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CAPA

É possível florescer e frutificar ao envelhecer?

Por Klênia Fassoni

Este é um dos mais belos textos bíblicos que se referem ao amadurecimento: “Os justos, porém, florescerão como palmeiras e crescerão como os cedros do Líbano. Pois estão plantados na casa do Senhor; florescerão nos pátios de nosso Deus. Mesmo na velhice produzirão frutos; continuarão verdejantes e cheios de vida. Anunciarão: ‘O Senhor é justo! Ele é minha rocha; nele não há injustiça’” (Sl 92.12-15, NVT).

O verso expressa uma promessa de comunhão com o Senhor e de florescimento, o que inclui bênçãos para a vida espiritual e para a saúde do corpo. A despeito das limitações naturais trazidas pela idade – mesmo na velhice – os frutos estão garantidos para os que chegam aos 60, 80 ou 100 anos.

Outros textos bíblicos são mais explícitos ao expressar as limitações trazidas pelo peso dos anos: as pernas falham, os ouvidos não funcionam bem, os olhos veem menos, os ombros se curvam. (Veja A visão bíblica sobre a velhice).

Um novo olhar para a velhice é capaz de enxergar a beleza dessa fase de vida, mas não se deixa levar por um romantismo ingênuo, que ignora a senescência (processo de deterioração caracterizado por um declínio na aptidão e perda do vigor).

CONTINUIDADE E DESCONTINUIDADE
Na velhice, a continuidade convive com a descontinuidade. Somos as mesmas pessoas, mas estamos experimentando novas situações; nosso corpo e nossa mente não são mais exatamente como eram e as circunstâncias que nos rodeiam também são diferentes.

Paul Tournier adverte: “A base para uma velhice feliz está na mudança de atitude e é muito importante que esta guinada interior seja precoce”. Atentar para si mesmo e para a sua responsabilidade de cultivar uma vida plena é uma postura que nos ajuda a dar o grande salto da vida adulta para a velhice, com perspectivas de uma vida plena.

Este é o convite: tome a iniciativa de cuidar de si mesmo, não espere pelos outros –
ainda que você possa contar com eles – nem por circunstâncias mais favoráveis – ainda que você possa pedir isso a Deus. O melhor da história é que não estamos sozinhos nessa tarefa. Se, por um lado, devemos buscar a autonomia (um dos principais indicadores de uma boa velhice), por outro devemos nos lembrar que “Na pessoa de Cristo, aprendemos que a dependência não destitui uma pessoa de sua dignidade, de seu valor supremo. E se a dependência foi adequada para o Deus do Universo, certamente é apropriada para nós” (John Stott, em O Discípulo Radical). Deus promete cuidar de nós. Contar com o cuidado do Senhor é declarar a nossa dependência dele, e isso o agrada.

Que esforços podemos empreender em busca de uma vida plena na velhice? Orientações de autocuidado para os mais velhos na área de saúde e outras são abundantes na literatura e na internet. As sugestões a seguir privilegiam cuidados relacionados à fé: praticar o contentamento, fazer as pazes com o tempo, ajustar o nosso papel no palco da vida, relacionar-se e servir.

A prática do contentamento
A prática do contentamento é necessária para fazer frente às perdas naturais – e inesperadas – desse novo ciclo de vida. Angústia, amargura, decepção e sentimentos semelhantes podem ser visitantes assíduos. Conscientes das iminentes, ou já presentes, limitações, podemos também temer “perder a possibilidade de brilhar” e deixar que o enfado e a apatia se apoderem de nós. Como exercitar o contentamento, fruto da confiança nas promessas do Senhor?
  • Continuar a orar e a meditar. Não há substitutos para as disciplinas espirituais na velhice. Esta fase de vida nos desafia a crescer no aprendizado de viver contente em toda e qualquer situação (Fp 4.11-13) e a ocupar a cabeça com bons pensamentos – aquilo que é justo, amável, puro, agradável (Fp 4.8-13). Nessa fase, ouvir textos bíblicos e bons audiolivros pode ser uma alternativa à leitura.
  • Encontrar propósito nessa nova fase de vida. Isso significa revisitar as certezas do passado e continuar atribuindo significado ao que somos e ao que fazemos, a partir da convicção de que o sentido da nossa vida está em Deus.
  • Ter um coração grato porque Deus nos permitiu acumular idade e continua cuidando de nós. Contar as bênçãos, ou, nas palavras de Tournier, fazer o nosso “inventário de privilégios” também nos levará à gratidão – muitos de nós acumulamos privilégios ao longo da vida, tais como a educação, o acesso à saúde, a família, os recursos, a aposentadoria etc. E, por fim, aquela gratidão diária pelas “pequenas” bênçãos, pelas pessoas que estão próximas, pela beleza de um jardim ou de uma música.
  • Exercitar a confiança no Senhor alimentará a esperança e afastará o medo do futuro. Ainda que por vezes seja a confiança do tipo “ainda que” de Habacuque (3.17-18).

