Opinião
29 de maio de 2025
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Os hinários estão com os dias contados?
Hinários estão longe de serem obsoletos. Indivíduos e grupos ainda lideram o canto congregacional juntos a cada semana
Abner Campos
Ao longo da história do povo de Deus podemos perceber a importância da música como meio apropriado para a sua expressão litúrgica. O Livro de Salmos é considerado como sendo o primeiro hinário conhecido. Também nos primórdios da igreja cristã temos o relato de Paulo aos colossenses: “Ensinem e instruam uns aos outros com toda a sabedoria. Cantem salmos, hinos e canções espirituais; louvem a Deus, com gratidão no coração” (Cl 3.16). Um hinário ou uma coletânea de hinos oficiais são, portanto, ferramentas necessárias que auxiliam o povo de Deus a cantar louvores e promovem unidade doutrinária, principalmente, mas não somente, nas igrejas históricas e confessionais.
História dos hinários congregacionais
Nos hinários congregacionais mais antigos apenas os textos dos hinos eram impressos¹. Em meados do século 18 os editores passaram a indicar melodias específicas para os textos impressos, nomeando-as para essa finalidade. Foi somente em 1861, com a edição do hinário inglês Hymns Ancient and Modern que, pela primeira vez uma partitura a quatro vozes (soprano, contralto, tenor e baixo) foi impressa juntamente com o texto completo do hino em um hinário a ser utilizado por toda congregação.

Historicamente são reconhecidas três vertentes de apresentações gráficas (ou estilos) para hinários congregacionais: a germânica, a anglicana e a americana. No estilo germânico os hinos são apresentados com a partitura apenas da melodia, com o texto da primeira estrofe, seguido do texto das demais estrofes, sem partitura (as cifras para instrumentos harmônicos podem, ou não, ser impressas). No estilo inglês ou anglicano, a partitura a quatro vozes é impressa em uma página, e o texto do hino vem em sequência ou na página seguinte. Já, no estilo americano, todas as estrofes dos hinos são editadas em conjunto com a partitura a quatro vozes. Provavelmente o primeiro hinário da era moderna a imprimir o texto e música a quatro vozes na mesma página foi o Hymnal of the Methodist Episcopal Church de 1878, servindo de modelo para hinários subsequentes.
Propósito
Os hinos de nossos hinários foram concebidos com propósito de promover o canto congregacional. São obras independentes que contêm texto poético do início ao fim. O arranjo, geralmente a quatro vozes, torna os hinos ferramenta ideal para a participação de grupos grandes, como a congregação presente nos cultos. Como a melodia e o ritmo estão impressos conjuntamente com o texto, há certa padronização do canto, não deixando dúvidas de como executar a música, diferente de quando apenas o texto está disponível.

