Opinião
02 de julho de 2025- Visualizações: 4131
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A ciência modifica a fé?
Cientistas podem ser rigorosamente céticos sobre certas coisas, mas também ingênuos em acreditar que não têm compromissos religiosos
Por Bill Newsome
8 de julho - Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico
Até 1997, eu era bem reservado, em termos de fé, dentro da academia. As pessoas com as quais eu trabalhava em meu laboratório sabiam que eu frequentava a igreja todos os domingos. Assim, eu conversava sobre isso, mas não me envolvia em discussões mais amplas. No entanto, em 1997, fui convidado para falar no Veritas Fórum,1 em Stanford. Na verdade, eu não queria fazê-lo. Eu nunca havia ficado de pé em um fórum acadêmico público para falar sobre temas ligados à fé e fugia disso.
De certa forma, acho que eu não queria que esse nível de complexidade influenciasse meus relacionamentos com colegas acadêmicos, mas acabei concluindo que todas as minhas razões para não discursar eram indignas e decidi seguir em frente. Provavelmente, trabalhei mais duro naquela palestra do que em qualquer outra em minha vida, tentando ser real e ponderado, sem me tornar maçante ou dogmático.
Ao olhar para trás hoje, sou realmente feliz por ter dado essa primeira palestra sobre ciência e fé, porque ela abriu a porta para muitas conversas com colegas de departamento e com estudantes, em particular. Uns poucos foram negativos, mas a maioria das reações foi inquestionavelmente boa e positiva. Muitos dos meus colegas são agnósticos ou ateístas, mas sem agressividade, sendo muito ponderados, buscando algum senso de propósito no universo e tentando atribuir-lhe sentido. Embora acolham conclusões diferentes das que considero corretas hoje, reconheço que eles são autênticos em seus questionamentos. Acredito que “dar as caras” como cristão, na academia, foi muito positivo para mim.
Alguns de meus colegas eram militantes antirreligiosos e sentiram repugnância pela coisa toda, deixando isso claro para mim. Quando vamos a fundo, descobrimos tipicamente que as pessoas que respondem com todo esse calor emocional, normalmente, tiveram em seu passado alguma experiência muito desagradável, a qual é a causa da sua raiva. Quando temos conversas honestas, é interessante para mim tentar descobrir esses sentimentos e de onde eles vêm. Penso que, às vezes, eles vêm de fontes ruins e equivocadas, mesmo sendo muito reais na vida dessas pessoas. Outras, vêm de fontes muito boas, com as quais tenho alguma simpatia.

Descobri que cientistas podem ser rigorosamente céticos sobre certas coisas, mas também ingênuos em acreditar que não têm compromissos religiosos. Quando pergunto a um de meus amigos da ciência se eles são religiosos, a resposta é: “Não, eu sou um cientista”, implicando que, se você é um cientista, não pode ser religioso e que essas coisas são opostas. Eles gostariam de acreditar que cientistas não assumem coisas por fé, mas por evidências. Assim, eu frequentemente pergunto aos meus amigos cientistas: “Você é casado? Você fez algum tipo de experimento científico para saber se era uma boa ideia se casar? Você tem alguma base científica para acreditar que esse casamento vai durar a vida toda? Que tipo de evidência você usou?”. É claro que ouço apenas um “hum...” ou um “quer dizer...” ou, eventualmente, eles admitem que talvez as pessoas assumam compromissos com base em profundas expressões de fé, em valores pessoais que não procedem da ciência.
Às vezes, essa descoberta de que, no fim das contas, ele ou ela é uma pessoa de fé é bem desconcertante para um cientista. De fato, descobri que muitos cientistas não pensam muito profundamente sobre a natureza do valor humano, do propósito e do compromisso humano; pois, se o fizessem, não poderiam mais colocar a religião e a ciência em campos opostos tão prontamente. A ciência simplesmente não trata das questões mais importantes da vida.
“[...] o que Gênesis sugere, eu acredito, é que o nosso “eu” original, com a impressão do polegar divino sobre ele, é a parte mais essencial do que nós somos. E, ainda, que ele está profundamente enterrado em todos nós, como uma fonte de sabedoria, de força e de cura, à qual podemos recorrer ou à qual, com nossa terrível liberdade, podemos escolher não recorrer. Penso, entre outras coisas, que toda arte verdadeira vem desse “eu” profundo [...] Penso que nossas orações mais verdadeiras também vêm dali – aquelas orações tantas vezes não verbalizadas, espontâneas, que podem brotar da vida de incrédulos ou de crentes, reconheçam-nas eles como orações ou não. E penso que dali vêm nossos melhores sonhos e nossos momentos de atividade mais alegres e serenos, além de todos aqueles momentos em que encontramos a nós mesmos melhores ou mais fortes, ou mais corajosos, ou mais sábios do que nós somos".
