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A geometria sacra na arte cristã

Por Sophie Hacker
 


Esse artigo (que inicialmente foi apresentado como uma palestra no Sarum College, em Salisbury, Inglaterra) apresenta aspectos da geometria sacra e de como há milênios ela tem inspirado a arte e a arquitetura. Veremos as bases do desenho geométrico, como ele foi aplicado à tradição cristã e concluiremos com exemplos da prática contemporânea.
 
Mas o que significa geometria sacra? A geometria é utilizada em muitas áreas criativas. Arquitetura, videogames, design de produtos e até os cartões de crédito foram idealizados com base em um ideal geométrico. Mas a geometria na qual estamos interessados aprofunda nosso entendimento de um Deus cujo desenho do nosso universo está impregnado e fundamentado em proporções e ritmos extraordinários.

 
A humanidade não inventou a geometria; nós a descobrimos. Na imagem a seguir um nativo está traçando um círculo no chão usando uma vara vertical e outra horizontal. Ao usá-la para traçar um círculo ao redor da vara vertical, cria um círculo no chão. “Geométrica” significa “medida da terra”, e é dessa forma que a relação da humanidade com a geometria começa.
 
Os padrões de repetição podem ser vistos nas flores, no desenho fractal de uma couve-flor romana, no desabrochar de uma samambaia na primavera, e até mesmo na forma como uma fruta apodrece. Tudo começa com padrões em círculo. O caqui possui uma linda estrela de oito pontas ao redor de um círculo.

 
Então começamos com esse círculo; um símbolo universal de Deus, da finitude, da unidade e da integridade em tantas culturas e fés. Para começar a jornada pela geometria, desenhe uma linha e comece um novo círculo colocando a ponta do compasso na intercessão X. Desenhe um segundo círculo para formar o losango conhecido em latim como vesica piscis (“bexiga de peixe”), ou mandorla em italiano (“amêndoa”).

 
Muitas imagens cristãs e bizantinas de Cristo incluem a mardorla, uma auréola que cobre todo seu corpo, apesar de ser significante que nesse exemplo a mão de Cristo rompe a mandorla para entrar no mundo.

 
Ao juntarmos os pontos da interseção, formamos triângulos equiláteros; um símbolo da Trindade, com seus três lados e ângulos idênticos. Os triângulos equiláteros se entrelaçam e geralmente formam a base dos desenhos geométricos islâmicos, que podem ser vistos na próxima imagem.
 
Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento vemos o número três como algo significante: a Arca da Aliança continha três objetos sagrados (um vaso de ouro com maná, a vara de Arão e as tábuas da aliança). Foram três as tentações no deserto, e o primeiro milagre de Cristo em Caná aconteceu no “terceiro dia”, assim como a ressureição.

 
Essa imagem da geometria islâmica mostra o entrelaçamento de um triângulo equilátero de uma forma mais complexa. Perceba também a regra do “seis ao redor de um” — vemos um círculo central rodeado por seis círculos.
 
Esse é um poderoso símbolo da criação; os seis dias que Deus criou sendo os círculos de fora, e o círculo de dentro representando o sabbath, ou dia do descanso. A simbologia do “seis ao redor de um” pode ser facilmente ilustrada ao usarmos sete taças de vinho, ou bolas de tênis, ou qualquer outro item de formato circular. Seis objetos de diâmetro igual SEMPRE vão se encaixar perfeitamente ao redor da circunferência do sétimo.

 
Até agora vimos o círculo, um símbolo universal de Deus, e o triângulo equilátero como um símbolo cristão da Trindade. Passando de três para quatro lados temos o quadrado, símbolo da terra com seus quatro cantos, suas quatro estações, seus quatro elementos e seus quatro estados da matéria. O quadrado é outra forma regular de mosaico, que faz parte da padronagem islâmica. Esse belo exemplo é uma tela perfurada de arenito indiana do século 16. A qualidade do acabamento é impressionante. A decisão de não incorporar seres sencientes a arte continua a ser uma marca em seu desenvolvimento até os dias de hoje; já na igreja, um Deus encarnado oferece aos cristãos oportunidades de explorar a teologia de forma visual e como arte narrativa.

