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Opinião

Elegância na ética — Jane Austen aos 250 anos

C.S. Lewis nos lembra que a grandeza de Austen reside na sua capacidade de tornar a bondade interessante, a ironia gentil e o autoconhecimento redentor

Por Paulo Ribeiro

Se a caridade é a poesia da conduta e a honra a retórica da conduta, os ‘princípios’ de Jane Austen poderiam ser descritos como a gramática da conduta.

Em 2025 celebramos 250 anos do nascimento de Jane Austen — um marco para uma escritora cuja voz ainda ressoa com frescor e clareza moral. Nascida em 1775 em Hampshire, Inglaterra, o legado literário de Austen continua a influenciar leitores não apenas por sua inteligência e romantismo, mas também por sua compreensão sutil do caráter humano.

Ninguém percebeu isso com mais nitidez do que C. S. Lewis, que em seu ensaio A Note on Jane Austen¹ ofereceu uma das homenagens mais perspicazes à grandeza duradoura da autora.

Para Lewis, Austen não era apenas uma tecelã de dramas. Era, acima de tudo, uma artista moral — uma escritora que entendia que a virtude não é impositiva, mas decisiva; não é chamativa, mas silenciosamente transformadora. Ele escreveu:
“Jane Austen se parece com uma excelente professora de geometria que nunca nos deixa ver seus cálculos, mas sempre nos mostra a resposta.”

Seus romances não pregam — demonstram. A conduta correta é revelada no tom, nas ações, nas palavras e nos modos. O resultado é uma espécie de clareza ética, não retirada de sermões, mas da profunda arquitetura moral das decisões de seus personagens.

Sua ironia nunca é cruel; é socrática, e não satírica — revela a tolice sem desprezo. Nas mãos de Austen, o romance se torna uma “disciplina dos afetos”, alinhando suavemente as simpatias do leitor com o que é verdadeiramente nobre.

“Ela tem um olhar astuto para a autodecepção, e sua ironia, embora gentil, é implacável.”

Austen não se entrega à prosa cor-de-rosa nem à tragédia grandiosa. Em vez disso, nos oferece uma espécie de comédia moral — no sentido clássico — onde a ordem é restaurada, o orgulho é humilhado e o amor amadurece, enraizado na virtude.



“Nas mãos dela, o romance deixa de ser uma indulgência pessoal e torna-se um instrumento de justiça.”

Austen era alguém que acreditava que o caráter é destino — e que a humildade, a paciência e a percepção moral são mais heroicas do que o impulso ou a paixão.

“Outro elemento não trágico em sua mente é a moderação alegre. Ela poderia quase ter dito com Johnson: ‘Nada é pequeno demais para uma criatura tão pequena quanto o homem’. Se ela contempla alguns grandes sacrifícios, também não imagina esquemas grandiosos de felicidade. Ela tem – ou pelo menos todos os seus personagens favoritos têm – um gosto sincero pelo que hoje seria considerado prazeres muito modestos. Ela não é utópica. Tenho muita certeza de que ela é filha do Dr. Johnson: herdou seu bom senso, sua moralidade e até boa parte de seu estilo.”

Ao celebrarmos os 250 anos de Jane Austen, C. S. Lewis nos lembra que sua grandeza não reside apenas no charme ou na inteligência, mas em sua imaginação moral – na sua capacidade de tornar a bondade interessante, a ironia gentil e o autoconhecimento redentor.

Num mundo ruidoso, repleto de espetáculos, mentiras, hipocrisia e cinismo, Jane Austen ainda fala suavemente – e carrega uma sabedoria que vale a pena ouvir.

Tenho a impressão de que o amor de C. S. Lewis por sua esposa, Joy Davidman, não se baseava em atração superficial, mas em afinidade intelectual, coragem moral e brilhantismo verbal – exatamente as qualidades que ele tanto admirava em Jane Austen.

Todas as citações são da nota 1.

Nota:
¹ A Note on Jane Austen, Lewis, C. S., em Jane Austen: A Collection of Critical Essays, editado por D.W. Harding, publicado pela Prentice-Hall, 1963.

(*) Ao celebrarmos os 250 anos do nascimento de Jane Austen, um novo filme intitulado Jane Austen Wrecked My Life leva sua influência duradoura ao mundo contemporâneo. Ambientado entre Paris e o interior da Inglaterra, o filme tem estreia limitada prevista nos Estados Unidos maio deste ano.

Imagem: Wikimedia

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Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, foi Professor em Universidades nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Holanda, e Pesquisador em Centros de Pesquisa (EPRI, NASA). Atualmente é Professor Titular Livre na Universidade Federal de Itajubá, MG. É originário do Vale do Pajeú e torcedor do Santa Cruz.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao

Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
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