Gosto dessa citação de Buechner porque ela combina uma consciência científica moderna (sobre a evolução, por exemplo) com uma percepção muito bíblica da fé no amor salvador de Deus por cada um de nós. Buechner recorre às verdades básicas de Gênesis 1 sobre o amor de Deus por sua criação (incluindo cada um de nós) de um modo muito tocante para mim.
"Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou" (Gênesis 1.26-27).
Essa passagem de Gênesis aponta para um mistério ainda maior. Ela diz que nossa origem está mais distante que o espaço e é mais antiga que o tempo. Ela diz que a evolução, a genética e o meio ambiente explicam muito sobre nós, mas não explicam tudo, nem mesmo a coisa mais importante. Ela diz que, embora vivamos no mundo, nunca estaremos totalmente em casa nele. Ela diz, em resumo, que não apenas fomos criados por Deus, mas também que fomos criados à imagem e à semelhança dele. Temos algo de Deus em nós, assim como temos algo das estrelas.
BUECHNER, Frederick. Telling Secrets. Nova York: HarperCollins, 1991. p. 43-45.
Nota:
1. Fórum de uma organização norte-americana que encoraja estudantes a pensarem sobre como a fé se relaciona com os assuntos acadêmicos. Cf.: www.veritas.org.
Artigo publicado originalmente no livro O Teste da Fé - Os cientistas também creem, organizado por Ruth Bancewicz.
Imagem 1: Unsplash.
Imagem 2: Stanford Report.
REVISTA ULTIMATO – ADOLESCÊNCIA – ONLINE E OFFLINE
Muito já se falou da adolescência como uma fase crítica da vida, em que as dificuldades próprias da idade inspiram cuidados especiais – o que é ainda mais importante hoje.
Os adolescentes desta geração são o grupo mais impactado pelo ritmo acelerado das mudanças. A matéria dessa edição oferece subsídio para melhor conhecer e atuar com esse grupo. Nos depoimentos dos 12 adolescentes que participam eles pedem: “Acreditem em nós!”.
É disso que trata a edição 414 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» O Teste da Fé – Os cientistas também creem, Ruth Bancewicz [org.]
» Verdadeiros Cientistas, Fé Verdadeira, Robert James Berry
» A ciência como instrumento de louvor e adoração, por Jennifer Wiseman
» Coração e mente: compreendendo a ciência e a fé, por Deborah B. Haarsma
Por Bill Newsome
8 de julho - Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico
Até 1997, eu era bem reservado, em termos de fé, dentro da academia. As pessoas com as quais eu trabalhava em meu laboratório sabiam que eu frequentava a igreja todos os domingos. Assim, eu conversava sobre isso, mas não me envolvia em discussões mais amplas. No entanto, em 1997, fui convidado para falar no Veritas Fórum,1 em Stanford. Na verdade, eu não queria fazê-lo. Eu nunca havia ficado de pé em um fórum acadêmico público para falar sobre temas ligados à fé e fugia disso.De certa forma, acho que eu não queria que esse nível de complexidade influenciasse meus relacionamentos com colegas acadêmicos, mas acabei concluindo que todas as minhas razões para não discursar eram indignas e decidi seguir em frente. Provavelmente, trabalhei mais duro naquela palestra do que em qualquer outra em minha vida, tentando ser real e ponderado, sem me tornar maçante ou dogmático.
Ao olhar para trás hoje, sou realmente feliz por ter dado essa primeira palestra sobre ciência e fé, porque ela abriu a porta para muitas conversas com colegas de departamento e com estudantes, em particular. Uns poucos foram negativos, mas a maioria das reações foi inquestionavelmente boa e positiva. Muitos dos meus colegas são agnósticos ou ateístas, mas sem agressividade, sendo muito ponderados, buscando algum senso de propósito no universo e tentando atribuir-lhe sentido. Embora acolham conclusões diferentes das que considero corretas hoje, reconheço que eles são autênticos em seus questionamentos. Acredito que “dar as caras” como cristão, na academia, foi muito positivo para mim.
