Opinião
30 de abril de 2025
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Ser ou não ser mãe: eis a questão
A questão, na verdade, não é ter ou não ter filhos. É se há disposição ou não para ser mãe
Por Alice Munck
Ter ou não ter filhos. Esta é uma questão que, de uma forma ou de outra, toda mulher acaba se deparando na vida. Algumas respondem com suas decisões, outras quando se veem grávidas e outras, ainda, quando fatores externos sobressaem à sua vontade.
Eu sempre quis ter mais de um filho e que isso acontecesse antes dos meus 30 anos. Era só o que eu já tinha elucubrado sobre o assunto, até me deparar com a dificuldade para engravidar.
O filho que nunca vinha me fez pensar por que eu queria ser mãe, por que eu queria gestar, de que eu tinha medo e por que insistia tanto em continuar tentando.
Eu desejava sentir o bebê se mexer dentro de mim. Desejava amamentar, buscar na escola, levar à praia. Desejava viver a maternidade de forma visceral. Só não imaginava que um serzinho tão pequeno poderia mexer tanto dentro de mim. E não falo só fisicamente.
Ter filhos mexeu com o meu corpo, a minha mente, a minha autossuficiência, o meu orgulho, a minha liberdade, o meu egoísmo, os meus medos e a minha fé.
Sentir na pele que preciso de ajuda, de priorizar, de simplificar, de abrir mão do controle, de confiar me levaram a um lugar incômodo, que me sacudiu e mudou meu eixo.
Deparei-me com a minha dificuldade de renunciar a mim mesma, com o meu despreparo para a vida e a minha imaturidade. Isso me incomodou, mas me levou a um lugar de liberdade e confiança para errar, aprender e recomeçar.
Descobri que dentro de mim há um amplo espaço de solitude, mesmo nos dias mais apertados. E a minha coragem pode adormecer após algumas madrugadas em vigília, mas ela não sucumbe à exaustão.
A questão, na verdade, não é ter ou não ter filhos. É se há disposição ou não para ser mãe. Porque um filho não é concebido tão facilmente em muitos casos e nem podemos tê-los só por nossa vontade, nem os possuir como se fossem nossos.
Eles só foram gentilmente confiados a nós por um tempo. São como água escorrendo pelos dedos, cuja condução depende de uma fortaleza rochosa e um fluido jogo de cintura.
Cada filho e cada desafio exigem mais tranquilidade, mais simplicidade, mais amor, mais confiança, mais maturidade e mais coragem, mesmo que a fé, vez ou outra, esmoreça ao esperar aquilo que se pede.
Sinto-me incapaz de ser a mãe suficientemente boa que os meus filhos precisam. O alcance da minha ação é tão limitado. Tenho medo de fracassar na educação deles. Tenho medo do insucesso no projeto maternar.
Analisando superficialmente o projeto, são tantas ameaças implacáveis, forças inexplicáveis, fraquezas desconcertantes e oportunidades inacreditáveis, que podemos transitar da sobrevivência ao crescimento (ou vice-versa) num piscar de olhos. É um projeto arriscado e sem garantias.
Posso preparar somente comidas saudáveis, mas não posso obrigá-los a comer. Posso apresentá-los belas paisagens, mas não posso assegurar que irão apreciá-las. Posso proporcionar um ambiente tranquilo, mas não é garantia de que aproveitem para meditar. Posso colocar livros em suas mãos, mas quem me garante que irão ler? Posso orar com eles, mas não tenho certeza se dirão amém. Posso obedecer a Deus de todo o coração, mas não sei se farão o mesmo.
Enquanto vivo essa aventura sem seguro-garantia ou cheque-caução, sinto dores de parto. O coração dilata aos poucos com o intuito de atingir a fase de expulsão do meu egoísmo, gestado há tempos com tanto apreço.
Peço a Deus amor e sabedoria para educar crianças sábias e tementes a Ele. Oro tanto por meus filhos, na esperança de que Deus complete o que falta em mim, que Ele faça mais do que eu posso imaginar. Que minhas imperfeições sejam frestas da Sua graça e o fracasso também cumpra o seu propósito.
Deus tem inúmeras formas de completar o que não consigo ser para os meus filhos. Ele pode colocar no caminho deles outras mulheres que se dispuseram a ser mães, que tiveram os seus próprios filhos ou não, para amá-los, encorajá-los, orientá-los ou fazer o bolo favorito de maçã.
Deus pode fazer de outra forma. Ou até mesmo nem atender aos meus pedidos. Mas Ele continuará sendo um pai presente e perfeito, como eu, nem nenhuma outra mãe, nunca poderíamos ser.
REVISTA ULTIMATO – LIVRA-NOS DO MAL
O mal e o Maligno existem. E precisamos recorrer a Deus, o nosso Pai, por proteção.
O que sabemos sobre o mal? A que textos bíblicos recorremos para refletir e falar do assunto? Como o mal nos afeta [e como afetamos outros com o mal] e porque pedimos para sermos livres dele? Por que os cristãos e a igreja precisam levar esse assunto a sério?
É disso que trata a matéria de capa da edição 413 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» O Que Você Quer? – Desejo, ambição e fé cristã, Jen Pollock Michel
» Pessoas: Humanas e Divinas - Ensaios sobre a natureza e o valor das pessoas, Peter van Inwagen
» Como falar do papel da mãe para as crianças, por Márcia Barbutti
» E quando parece não haver motivos para celebrar o dia das mães?, Patrick Reason
Por Alice Munck

