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Opinião

Mantendo a esperança – apesar da violência contra a família

Em uma noite dessas, como não conseguia dormir, liguei a televisão. O canal sintonizado trouxe à minha frente Marília Gabriela entrevistando uma psicóloga. A conversa entre ambas girava em torno da questão do aborto. A cada momento eu ficava mais irritado e abismado com o que ouvia! Diante das perguntas da Gabi, a entrevistada fazia de tudo para convencer seus ouvintes de que a mulher grávida tem todo direito de decidir o que deve acontecer em seu ventre. Não houve nenhuma palavra, nenhum pensamento sequer sobre o direito do bebê em sobreviver. Ela falava em proteger a mulher, mas nada disse sobre a proteção à indefesa criança. Nesse momento, abaixei a cabeça, indignado, e murmurei a meu Pai: "Até quando, Senhor!"

Outra situação de indignação ocorreu quando eu aguardava a chegada de minha esposa no aeroporto em Curitiba, onde, juntos, daríamos um seminário sobre a família. Caminhando pelo saguão, parei em frente a uma loja de camisetas. Quanto mais eu lia as frases nelas escritas, mais vermelho eu ficava, não só de indignação, mas também de vergonha. Eram as mais “sujas” que eu já tinha visto! Fiquei muito indignado e, em seguida, raciocinando mais friamente, decidi protestar. Com isso em mente, entrei na loja. Uma garota de uns vinte anos de idade estava atrás do balcão e ali continuou. Dirigi-me a ela e perguntei se eu poderia falar com o gerente. Foi-me então comunicado que ele não estava na loja. Decidi, portanto, verbalizar a ela mesma meus sentimentos de tristeza, para que fossem a ele transmitidos.

– Moça, eu me sinto agredido com os dizeres dessas camisetas. Como uma loja, em um aeroporto internacional, pode expor tanto lixo?
Aquela moça me olhou com desdém e respondeu:
– O senhor pode não concordar, mas essas camisetas são as que nós mais vendemos!

Tentando segurar minha indignação para não despejá-la sobre aquela moça, virei as costas e, silenciosamente, saí da loja...

Alguns dias atrás, quando estava em Manaus, fui convidado a participar de um programa de televisão do tipo mesa redonda chamado Canal Livre – um grupo de profissionais que discutiria assuntos sobre a família. Havia um sociólogo, um psicólogo, um psiquiatra, um sexólogo, um advogado, e eu, conselheiro familiar. Entre outros tópicos, debatemos sobre “dar ou não dar” preservativos ao adolescente brasileiro. Cada um ia dando sua opinião e, na medida em que minha vez se aproximava, eu ficava mais indignado com o que ouvia.

Pedi paciência e sabedoria a Deus para dizer palavras adequadas, não somente aos que me rodeavam, como também aos telespectadores que iriam me ouvir. Finalmente chegou a minha vez e eu disse:
– Gostaria de cumprimentar meus colegas presentes e convidá-los a, juntos, ouvirmos o que tem a dizer o próprio Arquiteto da Família.

Abrindo a Palavra, li um dos textos que falam sobre não ter sexo pré-nupcial: “Pois está é a vontade de Deus, a vossa santificação: que vos abstenhais da prostituição. Porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação”. 1 Tessalonicenses 4. 3 e 7.

Confesso que estes três eventos, entre vários outros, vêm me deixando ainda mais preocupado com nossas famílias. A arena da política, as influências negativas da mídia e uma onda de ensino de nível superior estão impactando a família através de conceitos anti-bíblicos. Há uma forte tentativa de se redefinir a família como um grupo de indivíduos que decidem viver juntos, seja este formado por duas pessoas amasiadas, homossexuais ou lésbicas. A elite cultural procura designar estes grupos como famílias legítimas, desvalorizando, assim, a importância singular de uma família onde o marido e a esposa comprometem-se um com o outro e criam filhos responsáveis para a próxima geração.

O materialismo tem invadido o seio familiar. Uma ganância crescente cria a oportunidade de afastamento, tanto do pai quanto da mãe de seus papéis de pais presentes na vida física, espiritual e emocional de seus filhos. É durante os anos de crescimento que os filhos mais precisam de orientação e exemplo. Infelizmente, as creches, os maternais, as babás e as empregadas é que estão criando a geração que está chegando.

O declínio moral também tem contribuído para o desmoronamento do lar. Os valores que definem o certo e o errado e apóiam um comprometimento permanente estão desaparecendo da sociedade. Paralelamente com a quebra dos compromissos conjugais, surge o aumento do padrão de comportamento abusivo.

Mesmo aqueles que são criados em lares onde a Palavra de Deus é ensinada não estão isentos da influência libidinosa.

Nossos filhos, em suas escolas, sejam estas públicas ou particulares, são fustigados com ensinos que redefinem a família e promovem valores que bombardeiam o conceito bíblico do lar.

Por favor, não gostaria de ser mal entendido! Se estou falando tanto na família é porque ainda acredito nela! Há esperança! O que vejo é a família atravessando momentos de mudanças radicais e incrivelmente rápidas.

Tenho algumas idéias que podem nos ajudar, em meio a todo esse quadro de mutação, a não nos alienarmos, porém, mantermos alguns valores que podem defender a família:

1.
A agência de Deus na Terra, a Igreja, precisa esclarecer a sociedade sobre a razão da existência da família e providenciar uma clara compreensão sobre a definição e propósitos de Deus sobre a família, o qual é:
1. Espelhar a imagem de Deus (Gn 1.26-27)
2. Multiplicar a herança cristã (Gn 1.28; Sl 78.1-7)
3. Cuidar da criação de Deus (Gn 1.18-30)
4. Suprir as necessidades uns dos outros (Gn 2.18; 1 Co 11.11-12)
5. Ser reflexo do relacionamento de Cristo com a Igreja

2.
É necessário que haja uma compreensão da poderosa batalha espiritual que está sendo travada pelo diabo e seus anjos (demônios), para destruir a família e, assim, desmoronar a sociedade.

3.
Precisamos enxergar nosso mundo através dos olhos de Deus, com as lentes de Sua Palavra, para que os pais possam tomar decisões sábias que reflitam o interesse pelo bem estar de sua família e da sociedade de forma geral, mudando do foco egoísta para o altruísta, refletindo, assim, o ponto de vista de Deus.

Olhando para nossas três situações iniciais, a entrevista de Marília Gabriela sobre o aborto, as camisetas pornográficas no aeroporto e o programa de TV em Manaus, chego à conclusão de que esse tipo de experiência continuará cada vez mais a ocorrer. Não nos é possível evitar a avalanche de humanismo e materialismo cada vez mais crescentes, porém, podemos levantar a nossa voz contra as aberrações que nos sobrevierem. Devemos e podemos protestar contra os princípios que estão, simplesmente, destruindo os nossos lares.

Que, enquanto estivermos neste mundo, Deus nos dê sabedoria para não ficarmos à parte da realidade que nos rodeia, mas que tenhamos bem claro em nossas mentes os princípios bíblicos pelos quais devemos trilhar nossas vidas e condutas, de maneira a vivermos de forma que O agrade.


Dr. Jaime Kemp
é missionário da Sepal, dirigindo o Ministério Lar Cristão. Foi fundador da Missão Vencedores por Cristo. É conferencista e autor de 29 livros.

Texto publicado originalmente na Revista Lar Cristão

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