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Dust & Color: documentário explora o diálogo entre arte e fé
Nove artistas revelam a interseção da criatividade e a fé
Por Lissânder Dias
Será lançado no dia 31 de outubro em São Paulo (SP) “Dust & Color”, um documentário que explora o diálogo entre arte, fé e vocação a partir do olhar de artistas dos Estados Unidos, Canadá, Brasil e Bolívia.
Por meio de entrevistas pessoais e visitas aos espaços criativos, o filme revela como esses criadores — ilustradores, músicos, artistas e criativos digitais — enfrentam as grandes questões existenciais que impulsionam tanto sua arte quanto suas jornadas espirituais.
O documentário acompanha a jornada de artistas firmes na sua fé cristã e daqueles que lidam honestamente com as grandes crises da vida, ambos compartilhando perspectivas reais de como a arte se expressa a partir da espiritualidade, traumas pessoais e da identidade.
Ele explora temas desafiadores como crises de fé, o sofrimento e as lutas que surgem quando imagens desgastadas se tornam incapazes de expressar plenamente desafios contemporâneos.
O foco de “Dust & Color” está na convicção de que a expressão artística ajuda a atravessar as complexidades da vida e encontrar sentido em um mundo marcado tanto pela beleza quanto pela dor. Os artistas, de modo sincero e singelo, falam sobre como sua arte abre espaço para que mais pessoas participem desses caminhos e descobertas.
Em vez de respostas fáceis, o documentário acolhe as contradições e complexidades do fazer artístico, sugerindo que a arte — assim como a fé — pode ser uma prática de plenitude: um modo de se relacionar, com honestidade, com toda a experiência humana e com a jornada com Cristo.
“A ARTE É UMA PRÁTICA DE PLENITUDE AO LADO DE CRISTO”
ENTREVISTA – Filipe Amado, diretor e produtor do documentário “Dust & Color”
Como nasceu a ideia do documentário “Dust & Color”?
O documentário nasce de uma profunda vontade de dialogar com a cultura e as grandes perguntas existenciais: quem somos, para onde vamos, o que fomos chamados para ser? Trabalhando com os temas de arte, cultura e vocação, queria explorar como artistas que caminham com Jesus veem o mundo e fazem suas artes. Como o processo criativo deles ajuda a lidar com suas próprias perguntas, isso pode servir como ponte para que muitos outros possam refletir sobre o assunto.
Qual a sua responsabilidade no projeto?
Sou o diretor e produtor do documentário “Dust & Color”, desenvolvido pelo selo cultural Stema. Além disso, participo ativamente das conversas guiadas após as exibições do documentário, conduzindo o diálogo com o público, artistas e pensadores e, ocasionalmente, com a participação dos artistas em destaque.
O documentário se propõe a “explorar o diálogo entre arte, fé e vocação a partir do olhar de artistas dos Estados Unidos, Canadá, Brasil e Bolívia”. Como foi essa experiência de enxergar a beleza e o propósito através das lentes de artistas cristãos?
O documentário apresenta nove artistas de múltiplas disciplinas - ilustradores, músicos, artistas de instalações, animadores digitais e artistas mixed media - cada um navegando a interseção entre criatividade e fé de maneira única.
A experiência revelou que:
Honestidade sobre as lutas: Por meio de entrevistas pessoais e visitas aos espaços criativos dos artistas, o filme captura como eles enfrentam as grandes questões existenciais: "Quem somos? Por que estamos aqui? Para onde estamos indo?". Essas perguntas nos revelam que essas perguntas impulsionam tanto a arte quanto a jornada espiritual.
Beleza na fragilidade: O documentário mostra que a arte expõe a fragilidade humana e, paradoxalmente, revela o poder criativo de Deus. Como Mike Hernandez expressa: “A beleza de ser um artista visual é ter um canal para tudo o que desperta minha curiosidade. É uma forma de processar e compreender o mundo.”
Crise centrada em Cristo: O documentário trata da desconstrução como um processo de vulnerabilidade que precisa estar centrado em Cristo. A obra engaja com os desafios e riscos da desconstrução como uma oportunidade de lidar honestamente com questões profundas, mostrando como os artistas vivem a tensão entre tradição e expressão da fé.
