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Opinião

Árabes, Israel e os prejuízos do dispensacionalismo cristão

DOSSIÊ*
* Nova seção do Portal Ultimato em que damos espaço para textos mais longos, com aprofundamento maior de questões



As ramificações do pensamento dispensacionalista e a ausência de paz no Oriente Médio

Por Marcos Amado

O dispensacionalismo é um sistema teológico bastante criticado pelos que não o aceitam. Não obstante muitos evangélicos, especialmente nos Estados Unidos, mas também no Brasil e em outras partes do mundo, ou são dispensacionalistas ou são influenciados por suas vertentes, mesmo que não conheçam a palavra ou o seu conceito.

Este artigo não é escrito com a intenção de analisar se o dispensacionalismo é ou não resultado de uma hermenêutica correta, nem defender a perspectiva no outro extremo do espectro teológico, a saber, a Teologia da Aliança. Nem espero que os dispensacionalistas mudem suas convicções. Afinal, trata-se de uma escola de pensamento, uma entre muitas. O que pretendo apresentar são os efeitos da teologia dispensacional e seus subprodutos: (a) na política do mundo e do Oriente Médio, (b) na vida da Igreja no Oriente Médio e (c) no pensamento e prática missiológica da Igreja Ocidental, de modo que os que têm um ponto de vista influenciado pelo dispensacionalismo possam minimamente considerar se não há uma maneira bíblica de evitar a dor que, direta ou indiretamente, está sendo causada a milhões de pessoas no Oriente Médio e nos seus arredores.

Minha esperança também é a de que este artigo influencie, mesmo que de forma modesta, a Igreja Brasileira e seu esforço missionário no mundo muçulmano em geral, e no Oriente Médio em particular.

Todavia, é necessário apresentar uma ressalva importante antes de desenvolver o tema. Veremos, na sequência, alguns fatos lamentáveis que aconteceram nas últimas décadas por conta da iniciativa de evangélicos com influências dispensacionalistas, especialmente nos Estados Unidos. É de suma importância levar em conta que a popularização e ampla disseminação do dispensacionalismo se apoia em um forte sistema, que envolve um grande número de pessoas e da mídia. Seu avanço tomou proporções gigantescas. Tornou-se quase impossível falar a respeito de uma única versão de dispensacionalismo. Como consequência, nem todos os dispensacionalistas clássicos estão necessariamente de acordo com tudo que se desenvolveu ao redor desse sistema teológico, nem com tudo que tem sido dito e feito como resultado de convicções escatológicas encontradas em ambientes teológicos influenciados por essa abordagem.

Outrossim, é importante ressaltar que nem sempre é clara a distinção feita entre os diferentes conceitos (dispensacionalismo pré-milenista e pré-tribulacionista, restauracionismo, sionismo cristão, dispensacionalismo radical e até mesmo o cristianismo evangélico). Nas próximas linhas os termos podem ser usados de modo intercambiável.

Também vale dizer, já de início, que eu estou totalmente de acordo com o direito de o povo judeu ter o seu lar na Palestina, apesar de não concordar com a forma que o moderno Estado de Israel tem atuado em relação ao povo árabe palestino, que habita há mais de mil anos na “Terra Prometida”. Finalmente, é importante esclarecer que as opiniões expressadas neste artigo são de minha responsabilidade, e não representam, necessariamente, a opinião das organizações cristãs com as quais estou envolvido.

DEFININDO O DISPENSACIONALISMO

As principais características do que veio a ser definido como dispensacionalismo clássico, ou normativo1 (que inclui as posições pré-milenista e pré-tribulacionista2) desenvolveram-se no decorrer de anos, e ainda que haja discordâncias, o conceito pode ser sumarizado da seguinte maneira:

1. Deus em sua soberania decidiu que a revelação e a execução de seu plano para a humanidade aconteceriam através de diferentes dispensações, introduzidas por Deus mesmo, em diferentes épocas. Uma dispensação pode ser concisamente definida como “uma economia3 discernível na execução do plano de Deus”4 que pode “prevalecer em uma época especial”, mas “não necessariamente em outra”5. Os dispensacionalistas nem sempre estão de acordo sobre quantas são as dispensações, mas a maioria parece crer em sete.6 7 Eles entendem que o alvo da história é “o estabelecimento do reino milenar na terra […]”.8

2. Os judeus continuam sendo entendidos como o povo escolhido de Deus que irá desfrutar na terra as promessas ainda não cumpridas do Antigo Testamento9. Por conseguinte, a primeira das três condições sine qua non (ou a primeira das “pedras angulares”) do dispensacionalismo é a descontinuidade clara entre Israel e a Igreja. A Igreja está limitada apenas à presente era. Os judeus, enquanto nação, não pertencem ao mesmo grupo em que está a igreja, ou os gentios. Os que pertencem à igreja são diferentes dos santos que morreram antes de Cristo ou dos de uma dispensação futura. A Igreja do Novo Testamento não é o “Israel nacional”. Logo, não é o cumprimento das promessas dadas a esta nação. Deus tem seu povo redimido no decorrer das eras. Entretanto, o dispensacionalismo nega fortemente que isto constitui um mesmo povo. Eles creem nos “povos” de Deus.10 Para os dispensacionalistas, “a doutrina dos dois povos… deve ser sustentada eternamente […]”.11 Conforme Chafer, um grande defensor do dispensacionalismo,

