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Opinião

A relação apaixonada dos evangélicos com Israel

 Em que consiste “a paixão evangélica por Israel”? Quais são os motivos desta “paixão”? Este fenômeno se tornou mais evidente nas últimas décadas? 

Por André Daniel Reinke

Minha adolescência foi marcada pelo entusiasmo escatológico estimulado por livros como A Agonia do Grande Planeta Terra, de Hal Lindsey. A teologia de fundo dessa obra teve sua versão ficcional na série Deixados para trás, de Tim LaHaye, publicada no Brasil no início dos anos 2000. O sucesso desse tipo de literatura era sinal da vitalidade da hermenêutica dispensacionalista entre evangélicos brasileiros. E, nessa linha escatológica, o povo judeu e o Estado de Israel desempenham um papel central. Essa era a forma tradicional pela qual nós, evangélicos, nos aproximávamos de Israel: o país era o “relógio de Deus” nos derradeiros capítulos do tempo do fim.
 
Desde então, a aproximação evangélica a Israel ganhou novos contornos. As viagens à Terra Santa aumentaram significativamente, mais acessíveis ao bolso e guiadas por pastores atendendo a todos os gostos teológicos, com direito a batismo no Jordão e souvenirs os mais diversos. Produtos de origem judaica são oferecidos por lojas evangélicas físicas e virtuais, resultado comercial que reflete um fenômeno mais recente: a aproximação simbólica aos judeus e a Israel.

Nas últimas décadas tem ocorrido uma certa judaização de costumes em muitas igrejas, especialmente no meio neopentecostal. Em alguns casos, vemos apenas uma aproximação litúrgica, como a celebração de festas judaicas (que também estão determinadas na Torá) em versões contemporâneas. Eventualmente, a aproximação se ampliou pelo uso de símbolos judaico-bíblicos, como o menorá, o shofar e o talit; também passaram a se usar ornamentos pós-bíblicos, como o quipá; e inclusive o símbolo extra-bíblico da estrela de Davi. Em muitas igrejas, a bandeira de Israel está ostentada junto ao púlpito, embora seja um símbolo nacional laico. Trata-se de um desenvolvimento novo na aproximação evangélica aos judeus e a Israel, não pautada pela escatologia, mas pela imitação de suas liturgias e símbolos.

É um fenômeno complexo e normalmente sujeito a avaliações muito apressadas. Trincheiras costumam ser cavadas antes mesmo de se verificar o que está acontecendo. Por isso, cabem algumas ponderações.

A busca das origens da fé
A história da Reforma está encravada em uma ideia: a de retornar aos fundamentos da fé, à igreja primitiva. A tendência de buscar as fontes mais “puras” do cristianismo viria a permear inúmeras vertentes do protestantismo, incluindo os movimentos pentecostais (neste caso, pela via da experiência dos primitivos com o Espírito Santo).
 
Estudos acadêmicos, tanto da teologia como da história, trouxeram um crescente entendimento de Jesus e de Paulo como autênticos judeus dialogando no judaísmo, não mais como personalidades anti-judaicas (como fora a tendência do cristianismo ao longo de séculos). Com isso, gradativamente se olhou com mais simpatia para a religião judaica, compreendido como a origem do cristianismo.
 
Nossas igrejas não estudam a história do cristianismo, tampouco a formação das doutrinas. Tornam-se presas fáceis para especulações que creditam a Constantino uma imposição da ortodoxia e das crenças fundamentais do cristianismo. Com isso, cresceu a desconfiança na doutrina tal como foi gestada nos primeiros séculos, entendida como produto de uma helenização indesejada e submissa à filosofia pagã. A incerteza com as doutrinas fundamentais (como a Trindade e a cristologia), somada ao vazio simbólico deixado pela iconoclastia do puritanismo e do anabatismo – recebidos do contexto norte-americano – levou muitos grupos brasileiros a buscarem suas liturgias e símbolos na própria Bíblia – e nela estão o menorá e as festas da Torá.

Não deixa de ser uma busca pela pureza das origens da fé, mas que não chega sem alguns anacronismos.
 
