Opinião
03 de outubro de 2025- Visualizações: 2077
comente!- +A
- -A
-
compartilhar
Carlos Nejar, o servo da Palavra
Clarice Lispector dizia que Nejar era “tão burro quanto ela”. Tal “burreza” era exatamente a consciência de nada saber diante de Deus
Por Davi Lago
Os evangélicos no Brasil
Desde sua irrupção na Europa, no século 16, o movimento protestante influenciou o âmbito da literatura de múltiplas maneiras: tradução e difusão da Bíblia; desenvolvimento da educação pública gratuita; novos métodos de alfabetização; ênfase na competência dos indivíduos em interpretar textos; criação da moderna regulação jurídica da liberdade de expressão. Com tamanha atenção aos livros e às belas-letras, emergiram dos círculos protestantes alguns dos maiores escritores de todos os tempos, como John Milton e Jane Austen na Inglaterra, Johann Wolfgang von Goethe na Alemanha, William Butler Yeats na Irlanda, Emily Dickinson e William Faulkner nos Estados Unidos. No Brasil não poderia ser diferente, aqui temos o poeta gaúcho Carlos Nejar.
Pastor protestante de orientação evangélico-pentecostal, Nejar narra sua trajetória espiritual de modo muito direto: integrou por vinte e seis anos a Igreja Maranata – denominação pentecostal de origem presbiteriana fundada em Vila Velha, ES, em 1968 – e, posteriormente, passou a integrar a Assembleia de Deus Tabernáculo de Israel, onde foi ordenado ao ministério da Palavra1.
Quinto ocupante da cadeira número quatro da Academia Brasileira de Letras, eleito em 24 de novembro de 1988, Carlos Nejar acumulou diversas honrarias, entre elas o Prêmio Jorge de Lima, em 1970, concedido pelo Instituto Nacional do Livro, pelo livro Arrolamento; em 1979, seus poemas foram gravados para a Biblioteca do Congresso em Washington, Estados Unidos; em 2010, recebeu a mais alta condecoração do Rio Grande do Sul: a Comenda Ponche Verde; em 2022, foi galardoado com mais uma condecoração, entre tantas outras: Prêmio Lygia Fagundes Telles, concedido pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro. Em três ocasiões, a Casa de Machado indicou Nejar para concorrer ao Prêmio Nobel de Literatura da Academia Sueca (Svenska Akademien). Sua obra é vastíssima. Poucos escreveram tanto e tão bem. Sélesis (1960) foi seu primeiro livro de poesia, seguido por Livro de Silbion (1963), Livro do Tempo (1965), O Campeador e o Vento (1966) e Danação (1969). Após a década de 1960, o poeta do pampa brasileiro continuou sua intensa e homenageada produção literária e escreveu contos, ficção, romance, novelas, literatura infantil e, especialmente, poesia. Entre seus principais trabalhos, podemos destacar O Poço do Calabouço (1974), Memórias do Porão (1985), A Idade da Aurora (1990), O Evangelho Segundo o Vento (2002) e Os Viventes (1979; 2011). Críticos da envergadura de Ivan Junqueira, Nelly Novais Coelho, Ernani Reichmann, Eduardo Jablonski e Diego Mendes Sousa detiveram-se sobre a obra de Carlos Nejar. Com agudeza e perspicácia, elucidaram os meandros infinitos da poética e narratividade de sua produção literária.
A obra poética de Nejar caracteriza-se por uma forte influência da experiência religiosa – sobretudo, a experiência do amor conforme a fé cristã, isto é, amor como ágape, entrega, renúncia, sacrifício, doação, o amor a Deus e ao próximo, o amor pela Palavra. Em diversas ocasiões, Nejar afirmou que Deus “escreve nele”, e que há uma “transcendência na poesia”. Cada letra expressa seu suor e lágrima, tem pathos. Quem conhece o “poeta do pampa” reconhece que a linguagem o entusiasma.