 
Da forma quadrada para o pentágono de cinco pontas. Dentro do pentágono há um pentagrama. Sendo uma forma muito parecida com a humana, com braços abertos e pernas estendidas, essa forma representa a humanidade. No simbolismo medieval antigo o pentágono também representava as cinco chagas de Cristo. O pentágono nos traz também a importantíssima proporção áurea — muito significante para a arte sacra principalmente a partir da Renascença. A “antiguidade” da proporção áurea é bastante discutida. Alguns historiadores dizem que há evidências do uso dessa medida tanto em Stonehenge, na Pirâmide de Gizé, e principalmente no Partenon. Outros suspeitam que isso seja uma imposição retrospectiva. No diagrama abaixo vemos como cada linha se conecta a outra: A está para B como B está para C e C está para D.

 
Aqui está uma descrição de como encontrar a proporção áurea usando apenas um compasso e uma régua. Comece com a linha AB. Desenhe a linha BC em 90 graus, que é metade do comprimento de AB. Junte AC para criar a linha D. Coloque a ponta do seu compasso em C na altura de B e trace um arco na diagonal D. Com a ponta do compasso em A, abra-o até D e trace um arco em AB, formando E. E está na proporção áurea de AB, formando AE ou EB — duas medidas utilizáveis. Assim, AE está para AB como EB está para AE. A proporção exata é 1:1.618.

 
A proporção áurea, conhecida como Pi, é a proporção encontrada em toda a natureza; na sequência genética, nos buracos negros, na disposição das pétalas e sementes, nos insetos e no rosto humano. Também é amplamente expressa através de uma série simples de números inteiros, conhecida como Sequência de Fibonacci, onde o próximo número da sequência é a soma dos dois números anteriores. Quando composta com uma sequência de quadrados ou retângulos, desenhados em proporção áurea, ela apresenta a espiral logarítmica acima, que é uma das três principais espirais encontradas na natureza. As outras duas são a arquimediana, que, assim com um antigo disco de vinil, tem linhas paralelas equidistantes, e a parabólica, que geralmente define o padrão no qual as folhas crescem no caule. Antes de voltarmos à proporção áurea, há mais um polígono para mencionar: o octógono.

 
As fontes e os batistérios geralmente têm um desenho octogonal. A fonte da ilustração é interessante porque apresenta um importante símbolo do Islamismo chamado “Sopro do Compassivo”: uma inalação e exalação visual que une os elementos fogo, ar, água e terra e os quatro cantos do espaço. Segundo o Islã há também oito portões no céu.
 
Para os cristãos o octógono representa o novo dia oferecido à humanidade na ressureição de Cristo ao quebrar as amarras da morte; oito é o número do novo começo. O oitavo dia é tradicionalmente o dia da circuncisão judaica e o número de pessoas que foram salvas na Arca; iniciando um novo capítulo na história humana. Note que a outra fonte também tem uma base quadrada que a fundamenta na terra, mas o topo octogonal aponta para um novo começo e o círculo interior completa a geometria sagrada com unidade e divindade.

 
As estruturas arquitetônicas sempre dependeram de uma geometria bem-sucedida para sua construção. As regras relacionadas à geometria foram originariamente escritas e utilizadas em desenhos arquitetônicos datados de 300 A.C. As gloriosas catedrais da Europa foram construídas com a utilização de princípios geométricos.
 
Os artesãos da Catedral de Winchester (acima) estão desenhando o arabesco de pedras das janelas do transepto norte, em preparação para reparos. Todo esse desenho foi elaborado com apenas um compasso e uma régua.

 
Essas são as três janelas rosáceas e lancetas da Catedral de Chartres, um edifício embebido em geometria, beleza, significado e simbiologia. Como ele merece um artigo próprio, não me aprofundarei nele nesse momento, mas esse exemplo nos ajuda na continuação da jornada pela arte cristã. Ele também mostra de forma mais direta o uso simbólico da geometria, como pode ser visto na proporção doze por um, onde um representa Cristo e os doze são os discípulos junto com todas as formas: círculos, quadrados e triângulos.