Na atualidade
Os hinários publicados recentemente têm como objetivo principal, fornecer recursos que facilitem a execução instrumental e vocal, tanto dos hinos, como dos ofícios litúrgicos. Geralmente são selecionadas harmonizações simples e funcionais e as tonalidades são ajustadas para uso conjunto entre diferentes configurações instrumentais e a congregação. A cifragem favorece o acompanhamento dos hinos por instrumentos já utilizados há tempo em nossos cultos, como violões e teclados. Os textos dos hinos geralmente são atualizados, sendo alguns termos ou expressões substituídos para evitar interpretações diversas ao seu contexto. Algumas vezes textos na língua original são disponibilizados (por exemplo, alemão, espanhol, inglês, suaíli, dentre outros).
Tudo pelo canto congregacional
Uma edição de um hinário a quatro vozes é destinada ao canto congregacional, instrumentistas e uso doméstico, visando fomentar especialmente o canto em nossas congregações. Como os hinos apresentam sua própria partitura, recomenda-se o uso de uma antiga tradição de cantar as estrofes de forma alternada, denominada Alternatim-Praxis. Assim, quando possível, aconselha-se a utilização do canto em divisão de vozes para toda a congregação, mediante treino prévio pelos regentes, diretores de música ou pastores, ou de eventos especiais como os Festivais de Hinos. Quando ocorrer tal divisão, a primeira e a última estrofe podem ser cantadas em uníssono e as estrofes intermediárias a quatro vozes. Recomenda-se também usar o alternar entre: coro e congregação; vozes agudas e graves; crianças e adultos; lado direito e esquerdo. A prática de cantar alternado ou responsivo é o modo mais antigo de cantar, usado já nos primeiros cânticos registrados na Bíblia. É este cantar que, ainda hoje, torna o cântico nos cultos mais alegre e dinâmico.
E o futuro dos hinários?
Mas será que os hinários estariam com seus dias contados? Cremos que não. Uma pesquisa realizada em setembro de 2018 e publicada em agosto de 2019 pela instituição norte-americana LifeWay Research com, aproximadamente, 1 mil pastores de diferentes denominações, revelou que, apesar do grande sucesso da música cristã denominada “contemporânea”, as igrejas nos Estados Unidos usam com maior frequência os hinários em seus cultos. Dois terços dos pastores entrevistados (69%) responderam que utilizam os hinários regularmente em suas igrejas. Com relação aos instrumentos/grupos musicais, 79% responderam que usam piano, 47% órgão, 46% bandas/grupos de louvor e 33% utilizam grupos corais regularmente nos cultos. Scott McConnell, diretor executivo da LifeWay Research comentou que “assim como os livros impressos, os hinários estão longe de serem obsoletos. Indivíduos e grupos ainda lideram o canto congregacional juntos a cada semana.”

Não temos conhecimento de pesquisa dessa natureza sobre as igrejas brasileiras, mas podemos inferir, apesar das nossas particularidades históricas e culturais que, em um contexto globalizado, temos grandes chances de possuir cenário similar. As igrejas são desafiadas a fornecer ferramentas para promover e estimular o canto congregacional em seus cultos. Edições modernas com partituras e cifras são produzidas especialmente para preencher essa lacuna nas igrejas brasileiras. Que possamos usar, deliberadamente, esse manual para o culto cristão em sua totalidade e riqueza.
Parte do texto publicado originalmente na Revista Mensageiro Luterano, Editora Concórdia, outubro de 2019: “Hinário Luterano, edição de 2016 – Um hinário a quatro vozes para os luteranos brasileiros”
Nota
¹ Tratamos nesse artigo apenas dos hinários para uso congregacional. Hinários com notação musical para Coro e/ou acompanhamento instrumental são conhecidos desde o final da Idade Média.
Legenda das imagens
Figura 1 – Hino “Santo! Santo! Santo!” publicado no hinário anglicano Hymns Ancient and Modern, 1861.
Figura 2 – Exemplo de hinário ao estilo germânico – Hino Ein feste Burg/Castelo Forte publicado no hinário da SELK – Evangelisches Gesangbuch, 1994.
Figura 3 – Exemplo de hinário ao estilo americano – Hino A mighty fortress/Castelo Forte publicado em Hymnal of the Methodist Episcopal Church, 1878, Primeiro hinário da era moderna com partitura a 4 vozes e texto na mesma página.
REVISTA ULTIMATO – LIVRA-NOS DO MAL
O mal e o Maligno existem. E precisamos recorrer a Deus, o nosso Pai, por proteção.
O que sabemos sobre o mal? A que textos bíblicos recorremos para refletir e falar do assunto? Como o mal nos afeta [e como afetamos outros com o mal] e porque pedimos para sermos livres dele? Por que os cristãos e a igreja precisam levar esse assunto a sério?
É disso que trata a matéria de capa da edição 413 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Contando e Cantando - Conhecendo as histórias de hinos cristãos, Henriqueta Rosa F. Braga
» Ser Evangélico sem Deixar de Ser Brasileiro, Gerson Borges
» Não abandonem os hinos, por Klênia Fassoni
» Hinos e cânticos - um presente de Deus para o seu povo, por Shih Li Li Yoshimoto
» Hinologia Cristã – cantos da fé cristã comemora 10 anos, Notícia
Abner Campos
Ao longo da história do povo de Deus podemos perceber a importância da música como meio apropriado para a sua expressão litúrgica. O Livro de Salmos é considerado como sendo o primeiro hinário conhecido. Também nos primórdios da igreja cristã temos o relato de Paulo aos colossenses: “Ensinem e instruam uns aos outros com toda a sabedoria. Cantem salmos, hinos e canções espirituais; louvem a Deus, com gratidão no coração” (Cl 3.16). Um hinário ou uma coletânea de hinos oficiais são, portanto, ferramentas necessárias que auxiliam o povo de Deus a cantar louvores e promovem unidade doutrinária, principalmente, mas não somente, nas igrejas históricas e confessionais.
História dos hinários congregacionais
Nos hinários congregacionais mais antigos apenas os textos dos hinos eram impressos¹. Em meados do século 18 os editores passaram a indicar melodias específicas para os textos impressos, nomeando-as para essa finalidade. Foi somente em 1861, com a edição do hinário inglês Hymns Ancient and Modern que, pela primeira vez uma partitura a quatro vozes (soprano, contralto, tenor e baixo) foi impressa juntamente com o texto completo do hino em um hinário a ser utilizado por toda congregação.