Fazer as pazes com o tempo
A segunda área de cuidado é com relação ao tempo. É nessa fase de vida que mais experimentamos sentimentos relacionados à finitude (Veja Nada é para sempre?, p. 20). Ponderamos mais sobre o passado, o presente e o futuro e nos vemos mais perto da morte. Passou a ser urgente envelhecer bem.
  • É preciso valorizar o passado, ainda que muitos – especialistas e leigos – digam que devemos deixá-lo para trás. Tudo o que temos é o passado! Podemos olhar para ele com alegria e perceber como Deus conduziu a nossa história. Cada etapa vivida, o trabalho, os relacionamentos não ficaram lá atrás, são parte do que somos hoje – inclusive aquilo que aprendemos com os nossos erros. A velhice é também tempo de celebrar a vida.
  • Fazer as pazes com o tempo pode significar para alguns um chamado para “viver o momento, não medir o tempo e as horas, entregar-se ao momento” (Titãs). Para outros, pode ser uma chamada para disciplinar o uso do tempo. É o caso dos que viveram sob o “dogma da produtividade” e se veem agora numa liberdade compulsória sem o conteúdo e os marcos diários que o trabalho lhes dava, e não conseguem desfrutar dessa liberdade.
  • É hora de lidar com o inacabado. Dos sonhos e projetos, a quais dizer sim, a quais dizer não? Abrir mão é parte do processo. Para os que deixaram alguns planos, é a oportunidade de novos sonhos.
  • É preciso fazer as pazes com as marcas do tempo. Estamos escravizados a um conceito de beleza glamourizada, que despreza as marcas da velhice. Devemos ir contra essa tirania e educar nossos olhos para outro tipo de beleza.
  • Fazer as pazes com o tempo significa também alegrar-se com os que estão vivendo o seu tempo. Isso implica entender – e, se possível, apreciar –, por exemplo, a bagunça das crianças e a vivacidade barulhenta dos jovens como expressões próprias à sua fase de vida.

Ajustar o nosso papel no palco da vida
Na velhice, não é incomum nos sentirmos rejeitados, substituídos, desvalorizados. Isso pode nos levar a desejar sair de cena ou, ao contrário, comandar o espetáculo. Não podemos abandonar o palco e devemos abandonar o desejo de controlar. O desafio é equilibrar os nossos papéis, ora como atores, ora como espectadores.
  • Valorizar as nossas memórias e o nosso papel na família, na igreja, na comunidade é uma atitude importante. Não somos apenas os guardiões das memórias e transmissores da mensagem da Aliança (Sl 78.4). Devemos também estar à vontade para participar do ensino, da admoestação, dos planos, pois “Os velhos ainda sonham” (Jl 2.28; At 2.17).
  • É uma ocasião propícia também para relembrar do que gostávamos e que agora está em nossas mãos vivenciar. Isso pode exigir esforço: “Perde-se a noção das coisas que verdadeiramente nos agradam, por tanto tempo rejeitadas”. Para alguns, será preciso reaprender como ficar à toa e desfrutar do lazer.
  • A velhice é uma grande oportunidade para aprender novos papéis, como o de avós, bem como para aprender novas habilidades e conteúdos. Ao mesmo tempo, não podemos nos desobrigar daquilo que porventura nos tenha sido imposto pelas exigências éticas da nossa fé.
  • Buscar a serenidade e fugir da irritabilidade e da ranzinzice é uma postura importante. Mas a serenidade não deve ser confundida com indiferença ou apatia. No espetáculo da vida, conservar a paixão é essencial – “Se não há raiva, não há sorrisos”.
  • Um balanço de vida é recomendado. E talvez isso nos leve a pedir perdão, a reatar relacionamentos, a perdoar incondicionalmente, a fazer reparações.
  • Colocar a casa em ordem, fazer acertos financeiros, tomar decisões sobre herança e providências práticas para a hora da morte é aconselhável. Sem querer mandar na cena do fim de nossa vida, podemos também deixar indicações de como desejamos ser tratados em caso de doenças terminais, quais devem ser os cuidados paliativos etc.