Outro aspecto de destaque na obra nejariana é a compreensão sensata de si mesmo, candura, espírito de criança. Os anos não envelheceram o poeta, deixaram-no mais próximo do modelo apto ao reino dos céus. Nejar não se deixa enganar pela glória de ser considerado frequentemente “o mais importante poeta vivo brasileiro”, e não cansa de repetir que tudo vem de Deus. É na graça divina que sempre encontra respostas aos seus tantos admiradores e admiradoras. Clarice Lispector disse que Nejar era “tão burro quanto ela”. Tal “burreza” tratada pela também genial poeta é exatamente a consciência de nada saber diante de Deus, a humildade que encontra a inesgotável sabedoria do Verbo. Vale mencionar que Nejar não é um proselitista raso e que seu texto não está a serviço de instituição humana alguma. No entanto, a experiência de Deus, a mística do carisma cristão é como um fio condutor de sua obra. Por isso, ressaltamos uma vez mais: Carlos Nejar é evangélico e pentecostal-carismático. A tradição em que se insere é marcada pela intuição, pela presença do Espírito e pela fome de Deus. Dessa maneira, suas letras acessam realidades imaginativas não comuns na literatura brasileira. Como o próprio Nejar gosta de afirmar, ele é um mero “servo da Palavra”.
Nota
1. TERRA, Kenner R. C. “Nuvens são pássaros...” Jesus em “Arca da Aliança” de Carlos Nejar. Teoliterária, v.10, n. 20, 2020.
Artigo publicado originalmente na edição 402 de Ultimato.
REVISTA ULTIMATO – JESUS, A LUZ DO MUNDO
Jesus, o clímax da narrativa da redenção, é a luz do mundo. Não há luz que se compare a ele. Sua luz alcança todo o mundo.
Além de anunciar-se como Luz, Jesus declara que os seus seguidores são a luz do mundo. “Pois Deus que disse: ‘Das trevas resplandeça a luz’, ele mesmo brilhou em nosso coração para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2Co 4.6).
É disso que trata a edição 415 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» 25 Livros Que Todo Cristão Deveria Ler, Richard J. Foster
» Bíblia - revelação e literatura, edição 410 de Ultimato
Por Davi Lago
Os evangélicos no Brasil
Desde sua irrupção na Europa, no século 16, o movimento protestante influenciou o âmbito da literatura de múltiplas maneiras: tradução e difusão da Bíblia; desenvolvimento da educação pública gratuita; novos métodos de alfabetização; ênfase na competência dos indivíduos em interpretar textos; criação da moderna regulação jurídica da liberdade de expressão. Com tamanha atenção aos livros e às belas-letras, emergiram dos círculos protestantes alguns dos maiores escritores de todos os tempos, como John Milton e Jane Austen na Inglaterra, Johann Wolfgang von Goethe na Alemanha, William Butler Yeats na Irlanda, Emily Dickinson e William Faulkner nos Estados Unidos. No Brasil não poderia ser diferente, aqui temos o poeta gaúcho Carlos Nejar.Pastor protestante de orientação evangélico-pentecostal, Nejar narra sua trajetória espiritual de modo muito direto: integrou por vinte e seis anos a Igreja Maranata – denominação pentecostal de origem presbiteriana fundada em Vila Velha, ES, em 1968 – e, posteriormente, passou a integrar a Assembleia de Deus Tabernáculo de Israel, onde foi ordenado ao ministério da Palavra1.
Quinto ocupante da cadeira número quatro da Academia Brasileira de Letras, eleito em 24 de novembro de 1988, Carlos Nejar acumulou diversas honrarias, entre elas o Prêmio Jorge de Lima, em 1970, concedido pelo Instituto Nacional do Livro, pelo livro Arrolamento; em 1979, seus poemas foram gravados para a Biblioteca do Congresso em Washington, Estados Unidos; em 2010, recebeu a mais alta condecoração do Rio Grande do Sul: a Comenda Ponche Verde; em 2022, foi galardoado com mais uma condecoração, entre tantas outras: Prêmio Lygia Fagundes Telles, concedido pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro. Em três ocasiões, a Casa de Machado indicou Nejar para concorrer ao Prêmio Nobel de Literatura da Academia Sueca (Svenska Akademien). Sua obra é vastíssima. Poucos escreveram tanto e tão bem. Sélesis (1960) foi seu primeiro livro de poesia, seguido por Livro de Silbion (1963), Livro do Tempo (1965), O Campeador e o Vento (1966) e Danação (1969). Após a década de 1960, o poeta do pampa brasileiro continuou sua intensa e homenageada produção literária e escreveu contos, ficção, romance, novelas, literatura infantil e, especialmente, poesia. Entre seus principais trabalhos, podemos destacar O Poço do Calabouço (1974), Memórias do Porão (1985), A Idade da Aurora (1990), O Evangelho Segundo o Vento (2002) e Os Viventes (1979; 2011). Críticos da envergadura de Ivan Junqueira, Nelly Novais Coelho, Ernani Reichmann, Eduardo Jablonski e Diego Mendes Sousa detiveram-se sobre a obra de Carlos Nejar. Com agudeza e perspicácia, elucidaram os meandros infinitos da poética e narratividade de sua produção literária.
