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Opinião

O Calvinismo fez (e faz) bem ao mundo?

Por César Moisés Carvalho, Isaque Sicsú, Renato Marinoni, Victor Fontana e William Lane
 
NÃO HÁ UM ÚNICO CENTÍMETRO QUADRADO DA EXISTÊNCIA HUMANA SOBRE O QUAL CRISTO, QUE É SOBERANO SOBRE TUDO, NÃO CLAME: É MEU!
 
A frase que se tornou um clássico do teólogo, pastor e político calvinista holandês Abraham Kuyper, é apenas uma degustação daquilo que se tornaria a pedra de toque para a teologia reformada contemporânea.
 
Para Kuyper, o calvinismo representava o sentido mais completo de um evangelho católico – boas novas universais – que nos chama à obediência em todas as áreas da vida, e a boa nova em si não é apenas para a humanidade, mas para toda a criação. O que as boas novas de Jesus Cristo significam para a arte? Ou para a ciência? Ou para a política? E qual seria uma fundamentação cristã consistente para estas áreas? 
 
O lançamento de Calvinismo Para uma Era Secular — Uma leitura contemporânea de Abraham Kuyper convida o leitor a revisitar a tradição e o legado que deu frutos nos mais diferentes campos da cultura, bem como a avaliar criticamente a sua herança para os nossos dias.
 
Enfim, a pergunta do nosso Painel é: O Calvinismo fez (e faz) bem ao mundo?

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Primeiramente é preciso ressaltar que não existe um Calvinismo, monolítico
e invariável, que atravessou cinco séculos chegando aos dias atuais, pois tal concepção irreal deixa de reconhecer sua diversidade não apenas histórica, mas também geográfica. Portanto, há que se diferençar os diversos Calvinismos, como por exemplo, os dos séculos 16 e 17 em relação aos dos séculos 19 e 20, bem como o mesmo exercício deve ser feito em relação aos da Holanda e Inglaterra, ou da África e EUA, além do fato de que o Calvinismo pré-iluminista é distinto do pós-iluminista. Atrelado a todas essas particularidades, é necessário compreender o quanto os Calvinismos podem ser mais ou menos “calvinianos”, ou seja, tributários e herdeiros diretos das obras do reformador francês, João Calvino. Dito isto, não há dúvida de que, como parte dos movimentos reformistas europeus, o Calvinismo “fez bem ao mundo” no dealbar da Idade Média. Como forma de exemplificar, podemos dizer que ele ajudou na superação da aristocracia decadente europeia por parte da burguesia, construindo a Europa que hoje conhecemos. Como uma força cultural – visto que os movimentos reformistas não eram apenas estritamente religiosos –, o Calvinismo contribuiu na criação da sociedade de mercado no continente europeu, gerando, inclusive, a democracia.
César Moisés Carvalho
 
O Calvinismo faz bem à educação por vários motivos.
Primeiro, como pensamento religioso, está longe de propagar uma religiosidade anti-intelectualista e puramente mística. Antes, sua ênfase no conhecimento de Deus por meio da revelação das Escrituras torna a alfabetização e o desenvolvimento intelectual necessários para o crescimento na fé cristã, o amadurecimento dos indivíduos e da igreja, e a solidez da religião.
 
Segundo, por entender vocação como um chamamento a cada indivíduo, considera o estudo e a formação das pessoas tarefas essenciais para que elas cumpram o seu chamado divino nas diversas atividades e profissões na sociedade. 
 
Terceiro, como visão de mundo, não diz respeito a uma relação estritamente religiosa dos indivíduos com Deus. O Calvinismo oferece uma compreensão de mundo e sociedade que incentiva o aprendizado, o desenvolvimento intelectual pessoal e a expansão do conhecimento e da ciência.
 
Quarto, como influência missionária, o Calvinismo tem contribuído ao longo dos séculos com a implantação e manutenção de escolas e faculdades pelas organizações missionárias. Nesse contexto, as instituições de ensino não se resumem a servirem de instrumentos de evangelização, mas servem para capacitar indivíduos e proporcionar meios de emancipação de comunidades.
 