Como a arte pode unir a experiência humana à jornada ao lado de Cristo?
A arte permite que a fé encontre nova linguagem, alcançando pessoas de maneiras que as representações tradicionais talvez já tenham perdido força, renovando a forma como nos conectamos com Deus. A expressão artística ajuda a atravessar as complexidades da vida e encontrar sentido em um mundo marcado tanto pela beleza quanto pela dor.
Em vez de respostas fáceis, a arte acolhe as contradições e complexidades da vida, mostrando que, assim como a fé, pode ser uma forma de abraçar os limites humanos enquanto se lida com essas complexidades. É nesse espaço de vulnerabilidade e honestidade que a arte se torna uma prática de plenitude, unindo a experiência humana à jornada ao lado de Cristo.
Os símbolos não pertencem apenas ao passado; eles são sinais que nos conduzem a uma reflexão mais profunda. Da mesma forma, a arte permite que a cultura redescubra sua relação com Jesus, ressoando de forma autêntica com a complexidade do nosso tempo.
A criatividade é um elemento fundamental na vida de um artista, né? E como a fé cristã pode estimular essa criatividade?
A arte e a criatividade são dádivas de Deus, que refletem Sua própria natureza criativa como Criador supremo. Dessa dádiva, vimemos a realidade de que fé e criatividade caminham juntos, nos brindando imaginários, parábolas e histórias. Dessa forma entendemos que quando a fé e a criatividade andam juntas, elas nos ajudam com quatro coisas (entre muitas mais):
1. Fundamento teológico: A criatividade não é uma ameaça à fé, mas um reflexo do caráter criador de Deus. Ao longo da história, a arte foi um meio poderoso de aprofundar e comunicar confissões, dos ícones medievais às expressões contemporâneas.
2. Honestidade profunda: Os artistas retratados mostram como o ato de criar pode fortalecer a fé ao lidar honestamente com dúvidas e lutas, em vez de evitá-las. A vulnerabilidade se torna essencial para a criação autêntica.
3. Espaço para processar: A criação artística oferece um espaço para refletir e expressar jornadas espirituais com vulnerabilidade e autenticidade, especialmente em um mundo marcado pela dor e pela incerteza.
4. Abertura para outros: Os artistas falam sobre como sua arte abre espaço para que mais pessoas participem desses caminhos e dessas descobertas espirituais.
Se há, de fato, um potencial de criatividade escondido na fé, por que parece que nós, cristãos, somos menos criativos do que poderíamos?
Em parte, temos um problema em diferenciar pureza de santidade. A cultura evangélica vem de uma forte cultura de pureza e tende a não tomar riscos ou até explorar meios e técnicas diferentes com muito medo de estar ferindo ou insultando a santidade de Deus. Na verdade, essa cultura de pureza traz um empobrecimento ao empacotar a arte em um processo panfletário que visa uma decisão de conversão antes de haver tido um diálogo ou uma exploração do ser humano diante de uma arte que pode provocar e transformar.
Na fé, encontramos a conexão com o Deus que cria, e nós, feitos à sua imagem e semelhança, coparticipamos criando artefatos, indagando na arte como forma de louvor.
Algumas coisas que nos fazem menos criativos podem ser atribuídas a imagens desgastadas que já não expressam plenamente os desafios contemporâneos, sugerindo que muitas vezes nos limitamos a formas e símbolos que já não ressoam com a realidade atual.
Além disso, há um certo repúdio à vulnerabilidade, essencial para a criação autêntica, mas difícil em contextos em que se espera sempre “ter respostas certas” e um triunfalismo certeiro. Existe também uma desconexão histórica entre comunidades da fé cristã e cenas artísticas, que muitas vezes caminham separadas, criando uma necessidade urgente de diálogo e pontes entre esses mundos.

O que o documentário revelou a você, pessoalmente?
Fazer “Dust & Color” foi uma jornada profundamente transformadora para mim. Depois de viver em 6 países e estudar a interseção entre cristianismo e artes no Regent College (Canadá), eu achava que compreendia bem essa relação. Mas ao me sentar com cada artista, ouvir suas histórias e testemunhar suas vulnerabilidades, descobri que minha própria jornada de fé precisava de mais honestidade.
