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Opinião

A missiologia e as comunidades surdas

A revista Ultimato de novembro/dezembro publicou uma importante reportagem com dados sobre os surdos no Brasil e o que tem sido feito por igrejas e organizações em favor da evangelização deste grupo. Convidada por Ultimato para falar sobre o assunto, Marília M. Manhães, especialista em libras, mestre em missiologia e missionária da Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira, chama a atenção para a necessária compreensão que as pessoas que atuam em missão devem ter a respeito de quem é o surdo, sua comunidade e o contexto cultural em que vivem, para que a comunicação do Evangelho seja relevante.

***

Compreender quem é o povo surdo, entender como essa comunidade se constitui e como está organizada é um passo fundamental para um olhar missiológico adequado voltado à esse grupo. Bem como compreender como o surdo pensa e identificar sua modalidade de aprendizagem, são as bases para comunicar o ensino de maneira contextualizada. Por isso, a ministração do ensino deve considerar a essência supracultural do evangelho, para que, dessa forma, o povo surdo consiga entender as diferentes maneiras que Deus usa para comunicar suas verdades.

O acesso direto à comunidade surda é muito importante, pois fornece dados que possibilitam examinar o contexto cultural e obter informações precisas para a atuação missiológica junto ao povo surdo. Sá (2002, p. 27), define: “o povo surdo é um grupo de sujeitos que têm costumes, histórias, tradições em comum e pertencentes às mesmas peculiaridades, ou seja, constrói sua concepção de mundo através da visão”.

“As comunidades se formam a partir de uma rede de troca de comunicação, símbolos, imagens, formas de vestir e outros dispositivos de identificação” (ROSE, 1996, p. 335). Observamos nas comunidades surdas que, em sua formação, as redes são constituídas através de um comprometimento com a língua de sinais, com a cultura surda e, com a criação estratégias de relacionamento com outros indivíduos surdos.

Dentro da própria comunidade surda há uma diversidade multicultural, onde se distingue o surdo homem da surda mulher; o surdo ribeirinho do surdo índio; o surdo de centros urbanos do surdo de zonas rurais, entre outros. Assim como em demais grupos, cada comunidade surda possui características próprias, como na sua forma de ver o mundo e de produzir cultura. Por isso, é necessária a imersão na vida do povo, examinando a cultura e as pessoas, em seus contextos históricos e culturais específicos. Sem esses cuidados, corre-se o perigo de proclamar uma mensagem sem sentido e irrelevante.

Quando falamos em comunidade surda, não nos referimos somente aos seres surdos unificados, pois também fazem parte desta comunidade os familiares que, em sua maioria, são pessoas ouvintes, assim como os intérpretes de língua de sinais, professores, amigos e outros. Estes atores participam e compartilham dos mesmos interesses comuns em uma determinada localização, tais como igrejas, associações de surdos, escolas, dentre outros.

Os surdos não devem ser comparados aos ouvintes. Devemos conhecer seu potencial de liderar, dando oportunidades iguais em todos os espaços, considerando o contexto linguístico e cultural específico.

Diante das especificidades e desafios da comunidade surda, a missiologia é uma ferramenta que pode ajudar a tornar a comunicação do evangelho relevante para esse grupo. Observamos, porém, um profundo abismo linguístico e cultural entre o povo surdo e o povo ouvinte. Para abolir este abismo, é preciso compreender a revelação divina dentro de seu contexto histórico e cultural, bem como conhecer e compreender como a comunidade surda tem se estabelecido no cenário atual. Apesar de tamanha diversidade cultural dentro da comunidade surda, missionários têm conseguido estreitar relacionamentos com o povo surdo e estabelecer pontes de compreensão entre eles. “A comunicação entre as pessoas em culturas diferentes não ocorre no vácuo, mas sempre dentro do contexto dos relacionamentos sociais” (HIEBERT, 1999, p. 230).

As associações de surdos representam um importante espaço de articulação e encontro da comunidade surda. Elas constituem-se em territórios livres para os surdos encontrarem os seus pares. Nestes espaços, há troca de conhecimentos que mantém viva a sua forma de comunicação e cultura, valorizando assim sua história por várias gerações. Além disso, as comunidades surdas reafirmam sua cultura, através das agregações de pensamentos e comportamentos humanos e constituem um sistema de crenças, a partir de ideias e ações específicas e os símbolos expressos pelo grupo.

No processo de evangelização das comunidades surdas, o relacionamento duradouro é um fator importante na construção da comunicação transcultural. Por isso, construir pontes entre as culturas é a principal tarefa de missões. O Evangelho derruba as barreiras que dividem as pessoas em judeus e gentios, escravos e senhores, homens e mulheres, primeiro mundo e terceiro mundo, e entre surdos e ouvintes.

Podemos concluir que o conhecimento das comunidades surdas permite entender como os surdos se comunicam e constroem grandes sociedades. Sem essas grandes sociedades, a cultura surda e a língua de sinais seriam inexistentes. Isso ainda permite que sejam entendidas as diferenças culturais, a natureza da comunicação transcultural entre o povo surdo e como essas comunidades mudam. Essas compreensões são inestimáveis e fazem toda a diferença à tarefa missionária. Essa percepção da identidade sociocultural do povo surdo é indispensável para traçar estratégias de evangelização com foco nas comunidades surdas brasileiras.

Notas:
HIEBERT, Paul G. O Evangelho e a diversidade das culturas, um guia de antropologia missionária. Tradução de: Maria Alexandra P. Contar Gosso.1ª ed. São Paulo: Nova Vida, 1999.
ROSE, Nikolas. The death of the social? Re-figuring the territory of government. Economy and Society, n. 25, v. 3, August. 1996.
SÁ, Nídia Regina Limeira de. Cultura, Poder e Educação de Surdos. Manaus: EDUA, 2002.

• Marília Moraes Manhães é pedagoga e psicopedagoga, especialista em libras: ensino, tradução e interpretação pela UFRJ. É mestre em missiologia pelo Southeastern Baptist Theological Seminary e atua na gerência de evangelismo da Junta de Missões Nacionais da CBB.

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Foto: Julia Freeman / Freeimages.com

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