Eu sempre quis ter mais de um filho e que isso acontecesse antes dos meus 30 anos. Era só o que eu já tinha elucubrado sobre o assunto, até me deparar com a dificuldade para engravidar.
O filho que nunca vinha me fez pensar por que eu queria ser mãe, por que eu queria gestar, de que eu tinha medo e por que insistia tanto em continuar tentando.
Eu desejava sentir o bebê se mexer dentro de mim. Desejava amamentar, buscar na escola, levar à praia. Desejava viver a maternidade de forma visceral. Só não imaginava que um serzinho tão pequeno poderia mexer tanto dentro de mim. E não falo só fisicamente.
Ter filhos mexeu com o meu corpo, a minha mente, a minha autossuficiência, o meu orgulho, a minha liberdade, o meu egoísmo, os meus medos e a minha fé.
Sentir na pele que preciso de ajuda, de priorizar, de simplificar, de abrir mão do controle, de confiar me levaram a um lugar incômodo, que me sacudiu e mudou meu eixo.
Deparei-me com a minha dificuldade de renunciar a mim mesma, com o meu despreparo para a vida e a minha imaturidade. Isso me incomodou, mas me levou a um lugar de liberdade e confiança para errar, aprender e recomeçar.
Descobri que dentro de mim há um amplo espaço de solitude, mesmo nos dias mais apertados. E a minha coragem pode adormecer após algumas madrugadas em vigília, mas ela não sucumbe à exaustão.
A questão, na verdade, não é ter ou não ter filhos. É se há disposição ou não para ser mãe. Porque um filho não é concebido tão facilmente em muitos casos e nem podemos tê-los só por nossa vontade, nem os possuir como se fossem nossos.
Eles só foram gentilmente confiados a nós por um tempo. São como água escorrendo pelos dedos, cuja condução depende de uma fortaleza rochosa e um fluido jogo de cintura.
Cada filho e cada desafio exigem mais tranquilidade, mais simplicidade, mais amor, mais confiança, mais maturidade e mais coragem, mesmo que a fé, vez ou outra, esmoreça ao esperar aquilo que se pede.
Sinto-me incapaz de ser a mãe suficientemente boa que os meus filhos precisam. O alcance da minha ação é tão limitado. Tenho medo de fracassar na educação deles. Tenho medo do insucesso no projeto maternar.

Posso preparar somente comidas saudáveis, mas não posso obrigá-los a comer. Posso apresentá-los belas paisagens, mas não posso assegurar que irão apreciá-las. Posso proporcionar um ambiente tranquilo, mas não é garantia de que aproveitem para meditar. Posso colocar livros em suas mãos, mas quem me garante que irão ler? Posso orar com eles, mas não tenho certeza se dirão amém. Posso obedecer a Deus de todo o coração, mas não sei se farão o mesmo.
Enquanto vivo essa aventura sem seguro-garantia ou cheque-caução, sinto dores de parto. O coração dilata aos poucos com o intuito de atingir a fase de expulsão do meu egoísmo, gestado há tempos com tanto apreço.
Peço a Deus amor e sabedoria para educar crianças sábias e tementes a Ele. Oro tanto por meus filhos, na esperança de que Deus complete o que falta em mim, que Ele faça mais do que eu posso imaginar. Que minhas imperfeições sejam frestas da Sua graça e o fracasso também cumpra o seu propósito.
Deus tem inúmeras formas de completar o que não consigo ser para os meus filhos. Ele pode colocar no caminho deles outras mulheres que se dispuseram a ser mães, que tiveram os seus próprios filhos ou não, para amá-los, encorajá-los, orientá-los ou fazer o bolo favorito de maçã.
Deus pode fazer de outra forma. Ou até mesmo nem atender aos meus pedidos. Mas Ele continuará sendo um pai presente e perfeito, como eu, nem nenhuma outra mãe, nunca poderíamos ser.
- Alice Munck é casada com Edson Munck Jr e mãe da Beatriz, do Pedro e da Celine. É farmacêutica, violinista, escritora e membro da Igreja Presbiteriana Conexão em Juiz de Fora, MG. @alicekrmunck.

O mal e o Maligno existem. E precisamos recorrer a Deus, o nosso Pai, por proteção.
O que sabemos sobre o mal? A que textos bíblicos recorremos para refletir e falar do assunto? Como o mal nos afeta [e como afetamos outros com o mal] e porque pedimos para sermos livres dele? Por que os cristãos e a igreja precisam levar esse assunto a sério?
É disso que trata a matéria de capa da edição 413 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
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