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Opinião

Com Jesus à mesa: partilha que gera o milagre

Levar o que temos à presença de Jesus é o significado mais profundo de sacrifício

Por Hideide Brito Torres

O texto de Marcos 6.30-44 narra o milagre da multiplicação dos pães e peixes, um dos poucos eventos milagrosos que aparecem registrados em todos os evangelhos. Mas qual seria o ingrediente essencial para que exista um milagre?

Muitos responderiam: fé. Outros diriam: um grande problema que apenas Deus pode resolver. Contudo, ao examinar cada milagre narrado nas Escrituras, descobrimos um elemento básico presente em todos eles: uma disposição de entrega.

O padrão bíblico da entrega

No Antigo Testamento, esse padrão se repete. A viúva de Sarepta entregou sua última porção de farinha e azeite ao profeta Elias. Quando houve veneno na panela, alguém trouxe farinha a Eliseu. O próprio Eliseu entregou os pães das primícias aos seus companheiros famintos.

Não há na Palavra de Deus nenhum milagre que aconteça sem uma disposição de entrega. Mesmo quando não envolvia alimento, sempre encontramos alguém disposto a dar algo – começando pelo próprio Deus, que ofereceu maná no deserto quando o povo nada tinha a entregar senão sua confiança.

Mas reconheçamos: entregar o que é nosso em momentos de crise não é simples. Nossa cultura reforça o contrário: "farinha pouca, meu pirão primeiro". Somos seres egoístas desde a queda no Éden, e a restauração da imagem de Deus em nós passa pelo aprendizado do sacrifício – tirar algo de si, algo precioso, sem garantias, diante da dificuldade.

Cinco pães, dois peixes
No texto de Marcos, os discípulos não tinham tempo nem para comer. Provavelmente guardavam aqueles cinco pães e dois peixes para um momento mais adequado, longe da multidão. Quando Jesus pergunta "O que vocês têm?", talvez tenham pensado: "Simplesmente não faz sentido entregar isso. São cinco mil pessoas. É muito pouco. Por que perder tempo com isso se o desafio é muito maior?"

Quantas vezes pensamos assim? O desafio é grande demais para nossa idade, nosso tempo, nosso dinheiro, nossa condição. Ou, como Moisés e Jeremias, achamos que somos jovens demais, inexperientes demais, limitados demais. A pergunta que nos cerca é a mesma: "O que temos diante desse desafio todo?"

E a resposta de Jesus é simples e profunda: "Tragam até mim".

Não se trata de usar nossos recursos à nossa maneira ou fazer nosso próprio diagnóstico da situação. Jesus diz: "O que você tem, traga para mim". Levar o que temos à presença de Jesus é o significado mais profundo de sacrifício. Sacrificar é levar o que tenho até Jesus, sem questionar se é muito, se é pouco, se é suficiente.



Sacrifício como proximidade
A palavra hebraica para sacrifício, korban, compartilha a mesma raiz das palavras "aproximar" e "parentesco". O professor Elie Lizorkin-Eyzenberg explica que essa conexão não é acidental: no hebraico bíblico, sacrifício não é mera entrega de algo bom a Deus, mas a entrega que aproxima o distante.

Toda vez que alguém sacrificava no Antigo Testamento, o ato criava aproximação entre quem sacrificava e Deus. Por isso a Palavra diz que Jesus fez sacrifício vivo em nosso lugar, e de ambos fez um – o sacrifício de Cristo nos aproximou de Deus.

O sacrifício é a entrega que nos aproxima de Deus, de modo que a entrega nos garante a presença. Quando entregamos algo bom e recebemos algo ruim em troca, isso não é sacrifício – é mau negócio. O sacrifício bíblico nunca nos coloca em perda diante de Deus. A entrega visa ao melhor resultado: que o milagre aconteça porque Deus se fez presente.

O resultado não é o milagre. Nem o problema resolvido. O resultado do sacrifício é a manifestação da presença de Deus. É essa presença que possibilita o milagre.

O modelo de Jesus
Jesus atrai a presença de Deus para o lugar da necessidade através de uma oração de gratidão. Todo ato de sacrifício na Bíblia está ligado à dependência de Deus. Antes de casamentos, guerras, viagens, curas – havia um momento de sacrifício, uma certeza de que quando algo está nas mãos de Deus, Ele cuida dos resultados.

A tarefa de Jesus não era garantir a multiplicação, mas entregar a Deus o que recebera dos discípulos. Precisamos acreditar em um Deus que cuida dos resultados. Para isso, precisamos nos tornar pessoas realmente sacrificiais.

Ser uma pessoa sacrificial não é estar disposta a morrer por algo, esgotando-se até sentir-se traída. Ser sacrificial é saber como fazer a entrega que atrai a presença de Deus. Jesus sabia fazer isso: diante de qualquer necessidade, orava em ações de graça. Diante do túmulo de Lázaro, enquanto todos choravam, Ele agradeceu. Agradecer por algo que ainda não aconteceu significa profunda entrega.

A insuficiência que nos liberta

Deus requer de mim o que não considero suficiente. Não tenho tempo suficiente – os anos passam num piscar de olhos. Não tenho dinheiro suficiente diante de tantas necessidades. Não posso salvar meu vizinho, minha filha, meu pai diante da dor.

Mas posso fazer uma coisa: posso me aproximar de Deus. Quando me aproximo do trono da graça, encontro graça. Atraio a graça de Deus quando dou graças. Quando me desprendo, o azeite não acaba, a farinha corta o veneno. Abro mão das minhas primícias pessoais e ganho a subsistência de todas as coisas ao redor. Transformo as situações da minha vida pelo ato da entrega.

Jesus fez milagres para todos que se aproximaram dele com coração sincero. Mas não vemos Jesus fazer um milagre para si. Quando teve fome, não fez pão para si. Na cruz, não se libertou. Ressuscitou mortos, mas nada fez por si mesmo – porque sabia o valor da entrega e que entregava tudo para receber algo ainda melhor.

Imagino o alívio e a liberdade no coração de Jesus quando entregou os pães e peixes a Deus, e depois, agradecido, aos discípulos.

Temos feito tanto sem garantia da presença de Deus, e depois nos frustramos porque não alcançamos resultados. Evitamos essa oração de ação de graças plena, de entrega plena, porque reservamos no coração um plano B.

Mas Jesus nos convida a uma entrega total. Ele nos convida a trazer até Ele aquilo que temos – por menor que seja, por insuficiente que pareça – e confiar que, nas mãos dele, o impossível se torna possível.

Porque todo milagre começa com uma disposição de entrega. E toda entrega nos aproxima da presença de Deus. E é na presença dele que todas as coisas se completam.


Artigo baseado em sermão sobre Marcos 6.30-44

  • Hideide Brito Torres é pastora da Igreja Metodista há 25 anos. Bispa há 8 anos, exerce o episcopado no GO, DF, TO, DF e RN, onde lidera um corpo pastoral de cerca de 95 integrantes. Doutora em estudos literários, mestre em comunicação social, jornalista e teóloga. Escritora com mais de quarenta livros publicados.
Imagem: Unsplash.

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A Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS) é uma rede de relacionamentos entre organizações, igrejas evangélicas e pessoas que atuam na área social, no Brasil, que teve o seu início em 2003. Seu propósito é proporcionar espaços de encorajamento, capacitação, articulação, mobilização, troca de experiências, informações, recursos e tecnologia social. Sua Missão: ser expressão dos valores do reino de Deus e da missão de Jesus na sociedade brasileira, fomentando os valores de justiça, respeito, equidade, bondade e misericórdia por meio da ação social e na defesa dos direitos humanos.


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