É tão ilógico e enganoso argumentar que o judaismo e o cristianismo irão se fundir como discutir que o céu e a terra deixarão de existir como esferas separadas. O dispensascionalismo tem sua base e é entendido na distinção entre judaísmo e cristianismo.12

O dispensacionalista crê que através das eras Deus está executando dois propósitos distintos: um relacionado à terra com pessoas terrenas e pautados por objetivos terrenos, que é o judaísmo, enquanto o outro está relacionado ao céu com pessoas celestiais e está envolvido com objetivos celestiais, que é o cristianismo […].13

3. Quando a atual dispensação (conhecida como Dispensação da Graça ou Era da Igreja) acabar, o “arrebatamento”14 irá acontecer. Jesus chamará os crentes, o que incluirá os santos ressuscitados de dispensações passadas e os vivos da dispensação presente, para o encontro com ele nos ares15. Eles adquirirão um corpo celestial e viverão no céu com Jesus.

4. O arrebatamento marcará o início da Grande Tribulação, um período de sete anos no qual o anticristo se manifestará e “conseguirá estabelecer-se firmemente na Palestina como um líder religioso e politico”.16 Durante esse tempo o terceiro templo será reconstruído em Jerusalém e o povo judeu mais uma vez viverá de acordo com a Lei Mosaica17.

5. Ao final dos sete anos da tribulação haverá a grande batalha do Armagedom, quando as nações se reunirão para combater Israel.

6. Nesse momento Jesus voltará para defender Israel, derrotar o anticristo e amarrar Satanás por mil anos.

7. É aí então que a última dispensação, o Milênio, terá lugar:
a) Será um período que durará literalmente mil anos e Jesus reinará sobre toda a terra 18. Seu trono será em Jerusalém.
b) Imediatamente antes do início deste período os judeus de todos os cantos do mundo serão regenerados e restaurados, e retornarão à terra de Israel 19 20. Judeus e gentios serão “julgados para assegurar que apenas os que creem entrarão no reino.”21
c) De acordo com alguns dispensacionalistas, durante esse tempo os que foram arrebatados antes do início da Grande Tribulação terão retornado com Jesus em corpos glorificados e reinarão com ele. Assim, de acordo com essa perspectiva dispensacionalista, durante o Milênio haverá na terra pessoas com corpos celestiais e aqueles (judeus e gentios que sobreviveram à Grande Tribulação) com corpos terrestres 22 23. Outros, como Dwight Pentecost, são da opinião que durante o Milênio apenas os sobreviventes da Grande Tribulação estarão na terra, com seus corpos físicos, e viverão sob o senhorio de Jesus.24
d) Devido ao fato que os dispensacionalistas enfatizam grandemente a necessidade de utilizar uma interpretação da Bíblia que seja “literal, plena, normal ou histórico-gramatical”25 26 e para que a “igreja não roube as bênçãos de Israel”27, será durante o Milênio que as promessas parcialmente cumpridas ou ainda não cumpridas do Antigo Testamento (especialmente aquelas concernentes à Aliança Davídica, a posse incondicional e permanente da terra e suas fronteiras geográficas) serão completamente cumpridas e a nação de Israel finalmente terá sua plena extensão,28 que será “[…] do rio do Egito ao grande rio, o rio Eufrates […].”29 30. Outra promessa a ser cumprida durante o Milênio é Jeremias 31.31-34, que menciona que a lei de Deus será gravada nos corações dos judeus.
e) No final do Milênio Satanás será liberto por pouco tempo e haverá um tempo de rebelião31. Entretanto, Jesus triunfará.
f) Quando o Milênio acabar haverá um novo céu e uma nova terra. Não haverá necessidade de um templo, porque Deus mesmo será o santuário.

Se formos resumir esse sumário em poucas palavras provavelmente não haverá melhor maneira que citar Hal Lindsay, um dos mais importantes popularizadores do dispensacionalismo do século 20:

“Crucial para uma leitura dispensacionalista da profecia bíblica é a convicção que o período da tribulação é iminente, juntamente com o arrebatamento secreto da igreja e a reconstrução do templo judeu no lugar do, ou ao lado do Domo da Rocha. Isto assinalará o retorno do Senhor para restaurar o reino a Israel, centrado em Jerusalém. Esse evento pivotal também é entendido como o gatilho para o início da Guerra do Armagedom, na qual grande parte da população do mundo, juntamente com muitos judeus, irão sofrer e morrer”.32

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