A obra poética de Nejar caracteriza-se por uma forte influência da experiência religiosa – sobretudo, a experiência do amor conforme a fé cristã, isto é, amor como ágape, entrega, renúncia, sacrifício, doação, o amor a Deus e ao próximo, o amor pela Palavra. Em diversas ocasiões, Nejar afirmou que Deus “escreve nele”, e que há uma “transcendência na poesia”. Cada letra expressa seu suor e lágrima, tem pathos. Quem conhece o “poeta do pampa” reconhece que a linguagem o entusiasma.
Outro aspecto de destaque na obra nejariana é a compreensão sensata de si mesmo, candura, espírito de criança. Os anos não envelheceram o poeta, deixaram-no mais próximo do modelo apto ao reino dos céus. Nejar não se deixa enganar pela glória de ser considerado frequentemente “o mais importante poeta vivo brasileiro”, e não cansa de repetir que tudo vem de Deus. É na graça divina que sempre encontra respostas aos seus tantos admiradores e admiradoras. Clarice Lispector disse que Nejar era “tão burro quanto ela”. Tal “burreza” tratada pela também genial poeta é exatamente a consciência de nada saber diante de Deus, a humildade que encontra a inesgotável sabedoria do Verbo. Vale mencionar que Nejar não é um proselitista raso e que seu texto não está a serviço de instituição humana alguma. No entanto, a experiência de Deus, a mística do carisma cristão é como um fio condutor de sua obra. Por isso, ressaltamos uma vez mais: Carlos Nejar é evangélico e pentecostal-carismático. A tradição em que se insere é marcada pela intuição, pela presença do Espírito e pela fome de Deus. Dessa maneira, suas letras acessam realidades imaginativas não comuns na literatura brasileira. Como o próprio Nejar gosta de afirmar, ele é um mero “servo da Palavra”.
Nota
1. TERRA, Kenner R. C. “Nuvens são pássaros...” Jesus em “Arca da Aliança” de Carlos Nejar. Teoliterária, v.10, n. 20, 2020.
- Davi Lago é pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo (PUC-SP), capelão da Primeira Igreja Batista de São Paulo e membro do conselho coordenador da Aliança Cristã Evangélica do Brasil.
Artigo publicado originalmente na edição 402 de Ultimato.
REVISTA ULTIMATO – JESUS, A LUZ DO MUNDOJesus, o clímax da narrativa da redenção, é a luz do mundo. Não há luz que se compare a ele. Sua luz alcança todo o mundo.
Além de anunciar-se como Luz, Jesus declara que os seus seguidores são a luz do mundo. “Pois Deus que disse: ‘Das trevas resplandeça a luz’, ele mesmo brilhou em nosso coração para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2Co 4.6).
É disso que trata a edição 415 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» 25 Livros Que Todo Cristão Deveria Ler, Richard J. Foster
» Bíblia - revelação e literatura, edição 410 de Ultimato
03 de outubro de 2025- Visualizações: 2077
comente!- +A
- -A
-
compartilhar

Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
- + vendidos
- + vistos
(31)3611 8500
(31)99437 0043
Mentes organizam, corações mobilizam!
Sobre a ligação entre pulso e vida
Religião é dinheiro?
Contar os dias para alcançar sabedoria





 copiar.jpg&largura=49&altura=65&opt=adaptativa)
