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Opinião

Experiências de jardim e reverência ao Criador

A contemplação da criação de Deus nos leva à adoração e nos lembra que a criação geme, mas que ela também está abraçada pela reconciliação realizada na cruz

Por Klênia Fassoni

O Cântico das criaturas ou Cântico do Irmão Sol 1, de São Francisco de Assis (1182–1226), o mais antigo poema religioso em língua italiana, está completando 800 anos. O autor, que compôs vários outros hinos, estava cego e muito doente quando o escreveu, morrendo um ano depois.

Os quatro primeiros versos são uma doxologia semelhante à de Apocalipse 4.8: “Altíssimo, onipotente, bom Senhor, / teus são o louvor, a glória e a honra e toda a bênção. / Somente a ti, ó Altíssimo, eles convêm, / e homem algum é digno de mencionar-te”.

As demais estrofes começam com a expressão “Louvado sejas, meu Senhor”, listando, em seguida, o motivo do louvor: “Com todas as tuas criaturas, especialmente o Senhor Irmão Sol / pela irmã lua e pelas estrelas, / pelo irmão vento, e pelo ar e pelas nuvens e pelo sereno e todo o tempo, / pela irmã água / pelo irmão fogo / pela irmã nossa, a mãe terra”.

Esse cântico, com adaptações, está presente na maioria dos hinários usados nas igrejas evangélicas, com o título “Vós, criaturas de Deus Pai”.

Alguns consideram que esse hino tenha sido inspirado no Salmo 148, um chamado ao louvor cósmico – “Louve o Senhor, tudo o que existe na terra” (v. 7). Mas certamente é também fruto das “experiências de jardim” de seu autor – “Francisco ama todas as criaturas que vê, encontra, com que interage. Ele as vê, não só as olha, contempla-as até exultar e alegrar-se por sua existência ou presença” (Enzo Bianchi).2

“Experiências de jardim” é o nome que demos ao selo editorial de Ultimato que acolhe textos ou imagens que nascem a partir da contemplação da criação de Deus, quando nos deparamos com os “ecos de Deus” – “Com seu sopro [Deus] deu beleza aos céus […] Essas são apenas bordas do seu caminho, e dele só percebemos um frágil eco. Quem poderia compreender o estrondo do seu poder?” (Jó 26.14). São momentos em que somos tomados por deslumbramento diante da criação e por um enorme sentimento de gratidão e louvor a Deus.

Davi, o pastor das ovelhas, é o personagem bíblico que mais registrou experiências de jardim. Como Francisco de Assis, ele também escreveu poemas a partir delas. No Salmo 19, Davi fala do testemunho mudo da criação – “Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos” (v. 1) – e, em seguida, do testemunho da Lei do Senhor. Juntos, eles produzem em Davi certezas a respeito do Deus Criador e Salvador.

No Salmo 104, depois de listar as obras do Criador, o autor exclama: “Que variedade, Senhor, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste; cheia está a terra das tuas riquezas” (v. 24). São riquezas de Deus, obras dele, que o tornam excelso, majestoso e com as quais ele próprio se deleita – “E viu Deus que era bom” (Gn 1). Como não admirá-las e reverenciar o seu Criador?

O jardim pode apresentar-se de muitas formas – “é tão grande nas minúcias como na magnitude”.3 As pessoas reagem a ele também de maneiras diferentes. Alguns veem os “ecos de Deus” nas imagens das galáxias e dos planetas feitas pelo telescópio espacial James Webb; outros, na linha do horizonte, onde o mar e o céu se encontram; outros ainda o verão nos pequenos cactos, tão diversos entre si.

É essencial dar espaço às experiências de jardim, mas o modo de vida atual não é convidativo a elas. Muitos de nós andamos desconectados da criação, ocupados ou cansados demais, ensimesmados, distraídos ou adoentados pelas mídias sociais. Não basta se expor ao jardim; é preciso estar aberto ao maravilhamento.

Para aqueles já alcançados pela Graça, as experiências de jardim fortalecem a fé, dando vigor às nossas certezas intelectuais sobre o Deus Criador, provocando alegria, temor e reverência. Para aqueles que ainda estão distantes, a criação é uma oportunidade de se expor à comunicação de Deus, como declara Paulo nas solenes palavras do início da carta aos Romanos: “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas” (Rm 1.20).

Refletir sobre a criação e contemplá-la é lembrar do Éden perdido. Assim como no Salmo 1 a árvore junto ao rio é uma menção direta à situação de plenitude do Jardim, os salgueiros da Babilônia citados no Salmo 137 são imagem inversa, apresentando o Jardim que foi perdido, daí a necessidade de lembrar da casa, da terra perdida. A esperança escatológica da criação se encontra na esperança de restauração do Éden, assim como cantam e profetizam os Salmos 72 e 148 (citado no texto): o Rei e o Pai hão de restaurar toda a criação para louvá-los.

É preciso recuperar a capacidade de se espantar com a criação. As experiências de jardim apontam para o Criador – e para Cristo, “o primogênito da criação, por meio de quem e para quem todas as coisas foram criadas, no qual tudo subsiste” (Cl 1.15-20). Elas nos lembram que a criação geme, mas que ela também está abraçada pela reconciliação realizada na cruz, e que nossa esperança é de novo céu e nova terra, uma cidade-jardim onde todas as coisas serão feitas novas (Ap 21).

E, não menos importante, elas nos inspiram no cuidado do jardim e no envolvimento com boas práticas de cuidado do meio ambiente.

Notas
1. Cântico do Irmão Sol. Disponível em bit.ly/413-irmao-sol.
2. O Cântico do Irmão Sol – Francisco de Assis “já não era mais um homem que orava, havia se tornado uma oração viva”. Disponível em bit.ly/413-francisco.
3. Salmo 104. Disponível em cblibrary.org/portuguese/salmos/salmo104.htm


  • Klênia Fassoni, diretora da Editora Ultimato, é avó de quatro netos.

Versão ampliada do artigo Experiências de jardim, publicado na edição 413 de Ultimato.
Crédito da imagem: Kreg Yingst.
Psalm Prayers. Usada com permissão do autor.


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É diretora administrativa da Editora Ultimato.
  • Textos publicados: 29 [ver]

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