Por fim, o Calvinismo contribui para a expansão do conhecimento científico numa perspectiva cristã que não aliena o ser humano do seu Criador e Redentor, tampouco opõe o conhecimento à religião, a razão à fé, o corpo ao espírito.
William Lane
 
A tradição calvinista nasce como fruto do movimento renascentista, ocorrido entre o fim do século 14, e o início do século 15 na Europa. Resumidamente, o movimento da Renascença pregava a recuperação dos ideais, dos valores, da estética e da cultura comuns à civilização greco-romana clássica, a fim de que a sociedade europeia fosse completamente revitalizada. Ad fontes (“de volta às fontes”) se tornou o brado que apregoava este retorno a essas origens, apontando claramente os fundamentos deste novo modo de viver e pensar. Com a renascença, surge então o chamado humanismo cristão, um movimento que precisa ser distinguido do chamado humanismo secular, fundamentalmente ateísta e anticristão, que se tornou popular no ocidente a partir do século 18. 
 
O humanismo cristão, também conhecido como humanismo renascentista, propõe que a humanidade, formada à imagem e semelhança de Deus, é dotada de capacidades intelectuais, morais e socioculturais que a tornam capaz de produzir aquilo que é bom, belo e verdadeiro. Pois, ainda que tenham decaído de seu estado original, por causa da Queda, todos os homens são convidados por Deus como produtores de cultura, verdade, beleza, justiça, retidão etc. Por se tratar de um ensino evidentemente bíblico, não há um calvinista sério que não seja um humanista cristão.
 
É este humanismo cristão que fundamenta tudo aquilo que o calvinismo ofereceu de bom para o mundo nos últimos 505 anos de reforma protestante. Desde a Genebra de Calvino, passando pela expansão industrial inglesa, a instituição das universidades da chamada Ivy League nos EUA, a criação de organizações de caráter filantropo e beneficente, o refinamento e defesa dos direitos humanos, a produção de riqueza e capital, o desenvolvimento tecnológico e social etc. Todas essas coisas surgiram especialmente no ocidente como frutos plantados em um solo calvinista, fertilizado pelo humanismo cristão.
Isaque Sicsú


 
O calvinismo fez (e faz) bem à arte?
Como a tradição calvinista sempre foi muito rígida com o que se podia ou não utilizar no culto, no documento Princípio Regulador do Culto, criou-se uma ideia de que Calvino não dava suporte às artes. 
Dentro do contexto da Reforma Protestante no século 16, ao se oporem a muitas coisas que a Igreja Católica praticava, criou-se uma ideia de que tanto Lutero quanto Calvino fossem iconoclastas, ou seja, contra o uso de imagens e, por consequência, contra o uso da arte na vida religiosa da igreja. O próprio Lutero, em O Cativeiro Babilônico da Igreja (1520) diz que eles não queriam abolir toda a arte no culto, mas seu abuso.1
 
Kuyper também diz que Calvino não se opôs ao uso legítimo da arte.2  Calvino defendia que a arte não deveria ser um fim em si mesma, mas deveria existir para a glória de Deus.3 E, para ele, a arte vinha como um dom do Espírito Santo que apontava para a redenção da criação. 
 
O próprio Kuyper que se dedicou a formular o calvinismo como um sistema mais abrangente para a vida, diz que este não deveria criar um estilo de arte próprio, mas fornecer uma interpretação sobre a arte a partir do seu princípio.4 Isso que é muito valioso para nós na tentativa de responder a pergunta inicial. Kuyper também ressalta que a arte, na visão calvinista, não deveria ser subserviente à Igreja, mas usada como um presente para todos os homens.5 
 
Ainda desenvolvendo essa ideia e tendo a graça comum como pano de fundo para a construção do seu pensamento, Kuyper diz que a arte tem o poder de revelar questões da criação que nem a ciência, nem política, nem a vida religiosa têm a capacidade de mostrar.6 A ideia é que o mundo é visto como uma grande tela do agir de Deus trazendo redenção e as artes podem sinalizar essa ação.
 