O documentário me revelou que a arte cristã mais poderosa não surge quando tentamos ter todas as respostas, mas quando abraçamos nossas perguntas com coragem. Ver artistas como Scott Erickson desenvolvendo uma linguagem visual que vai além dos símbolos tradicionais, ou Dea Jenkins descobrindo propósito através da oração em meio à dor profunda, me ensinou que a fé não precisa ser polida ou perfeita para ser autêntica.
Pessoalmente, o processo me ajudou a mostrar para outros como podem lidar com suas próprias dúvidas e lutas como parte integral da minha caminhada com Cristo. Como o pastor Davi Rabelo, que assistiu ao filme, observou, deixar as pessoas falarem por si mesmas criou um espaço de autenticidade que me transformou tanto quanto espero que transforme os espectadores.
O documentário também explora “temas desafiadores como crises de fé, o sofrimento e as lutas que surgem quando imagens desgastadas se tornam incapazes de expressar plenamente desafios contemporâneos”. Que crises são essas que os artistas cristãos vivem?
O documentário aborda várias dimensões de crise que os artistas enfrentam:
Crise de linguagem: As "imagens desgastadas" representam formas tradicionais de expressão que já não conseguem comunicar adequadamente as complexidades e desafios da vida contemporânea. Os artistas precisam encontrar nova linguagem para sua fé.
Traumas e identidade: O documentário mostra como os artistas expressam sua arte a partir de espiritualidade, traumas pessoais e questões de identidade - áreas onde a fé e a vida se encontram de forma complexa e nem sempre confortável.
Tensões existenciais: Os artistas enfrentam as mesmas grandes questões que todos nós: "Quem somos? Por que estamos aqui? Para onde estamos indo?" Por isso precisam processá-las publicamente através de sua arte.
Como você vê o advento da Inteligência Artificial na produção artística? Uma ameaça ou um recurso útil?
Vejo a IA como mais um pincel na paleta do artista, uma ferramenta poderosa que pode tanto amplificar nossa criatividade quanto nos desafiar a refletir mais profundamente sobre o que significa ser criativo à imagem de Deus.
A IA não substitui a vulnerabilidade humana, a experiência vivida ou a jornada espiritual que informam a arte autêntica. Os artistas do documentário trazem algo que nenhuma IA pode replicar: conexão humana, suas experiências, traumas e encontros com o divino.
O coração da arte - especialmente da arte que dialoga com a fé - continuará sendo a capacidade humana de processar o mundo através de nossa experiência única com Deus.
A arte cristã, de forma geral, sempre esteve presente na história da Igreja. Pensando nos tempos atuais, como você vê a relação dos cristãos brasileiros com a arte? Quais os pontos positivos e quais os negativos?
Acredito que há um movimento de artistas cristãos brasileiros navegando por essas questões de espiritualidade, liturgia e criatividade. É uma forma de nos reconectar com um imaginário que talvez tenha perdido se por um exagero no iconoclasmo escolástico que facilitou uma má interpretação do sola scriptura. Esse empobrecimento visual e criativo afastou muitos cristãos de formas ricas de expressão da fé que foram historicamente importantes.
Através da arte, artistas têm criado pontes e promovido diálogo entre cristãos e não cristãos, para que possamos reencontrar um Deus que nos ama, um Cristo que se sacrificou por nós e o Espírito Santo que sopra seu alento criativo que nos reconecta com nosso Criador.
O fato de o documentário incluir quatro artistas brasileiros — Paulo Nazareth, Daniel Ribeiro, Kely Pinheiro a Nic Medeiros — reflete essa renovação criativa acontecendo no Brasil.
Como você espera que o documentário abençoe a igreja brasileira?
Minha esperança é que “Dust & Color” abra espaços seguros para vulnerabilidade e questionamento nas comunidades de fé brasileiras. Tendo trabalhado com artistas brasileiros no projeto "De Onde Brota a Esperança" e agora com Paulo Nazareth, Daniel Ribeiro e Nic Medeiros no documentário, vejo uma geração de cristãos brasileiros ansiosa por uma fé que dialogue honestamente com a complexidade da vida.
