Opinião
17 de novembro de 2025- Visualizações: 699
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Desafios atuais da missão entre povos nativos do Brasil
O maior obstáculo é comunicar o evangelho a uma visão de mundo holística e comunitária
Por Edward Luz
Congresso Brasileiro de Missões 2025
“Tio edu, sou eu xxx, como senhor esta? Eu to aqui na aldeia xxx. Foi instalado a Net. Eu tô precisando de alguém para me ajudar. Desde que eu cheguei aqui. Mudou muita coisa. Hoje em dia as adolescentes usa drogas vezes enquanto levando escudidos p/as aldeia muito triste sobre isso.”
– Mensagem de uma indígena, enviada por aplicativo de celular, vinda da reserva indígena mais isolada do Brasil, no dia 9/7/2021.
Drones sobrevoam aldeias e a “internet por satélite” – disponibilizada pelo governo, no justo direito de ter uma comunicação rápida em caso de urgência, e ONGs indigenistas – permite conexão com wi-fi acessível aos celulares que abundam nas mãos dos jovens indígenas. YouTube, Instagram e outros aplicativos são recheados de vídeos, chats e informações produzidos por jovens indígenas, dos lugares mais remotos. Esse acesso à tecnologia é um direito constitucional e um processo natural e irreversível. É um grito de liberdade em pleno século 21. A aldeia remota tem o “mundo” às suas portas.
No entanto, o acesso dessas pessoas à Palavra de Deus tem sido negado por agentes governamentais e não governamentais em muitas terras indígenas, violando a sua liberdade de consciência e de crença, prescrita no inciso VI do art. 5º da Constituição Federal de 1988. E, dessa forma, negando-lhes a liberdade de opção religiosa, contrariando o que prescreve o segundo inciso deste mesmo artigo: “II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”; isso porque, ao contrário do que muitos argumentam, não há lei que respalde essa postura, pois segundo o art. 16 da declaração das nações unidas sobre os direitos dos povos indígenas: “1. Os povos indígenas têm o direito de estabelecer seus próprios meios de informação, em seus próprios idiomas, e de ter acesso a todos os demais meios de informação não indígenas, sem qualquer discriminação”.
“E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3). Essas palavras, ditas pelo Senhor Jesus Cristo, revelam o âmago da mensagem do evangelho. Não há salvação, vida eterna, sem que o indivíduo, de qualquer etnia, conheça o único Deus verdadeiro e a obra redentora de Cristo Jesus. Ao conhecer a esse único Deus e a Cristo Jesus – e crendo –, o indivíduo nasce de novo, para uma vida sem fim, a vida eterna. E a única forma de alguém conhecer a esse Deus e a obra de Cristo é por meio da pregação do evangelho. Por isso o personagem central do evangelho, Cristo Jesus, ordenou aos seus discípulos, de todas as épocas: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15). Evangelizar é o maior ato de amor à vida humana e é inerente a cada cristão. Não é invenção das agências missionárias, é um mandamento de Cristo. Se alguém é contra a obra missionária, que fale com Cristo, para não ser encontrado guerreando contra ele. Evangelizar é preciso. Porém, fazer com que essa mensagem seja compreendida e conhecida na língua materna de grupos indígenas continua sendo um desafio atual. Para executar essa obra divina, os missionários têm recebido treinamento e consultoria que os capacitam para esse trabalho. Porém há outros desafios:

A cosmovisão indígena: O maior obstáculo é comunicar o evangelho a uma visão de mundo holística e comunitária, na qual não há separação entre o sagrado e o secular. A mensagem precisa fazer sentido para uma cultura com percepção de tempo cíclica e uma realidade explicada por mitos e habitada por espíritos. A mensagem não pode ser apresentada de forma tópica, fracionada, mas, sim, como uma história completa sendo revelada, em que o povo é parte dela. Por esse motivo, os missionários dedicam-se ao estudo da cultura e da língua para a apresentação do evangelho dentro da cosmogonia da etnia alvo. O evangelho não é uma mensagem estrangeira: é transcultural, próprio para cada cultura.
