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Por Escrito

Construindo pontes: teologia, comunidade e missão no Quênia

Mais do que os lugares visitados e ações testemunhadas, foram as pessoas que me marcaram profundamente

Por Erica Neves

Entre os dias 2 e 8 de fevereiro, tive a oportunidade de viajar para o Quênia como integrante do grupo Jovens Teólogos da Tearfund. Durante essa semana, visitei igrejas e universidades parceiras e ouvi relatos inspiradores sobre o impacto da mobilização das igrejas no desenvolvimento local.

Uma das visitas mais marcantes aconteceu na St. George’s ACK, em Chogoria, na Diocese de Meru, região do Monte Quênia. Ali, nosso grupo foi recebido calorosamente por membros da congregação, que compartilharam histórias sobre o programa de mobilização comunitária que desenvolveram. As mulheres da comunidade nos receberam com sorrisos radiantes, cantando em Kimeru. Após o almoço, elas nos contaram como a mobilização da igreja transformou suas vidas, suas famílias e a região. Também testemunhamos o empreendedorismo missionário em prática: a comunidade organizou cooperativas de irrigação para agricultores e de laticínios, criando novas oportunidades e fortalecendo a economia local.

No dia seguinte, visitamos o St. Andrew’s Theological College, em Kabare, onde conhecemos a forma como a instituição incorpora a missão integral e a transformação comunitária em seus currículos. Além de oferecer caminhos acessíveis para que estudantes com menor qualificação acadêmica possam ingressar na formação ministerial, a faculdade mantém uma pequena fazenda. Nesse espaço, os alunos aprendem técnicas de cultivo de plantas resistentes à seca e práticas de apicultura, preparando-se para atuar de forma sustentável e eficaz em comunidades rurais.

Durante a Conferência Amplify, ouvimos relatos inspiradores sobre como igrejas no Quênia e em outros países estão utilizando a reflexão teológica para engajar comunidades em ações sociais. Vimos a Rede Anglicana Verde do Quênia em plena atividade e testemunhamos clérigos da Geração Z e jovens ativistas à frente de iniciativas voltadas para a justiça social.

Sociedades reconciliadas e pacíficas
O programa Jovens Teólogos tem como missão amplificar vozes emergentes na teologia e questionar estruturas que sustentam a injustiça sistêmica. Além disso, incentiva os participantes a desenvolverem recursos teológicos que fortaleçam e edifiquem igrejas e comunidades. A turma atual reúne quinze teólogos de diferentes partes do mundo, formando uma comunidade de aprendizado e crescimento sob a orientação da equipe da Tearfund. O programa busca capacitar seus membros para se tornarem pensadores, comunicadores e agentes de transformação, influenciando a igreja—tanto teologicamente quanto na prática—para uma vivência autêntica da Missão Integral.

Por isso, a semana no Quênia foi organizada em três frentes: visitas aos parceiros da Tearfund, a Conferência Amplify e workshops teológicos conduzidos pelos jovens teólogos. Esses workshops abordaram as quatro prioridades corporativas da Tearfund:
● Transformação da igreja e da comunidade
● Sustentabilidade ambiental e econômica
● Da crise à resiliência
● Sociedades reconciliadas e pacíficas

Meu grupo ficou encarregado de explorar o tema das sociedades reconciliadas e pacíficas. Participar deste workshop foi uma chance valiosa para refletir sobre as dinâmicas do conflito e da paz. Escolhi essa temática motivada pelo agravamento da polarização no Brasil e pela maneira como, cada vez mais, tendemos a enxergar aqueles que pensam diferente como adversários irreconciliáveis.



Quando perguntei aos meus colegas de grupo suas respectivas razões para escolherem esta temática, eis o que eles responderam:
“Cresci na Irlanda do Norte, e minha geração é chamada de "os bebês do cessar-fogo", porque éramos crianças muito pequenas quando o tratado de paz que pôs fim aos "The Troubles" (um período de 40 anos de conflito paramilitar sectário) foi assinado. Sou profundamente fascinada por iniciativas de construção da paz e reconciliação, tanto porque tiveram um impacto significativo na minha vida – cresci em uma Irlanda do Norte muito mais pacífica do que a dos meus pais – quanto porque acredito que a paz é algo belo e frágil. Além disso, vejo que a Igreja tem um papel único na construção e na contínua preservação da paz em sociedades divididas.”
Laura Symon, pastora anglicana na Igreja Episcopal Escocesa


“Um dos principais desafios na Indonésia é a polarização étnica, especialmente na relação entre os grupos étnicos chineses e não chineses. Durante o regime da Nova Ordem (1966-1998), o governo proibiu que os chineses mantivessem seus nomes originais, obrigando-os a adotar versões "indonesianizadas" de seus nomes. Essa decisão imposta pelo governo teve um impacto profundo na identidade e na integração da comunidade chinesa no país.”
Gideon Gunothama, estudante de teologia na Indonesia


