Em 1980, recebeu a tarefa de organizar o Departamento de Antropologia Cultural da SIL junto com a missionária e professora Dra. Isabel Iva Murphy que também é antropóloga. Por motivos de falecimento de familiares, Isabel foi para o Canadá e lá ficou por dois anos. Margarida prosseguiu em sua tarefa. Após a volta de Isabel, seguiram juntas no trabalho. A disciplina de Antropologia Cultural foi introduzida no currículo do Curso de Metodologia Linguística (CML) oferecido pela Wycliffe-SIL em Brasília-DF; Isabel já lecionava a disciplina e Margarida era seu braço direito como professora auxiliar.
 
Margarida morava na Sede da SIL em Brasília com a colega Ruth Thomson e Isabel morava com sua família brasileira também em Brasília. Com a mudança de Ruth para a cidade de Canarana-MT, dado à grave dificuldade de audição de Margarida, Isabel veio morar com ela em 1995 e, desde então, nunca mais se separaram no trabalho de lecionar no Curso de Linguística da SIL e da Associação Linguística Evangélica Missionária-ALEM. Quando Isabel lecionava em outras organizações missionárias pelo Brasil, Margarida estava incansavelmente trabalhando à distância em sintonia com Isabel prestando toda logística. Desse fato sou testemunha, pois em 2019, quando Margarida já não podia mais acompanhar Isabel, meu esposo e eu ficamos em sua casa em Nova Viçosa-BA cuidando dela e diariamente, mesmo com a visão bem reduzida, Margarida se sentava para ler a Bíblia e em seguida programar aulas, atividades e enviava por e-mail para Isabel.
 
Margarida não se casou e nunca quis retornar para a sua pátria. Ela quis aguardar a sua ressurreição em terras brasileiras onde se dedicou de corpo e alma ao IDE de Jesus entre os indígenas e na formação intercultural de centenas de missionários que hoje estão espalhados pelo Brasil e pelo Mundo fazendo Jesus Cristo conhecido às tribos, povos, nações e línguas. Margarida é uma flor preciosa; um grande exemplo de mulher e serva comprometida com a Missão de Deus e com o Senhor da Missão. No dia 18 de setembro de 2020 Margarida foi convocada por Deus para morar nas mansões eternas. Serva boa e fiel, combateu o bom combate, completou com excelência a carreira que Deus confiou em suas mãos e guardou a fé. Deus é glorificado através da vida desta flor tão preciosa! Ela deixa para as próximas gerações o desafio de continuar com excelência, amor e compromisso com o trabalho de Deus tal como ela o fez. A Deus toda honra e glória pela vida de Margarida!
 
Fatos narrados por Isabel Iva Murphy.
Escrito por Raquel Sueli de Almeida Alcantara da Silva.

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