 
Na Catedral de Chartres o espetacular labirinto do chão da nave está posto exatamente onde a janela rosácea estaria se a frente oeste estivesse posta no chão. Tanto a janela rosácea ocidental, que descreve a vida de Cristo, quanto o labirinto possuem um diâmetro de 40 pés (12 metros), evocando o simbolismo do número quarenta na Bíblia com sendo um período de provações ou tentações. Para Moisés foram quarenta anos no deserto e quarenta dias no Monte Sinai. Jesus foi tentado por quarenta dias no deserto e apareceu por quarenta dias após a ressureição, ao mesmo tempo em que ascendeu aos céus no quarto dia.

 
Depois que o Cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano, o que antes era uma exploração secreta das catacumbas pelos artesãos gentios passou a se desenvolver rapidamente. Na parte ocidental do Império surgiu um estilo de trabalho que eventualmente culminaria na Renascença. 
 
Mas vamos primeiro para o lado oriental. No império Bizantino, após a divisão do Império Romano, que simplesmente se tornou grande demais para ser governado a partir de Roma, desenvolveu-se uma estética bastante peculiar. Inicialmente influenciado pelo naturalismo Helenístico, esse novo estilo era mais abstrato.
 
Proporções realísticas, luz e cor foram deixadas de lado para dar lugar a uma simplificação geométrica das formas, a uma perspectiva inversa e uma profunda intenção espiritual de nos oferecer uma “janela para o céu”, tornando-se hierática ao transmitir significado religioso.
 
O famoso exemplo acima, por Rublev (finalizado em 1425), demonstra como a geometria sacra é usada na tradição oriental. Os anjos que Abrão recebeu no deserto logicamente são interpretados como descrições da Trindade — o Espírito está à direita, representado pelo manto verde e a rocha em sua cabeça. O Filho é a figura central, com sua mão abençoando o cálice, e o manto em vermelho (terreno) e azul (divino). Por trás de seus ombros emergem a Árvore do Conhecimento e a Vera Cruz. A esquerda está o Pai, com o manto dourado de glória. Ele está sentado diante da Cidade Santa de Jerusalém. Cada figura segura um bastão vermelho de autoridade para confirmar que nenhum precede o outro, apesar de a cabeça de Cristo estar inclinada em obediência ao Pai.

 
Aqui um pouco da geometria que fundamenta o ícone é revelada. As figuras estão sentadas em um octógono, o Filho e o cálice compõem o eixo central, mas se reconectam com as outras duas pessoas através de um diâmetro horizontal. Três triângulos equiláteros podem ser vistos, mas existem vários na composição. Rublev também usa uma perspectiva inversa (na plataforma) para criar um “espaço” para que o devoto seja incluído na dinâmica. 

 
Apesar de essa pintura estar apenas algumas décadas de distância da obra de Rublev, elas são completamente diferentes. Em “Ressurreição de Cristo” (terminada em 1465), há uma atenção à proporção humana, musculatura, perspectiva, encurtamento, valores tonais e natureza. O que vemos é mais uma janela para o mundo reconhecível, apesar da natureza milagrosa do evento.
 
Pierro Della Francesca foi um exímio matemático e um notório pintor do início da Renascença. Há uma famosa história sobre esse afresco da igreja de Sansepulcro, em Toscana. Perto no fim da Segunda Guerra, Sansepulcro estava sob bombardeio pelas forças aliadas. Um oficial inglês, Antony Clarke, havia aprendido sobre a significância de Pierro Della Francesca durante seus anos escolares no colégio de Winchester. Ele convenceu suas tropas a cessar fogo, salvando a igreja e o afresco. 

