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CAPA

O que será destas crianças? – Histórias da Bíblia

Por Klênia Fassoni
 
Talvez você se surpreenda com esta afirmação: há mais de 1.500 referências a crianças na Bíblia.1 É possível que, a despeito disso, muitos tenham dificuldade para lembrar trinta ou quarenta delas. Mas elas estão lá, pedindo para serem lidas com atenção. Incentivamos você a ler a Bíblia procurando por crianças. E, ao encontrar referências a elas, leia os textos com esta pergunta em mente: “O que será desta criança?”. Aqui você encontra cinco histórias.
 
Ele será o maior entre os nascidos de mulher

“O que será deste menino?” foi a indagação feita pelos vizinhos ao saberem que Zacarias e Isabel, idosos e inférteis, teriam um filho. A resposta a essa pergunta é conhecida: “Ele será um grande homem e motivo de alegria para os pais e muitos outros”, disse o anjo. Zacarias em seu cântico acrescenta: “Você, menino, será chamado profeta do Altíssimo”. Os vizinhos notam que o “menino crescia e se fortalecia em espírito”. Os pais zelam por sua criação e mantêm a respeito dele as mais altas expectativas. Foi nesse ambiente que o menino cresceu e, já adulto, anunciou a chegada de Jesus, cumprindo o seu papel na Grande História. Mais tarde, o próprio Jesus declarou: “Ele é o maior entre os nascidos de mulher”.
 
O que será dos meninos condenados à escravidão?

Não sabemos seu nome, mas a história desta mãe é bem conhecida. Logo depois da morte do seu esposo, dedicado ao serviço de Deus, o credor bate à porta e ameaça levar seus dois filhos como pagamento. Em grande aflição, ela se pergunta: “O que será dos meus filhos?”. Decidida a não aceitar a fatalidade, ela recorre a Eliseu. O profeta manda perguntar o que ela tem em casa. A resposta – desoladora – é: “Nada! Apenas um pouco de azeite”.
 
Conhecemos o desfecho da história. Deus, por meio de Eliseu, não faz o milagre “completo”. O azeite (colaboração da viúva) que se multiplicou deve ser agora comercializado, e do trabalho dela e de seus filhos a família terá o suficiente para pagar a dívida e continuar vivendo. Eliseu faz com que ela recorra à sua comunidade: “Percorra a rua e peça emprestadas vasilhas e tigelas de suas vizinhas. Não traga poucas, mas todas que você conseguir”.
 
Frente a situações adversas que atingem as crianças, a reação mais desejável é o inconformismo. Para, em seguida, recorrer a Deus, que muitas vezes em socorro delas aciona os recursos da comunidade. “É preciso uma aldeia para educar uma criança.”
 
Eu sei o que será do meu filho, nascido apesar da esterilidade!

Ana tinha o amor de seu marido, mas não tinha filhos. Isso a entristecia a ponto de ela ficar sem se alimentar e chorar por dias. Numa das peregrinações da família a Siló, Ana orou com aflição suplicando por um filho e prometeu que, se Deus a atendesse, o filho seria consagrado a ele. Ela engravidou, e Samuel nasceu. Uma das mais belas orações registradas no Antigo Testamento é fruto dos lábios agora alegres de Ana: “Meu coração está em festa por causa de Javé”. Quando Samuel era ainda muito pequeno, Ana e seu esposo, Elcana, entregaram-no ao sacerdote Eli. Ana sabia o que seria deste menino: um servo de Deus, “a quem pertencem as colunas da terra, santo, rocha, aquele que faz morrer e faz viver, que levanta da poeira o fraco”. “Samuel foi crescendo, Javé estava com ele e nenhuma de suas palavras caiu por terra.” Os pais continuaram a peregrinar até Siló uma vez por ano e, certamente, encontravam-se com o filho e dele se orgulhavam.
 
Samuel é ainda um menino quando tem a sua primeira visão; Eli é quem o ajuda a perceber que é Deus falando com ele. E, para sua tristeza, a visão é um recado ao próprio Eli sobre seus filhos: eles seriam condenados por seus desvios morais e éticos. Que tristeza para um pai! Mais tarde, seria a vez de Samuel entristecer-se ao ver que Joel e Abias, seus filhos – juízes de Israel –, apesar do exemplo do pai, não seguiam o caminho do Senhor.
 
