Opinião
- 29 de outubro de 2020
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Uma tentação filosófica e teológica dos reformados
Por Pedro Dulci
Existe uma tentação muito grande que pode acometer especialmente os ortodoxos — nós, de teologia reformada e, principalmente, de filosofia reformacional. Trata-se da crença orgulhosa de que podemos construir o Reino dos céus aqui e agora!
Sempre sou pego com essa sensação satânica de que a teologia reformada me forneceu a visão de mundo mais bíblica e, especialmente, a filosofia reformacional me deu os princípios intelectuais para eu me orientar na cultura de forma que estou apto a dizer o que está correto e o que está incorreto em termos da condução da vida humana nas diferentes esferas da vida.
Por um lado, essa é uma sensação maravilhosa. Eu procurei por toda minha vida uma teologia e uma filosofia que me dessem ferramentas para eu me situar na realidade de forma precisa, frutífera e fiel às Escrituras. Eu ainda acho que é minha ênfase preferida, mesmo consciente das suas lacunas. Entretanto, é muito diferente a sensação de dizer a partir dessa descoberta teológica e filosófica: "pronto! Temos os princípios corretos... Vamos colocar tudo em prática e alcançaremos, inexoravelmente, o governo de Cristo na história!"
Quem também colocou essa mesma preocupação foi Hans Rookmaaker em um pequeno artigo sobre a filosofia reformacional. Fazendo uma paráfrase de Isaías 29.13, ele mostra o farisaísmo que podemos incorrer: "esse povo se aproxima de mim com princípios e sua filosofia me honra, mas o seu coração está longe de mim e a sua devoção não é senão ciência humana decorada". Veja que pesado e quão suscetíveis estamos disso!
A menos que mantenhamos uma autocrítica bíblica de que cada esforço humano é uma fragmentada e imperfeita expectativa e antecipação da cidade que (somente) Deus é o arquiteto e o construtor (Hb 11.6), vamos transformar a mais bela expressão teológica e filosófica em maldição! Nesse sentido, Cristo olhará nossos castelos filosóficos construídos na areia e nos sentenciará: raça de víboras! (Jo 12.48).
Autor de Fé Cristã e Ação Política, Pedro Lucas Dulci, é filósofo e pastor presbiteriano. Casado com Carolinne e pai de Benjamin, desenvolve pesquisa em ética e filosofia política contemporânea e estudos sobre o diálogo entre ciência e religião, com estágio na Vrije Universiteit Amsterdam. É teólogo e coordenador pedagógico no Invisible College.
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