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Palavra do leitor

A Varanda e o Revolucionário

A adolescência pode ser comparada a um cadeirão de água fervilhante. Os deuses de outrora, os heróis tidos como inatingíveis, os genitores acima do bem e mal são lançados nas arenas das desconfianças e indagações. Os desenhos animados perderam a magia; as velinhas sopradas dos primeiros anos não passam de resquícios de uma época gravada nos retratos emborolados dos álbuns, ou das fotografias, ou vídeos obsoletos.

Quantos devaneios saltam dos poros da chamada puberdade. As espinhas, a linguagem recheada de gírias e siglas a léguas de distância dos adultos e das crianças (estes, seres irritantes e inconvenientes – principalmente, para os irmãos mais velhos), a poluição noturna trazendo as sensações da sexualidade palpitante, a sensação de um segundo nascimento toma conta, confunde e aterroriza.

Chega de seguir as cartilhas do bom menino, da boa menina!
Chega de dizer bênção pai e mãe!
Chega das roupas combinadas!
O papo agora é outro!.....

Bem, não fui privado dos fenômenos alucinantes, impetuosos e irreverentes da adolescência. Poucas não foram as vezes em que ficava enrubescido ou vermelho como um tomate. Os complexos ditando as faces de ser sem graça e medíocre, que ninguém conseguia me ouvir e compreender.

Então, ergui uma espécie de recanto, um lugar sagrado e impenetrável. Em outras palavras, ia para a varanda de casa e de certa maneira servia de divã. O silêncio, o vento ao pôr do sol, o pulsar das estrelas no pano de fundo da noite e nada mais se resumiam nas minhas testemunhas. O desabafo descia ladeira abaixo; por exemplo: o medo de tomar um fora da garota dos meus sonhos vinha a tona e outros embates típicos da adolescência.

Naquela varanda, o presente parecia uma sala de estar em que ser fútil e irônico tinha um quê de legal. O futuro acenava para o surgimento de uma realidade sem precedentes.

No entanto, o tempo sem querer saber, nem sequer dando qualquer importância virou a página e não escapei de ser lançado na rotina de um bom cidadão, com os genes de uma cultura puritana, democrática, honesta e cristã.

Ao folhear a história do profeta Amós, encontro Deus pondo uma pitada de hilário e contraditório na história dos homens. Sem hesitar, Amós mais parecia um adolescente transbordando de uma puberdade por um mundo novo e diferente. E por que não atestar ser a Jerusalém de sua infância, a sua varanda.

O desejo fluente dentro de Amós passava por uma espiritualidade sem excessos, pragmatismos e burocracias. O acaso não poderia ser a justificativa para as suas palavras munidas de um tom subversivo (termo não pejorativo), bombástico, contundente e valendo – me de um adágio popular: na lata. Enfim, sendo direto, sem rodeios, álibis e desculpas.

Os seus lábios afiadíssimos dissecavam a ignomínia ou vergonha, os arranjos por debaixo dos panos e as tramóias costumeiras no Reinado de Jeroboão!....

Só não sei por que não asfixiaram as verbetes do revolucionário Amós?
O seu fim não foi a forca, nem a masmorra, nem nenhuma tentativa de tortura. Simplesmente, rasgaram das páginas da sua história a varanda no qual ainda acalentava uma possibilidade de uma saudável revolução.
São Paulo - SP
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