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Seções — Vamos ler!

Vamos ler!

Uma Breve História do Cristianismo
Geoffrey Blainey
334 páginas
Editora Fundamento, 2012
 
Geoffrey Blainey, 82 anos, historiador, autor de 35 livros, entre os quais “Uma Breve História do Mundo” (na lista dos mais vendidos de “Veja” por mais de 150 semanas), é o autor do recém-lançado “Uma Breve História do Cristianismo”. Ele e seus editores demonstram preocupação em aproximar o texto de leitores comuns: as 334 páginas são divididas em 31 capítulos curtos com títulos atraentes e frases de destaque, além de uma linguagem acessível e oito mapas explicativos no início do livro.
 
Blainey é tido como um dos australianos mais influentes. Em mensagem ao redator de Ultimato, ele conta que escreveu “em parte na tentativa de satisfazer minha própria curiosidade sobre o cristianismo e sua longa história” e acrescenta: “Tentei ser justo com aqueles que, no passado, abraçaram diferentes crenças. Pesquisando e escrevendo o livro aprendi muito. [...] cheguei à conclusão de que o cristianismo tem renascido de novo e de novo e, portanto, eu não concordo totalmente com aqueles que preveem que seu declínio na Europa é permanente”. Blainey se declara protestante, de origem metodista; diz que vai a várias igrejas ao longo do ano e, quando no exterior, participa de cultos católicos ou ortodoxos.
 
Antecipando-se aos céticos -- aqueles que dizem que Jesus nem sequer existiu --, logo na introdução de seu livro, Blainey afirma que, “de todas as pessoas comuns daquela época, desconhecidas fora de sua terra, a vida e os ensinamentos de Jesus estão entre os mais documentados” e declara que investigar como historiador a história de Jesus foi uma tarefa fascinante (devido ao modo como o cristianismo moldou a civilização ocidental e afetou o modo de viver das pessoas), frustrante (porque algumas partes da história estão envoltas em mistério) e perigosa (por ser uma trajetória pontuada de controvérsia).
 
No último capítulo, depois de mencionar a dificuldade de avaliar uma religião tão antiga e disseminada, cujos seguidores discordam entre si, ele afirma: “O cristianismo moldou -- e às vezes desmanchou -- muita coisa no mundo moderno. Não somente a moral e a ética receberam influência, mas também o calendário, os feriados, a assistência social, os eventos esportivos, arquitetura, idioma e literatura. Talvez nenhuma outra instituição tenha cuidado tão diligentemente dos enfermos, dos pobres, dos órfãos e dos velhos”. As últimas palavras do livro são singelas: “É notável como um homem que viveu há dois mil anos, não ocupou cargo público nem era rico, e nunca visitou um lugar que ficasse a mais de dois dias a pé de distância do lugar onde nasceu, possa ter exercido tanta influência, com seus ensinamentos, profecias, conselhos e parábolas”.

Por Klênia Fassoni



As Boas Novas da Criação
Juan Stam
124 páginas
Novos Diálogos, 2012
novosdialogos.com
 
“As Boas Novas da Criação” é ímpar ao apresentar, em linguagem acessível, uma teologia bíblica da criação que, por sua vez, exige uma reavaliação da ação missionária da igreja. De acordo com o autor, “A teologia da criação deve desempenhar um papel decisivo em nossa visão do evangelho, da missão, da igreja e de nossa fidelidade no discipulado como primícias, aqui e agora, da nova criação”.
 
Antes de ler o livro de Juan Stam, o leitor poderia concluir que o autor exagera -- se não se equivoca -- quando faz esta afirmação. Mas não é o caso. A sua ênfase está devidamente na consistência do tema da nova criação ao longo das Escrituras, inclusive no livro de Gênesis, que relata a “velha” criação. O argumento é tão simples que é difícil negar: o final dos desígnios de Deus nas Escrituras, previsto desde o início, é a sua nova criação, e tudo que ocorre antes disso -- o pecado, a salvação e a missão da igreja -- caminha nessa direção. A história não caminha em direção ao céu, mas em direção à terra, onde um dia, conforme as Escrituras, o céu descerá.
 
Talvez o leitor espere uma boa defesa bíblica da responsabilidade socioambiental dos cristãos. Porém o autor surpreende. Além de simplesmente defender o cuidado cristão do meio ambiente (inclusive a parte do meio ambiente que é humana), ele configura tal responsabilidade dentro da escatologia bíblica. A questão não é simplesmente que o cristão e a igreja, criados à imagem e semelhança de Deus, devem ser bons mordomos do seu meio. Antes, devem também contribuir para a redenção da criação porque este é o seu destino escatológico, o qual já se iniciou na cruz do Calvário, que revelou definitivamente a soberania de Cristo sobre a criação não apenas por quem foi criada, mas também “para quem” foi criada. A dimensão escatológica da criação (por isso, “nova criação”) muda radicalmente a prática cristã a seu respeito.
 
Por Timóteo Carriker


A Experiência de Ler
C. S. Lewis
224 páginas
Elementos Sudoeste (Porto, Portugal), 2003
portoeditora.pt
 
Este livro foi publicado originalmente com o título “An Experiment in Criticism”, dois anos antes da morte do autor, há cinquenta anos. Sua leitura requer atenção redobrada, intervalos para assimilação, voltas ao texto. A argumentação encadeada entremeada com citações, típica do autor, é um desafio e, ao mesmo tempo, um prazer.
 
C. S. Lewis sugere a adoção de critérios diferentes dos normalmente usados para responder às perguntas: O que é um bom livro? Por que lemos e para que lemos? e propõe uma mudança na forma de avaliarmos uma obra de arte em geral e os livros em particular. Ele argumenta que o valor da obra depende do uso que alguém faz do objeto artístico, daquilo que escolhe como foco de atenção. O autor analisa os conceitos de mito, fantasia, realismo e poesia; traça paralelos entre a experiência de ler e a música e a arte, e categoriza tipos de leitores.
 
Ele destaca o poder da leitura para a formação do leitor como pessoa. Disso ele entende. Foram leituras que ajudaram Lewis a sobreviver a uma infância introspectiva e dolorida e mais tarde a encontrar o caminho da fé. Para ele, ler é quase um ato religioso: “O devoto da cultura [...] lê, tal como visita galerias de arte ou assiste a concertos para se melhorar a si próprio, desenvolver as suas potencialidades, enfim, tornar-se um ser humano mais completo”. Já os leitores “não sérios” não abrem “larga e generosamente o espírito às obras que leem”. Para o autor, a atitude em relação a um bom livro deve ser a mesma do admirador de arte que se senta diante de um quadro “para que ele nos faça algo, não para fazermos algo com ele”.
 
Além de nos ajudar a “ler melhor”, o autor -- ao expor conceitos literários, criticar as inconsistências textuais, citar autores clássicos e dissecar o ato de ler -- fornece um excelente guia para a autocrítica de “autores” iniciantes ou não.
 
Este livro foi traduzido pela Editora UNESP (www.editoraunesp.com.br) com o título “Um Experimento na Crítica Literária”.
 
Por Klênia Fassoni

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