O impacto da globalização: O crescente contato com o mundo exterior gera um cenário complexo. Por um lado, pode criar abertura ao novo; por outro, leva ao sincretismo religioso e a crises de identidade, especialmente entre os jovens. Os grupos indígenas não estão mais isolados como se propaga. É uma falácia perniciosa, perigosa para grupos indefesos, pois todos eles estão cercados por grupos indígenas, ribeirinhos e pequenos sitiantes. Horrorizados, vemos o relato de que as facções dominam o Norte amazônico, criando corredores, no meio da selva, para o transporte de drogas e os indígenas são os “mulas” nesse processo. Em um passado recente, na Colômbia, é notório o que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) faziam: recrutavam indígenas, inclusive os isolados, que serviam como seus soldados.
O perfil do missionário: O desafio começa no próprio missionário. É essencial uma postura de humildade para aprender a cultura antes de ensinar, a habilidade de contextualizar a mensagem bíblica de forma relevante sem distorcê-la e a prática de um ministério “encarnacional”, no qual a convivência e o serviço validam a mensagem verbal. Essas características vêm por um treinamento objetivo, intencional, capacitando-o teologicamente, aprimorando o seu caráter e aprofundando nas múltiplas áreas do ministério, mas, principalmente, moldando a vida do obreiro para ser o mais parecido com Cristo.
Em suma, a meta é permitir que o evangelho crie raízes na cultura local, resultando em uma igreja autóctone, que seja fiel às Escrituras e culturalmente autêntica.
Consciente das dificuldades atuais, mas na dependência total do Deus único e verdadeiro, a Igreja suplantará cada uma delas e cumprirá a vontade exclusiva de Cristo, dando a todos os povos a oportunidade de ouvir as boas novas para que tenham a vida eterna.
REVISTA ULTIMATO - A IGREJA EM MISSÃO
Ultimato celebra a igreja em missão, a missão da igreja e o movimento missionário brasileiro, cuja história é quase tão longeva quanto a do Brasil.
Ao longo de mais de 10 páginas, o leitor vai encontrar parte das palestras do 10ª edição do Congresso Brasileiro de Missões (CBM 2025), que aconteceu em outubro, em Águas de Lindóia, SP, e lerá, no "Especial", um painel com uma avaliação ampla e crítica do movimento missionário brasileiro.
É disso que trata a edição 416 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Evangelização ou Colonização? – O risco de fazer missão sem se importar com o outro, Analzira Nascimento
» O Evangelho – Uma mensagem que transforma a vida, John Stott e Tim Chester
» Sala de oração: um lugar que nos transforma, por Dora Bomilcar
» Acessibilidade no Congresso Brasileiro de Missões (CBM) 2025, por Mônica Freitas
Por Edward Luz
Congresso Brasileiro de Missões 2025
“Tio edu, sou eu xxx, como senhor esta? Eu to aqui na aldeia xxx. Foi instalado a Net. Eu tô precisando de alguém para me ajudar. Desde que eu cheguei aqui. Mudou muita coisa. Hoje em dia as adolescentes usa drogas vezes enquanto levando escudidos p/as aldeia muito triste sobre isso.”
– Mensagem de uma indígena, enviada por aplicativo de celular, vinda da reserva indígena mais isolada do Brasil, no dia 9/7/2021.
Drones sobrevoam aldeias e a “internet por satélite” – disponibilizada pelo governo, no justo direito de ter uma comunicação rápida em caso de urgência, e ONGs indigenistas – permite conexão com wi-fi acessível aos celulares que abundam nas mãos dos jovens indígenas. YouTube, Instagram e outros aplicativos são recheados de vídeos, chats e informações produzidos por jovens indígenas, dos lugares mais remotos. Esse acesso à tecnologia é um direito constitucional e um processo natural e irreversível. É um grito de liberdade em pleno século 21. A aldeia remota tem o “mundo” às suas portas.No entanto, o acesso dessas pessoas à Palavra de Deus tem sido negado por agentes governamentais e não governamentais em muitas terras indígenas, violando a sua liberdade de consciência e de crença, prescrita no inciso VI do art. 5º da Constituição Federal de 1988. E, dessa forma, negando-lhes a liberdade de opção religiosa, contrariando o que prescreve o segundo inciso deste mesmo artigo: “II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”; isso porque, ao contrário do que muitos argumentam, não há lei que respalde essa postura, pois segundo o art. 16 da declaração das nações unidas sobre os direitos dos povos indígenas: “1. Os povos indígenas têm o direito de estabelecer seus próprios meios de informação, em seus próprios idiomas, e de ter acesso a todos os demais meios de informação não indígenas, sem qualquer discriminação”.