Historicamente são reconhecidas três vertentes de apresentações gráficas (ou estilos) para hinários congregacionais: a germânica, a anglicana e a americana. No estilo germânico os hinos são apresentados com a partitura apenas da melodia, com o texto da primeira estrofe, seguido do texto das demais estrofes, sem partitura (as cifras para instrumentos harmônicos podem, ou não, ser impressas). No estilo inglês ou anglicano, a partitura a quatro vozes é impressa em uma página, e o texto do hino vem em sequência ou na página seguinte. Já, no estilo americano, todas as estrofes dos hinos são editadas em conjunto com a partitura a quatro vozes. Provavelmente o primeiro hinário da era moderna a imprimir o texto e música a quatro vozes na mesma página foi o Hymnal of the Methodist Episcopal Church de 1878, servindo de modelo para hinários subsequentes.
Os hinos de nossos hinários foram concebidos com propósito de promover o canto congregacional. São obras independentes que contêm texto poético do início ao fim. O arranjo, geralmente a quatro vozes, torna os hinos ferramenta ideal para a participação de grupos grandes, como a congregação presente nos cultos. Como a melodia e o ritmo estão impressos conjuntamente com o texto, há certa padronização do canto, não deixando dúvidas de como executar a música, diferente de quando apenas o texto está disponível.