Espero que o filme ajude a igreja brasileira a valorizar artistas não apenas como decoradores do culto, mas como teólogos visuais e sonoros que nos ajudam a processar nossa fé de formas que palavras sozinhas não conseguem. Como Stella Monteiro dos Amigos do L"Abri destacou, eventos assim elevam a discussão da arte cristã “ao patamar da hospitalidade, onde pessoas possam pensar em suas vocações”. É exatamente isso que espero: que a igreja brasileira se torne um lugar mais hospitaleiro para artistas e para todos que buscam expressar sua fé de forma autêntica e criativa.
Assista ao trailer: https://www.youtube.com/watch?v=WeWBPDXI2xw
Datas de exibição do documentário
- 31 de outubro, 19h30, IBMA São Paulo, Alto Lapa (Rua Clélia, 1517 — São Paulo). Entrada gratuita!
- 15 de novembro: Curitiba (PR)
- 21 de novembro: Brasília (DF)
- Dezembro (data a confirmar): Goiânia (GO)
Inscreva-se no Sympla: https://surl.li/fmpifo
Contato do projeto:
Email: filipe@stema.studio
Website: Dust & Color: Um documentário sobre arte, fé e vocação. – Stema Studio
Instagram: @stemastudio.
REVISTA ULTIMATO – JESUS, A LUZ DO MUNDO
Jesus, o clímax da narrativa da redenção, é a luz do mundo. Não há luz que se compare a ele. Sua luz alcança todo o mundo.
Além de anunciar-se como Luz, Jesus declara que os seus seguidores são a luz do mundo. “Pois Deus que disse: ‘Das trevas resplandeça a luz’, ele mesmo brilhou em nosso coração para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2Co 4.6).
É disso que trata a edição 415 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» O Caminho do Coração – Meditações Diárias, Ricardo Barbosa
» A Arte Não Precisa de Justificativa, H. R. Rookmaaker
» A Arte e a Bíblia, Francis Schaeffer
» Fé e cultura: discernindo com sabedoria, por Theo Pemberton
» Para que serve a arte?, por Bruno Santana
Por Lissânder Dias
Será lançado no dia 31 de outubro em São Paulo (SP) “Dust & Color”, um documentário que explora o diálogo entre arte, fé e vocação a partir do olhar de artistas dos Estados Unidos, Canadá, Brasil e Bolívia.Por meio de entrevistas pessoais e visitas aos espaços criativos, o filme revela como esses criadores — ilustradores, músicos, artistas e criativos digitais — enfrentam as grandes questões existenciais que impulsionam tanto sua arte quanto suas jornadas espirituais.
O documentário acompanha a jornada de artistas firmes na sua fé cristã e daqueles que lidam honestamente com as grandes crises da vida, ambos compartilhando perspectivas reais de como a arte se expressa a partir da espiritualidade, traumas pessoais e da identidade.
Ele explora temas desafiadores como crises de fé, o sofrimento e as lutas que surgem quando imagens desgastadas se tornam incapazes de expressar plenamente desafios contemporâneos.
O foco de “Dust & Color” está na convicção de que a expressão artística ajuda a atravessar as complexidades da vida e encontrar sentido em um mundo marcado tanto pela beleza quanto pela dor. Os artistas, de modo sincero e singelo, falam sobre como sua arte abre espaço para que mais pessoas participem desses caminhos e descobertas.
Em vez de respostas fáceis, o documentário acolhe as contradições e complexidades do fazer artístico, sugerindo que a arte — assim como a fé — pode ser uma prática de plenitude: um modo de se relacionar, com honestidade, com toda a experiência humana e com a jornada com Cristo.
ENTREVISTA – Filipe Amado, diretor e produtor do documentário “Dust & Color”
Como nasceu a ideia do documentário “Dust & Color”?
O documentário nasce de uma profunda vontade de dialogar com a cultura e as grandes perguntas existenciais: quem somos, para onde vamos, o que fomos chamados para ser? Trabalhando com os temas de arte, cultura e vocação, queria explorar como artistas que caminham com Jesus veem o mundo e fazem suas artes. Como o processo criativo deles ajuda a lidar com suas próprias perguntas, isso pode servir como ponte para que muitos outros possam refletir sobre o assunto.
