Para nós cristãos em geral e os protestantes em particular, a Bíblia é muito “cara”. Alguns foram a ela apresentados na infância; outros, na adolescência ou juventude; outros, na vida adulta; e ainda outros, em plena terceira idade. Ela é o texto sagrado da nossa tradição que por séculos tem iluminado a vida e o viver de homens e mulheres, em todas as culturas, contextos e classes sociais. Seu estudo tem ampliado horizontes e inspirado as mentes mais brilhantes dos últimos vinte séculos. Ela nem sempre diz o que queremos ouvir. Ao mesmo tempo em que anuncia o amor, a graça e a compaixão de Deus pelo ser humano, denuncia as máscaras do mal, da maldade e da mentira em nós, não poucas vezes travestidas de bondade e de religiosidade, bem como as verdadeiras intenções por trás das ações de pessoas e instituições.
 

Aparentemente, a Bíblia é o best-seller mais vendido e o mais lido do mundo. No entanto, é também “o menos examinado”, segundo Thomas Paine, o menos estudado e, talvez, o menos compreendido. A história demonstra que a leitura de seus textos fora dos contextos nos quais foram originalmente produzidos levou ao fanatismo, à brutalidade, à violência, ao obscurantismo e à barbaridade. No entanto, aqueles e aquelas que estudam a Bíblia com dedicação, humildade, reverência e honestidade intelectual nela encontram sabedoria para o viver em sociedade; inspiração na busca do bem comum para a humanidade; coragem para lançar-se em investigações sobre os mistérios do universo e do humano; iluminação suficiente para prosseguir nas “noites escuras da alma”; força para suportar o estar de pé em Deus diante da incompreensão, do isolamento e das “inquisições sem fogueiras” (João Dias de Araújo); ânimo diante das decepções e frustrações da vida; perseverança em face da multiplicação dos falsos profetas com suas palavras bonitas, manipulativas e suas intenções e projetos ocultos.
 

Quando lida em comunidade orante e multidisciplinar, a Sagrada Escritura igualmente nutre uma espiritualidade de serviço e solidariedade; estimula o cuidado do outro, da natureza e dos animais; influencia a luta por justiça para o mundo dos pobres e esmagados pela opressão que gera miséria (Am 4.1; 5.24) e a denúncia das convocações espúrias, do ajuntamento enganador, do culto idolátrico, das falsas intenções por trás dos dízimos e ofertas “gordas”, assim como da maldade, da ganância, das ameaças e da violência praticadas por aqueles que frequentam o templo (Is 1.10-17). Ou seja, adorar o Deus vivo e verdadeiro exige engajamento sincero com o viver ético no cotidiano.
 

Na prática, isso significa compromisso com a verdade e afastamento da mentira, da manipulação ou disseminação de fake news. Assim, poderemos dizer com o salmista: “Como são doces para o meu paladar as tuas palavras! Mais do que o mel para a minha boca! A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho” (Sl 119.103, 105).

 

• Maruilson Souza é PhD em educação teológica, professor na Faculdade do Exército de Salvação em Rancho Palos Verdes, Los Angeles, e pastor da Comunidade Brasileira em Redondo Beach, Califórnia, Estados Unidos.

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