O imaginário em torno das origens
Muitos evangélicos buscam uma expressão eclesiástica mais “pura”, despida do que se tem entendido como uma “paganização” da fé bíblica. Então veio a rejeição de festas cristãs, como o Natal – substituído pelo Chanucá, por exemplo – e a busca de uma celebração da Páscoa mais próxima dos ritos judaicos. A tentativa é retornar à igreja primitiva de Atos, uma igreja judaica da qual os gentios passaram a fazer parte. Ou seja, uma igreja que celebrava o culto ao modo do judaísmo.
 
Entretanto, como buscar esse judaísmo primitivo a fim de resgatar uma tradição mais pura? Entram em cena alguns anacronismos. Muitos rituais foram desenvolvidos nos séculos posteriores a Cristo, como o Sêder (o cerimonial judaico do Pessach), e novos símbolos foram agregados ao longo do tempo – caso do quipá, do segundo século, ou da estrela de Davi, implementada no judaísmo de Praga a partir do século 17. As vertentes do judaísmo mudaram ao longo de dois mil anos.

Como os símbolos possuem a peculiaridade de se vincularem à essência de um povo, acabam sendo entendidos como supra-históricos. Muito facilmente se passa a imaginar os judeus da época de Cristo usando talit azul e branco e uma correntinha com a estrela de Davi, quando esses elementos são de culturas materiais posteriores. O judaísmo da igreja primitiva acaba sendo imaginado como o judaísmo que os evangélicos encontram diante de si no mundo contemporâneo. Não deixa de ser uma aproximação de um Israel imaginário. Por isso, pode ocorrer certa ambiguidade: quando o evangélico encontra o Israel ou o judeu real (como o secularizado e progressista, por exemplo) pode acabar descambando para algum tipo de antissemitismo, uma vez que, para ele, parece ter “algo de errado” com o judeu que encontrou. 

Enfim, a aproximação dos elementos judaicos é uma tentativa de se aproximar dos símbolos bíblicos do tempo de Jesus e dos apóstolos. O que acontece é um entrecruzamento, na imaginação evangélica, dos elementos judaicos do presente com aqueles supostamente utilizados pelos primeiros seguidores de Jesus.

A pluralidade da judaização evangélica
Não pense que esse fenômeno é homogêneo. Há movimentos de aproximação ao judaísmo nas mais diversas vertentes. Não é porque alguém está usando um talit para orar que se trata da judaização criticada por Paulo, pois nem todo caso tem caráter legalista ou soteriológico.
 
Há grupos fazendo uso de elementos judaicos por pura estética. Outros, como os restauracionistas, procuram uma teologia e liturgia primitivas. Há muitos evangélicos gentios se aproximando de algum tipo de judaísmo messiânico, enquanto outros descobrem sua origem judaica (os marranos são comuns no Brasil). Mas também há aqueles que apostatam definitivamente da ortodoxia e adentram para um ebionismo moderno, negando a divindade de Cristo. Cada caso deve ser observado com cuidado para não sermos injustos com irmãos que estão apenas preocupados em obedecer a Deus. Em outras palavras: observe e compreenda antes de julgar.

Esse e outros desdobramentos da relação apaixonada dos evangélicos por Israel é tema do livro recém-publicado Paixão por Israel: judaização, sionismo cristão e outras ambiguidades evangélicas, produto de pesquisas de mestrado e doutorado do autor. É uma leitura essencial para compreender melhor o fenômeno e suas implicações para a doutrina, a política e o diálogo religioso no Brasil.
 
  • André Daniel Reinke é bacharel em desenho industrial (habilitação em programação visual), licenciado em história, mestre e doutor em teologia (concentração em história das teologias e religiões). Autor dos livros Os Outros da Bíblia, Aqueles da Bíblia, Nós e a Bíblia, Atlas Bíblico Ilustrado e Paixão por Israel. @andredanielreinke
Artigo publicado originalmente na edição 413 de Ultimato.

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» O Evangelho em uma Sociedade Pluralista, Lessline Newbigin

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