Alguns de meus colegas eram militantes antirreligiosos e sentiram repugnância pela coisa toda, deixando isso claro para mim. Quando vamos a fundo, descobrimos tipicamente que as pessoas que respondem com todo esse calor emocional, normalmente, tiveram em seu passado alguma experiência muito desagradável, a qual é a causa da sua raiva. Quando temos conversas honestas, é interessante para mim tentar descobrir esses sentimentos e de onde eles vêm. Penso que, às vezes, eles vêm de fontes ruins e equivocadas, mesmo sendo muito reais na vida dessas pessoas. Outras, vêm de fontes muito boas, com as quais tenho alguma simpatia.

Descobri que cientistas podem ser rigorosamente céticos sobre certas coisas, mas também ingênuos em acreditar que não têm compromissos religiosos. Quando pergunto a um de meus amigos da ciência se eles são religiosos, a resposta é: “Não, eu sou um cientista”, implicando que, se você é um cientista, não pode ser religioso e que essas coisas são opostas. Eles gostariam de acreditar que cientistas não assumem coisas por fé, mas por evidências. Assim, eu frequentemente pergunto aos meus amigos cientistas: “Você é casado? Você fez algum tipo de experimento científico para saber se era uma boa ideia se casar? Você tem alguma base científica para acreditar que esse casamento vai durar a vida toda? Que tipo de evidência você usou?”. É claro que ouço apenas um “hum...” ou um “quer dizer...” ou, eventualmente, eles admitem que talvez as pessoas assumam compromissos com base em profundas expressões de fé, em valores pessoais que não procedem da ciência.
Às vezes, essa descoberta de que, no fim das contas, ele ou ela é uma pessoa de fé é bem desconcertante para um cientista. De fato, descobri que muitos cientistas não pensam muito profundamente sobre a natureza do valor humano, do propósito e do compromisso humano; pois, se o fizessem, não poderiam mais colocar a religião e a ciência em campos opostos tão prontamente. A ciência simplesmente não trata das questões mais importantes da vida.“[...] o que Gênesis sugere, eu acredito, é que o nosso “eu” original, com a impressão do polegar divino sobre ele, é a parte mais essencial do que nós somos. E, ainda, que ele está profundamente enterrado em todos nós, como uma fonte de sabedoria, de força e de cura, à qual podemos recorrer ou à qual, com nossa terrível liberdade, podemos escolher não recorrer. Penso, entre outras coisas, que toda arte verdadeira vem desse “eu” profundo [...] Penso que nossas orações mais verdadeiras também vêm dali – aquelas orações tantas vezes não verbalizadas, espontâneas, que podem brotar da vida de incrédulos ou de crentes, reconheçam-nas eles como orações ou não. E penso que dali vêm nossos melhores sonhos e nossos momentos de atividade mais alegres e serenos, além de todos aqueles momentos em que encontramos a nós mesmos melhores ou mais fortes, ou mais corajosos, ou mais sábios do que nós somos".
Gosto dessa citação de Buechner porque ela combina uma consciência científica moderna (sobre a evolução, por exemplo) com uma percepção muito bíblica da fé no amor salvador de Deus por cada um de nós. Buechner recorre às verdades básicas de Gênesis 1 sobre o amor de Deus por sua criação (incluindo cada um de nós) de um modo muito tocante para mim.
"Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou" (Gênesis 1.26-27).
Essa passagem de Gênesis aponta para um mistério ainda maior. Ela diz que nossa origem está mais distante que o espaço e é mais antiga que o tempo. Ela diz que a evolução, a genética e o meio ambiente explicam muito sobre nós, mas não explicam tudo, nem mesmo a coisa mais importante. Ela diz que, embora vivamos no mundo, nunca estaremos totalmente em casa nele. Ela diz, em resumo, que não apenas fomos criados por Deus, mas também que fomos criados à imagem e à semelhança dele. Temos algo de Deus em nós, assim como temos algo das estrelas.
BUECHNER, Frederick. Telling Secrets. Nova York: HarperCollins, 1991. p. 43-45.
Nota:
1. Fórum de uma organização norte-americana que encoraja estudantes a pensarem sobre como a fé se relaciona com os assuntos acadêmicos. Cf.: www.veritas.org.
- Bill Newsome, professor de neurobiologia, Escola de Medicina da Universidade de Stanford.
Artigo publicado originalmente no livro O Teste da Fé - Os cientistas também creem, organizado por Ruth Bancewicz.
Imagem 1: Unsplash.
Imagem 2: Stanford Report.
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