Relacionar-se
A dor da solidão é a mais aguda das dores na velhice. Diante da tendência ao isolamento decorrente da necessidade implacável de adaptação às novas realidades que a idade impõe e do sentimento de ser intruso, é preciso manter e fortalecer vínculos e afetos.
  • Não se deve ceder à “tentação de retirar-se, de desinteressar-se”, ainda que a velhice normalmente implique certo recolhimento.
  • Empenhar-se nos relacionamentos com os familiares, especialmente os netos, com os amigos e companheiros de velhice, é essencial. Na comunidade de fé, buscar e prover companhia. É importante ter pelo menos um amigo (que pode ser o cônjuge) com quem possa ter um compartilhar recíproco. Com ele, abrimos o nosso coração, compartilhamos angústias e sonhos, oramos, falamos a verdade. Quanto possível, desfrutar da convivência com as crianças e com os mais jovens, na igreja, na família extensa, na comunidade.
  • Para muitos, o trabalho era uma fonte de exteriorização. Agora que ele não está presente, é preciso ocupar a mente e o corpo com outras atividades, muitas vezes acompanhadas de oportunidades de relacionamentos, que devem ser aproveitadas.

Servir
O cansaço, a impressão de que não somos mais eficientes, o desejo (bem-intencionado) de dar espaço a outros, o sentimento de inadequação aos novos métodos e aos novos tempos, podem fazer com que nos “aposentemos” do serviço. Mas o chamado de Deus é para a vida toda.
  • É importante reconhecer os motivos pelos quais podemos e devemos continuar a servir: temos à disposição um baú cheio de habilidades e experiências, as pessoas precisam do nosso serviço, Deus nos chamou para servi-lo e servir as pessoas é servir a Deus.
  • Devemos nos cuidar para que a introspecção não nos leve ao egocentrismo – por vezes disfarçado de virtude. Servir é o melhor remédio, pois nos tira de nós mesmos.
  • Uma possibilidade é continuar servindo nas áreas em que temos experiência, usando o tempo de que dispomos e a rede de contatos que construímos no decorrer dos anos. Seria uma espécie de “segunda carreira ou segunda ocupação”, em muitos aspectos diferente da primeira.
  • Ainda é possível, na velhice, empreender grandes coisas, ao lado de outros, em favor do reino de Deus: evangelizar, participar de esforços missionários, trabalhar por transformações sociais, apoiar emocional e espiritualmente pessoas ao redor, contribuir financeiramente etc.
  • Colaborar para minorar as dificuldades enfrentadas pelos idosos (ou qualquer outro grupo em situação de vulnerabilidade) é um testemunho do fervor da nossa fé. O maior contingente de idosos no Brasil possui um inventário de “desprivilégios”; é na velhice que mais se mostram os indicativos da desigualdade socioeconômica ao longo da vida (Veja Os desafios socioeconômicos para grande parcela dos idosos no Brasil).
  • Possivelmente, a missão de relacionar-se e encorajar seja a “segunda carreira” com mais vagas para os 60+. Para exercê-la, precisamos de tão pouco: experiências de vida com Deus – e temos tanto! E, ao lado dessa missão, a intercessão: que ministério!

Confiantes em Deus, podemos seguir com alegria rumo aos anos que temos pela frente. Levando na bagagem a nossa história e permanecendo humildes – mesmo em meio às muitas ausências –, desfrutaremos de uma vida plena. E a graça de Deus se fará presente em situações de fragilidade, tirando força da fraqueza.

Todos os trechos entre aspas foram retirados do livro Aprender a Envelhecer, de Paul Tournier (Editora Ultimato), salvo outra indicação específica.

A passagem bíblica que abre este artigo (Sl 92.12-15) é a base bíblica do
Movimento Cristão 60+, que Ultimato tem apoiado.

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