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Opinião

A garota [da foto] na geladeira - os filhos de missionários também são chamados?

Por Klênia Fassoni e Ariane Gomes
 
“Sou a menina da foto na sua geladeira, aquela das cartas de oração.
Oram por mim quando estou doente, se alegram quando passo no vestibular. [...]
Sou diferente, esquisita, venho de duas culturas, mas não pertenço a nenhuma delas. [...]
Aprendi que, quando Deus chamou meus pais para o ministério,
Ele me tinha em mente.
Não fui esquecida, e, sim, privilegiada.
Posso não ser compreendida, mas sou amada.
Queria ser normal, mas agradeço a Deus todos os dias por não ser igual.
Sou especial!”1
 
A vida missionária transcultural sempre traz desafios. Quando envolve uma família, esses desafios são ainda maiores. Os filhos de missionários (FMs) têm o desafio de se adaptar a uma cultura diferente, aprender uma nova língua, mudar de escola, fazer novas amizades, experimentar novas comidas e começar a viver uma nova vida. Junto com a transição vêm as oportunidades, mas também as perdas: da família estendida, das amizades, da casa, de objetos, de animais de estimação, do sentimento de segurança e outras. Para muitos FMs há um momento quando eles perguntam a si mesmos: “Quem sou eu?”. Há uma crise de identidade.
 
Além das dificuldades inerentes à transição cultural, os campos de missão de seus pais, em muitos casos, são lugares com contexto de conflitos, violência, pobreza, intolerância religiosa e, em alguns países, discriminação de mulheres.
 
Quantos são e como estão os FMs?
Não há registros sobre o número de crianças que vivem com seus pais missionários em outros países. De acordo com World Christian Database, em 2020, havia 425 mil missionários estrangeiros em todo o mundo2. Paulo Feniman, em seu livro Reencontrando o Caminho da Missão, afirma que há cerca de 15 mil missionários brasileiros em contextos transculturais.3
 
Também não existem relatórios de pesquisa sobre os FMs brasileiros. Nos últimos dois anos, eles viveram as restrições impostas pela pandemia da Covid-19 e todos os efeitos que elas trouxeram (veja p. 32).
 
Pesquisas recentes feitas pela organização americana TCK Training (Treinamento Sobre Filhos de Terceira Cultura)4 indicam que o nível de trauma que as crianças missionárias vivenciam é muito mais alto – quase o dobro – do que o das crianças que crescem nos Estados Unidos.
 
O cuidado integral
Valioso Demais Para Que se Perca foi publicado no Brasil em 1998, tendo como organizador William D. Taylor. O livro é fruto de um encontro realizado, em 1996, com 115 pessoas de 35 países em torno dos resultados de pesquisas encabeçadas pela Comissão de Missões da Aliança Evangélica Mundial sobre as causas do retorno prematuro dos missionários do campo.
 
Essa publicação contribuiu para abrir a mentalidade das agências de missões sobre o cuidado integral do missionário. Hoje, além do Cuidado Integral do Missionário (CIM Brasil), departamento da Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB), muitas organizações e juntas missionárias têm um setor específico para este fim. Foram publicados livros sobre o assunto e o tema passou a fazer parte dos programas de conferências missionárias e das agendas de igrejas. O acompanhamento no preparo, no envio, na permanência e na “reentrada” tornou-se mais abrangente. Os que atuam no cuidado missionário estão convictos de que deve haver um foco crescente na saúde das famílias.
 
O cuidado com os FMs é parte do contexto maior do cuidado integral do missionário.
 
Historicamente, pouca atenção se deu aos filhos de missionários. Em nome do “sucesso da missão”, adotavam-se práticas que hoje seriam consideradas negligentes – como a de mandar os filhos muito novos para internatos distantes do país em que os pais moravam.
 
Rebecca Hopkins, autora do artigo As crianças missionárias não estão bem5, afirma que ainda hoje as necessidades dos FMs são muitas vezes negligenciadas por agências missionárias, igrejas parceiras e até mesmo suas próprias famílias dentro e fora do campo missionário. Mas reconhece que há um número crescente de organizações e igrejas que abraçaram a responsabilidade de apoiar os filhos de missionários e suas famílias.