“E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3). Essas palavras, ditas pelo Senhor Jesus Cristo, revelam o âmago da mensagem do evangelho. Não há salvação, vida eterna, sem que o indivíduo, de qualquer etnia, conheça o único Deus verdadeiro e a obra redentora de Cristo Jesus. Ao conhecer a esse único Deus e a Cristo Jesus – e crendo –, o indivíduo nasce de novo, para uma vida sem fim, a vida eterna. E a única forma de alguém conhecer a esse Deus e a obra de Cristo é por meio da pregação do evangelho. Por isso o personagem central do evangelho, Cristo Jesus, ordenou aos seus discípulos, de todas as épocas: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15). Evangelizar é o maior ato de amor à vida humana e é inerente a cada cristão. Não é invenção das agências missionárias, é um mandamento de Cristo. Se alguém é contra a obra missionária, que fale com Cristo, para não ser encontrado guerreando contra ele. Evangelizar é preciso. Porém, fazer com que essa mensagem seja compreendida e conhecida na língua materna de grupos indígenas continua sendo um desafio atual. Para executar essa obra divina, os missionários têm recebido treinamento e consultoria que os capacitam para esse trabalho. Porém há outros desafios:

A cosmovisão indígena: O maior obstáculo é comunicar o evangelho a uma visão de mundo holística e comunitária, na qual não há separação entre o sagrado e o secular. A mensagem precisa fazer sentido para uma cultura com percepção de tempo cíclica e uma realidade explicada por mitos e habitada por espíritos. A mensagem não pode ser apresentada de forma tópica, fracionada, mas, sim, como uma história completa sendo revelada, em que o povo é parte dela. Por esse motivo, os missionários dedicam-se ao estudo da cultura e da língua para a apresentação do evangelho dentro da cosmogonia da etnia alvo. O evangelho não é uma mensagem estrangeira: é transcultural, próprio para cada cultura.
O impacto da globalização: O crescente contato com o mundo exterior gera um cenário complexo. Por um lado, pode criar abertura ao novo; por outro, leva ao sincretismo religioso e a crises de identidade, especialmente entre os jovens. Os grupos indígenas não estão mais isolados como se propaga. É uma falácia perniciosa, perigosa para grupos indefesos, pois todos eles estão cercados por grupos indígenas, ribeirinhos e pequenos sitiantes. Horrorizados, vemos o relato de que as facções dominam o Norte amazônico, criando corredores, no meio da selva, para o transporte de drogas e os indígenas são os “mulas” nesse processo. Em um passado recente, na Colômbia, é notório o que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) faziam: recrutavam indígenas, inclusive os isolados, que serviam como seus soldados.
O perfil do missionário: O desafio começa no próprio missionário. É essencial uma postura de humildade para aprender a cultura antes de ensinar, a habilidade de contextualizar a mensagem bíblica de forma relevante sem distorcê-la e a prática de um ministério “encarnacional”, no qual a convivência e o serviço validam a mensagem verbal. Essas características vêm por um treinamento objetivo, intencional, capacitando-o teologicamente, aprimorando o seu caráter e aprofundando nas múltiplas áreas do ministério, mas, principalmente, moldando a vida do obreiro para ser o mais parecido com Cristo.
Em suma, a meta é permitir que o evangelho crie raízes na cultura local, resultando em uma igreja autóctone, que seja fiel às Escrituras e culturalmente autêntica.
Consciente das dificuldades atuais, mas na dependência total do Deus único e verdadeiro, a Igreja suplantará cada uma delas e cumprirá a vontade exclusiva de Cristo, dando a todos os povos a oportunidade de ouvir as boas novas para que tenham a vida eterna.- Edward Luz
REVISTA ULTIMATO - A IGREJA EM MISSÃOUltimato celebra a igreja em missão, a missão da igreja e o movimento missionário brasileiro, cuja história é quase tão longeva quanto a do Brasil.
Ao longo de mais de 10 páginas, o leitor vai encontrar parte das palestras do 10ª edição do Congresso Brasileiro de Missões (CBM 2025), que aconteceu em outubro, em Águas de Lindóia, SP, e lerá, no "Especial", um painel com uma avaliação ampla e crítica do movimento missionário brasileiro.
É disso que trata a edição 416 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.
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» Evangelização ou Colonização? – O risco de fazer missão sem se importar com o outro, Analzira Nascimento
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