Qual a sua responsabilidade no projeto?
Sou o diretor e produtor do documentário “Dust & Color”, desenvolvido pelo selo cultural Stema. Além disso, participo ativamente das conversas guiadas após as exibições do documentário, conduzindo o diálogo com o público, artistas e pensadores e, ocasionalmente, com a participação dos artistas em destaque.
O documentário se propõe a “explorar o diálogo entre arte, fé e vocação a partir do olhar de artistas dos Estados Unidos, Canadá, Brasil e Bolívia”. Como foi essa experiência de enxergar a beleza e o propósito através das lentes de artistas cristãos?
O documentário apresenta nove artistas de múltiplas disciplinas - ilustradores, músicos, artistas de instalações, animadores digitais e artistas mixed media - cada um navegando a interseção entre criatividade e fé de maneira única.
A experiência revelou que:
Honestidade sobre as lutas: Por meio de entrevistas pessoais e visitas aos espaços criativos dos artistas, o filme captura como eles enfrentam as grandes questões existenciais: "Quem somos? Por que estamos aqui? Para onde estamos indo?". Essas perguntas nos revelam que essas perguntas impulsionam tanto a arte quanto a jornada espiritual.
Beleza na fragilidade: O documentário mostra que a arte expõe a fragilidade humana e, paradoxalmente, revela o poder criativo de Deus. Como Mike Hernandez expressa: “A beleza de ser um artista visual é ter um canal para tudo o que desperta minha curiosidade. É uma forma de processar e compreender o mundo.”
Crise centrada em Cristo: O documentário trata da desconstrução como um processo de vulnerabilidade que precisa estar centrado em Cristo. A obra engaja com os desafios e riscos da desconstrução como uma oportunidade de lidar honestamente com questões profundas, mostrando como os artistas vivem a tensão entre tradição e expressão da fé.
Como a arte pode unir a experiência humana à jornada ao lado de Cristo?
A arte permite que a fé encontre nova linguagem, alcançando pessoas de maneiras que as representações tradicionais talvez já tenham perdido força, renovando a forma como nos conectamos com Deus. A expressão artística ajuda a atravessar as complexidades da vida e encontrar sentido em um mundo marcado tanto pela beleza quanto pela dor.
Em vez de respostas fáceis, a arte acolhe as contradições e complexidades da vida, mostrando que, assim como a fé, pode ser uma forma de abraçar os limites humanos enquanto se lida com essas complexidades. É nesse espaço de vulnerabilidade e honestidade que a arte se torna uma prática de plenitude, unindo a experiência humana à jornada ao lado de Cristo.
Os símbolos não pertencem apenas ao passado; eles são sinais que nos conduzem a uma reflexão mais profunda. Da mesma forma, a arte permite que a cultura redescubra sua relação com Jesus, ressoando de forma autêntica com a complexidade do nosso tempo.
A criatividade é um elemento fundamental na vida de um artista, né? E como a fé cristã pode estimular essa criatividade?
A arte e a criatividade são dádivas de Deus, que refletem Sua própria natureza criativa como Criador supremo. Dessa dádiva, vimemos a realidade de que fé e criatividade caminham juntos, nos brindando imaginários, parábolas e histórias. Dessa forma entendemos que quando a fé e a criatividade andam juntas, elas nos ajudam com quatro coisas (entre muitas mais):
1. Fundamento teológico: A criatividade não é uma ameaça à fé, mas um reflexo do caráter criador de Deus. Ao longo da história, a arte foi um meio poderoso de aprofundar e comunicar confissões, dos ícones medievais às expressões contemporâneas.
2. Honestidade profunda: Os artistas retratados mostram como o ato de criar pode fortalecer a fé ao lidar honestamente com dúvidas e lutas, em vez de evitá-las. A vulnerabilidade se torna essencial para a criação autêntica.
3. Espaço para processar: A criação artística oferece um espaço para refletir e expressar jornadas espirituais com vulnerabilidade e autenticidade, especialmente em um mundo marcado pela dor e pela incerteza.