Na atualidade
Os hinários publicados recentemente têm como objetivo principal, fornecer recursos que facilitem a execução instrumental e vocal, tanto dos hinos, como dos ofícios litúrgicos. Geralmente são selecionadas harmonizações simples e funcionais e as tonalidades são ajustadas para uso conjunto entre diferentes configurações instrumentais e a congregação. A cifragem favorece o acompanhamento dos hinos por instrumentos já utilizados há tempo em nossos cultos, como violões e teclados. Os textos dos hinos geralmente são atualizados, sendo alguns termos ou expressões substituídos para evitar interpretações diversas ao seu contexto. Algumas vezes textos na língua original são disponibilizados (por exemplo, alemão, espanhol, inglês, suaíli, dentre outros).
Tudo pelo canto congregacional
Uma edição de um hinário a quatro vozes é destinada ao canto congregacional, instrumentistas e uso doméstico, visando fomentar especialmente o canto em nossas congregações. Como os hinos apresentam sua própria partitura, recomenda-se o uso de uma antiga tradição de cantar as estrofes de forma alternada, denominada Alternatim-Praxis. Assim, quando possível, aconselha-se a utilização do canto em divisão de vozes para toda a congregação, mediante treino prévio pelos regentes, diretores de música ou pastores, ou de eventos especiais como os Festivais de Hinos. Quando ocorrer tal divisão, a primeira e a última estrofe podem ser cantadas em uníssono e as estrofes intermediárias a quatro vozes. Recomenda-se também usar o alternar entre: coro e congregação; vozes agudas e graves; crianças e adultos; lado direito e esquerdo. A prática de cantar alternado ou responsivo é o modo mais antigo de cantar, usado já nos primeiros cânticos registrados na Bíblia. É este cantar que, ainda hoje, torna o cântico nos cultos mais alegre e dinâmico.
E o futuro dos hinários?
Mas será que os hinários estariam com seus dias contados? Cremos que não. Uma pesquisa realizada em setembro de 2018 e publicada em agosto de 2019 pela instituição norte-americana LifeWay Research com, aproximadamente, 1 mil pastores de diferentes denominações, revelou que, apesar do grande sucesso da música cristã denominada “contemporânea”, as igrejas nos Estados Unidos usam com maior frequência os hinários em seus cultos. Dois terços dos pastores entrevistados (69%) responderam que utilizam os hinários regularmente em suas igrejas. Com relação aos instrumentos/grupos musicais, 79% responderam que usam piano, 47% órgão, 46% bandas/grupos de louvor e 33% utilizam grupos corais regularmente nos cultos. Scott McConnell, diretor executivo da LifeWay Research comentou que “assim como os livros impressos, os hinários estão longe de serem obsoletos. Indivíduos e grupos ainda lideram o canto congregacional juntos a cada semana.”

Não temos conhecimento de pesquisa dessa natureza sobre as igrejas brasileiras, mas podemos inferir, apesar das nossas particularidades históricas e culturais que, em um contexto globalizado, temos grandes chances de possuir cenário similar. As igrejas são desafiadas a fornecer ferramentas para promover e estimular o canto congregacional em seus cultos. Edições modernas com partituras e cifras são produzidas especialmente para preencher essa lacuna nas igrejas brasileiras. Que possamos usar, deliberadamente, esse manual para o culto cristão em sua totalidade e riqueza.
Parte do texto publicado originalmente na Revista Mensageiro Luterano, Editora Concórdia, outubro de 2019: “Hinário Luterano, edição de 2016 – Um hinário a quatro vozes para os luteranos brasileiros”
Nota
¹ Tratamos nesse artigo apenas dos hinários para uso congregacional. Hinários com notação musical para Coro e/ou acompanhamento instrumental são conhecidos desde o final da Idade Média.
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Figura 1 – Hino “Santo! Santo! Santo!” publicado no hinário anglicano Hymns Ancient and Modern, 1861.
Figura 2 – Exemplo de hinário ao estilo germânico – Hino Ein feste Burg/Castelo Forte publicado no hinário da SELK – Evangelisches Gesangbuch, 1994.
Figura 3 – Exemplo de hinário ao estilo americano – Hino A mighty fortress/Castelo Forte publicado em Hymnal of the Methodist Episcopal Church, 1878, Primeiro hinário da era moderna com partitura a 4 vozes e texto na mesma página.
- Ábner Elpino Campos é maestro e professor. Possui mestrado em Música Sacra pela Emmanuel College, Universidade de Toronto, Canadá. Atualmente é responsável pelas disciplinas de Artes Sacras da Faculdade Luterana Concórdia em São Leopoldo, RS e é Coordenador de Culto na Primeira Igreja Luterana de Toronto. Integra o Conselho de Desenvolvimento Institucional da SOEMUS (Sociedade Ev. de Música Sacra) e é colaborador do site Hinologia Cristã (hinologia.org). E-mail: camposabner@gmail.com.

O mal e o Maligno existem. E precisamos recorrer a Deus, o nosso Pai, por proteção.
O que sabemos sobre o mal? A que textos bíblicos recorremos para refletir e falar do assunto? Como o mal nos afeta [e como afetamos outros com o mal] e porque pedimos para sermos livres dele? Por que os cristãos e a igreja precisam levar esse assunto a sério?
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