Opinião
11 de janeiro de 2013- Visualizações: 5584
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Lebres, tartarugas e Big Brothers
Era uma vez uma lebre e uma tartaruga que apostaram a vida na corrida do caminho. A lebre, veloz, desafiou a tartaruga, que, com frágeis passos, buscava uma improvável vitória. Poderia a persistente tartaruga vencer, mesmo diante de uma oponente tão forte? Mais do que uma fábula, tartarugas e lebres são modelos que tipificam nossa existência no caminho da vida. Nossa geração tem aversão a tartarugas. Lentas e pesadas, elas são inadequadas para a rapidez da era digital, que não valoriza a persistente e longa obediência no mesmo caminho. Em incessante movimento, nossa sociedade prefere as lebres, adaptadas para um rápido sucesso individual.
A valorização do forte é expressa na corrida de lebres do Big Brother Brasil. Assim como elas, o “BBB” busca pessoas aptas a competir. Boninho, diretor do programa, afirma que, no Big Brother, “você tem um melhor amigo na casa, mas ele é o seu maior inimigo. Ele está competindo com você. Só um dos dois vai ficar com o dinheiro. É muito cruel. A gente quer sempre provocar o pior neles, nunca o melhor. A gente não quer que todo mundo se abrace e diga que se ama”. Como lebres cruéis que se especializam em excluir, os “brothers” fazem da vida um jogo em que o sucesso vale mais que a fidelidade nos relacionamentos. Nossa geração cresceu assistindo e incorporando a cultura do Big Brother. Aprendeu a competir como a lebre, mas clama pela constância e persistência da tartaruga, que permitem uma profundidade na experiência humana.
No Big Brother, a sexualidade se desintegra da vida relacional que floresce no compromisso de aliança. Para os “brothers”, o sexo é um meio para o sucesso, baseado na “moralidade da negociação”. Para esta, o escândalo está relacionado apenas ao estupro e à pedofilia, expressões de violência ao sexo consentido. Contudo, o problema da violação é mais profundo: a expressão sexual deixou de ser maravilhamento diante da singularidade do outro. A visão de uma sexualidade como mercadoria desvincula a experiência sexual da integridade do amor. Todavia, o mistério da sexualidade é o presente do seu ser entregue ao outro em compromisso; é o belo desafio de se viver como guardião da amizade, da promessa e da esperança.
A desarmonia em que vivemos, expressa no Big Brother, despreza o fraco, incentiva uma cultura de exclusão e desintegra a sexualidade da vida relacional enraizada. As lebres de nosso tempo valorizam a conquista individual, a competição e a força. Nossa geração -- formada em um ambiente consumista, que busca prazer imediato -- precisa lutar pelos prazeres que advêm da fidelidade nos relacionamentos, abrindo-se para uma experiência de verdade e comunhão.
É o povo de Deus que, ao redescobrir sua identidade como filhos amados, pode responder à cultura competitiva de exclusão. Ao afirmar a fraqueza da cruz, o evangelho abre espaço para todos os bichos -- tartarugas, lebres e até minhocas --, pois Jesus, o Leão de Judá, se tornou frágil Cordeiro.
A fidelidade nos relacionamentos é uma viva confissão de fé. O tempo dado a um amigo, parente ou cônjuge para florescer é afirmação de uma espera radical. Abrimos nossa vida, aprendemos a amar e formamos comunidades porque confiamos no amor de Deus que sustenta nossas frágeis e perseverantes iniciativas de amor. Por sermos filhos do Pai eterno, a confiança no amor cresce, aprendemos a ser verdadeiros “grandes irmãos” e a esperança nos relacionamentos reflete a esperança viva em Jesus.
Quando a corrida terminar, no paredão de Deus, saberemos que a cruz de Cristo foi como o casco pesado de uma tartaruga que caminha rumo à vitória. Muitos confiam em lebres; mas os que têm a coragem de afirmar que tartarugas vencem, confiam no Cordeiro de Deus, que amou a criação e entregou sua vida por todos os bichos.
Nota
Artigo publicado originalmente na revista Ultimato 335 (seção Altos Papos)
_________
Davi Chang Ribeiro Lin, 27 anos, é psicólogo e pastor da Comunidade Evangélica do Castelo, em Belo Horizonte. É mestre em estudos cristãos pelo Regent College, Canadá.
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