“Porque servi na Síria e no Líbano, compreendo a ausência de reconciliação. No Líbano, a guerra civil durou de 1975 a 1990. Após o acordo para encerrar o conflito militar, não houve uma verdadeira reconciliação, e a animosidade em relação ao outro ainda pode ser sentida em todo o país. A Síria, especialmente após a queda de Assad e a supressão das rebeliões armadas, está virando uma nova página em sua história. No entanto, houve mais de 1 milhão de mártires e mais de 7 milhões de imigrantes. Assim, a vingança pode levar a uma reação potencialmente violenta em breve. Como resultado, o tema da reconciliação e da construção da paz é extremamente importante e relevante para mim, e tem o potencial de influenciar e direcionar meu ministério neste momento.”
George Shammas, pastor nas Igrejas Presbiterianas da Síria e do Líbano


Um abraço que transforma

Para mim, essa viagem teve um significado singular. Minha história com a Tearfund remonta a mais de uma década. Iniciei como consultora de comunicação, função que desempenhei por oito anos, e depois atuei como communications officer por mais dois. Ao longo desse tempo, pude testemunhar de perto a maneira como a Tearfund constrói parcerias com igrejas, promovendo o desenvolvimento local nas comunidades em que atua. Li incontáveis histórias de transformação – relatos de pessoas que, por meio da ação conjunta de suas igrejas e da Tearfund, superaram crises familiares, pobreza sistêmica e injustiças estruturais. Portanto, ver esse impacto com meus próprios olhos, foi profundamente significativo.

No entanto, mais do que os lugares que visitamos e as ações que testemunhamos, foram as pessoas que conheci que me marcaram profundamente. Ouvir seus relatos e perceber como vivem sua fé em contextos tão diversos do meu foi transformador. Pessoas que cresceram em realidades completamente distintas, mas que compartilham a mesma esperança em Cristo.

Hoje, ao ler notícias sobre a crise na Síria, minha mente se volta para meu amigo George. Lembro-me da esperança em sua voz ao falar de um futuro melhor para seu país, após décadas de instabilidade. Minha amiga Laura, por sua vez, me impactou com seu sorriso gentil, sua escuta atenta e sua habilidade extraordinária com as palavras. Sua paixão pela construção da paz é refletida em suas palavras e ações. Ela tem o dom de acolher as pessoas.

E quando me pego recordando a beleza e os desafios do Quênia, Brenda vem à minha mente. Jovem professora de matemática e de religião cristã em uma escola de ensino médio, ela equilibra seu trabalho com os estudos de um mestrado em divindade, com foco em estudos bíblicos, na Africa International University. Movida pela fé, busca nas Escrituras respostas para os desafios sociais de sua comunidade. Desde o momento em que nos recebeu, seu sorriso acolhedor e sua postura generosa transmitiam uma hospitalidade genuína, expressa tanto em suas palavras quanto em suas ações.

George, Laura, Gideon e Brenda vivem em contextos completamente distintos do meu. Não apenas falamos idiomas diferentes, mas enxergamos o mundo através de perspectivas moldadas por nossas realidades locais. No entanto, compartilhamos um vínculo que transcende as diferenças nacionais, geográficas e culturais.

Esse mesmo laço também me conecta aos meus novos amigos do programa Jovens Teólogos: Rodrigo, na Colômbia. Myiriya, na Nigéria. Amanuel, na Etiópia. Carmia, na Indonésia. Steven, nas Filipinas. Mehtab, no Paquistão. Sarah, no Reino Unido. Arthur, no Brasil.

O encontro com meus novos amigos me leva a refletir sobre a multiforme Igreja de Cristo ao longo da história e ao redor do mundo. Em um tempo marcado por conflitos, polarização e o crescimento da xenofobia, é um privilégio poder caminhar lado a lado com pessoas tão diferentes e, ainda assim, enxergar a face de Cristo em cada uma delas.

  • Erica Neves é professora de jornalismo. Tem graduação e mestrado em comunicação e curso de comunicação transcultural no Hald International Center, Noruega. É casada com o Fred, mãe do Pedro e da Mariana e mora em Goiânia, GO. Durante a graduação em comunicação, Erica fez parte da Aliança Bíblia Universitária (ABUB), tempo em que aprendeu a estudar a Bíblia e a ler livros de teologia. De 2012 a 2023, trabalhou como assessora de comunicação em uma agência humanitária confessional cristã, atuando cotidianamente com líderes de diversas denominações. Em 2021 e 2022 foi aluna das tutorias essencial e avançada no Invisible College, escola em que também é professora nos cursos “Sabedoria no Caos”, “Teologia pro Cotidiano” e “Mulheres em Missão”. Instagram: @erica_mrneves
Foto de Clark Buys.


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