Era muita criança para se perguntar: “O que será delas?”

Dá para imaginar o farrancho de crianças que faziam parte da caravana que seguia de Berseba para o Egito. Ao todo, 75 pessoas. Jacó, acompanhado de seus filhos, netos e bisnetos, iria rever seu filho José, agora governador.
 
Quantas vezes no passado terá ele se perguntado: “O que será de José, este menino dos sonhos estranhos?”. Por muitos anos, Jacó acreditou que ele estava morto. Sua tristeza foi tão grande que rejeitou o consolo dos outros filhos. Ele deve ter se tornado um pai superprotetor para Benjamim, irmão de José; ele o “amava demais” e tinha medo de perdê-lo. Jacó cuidou para que seu caçula se desenvolvesse plenamente, começando por trocar o nome que Raquel havia lhe dado (Benoni, que significa filho da dor) por Benjamim (filho da felicidade).
 
Em vista da escassez daquela terra, ele deve ter se perguntado: “O que será dos meus netos e bisnetos?”. Afinal, a aliança que Deus estabelecera com ele incluía uma descendência: “Tu me disseste: ‘Eu certamente farei tudo ir bem contigo, e tornarei a tua descendência como a areia do mar, que não se pode contar de tão numerosa’”. Agora, a esperança se renova. Eles estavam indo para uma terra de abundância.
 
Observando a criançada na caravana, é possível que Jacó tenha se lembrado quando – muitos anos atrás, depois de lutar com Deus no vau de Jaboque –, também acompanhado de muitas crianças, tentou protegê-las do temido encontro com Esaú. Depois do abraço da reconciliação, Jacó disse para seu irmão: “Estes são os meninos com que Deus me abençoou”. Os acontecimentos de sua vida, inclusive os que trouxeram sofrimento, faziam parte da Grande História.
 
José estava bem ciente disso: “Deus me enviou na frente de vocês para que possam sobreviver na terra, salvando a vida para sua gloriosa libertação”. Ele teve a alegria de ver Jacó convivendo com os seus filhos e dando-lhes a sua bênção. E Jacó teve o privilégio de acompanhar até os seus tataranetos e perguntar a respeito deles: “O que será destas crianças?”.
 
O que será da bela menina órfã?

Quando Hadassa (seu nome hebraico) perdeu os pais, parentes e vizinhos devem ter se perguntado: “O que será desta menina?”. Quem poderia imaginar que ela se tornaria a rainha da Pérsia?
 
A mais bela entre dezenas de outras jovens, ela é escolhida pelo rei Assuero. Agora Ester procura saber por que Mordecai (seu primo e pai adotivo) está de luto. Ele faz chegar às suas mãos cópia do decreto do rei ordenando o extermínio do povo, o seu povo (nacionalidade que Ester esconde), e pede que Ester interceda perante o rei. Frente à sua resistência inicial, ele diz: “Quem sabe se você não chegou ao reino exatamente para essa ocasião?”.
 
Diante do desafio, ela pede que Mordecai e os judeus que estão em Susã jejuem e orem por três dias e, com coragem, afirma: “Se for preciso morrer, morrerei”. A oração de Ester revela uma educação no temor de Deus e o conhecimento das promessas feitas ao povo: “Não tenho outra proteção além de ti. Manifesta-te no dia da nossa tribulação. Ó Deus, mais forte que todos os poderosos, ouve a voz dos desesperados”.2 Ela encontra o favor do rei; Amã, o narcisista que desejou a morte dos judeus, é enforcado; Mordecai é honrado. O rei envia cartas para as 127 províncias de seu reino concedendo aos judeus o direito de se defenderem.
 
Deus transforma o “dia de tragédia em dia de alegria para o povo escolhido”. É por meio de Ester que Deus cumpre os seus planos. Ester é protagonista na Grande História, e toda a posteridade – ao se lembrar ano após ano deste grande feito de Deus – se lembraria também de Ester, que um dia foi criança.
 

Notas
1. BREWSTER, Dan. Procure pela criança na Bíblia. Onde ela está e o que faz lá? Disponível aqui.
2. Na história de Ester, a tradução da versão grega do livro foi também utilizada como fonte.

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