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O momento evangélico brasileiro requer profunda humildade e reflexão

Um pastor das circunvizinhanças de Belo Horizonte acaba de ser condenado a quarenta dias de prisão mediante a acusação de um vizinho do templo em que ministrava, sob alegação de excesso de barulho. 

A decisão do juiz foi sumária, sem averiguação nem perícia no local. A promotora, ouvida pela reportagem, limitou-se a dizer que toda “perturbação da ordem pública é crime”. 

Tempos difíceis esses em que somos questionados desde a forma do culto até ao conteúdo da pregação, passando pelas normas morais que nos orientam.
Constata-se que a sociedade brasileira alcançou grau elevado de secularização, sendo que sua elite pensante pauta-se pelos padrões comportamentais pós-cristãos importados de nossas matrizes culturais. 

No campo jurídico, muitos jovens estão atuando como promotores e juízes. Eles vêm, a maioria, de uma classe média descompromissada com o cristianismo. De lares que já não cultivavam qualquer vivência religiosa expressiva. Na melhor das hipóteses, pautam-se por valores humanistas, oriundos do iluminismo, com sentimentos até hostis para com a fé cristã. 

As faculdades de comunicação, por sua vez, formam jornalistas com acentuado senso crítico para com a tradição cristã. Longe de qualquer neutralidade, esses profissionais escolhem as notícias que devem ser veiculadas, dão-lhe o tratamento indicado pela norma culta vigente (leia-se “espírito deste século”), exercem o enorme poder de julgar que têm nas mãos e, com muita freqüência, expõem os religiosos à execração pública.
A Igreja Católica Romana sofre com tal situação. Vejam os inúmeros casos de padres condenados, escândalos publicados etc. Mas os evangélicos, inegavelmente, são mais afetados. Devemos admitir que, nos meios cultos, somos vistos como atrasados e pouco instruídos. Nosso comportamento social e nosso empenho evangelístico são vistos com antipatia e desprezo. Os pastores são tidos como mercenários e manipuladores. Tudo isso se reflete nas condenações que nos atingem, sejam na imprensa ou nos tribunais. 

Que fazer? A reação mais habitual entre os grupos minoritários é antropofágica. Facilmente estabelecem-se, ou aprofundam-se, divisões internas com críticas exacerbadas uns contra os outros. Alguns tendem a encampar apressadamente as críticas externas, num mecanismo perverso de indicar o condenado como responsável por sua própria condenação. Os fariseus, Pilatos e outros algozes fizeram isto com Jesus Cristo, lembra-se? 

Outra saída enganosa é o ufanismo. Alguns acham que os evangélicos devem crescer ainda mais em número e ocupar cargos de poder. Assim faríamos frente aos “adversários” que nos condenam injustamente, afirma-se. Ledo engano. Lembro-me da profecia de Ágabo que indicou a Paulo um caminho de prisões e martírio (At 21.10-11). Os seguidores do evangelho sempre serão minoria e sofrerão perseguições (Jo 16.33). O alerta bíblico é que temos sofrido pouco (Hb 12.4)! 

O momento requer profunda humildade e reflexão. Seremos capazes de uma auto-crítica consistente, sem acusações mútuas desnecessárias e sem culpa desmedida? Saberemos abrir mão de estrelismos e da ânsia de poder, dispostos a assumir a cruz que nos cabe neste momento da vida nacional (1 Pe 4. 13)? 

Como vamos expressar compaixão e manter uma pregação e testemunhos consistentes, na forma e no conteúdo (1 Co 1.18-25)? Como ajudaremos nossos filhos a não se envergonharem do evangelho (Rm 1.16)?

Uriel Heckert é psiquiatra e um dos fundadores e dirigentes do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC).

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