4. Abertura para outros: Os artistas falam sobre como sua arte abre espaço para que mais pessoas participem desses caminhos e dessas descobertas espirituais.
Se há, de fato, um potencial de criatividade escondido na fé, por que parece que nós, cristãos, somos menos criativos do que poderíamos?
Em parte, temos um problema em diferenciar pureza de santidade. A cultura evangélica vem de uma forte cultura de pureza e tende a não tomar riscos ou até explorar meios e técnicas diferentes com muito medo de estar ferindo ou insultando a santidade de Deus. Na verdade, essa cultura de pureza traz um empobrecimento ao empacotar a arte em um processo panfletário que visa uma decisão de conversão antes de haver tido um diálogo ou uma exploração do ser humano diante de uma arte que pode provocar e transformar.
Na fé, encontramos a conexão com o Deus que cria, e nós, feitos à sua imagem e semelhança, coparticipamos criando artefatos, indagando na arte como forma de louvor.
Algumas coisas que nos fazem menos criativos podem ser atribuídas a imagens desgastadas que já não expressam plenamente os desafios contemporâneos, sugerindo que muitas vezes nos limitamos a formas e símbolos que já não ressoam com a realidade atual.
Além disso, há um certo repúdio à vulnerabilidade, essencial para a criação autêntica, mas difícil em contextos em que se espera sempre “ter respostas certas” e um triunfalismo certeiro. Existe também uma desconexão histórica entre comunidades da fé cristã e cenas artísticas, que muitas vezes caminham separadas, criando uma necessidade urgente de diálogo e pontes entre esses mundos.

O que o documentário revelou a você, pessoalmente?
Fazer “Dust & Color” foi uma jornada profundamente transformadora para mim. Depois de viver em 6 países e estudar a interseção entre cristianismo e artes no Regent College (Canadá), eu achava que compreendia bem essa relação. Mas ao me sentar com cada artista, ouvir suas histórias e testemunhar suas vulnerabilidades, descobri que minha própria jornada de fé precisava de mais honestidade.
O documentário me revelou que a arte cristã mais poderosa não surge quando tentamos ter todas as respostas, mas quando abraçamos nossas perguntas com coragem. Ver artistas como Scott Erickson desenvolvendo uma linguagem visual que vai além dos símbolos tradicionais, ou Dea Jenkins descobrindo propósito através da oração em meio à dor profunda, me ensinou que a fé não precisa ser polida ou perfeita para ser autêntica.
Pessoalmente, o processo me ajudou a mostrar para outros como podem lidar com suas próprias dúvidas e lutas como parte integral da minha caminhada com Cristo. Como o pastor Davi Rabelo, que assistiu ao filme, observou, deixar as pessoas falarem por si mesmas criou um espaço de autenticidade que me transformou tanto quanto espero que transforme os espectadores.
O documentário também explora “temas desafiadores como crises de fé, o sofrimento e as lutas que surgem quando imagens desgastadas se tornam incapazes de expressar plenamente desafios contemporâneos”. Que crises são essas que os artistas cristãos vivem?
O documentário aborda várias dimensões de crise que os artistas enfrentam:
Crise de linguagem: As "imagens desgastadas" representam formas tradicionais de expressão que já não conseguem comunicar adequadamente as complexidades e desafios da vida contemporânea. Os artistas precisam encontrar nova linguagem para sua fé.
Traumas e identidade: O documentário mostra como os artistas expressam sua arte a partir de espiritualidade, traumas pessoais e questões de identidade - áreas onde a fé e a vida se encontram de forma complexa e nem sempre confortável.
Tensões existenciais: Os artistas enfrentam as mesmas grandes questões que todos nós: "Quem somos? Por que estamos aqui? Para onde estamos indo?" Por isso precisam processá-las publicamente através de sua arte.
Como você vê o advento da Inteligência Artificial na produção artística? Uma ameaça ou um recurso útil?
Vejo a IA como mais um pincel na paleta do artista, uma ferramenta poderosa que pode tanto amplificar nossa criatividade quanto nos desafiar a refletir mais profundamente sobre o que significa ser criativo à imagem de Deus.