O chamado dos pais missionários é também dos filhos?
Quando uma família se apresenta para ir a um campo missionário, é comum que surjam perguntas como: “Mas e as crianças?”. A pergunta revela uma preocupação com o fato de os filhos estarem pagando um alto preço pelo compromisso de seus pais. De fato, é preciso reconhecer que, ao aceitarem se envolver na missão de Deus, os pais optam pela “encarnação custosa” e inevitavelmente os filhos os acompanharão neste caminho.
 
No caso do missionário, é vital que a família (cônjuge e filhos) participe de seu ministério. Espera-se que os filhos tenham atitudes de autonegação, humildade, serviço e engajamento. Como guiá-los no entendimento de mensagem tão radical sem que sejam forçados a isso e sem que haja um efeito negativo em seu desenvolvimento?
 
Alguns chegariam à conclusão de que o custo é proibitivo para a ida ao campo. Mas também estes – que não vão – precisam responder: qual é o papel da família no ministério do reino? Pois, na verdade, toda família cristã deve participar da missão de Deus na terra e isso sempre trará algum tipo de sacrifício, o que não deveria ser um peso, mas fonte de bênção. Ainda assim, os desafios são maiores no caso de filhos de missionários em contextos transculturais.
 
Muitos FMs consideram-se privilegiados, não só por servirem junto com seus pais, mas também por sentirem que tiveram a oportunidade de crescer em outra cultura. Eles experimentam outras maneiras de viver e de ver o mundo, outros contextos, e aprendem outras línguas. O FM é capaz de adaptar-se mais facilmente, é mais aberto a pessoas que são ‘diferentes’, rejeitando o preconceito e tendo amizades com pessoas diversas. Essas habilidades culturais de observação e de adaptabilidade são vistas como vantagens no momento de entrar no mundo do trabalho. E alguns têm seguido ou querem seguir o mesmo caminho dos pais e se engajar em ministérios.
 
Em seu artigo As crianças missionárias são missionárias?6, Rachel Jones conclui: “Como ouvi ao redor do mundo – do Havaí à China, do Quênia à Colômbia –, a imagem de famílias envolvidas no ministério juntas muitas vezes mudou de idealista para dolorosa, para alegre e complicada e, finalmente, para uma vida vivida autenticamente, fortalecida pelo Espírito Santo, ao lado de colegas de trabalho, vizinhos e amigos. A despeito das lutas da vida familiar, muitos missionários desenvolveram uma forma mais sutil de ministério autêntico – vivendo o evangelho no contexto das necessidades, quebrantamento, dificuldades e limites de sua própria família”.
 
Que Deus continue levantando famílias para o ministério transcultural e igrejas e organizações que as apoiem integralmente. E também intercessores. Por Rebeca e por outras garotas e garotos das fotos na geladeira.
 
Notas
1. Trecho da carta “A menina da geladeira”, de Rebeca Rain, publicada no livro Criando Filhos Entre Culturas, de Alicia Macedo (Editora Ultimato, 2011, p. 20-21).
2. HOPKINS, Rebecca. The missionary kids are not alright. Christianity Today. Disponível em bit.ly/395-missionary-kids. Acesso em 13 abr. 2022.
3. A pesquisa do World Christian Database leva em conta os missionários que se consideram cristãos de todos os ramos; na estatística de Feniman estão inclusos apenas os missionários de denominações evangélicas.
4. Research at TCK Training. Disponível em www.tcktraining.com/research
5. HOPKINS, Rebecca. The missionary kids are not alright. Christianity Today. Disponível em bit.ly/395-missionary-kids. Acesso em 13 abr. 2022.
6. JONES, Rachel. Are missionary kids missionaries?. Christianity Today. Disponível em bit.ly/395-kids-missionaries. Acesso em 13 abr. 2022.

Reportagem originalmente publicada na edição 395 (maio/junho de 2022) de Ultimato.
Leia o artigo Cuidando dos Filhos de missionários brasileiros em meio a uma pandemia, de Jan Greenwood e Alicia Bausch Macedo, neste link.


Leia mais:
» Cuidado integral do filho de missionário - um desafio para a igreja
» Adulta e divorciada com dois filhos pequenos. Poderia eu ser missionária?

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