Portanto, a visão calvinista dá um grande incentivo para que artistas de várias manifestações artísticas percebam a sua vocação divina e procurem glorificar a Deus Muitos artistas com um pano de fundo calvinista fizeram a diferença no mundo, como Milton, Shakespeare, Rembrandt, Bach, e tantos outros. Ao mesmo tempo que, sim, a tradição calvinista (principalmente a puritana) sempre se apegou ao aspecto mais rígido, da manutenção da tradição, e com isso, historicamente, nunca foi grande promotora de arte e cultura.  
Renato Marinoni
 
A resposta honesta a essa pergunta é: não sei.
E saber dizer isso é libertador. Não sei nem como começar a definir parâmetros para poder dizer no quê o Calvinismo pode ter sido benéfico ou maléfico, e em que medida isso se deu em cada caso. Evidentemente, alguns poderão apontar para a gestão de Calvino em Genebra ou Kuyper na Holanda. Ou mesmo ao calvinismo, a contragosto de muitos, de Barth em sua resistência ao Nacionalismo Alemão e ao Liberalismo Teológico no início do Século 20. 
 
Sempre haverá os contrapontos. No caso do calvinismo holandês, seus desdobramentos políticos nos EUA nem sempre foram os melhores. Contra Barth, pesam sua vida pessoal e a crítica dos que sequer o consideram um calvinista. Quando me perguntam sobre Calvino, sempre digo que meu Calvino favorito é o dos comentários bíblicos, em especial quando comenta os Evangelhos. Se estivermos falando desse calvinismo, então não tenho dúvidas. Fez e segue fazendo muito bem ao mundo - a todo mundo que lê. 
Victor Fontana
 

Participantes
César Moisés Carvalho, pastor assembleiano, pós-graduado em Teologia pela PUC-Rio e mestrando em História pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Autor de, entre outros, Pentecostalismo e Pós-Modernidade (CPAD).
 
Isaque Sicsú é graduado em teologia pela Universidade Metodista de São Paulo, mestre em teologia bíblica do AT pelo Dallas Theological Seminary (EUA) e mestre em teologia dogmática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). É professor titular de línguas originais e teologia no Seminário Teológico Servo de Cristo (São Paulo/SP) e pastor líder da Igreja Batista Urbana (Santo André/SP).
 
Renato Marinoni, pastor e fundador do Instituto de Adoração Cultura & Arte (IACA) @iacabrasil.
 
Victor Fontana, mestre em Teologia pela Trinity International University - Flórida. Professor da pós-graduação (lato sensu) em Teologia do NT do STJE/Unifil. Jornalista pela Faculdade Cásper Líbero, trabalhou nas redações de UOL, Terra e Metro e como executivo na Universal Music Group. Tem atuado em educação teológica na Ipalpha e nos ministérios Bibotalk.
 
William Lane, pastor presbiteriano e doutor em Antigo Testamento, é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e capelão do Seminário Presbiteriano do Sul.

Notas:
1. Martinho Lutero, Martinho Lutero: obras Selecionadas, (São Leopoldo: Sinodal. Porto Alegre: Concórdia, 2000), v.7, p. 157.
2. Abraham Kuyper, Existe um lugar para a arte no Calvinismo?, disponível em <
http://www.monergismo.com/textos/cultura/calvinismo_cultura_arte_kuyper.htm>, acesso em 19 de dezembro de 2022. 
3. Susan Hardman Moore, Calvinism and the art, Theology in Scotland, XVI.2, 2009, p. 75.
4. Abraham Kuyper, Existe um lugar para a arte no Calvinismo?, disponível em <
http://www.monergismo.com/textos/cultura/calvinismo_cultura_arte_kuyper.htm>, acesso em 19 de dezembro de 2022.
5. Ibidem. 
6. Jesse Sumpter, Kuyper’s Lectures on Calvinism: Calvinism and Art, disponível em <
https://kuyperian.com/kuypers-lectures-on-calvinism-calvinism-and-art/#:~:text=Art%20in%20Calvinism&text=As%20a%20direct%20gift%20from,good%20gift%20to%20all%20men.>, acesso em 19 de dezembro de 2022. 

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