Um sangue precioso

Tweetar

Sangue simboliza vida em praticamente todas as religiões e em todas as culturas. É um elemento fundamental para nossa existência. Não o sentimos correndo em nossas veias, mas lá está ele, percorrendo nosso corpo, como que regando cada parte, como se rega uma planta no jardim. Hoje pude perceber melhor o valor que ele carrega.

Confesso que este ato voluntário me fez refletir sobre mim mesmo durante aqueles momentos que antecediam o gesto humanitário. Lembrei que nunca havia tomado essa atitude tão sublime. Tentei no meu interior apresentar desculpas, mas na verdade tudo não passava de mero egoísmo, falta de empatia. Como poderia ter negado, por tanto tempo, alguns mililitros deste precioso líquido tão abundante no meu corpo capaz de ter salvado, quem sabe, uma vida?

Neste processo de autoanálise, acabei percebendo que não somente negligenciei este ato tão nobre de doação, mas também outros tão ou mais urgentes. Quantas vezes, por exemplo, deixei de doar meu tempo ouvindo alguém desesperado por um segundo de atenção? Quantas vezes julguei alguém matando-o com pensamentos ou palavras? Quantas vezes usei talentos e recursos dados liberalmente pelo Criador para meu bel-prazer quando poderia ter compartilhado com alguém? Quanto desperdício, quanta avareza, quanta insensibilidade, quanto narcisismo, quanto autocentrismo. Mente e coração cauterizados, mui conformados e acomodados a um mundo que constrói e se curva, diariamente, diante de ídolos humanos e efêmeros.

Minha fugaz reflexão levou-me a um fato ocorrido num distante jardim quando, por bondade e graça, um animal fora morto e, portanto, derramado seu sangue, para que um homem e uma mulher pudessem ter sua nudez coberta pela pele do mesmo. Com este ato, Deus mostrava-lhes que somente Ele seria capaz de "acobertar" o ato de rebeldia e pretensa autonomia que ambos haviam cometidos antes da virada do dia dando ouvidos ao sabotador que andava em derredor. Da mesma forma que fazemos hoje, quando resolvemos seguir as muitas vozes humanistas que nos aconselham a fazer nossas vontades, a exigir nossos direitos, a seguir nosso coração. Ledo engano. Com o gesto gracioso no Éden, YAHWEH sinalizava que, mais tarde um outro doador, um "cordeiro" perfeito, voluntariamente, também despejaria seu precioso sangue do alto de um madeiro, e assim, de forma definitiva e cabal, restauraria a ponte entre o Eterno e o mortal, entre o Santo e o profano.

Saber que um pouco do meu sangue, e portanto, um pouco de mim mesmo, um dia estará correndo pelas veias de alguém é algo que traz uma indizível emoção que não se pode medir ou quantificar. Porém, muito mais assombroso e espetacular é saber e crer que um dia o Filho do Deus Todo-poderoso deu seu sangue, puro e inocente, a alguém indigno como eu e você. Derramado pelas ruas de Jerusalém, este foi a prova derradeira de que há esperança para todo aquele que se rende aos pés do grande doador universal, o Cristo vivo e vencedor.

Em paz e agora livre pela cruz manchada, posso declarar como o autor da Carta aos Hebreus: "Não por meio de sangue de bodes e novilhos, mas pelo seu próprio sangue, ele entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, e obteve eterna redenção. (Hb 9.12).

Tony
18/08/22

Tweetar

Opinião do leitor