 
A geometria possibilita uma leitura mais profunda dessa obra. Perceba o círculo — a figura inteira de Cristo está contida nele. Suas margens tocam as árvores que representam à esquerda: o mundo decaído antes da ressureição, com as árvores mortas e a terra árida. E à direita: a pós-ressureição, com as árvores cheias de folhas e o solo fértil. O pentagrama mostra várias localizações importantes: o horizonte, o cume do túmulo, o fluxo da linha atravessando os soldados e o posicionamento do corpo de Cristo. Um dos muitos triângulos equiláteros conecta a base da cena com a fronte do nariz de Cristo, fazendo com que nossos olhos encontrem seu olhar firme.

 
Essa extraordinária pintura de Da Vinci (1472) foi feita para ser vista a partir do canto inferior direito. Assim o estranho encurtamento do braço da virgem e a anormalidade arquitetônica fazem sentido. Essa técnica é chamada de anamorfose e existe a teoria de que Leonardo talvez a tenha desenvolvido. 

 
Existem muitas sessões áureas que podem ser encontradas na pintura. O eixo central está vazio novamente, dessa vez marcando o espaço entre a virgem e o anjo, destacando as diferentes esferas nas quais os dois habitam. Note como as seguintes sessões áureas exibem elementos composicionais — a testa do Anjo, a árvore estilisticamente diferente acima das asas. Sessões áureas adicionais são encontradas nas bordas da alvenaria e horizontalmente, através de vários elementos composicionais. 

 
“The Healing of the Demon-Possessed Man” (A Cura do Homem Possesso), uma pequena pintura de Julia Stankova, tem apenas 40x30 cm. Essa é uma tenra descrição da reação de Cristo ao homem curado de seus demônios, que foram transferidos para os porcos. Depois de anos vagando nu pelas tumbas, agora ele está aqui, sentando aos pés de Cristo, vestido e são. Cristo, ao receber sua gratidão, ordena que ele volte ao vilarejo e conte as pessoas sobre a misericórdia de Deus.

 
Aqui foi adicionado um triângulo equilátero e duas sessões áureas, mostrando como as sessões áureas dividem o plano da pintura em partes específicas. O lado direito contém o corpo de Cristo e a sessão abaixo, à esquerda, contém o corpo do homem curado. Um triângulo equilátero abarca o mais significante diálogo entre mãos e rostos. A inclinação do rosto de Cristo reflete o ângulo do triângulo, assim como os esguichos de água, quando os porcos possuídos afundam.

 
Nikola Saric nasceu em 1985, na Sérvia. Ele estudou na Academia de Artes e Conservação da Igreja Ortodoxa Sérvia. Sua obra transmite a imagem de um mundo transfigurado, com interpretações que refletem um estilo que assimila a prática contemporânea e se desenvolve com ela. Certamente não são ícones, porque ele cria uma nova linguagem e inventa composições que não dialogam com a tradição, apesar de possuírem uma serenidade semelhante. 

 
Essa ilustração mostra um pouco da complexa geometria encontrada no desenho. Existem muitos triângulos, fornecendo a estrutura contraposta ao lugar onde os anjos são colocados. Triângulos equiláteros surgem do topo e da base do quadrado periférico, com suas pontas alocadas em pontos centrais do desenho. Uma estrela de seis pontas também toca os pontos centrais. O triângulo principal do desenho está implícito, mesmo sem mostrar seus traços.
 
“A arte é filha do Divino”, disse Rudolf Steiner. Ainda há muito para se dizer sobre esse rico e complexo assunto, mas a frase de Steiner é uma forma de concluir essa viagem elucidativa por uma fração do que ainda existe para ser descoberto.
 
• Sophie Hacker é especialista em Arte Eclesiástica, incluindo vitrais, vestimentas e reordenação do espaço litúrgico. É curadora da A+CE, a principal organização inglesa no campo de arte visual e religião, e professora visitante da Sarum College, em Salisbury Cathedral Close. Desde 2006, é consultora de artes e exibições da Winchester Cathedral, tendo a responsabilidade de organizar três exibições por ano. (http://www.sophiehacker.com).

Traduzido por Paula Mazzini.
 
Fonte: ArtWay. Reproduzido com permissão da autora.

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