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Palavra do leitor

As angústias de um vocacionado

A vocação ministerial é, sem dúvida, uma das mais elevadas e temíveis responsabilidades confiadas por Deus ao homem. É um chamado que não nasce da ambição carnal, tampouco da vaidade clerical, mas de uma convicção profunda e inescapável que, como um fogo nos ossos, consome (cf. Jr 20.9) o interior daquele que foi separado para o ministério da Palavra. No entanto, a experiência do vocacionado raramente corresponde à expectativa glorificada que muitos nutrem a respeito da vida ministerial. Sob a lente da teologia reformada que preza pela soberania de Deus, pela suficiência das Escrituras e pela centralidade da cruz é imperativo lançar luz sobre as dores silenciosas e as lutas invisíveis que marcam a trajetória dos que foram chamados.

O apóstolo Paulo, paradigma do ministro cristão, não escondeu as marcas do ministério. Em suas cartas, fala da solidão (2 Tm 4.16), da oposição dos falsos irmãos (2 Co 11.26), das lágrimas (At 20.19), e da profunda preocupação com as igrejas (2 Co 11.28). Seu relacionamento com Timóteo revela a tensão entre o encorajamento e a necessidade urgente de perseverança no meio do sofrimento. A vida do vocacionado, pois, está longe de ser uma jornada triunfalista; ela é, em essência, uma peregrinação entre espinhos, onde cada passo exige fé e renúncia.

Infelizmente, nos dias atuais, muitos ministros caminham como ilhas. A ausência de verdadeira comunhão entre colegas de ministério, a competição disfarçada de zelo, e o corporativismo denominacional têm minado o espírito de unidade que Cristo rogou ao Pai (Jo 17.21). Em vez de enxergarem-se como cooperadores na seara do mesmo Senhor, muitos ministros veem-se como concorrentes em um mercado religioso. A fragmentação e a suspeita mútua entre denominações, mesmo aquelas que compartilham os pilares da fé reformada, revelam uma eclesiologia fraturada e um orgulho institucional que contradiz o Evangelho.

A solidão do vocacionado não é apenas circunstancial, ela se torna, por vezes, estrutural. O pastor solitário ora por colegas com quem possa dividir o peso do ministério, mas encontra indiferença. Clama por conselhos, mas recebe fórmulas prontas. Busca encorajamento, mas ouve exigências. Essa realidade é agravada quando as disputas teológicas se tornam pretextos para desamor, e a ortodoxia é usada como escudo para a falta de empatia pastoral.

A teologia reformada nos ensina que a vocação é divina, irrevogável e sustentada pela graça soberana de Deus. Mas também nos lembra que o vaso é de barro (2 Co 4.7). O vocacionado carrega o tesouro do Evangelho, mas o faz em fraqueza. É, portanto, urgente que a igreja, especialmente aquelas que se dizem reformadas, resgatem o valor da fraternidade pastoral, da oração mútua, da partilha de dores e consolos. A cruz não pode ser apenas um símbolo teológico deve ser a marca do discipulado e do ministério.

É necessário, por fim, lembrar que o vocacionado não caminha sozinho. Ainda que abandonado por homens, é sustentado por Aquele que prometeu estar conosco até o fim dos tempos (Mt 28.20). E é nesse Cristo crucificado e ressurreto que o ministro encontra sentido, consolo e direção, mesmo quando as angústias parecem sufocar. Pois no ministério, como na fé, a coroa vem depois da cruz.
Osasco - SP
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