A IA não substitui a vulnerabilidade humana, a experiência vivida ou a jornada espiritual que informam a arte autêntica. Os artistas do documentário trazem algo que nenhuma IA pode replicar: conexão humana, suas experiências, traumas e encontros com o divino.
O coração da arte - especialmente da arte que dialoga com a fé - continuará sendo a capacidade humana de processar o mundo através de nossa experiência única com Deus.
A arte cristã, de forma geral, sempre esteve presente na história da Igreja. Pensando nos tempos atuais, como você vê a relação dos cristãos brasileiros com a arte? Quais os pontos positivos e quais os negativos?
Acredito que há um movimento de artistas cristãos brasileiros navegando por essas questões de espiritualidade, liturgia e criatividade. É uma forma de nos reconectar com um imaginário que talvez tenha perdido se por um exagero no iconoclasmo escolástico que facilitou uma má interpretação do sola scriptura. Esse empobrecimento visual e criativo afastou muitos cristãos de formas ricas de expressão da fé que foram historicamente importantes.
Através da arte, artistas têm criado pontes e promovido diálogo entre cristãos e não cristãos, para que possamos reencontrar um Deus que nos ama, um Cristo que se sacrificou por nós e o Espírito Santo que sopra seu alento criativo que nos reconecta com nosso Criador.
O fato de o documentário incluir quatro artistas brasileiros — Paulo Nazareth, Daniel Ribeiro, Kely Pinheiro a Nic Medeiros — reflete essa renovação criativa acontecendo no Brasil.
Como você espera que o documentário abençoe a igreja brasileira?
Minha esperança é que “Dust & Color” abra espaços seguros para vulnerabilidade e questionamento nas comunidades de fé brasileiras. Tendo trabalhado com artistas brasileiros no projeto "De Onde Brota a Esperança" e agora com Paulo Nazareth, Daniel Ribeiro e Nic Medeiros no documentário, vejo uma geração de cristãos brasileiros ansiosa por uma fé que dialogue honestamente com a complexidade da vida.
Espero que o filme ajude a igreja brasileira a valorizar artistas não apenas como decoradores do culto, mas como teólogos visuais e sonoros que nos ajudam a processar nossa fé de formas que palavras sozinhas não conseguem. Como Stella Monteiro dos Amigos do L"Abri destacou, eventos assim elevam a discussão da arte cristã “ao patamar da hospitalidade, onde pessoas possam pensar em suas vocações”. É exatamente isso que espero: que a igreja brasileira se torne um lugar mais hospitaleiro para artistas e para todos que buscam expressar sua fé de forma autêntica e criativa.
Assista ao trailer: https://www.youtube.com/watch?v=WeWBPDXI2xw
Datas de exibição do documentário
- 31 de outubro, 19h30, IBMA São Paulo, Alto Lapa (Rua Clélia, 1517 — São Paulo). Entrada gratuita!
- 15 de novembro: Curitiba (PR)
- 21 de novembro: Brasília (DF)
- Dezembro (data a confirmar): Goiânia (GO)
Inscreva-se no Sympla: https://surl.li/fmpifo
Contato do projeto:
Email: filipe@stema.studio
Website: Dust & Color: Um documentário sobre arte, fé e vocação. – Stema Studio
Instagram: @stemastudio.
REVISTA ULTIMATO – JESUS, A LUZ DO MUNDOJesus, o clímax da narrativa da redenção, é a luz do mundo. Não há luz que se compare a ele. Sua luz alcança todo o mundo.
Além de anunciar-se como Luz, Jesus declara que os seus seguidores são a luz do mundo. “Pois Deus que disse: ‘Das trevas resplandeça a luz’, ele mesmo brilhou em nosso coração para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2Co 4.6).
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Lissânder Dias do Amaral é jornalista, blogueiro, poeta e editor de livros. Integra o Conselho Nacional da Interserve Brasil e o Conselho da Unimissional. É autor de “O Cotidiano Extraordinário – a vida em pequenas crônicas” e responsável pelo blog Fatos e Correlatos do Portal Ultimato. É um dos fundadores do Movimento Vocare e ajudou a criar as organizações cristãs de cooperação Rede Mãos Dadas e Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS).
- Textos publicados: 144 [ver]
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Site: http://www.fatosecorrelatos.com.br
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