Opinião
17 de dezembro de 2025- Visualizações: 25
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Um chamado à pacificação cristã
Tanto indiferença quanto pessimismo são inapropriados aos seguidores de Jesus
Por John Stott
Jesus falou de guerra e de paz. De um lado, ele nos alertou de “guerras e rumores de guerras”; de outro, ele incluiu em sua caracterização dos cidadãos do Reino de Deus o papel ativo de pacificadores. Ele declarou seus seguidores pacificadores abençoados por Deus e pelos filhos de Deus (Mt 5.9). Pacificação é uma atividade divina. Deus fez paz conosco e entre nós por meio de Cristo. Não podemos alegar ser filhos autênticos de Deus se não nos empenharmos na pacificação.
Quais iniciativas pacificadoras práticas podemos tomar?
Pacificadores cristãos precisam recuperar sua moral
Existem duas tendências, na Igreja de hoje, que minam a moral cristã. Ambas precisam ser repudiadas com firmeza.
A primeira é a tendência de banalização. Preferimos a passividade de sermos entretidos ao desafio de nos envolver. É fácil ignorar os problemas do mundo, reduzindo-o à nossa própria agenda. Mas nada poderia ser mais urgente do que a ameaça da autodestruição, o sofrimento de milhões ou a destruição do nosso estilo de vida.
A segunda tendência que mina a moral é ser tão pessimista sobre o futuro a ponto de uma rendição à postura geral de impotência. Mas tanto indiferença quanto pessimismo são inapropriados aos seguidores de Jesus. Somos chamados a nos envolver com a nossa cultura contemporânea, em vez de sermos indiferentes a ela, e a ser um exemplo de esperança numa cultura de desespero em que as pessoas se tornaram cínicas em relação a qualquer possibilidade de mudança para melhor. É importante que a voz da Igreja Cristã seja ouvida não só local, mas também nacional e internacionalmente, e isso significa apresentar nossas visões claramente nas mídias e pressionar o governo quando mudanças forem necessárias. O mundo precisa de pacificadores militantes.
Pacificadores cristãos precisam orar
Por favor, não rejeitem essa exortação como irrelevância pietista. Para os cristãos, a oração não é nada disso. Independentemente da lógica e da eficácia da oração, fomos ordenados a praticá-la. Jesus, nosso Senhor, instruiu-nos especificamente a orarmos por nossos inimigos. Paulo afirmou que nossa primeira obrigação, quando nos reunimos como congregação adoradora, é orar por nossos líderes nacionais, para que “tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade” (1Tm 2.2). Hoje, porém, “muitas vezes, a oração pastoral na adoração pública é breve e superficial; as petições são tão entediantes e obsoletas a ponto de beirarem ‘vãs repetições’; e as pessoas cochilam e sonham em vez de orar”. 1 Existe uma grande necessidade de levar a sério o período de intercessão na adoração pública e de orar por governadores e governos, paz e justiça, amigos e inimigos, liberdade e estabilidade, bem como pelo livramento do vulto da guerra. O Deus vivo ouve as orações sinceras de seu povo e responde.
Pacificadores cristãos precisam dar o exemplo como comunidade de paz
Deus nos chama não só para “pregar a paz” e para “fazer a paz”, mas tam¬bém para incorporá-la. Seu propósito, por meio da obra de seu Filho e de seu Espírito, é criar uma sociedade reconciliada em que nenhuma cortina, nenhuma parede e nenhuma barreira seja tolerada e na qual as influências divisórias de raça, nacionalidade, posição e sexo tenham sido destruídas. Ele quer que sua Igreja seja um sinal de seu reino – isto é, um modelo de comunidade humana que se submete ao seu reinado de justiça e paz. Uma comunidade autêntica do reino desafiará o sistema de valores da comunidade secular e oferecerá uma alternativa viável.
Dificilmente podemos chamar o mundo à paz enquanto a Igreja não consegue ser a comunidade reconciliada que Deus espera que ela seja. Se caridade começa em casa, o mesmo vale para reconciliação. Precisamos banir toda malícia, raiva e amargura da Igreja e do lar, transformando-os em comunidades de amor, alegria e paz. A influência das comunidades de paz em favor da paz é inestimável.

Pacificadores cristãos precisam contribuir para a construção da confiança
Não existe razão pela qual o conceito de “medidas de construção de confiança” deva limitar-se a questões especificamente militares. Em toda situação na qual as pessoas se sintam ameaçadas, nossa reação cristã deve ser remover o medo e construir confiança. Eu já falei sobre a necessidade de “gestos audaciosos de paz”, e estes precisam ser seguidos por medidas de construção de confiança. Seja na criação de escolas integradas para crianças protestantes e católicas romanas, seja na reunião de famílias palestinenses e israelenses, para que compartilhem suas culturas, as medidas de construção de confiança são vitais para a paz. Contatos pessoais destroem caricaturas e ajudam as pessoas a descobrir umas às outras como seres humanos. É ainda mais importante que cristãos viajem para servir e compartilhar, a fim de que se descubram como irmãos e irmãs em Cristo.
Pacificadores cristãos devem promover o debate público
Movimentos de paz contribuem para a pacificação apenas se conseguirem estimular uma discussão informada. Sempre existe a necessidade de um debate renovado com perguntas atuais. Por que precisamos de arsenais de armas de destruição em massa? “Posse moral, uso imoral” é uma postura viável ou totalmente contraditória em si? Existe o que às vezes se chama de “política de defesa alternativa”? 2 O aumento de exércitos “convencionais” tornaria mais segura a redução de armas de destruição em massa, ou será que ambos podem ser reduzidos simultaneamente? Em algum momento seria justificável comprar defesa nacional às custas de milhões de vidas civis? O que é mais importante no fim: integridade nacional ou segurança nacional? Essas perguntas – e muitas outras – precisam ser levantadas e debatidas.
Cada cristão é chamado para ser um pacificador. As bem-aventuranças não são um conjunto de oito opções, para que alguns possam escolher ser mansos; outros, misericordiosos; e outros, pacificadores. Juntas, elas são a descrição de Cristo para os membros de seu reino. Sim, não conseguiremos estabelecer uma utopia na terra, tampouco o reino de justiça e paz de Cristo se tornará universal durante a história.
Apenas quando ele retornar, as espadas serão forjadas em arados; e as lanças, em instrumentos de poda. Mas esse fato não nos dá a permissão para a proliferação de fábricas de espadas e lanças. A predição de fome por Cristo nos impede de buscar uma distribuição mais justa de comida? De modo igual, sua predição de guerras não pode inibir nossa busca pela paz. Deus é um pacificador. Jesus Cristo é um pacificador. Então, se quisermos ser filhos de Deus e discípulos de Cristo, nós também precisamos ser pacificadores.
Notas
1. Evangelism and social responsibility. In: STOTT, John (Org.) Making Christ known. Carlisle: Paternoster, 1996; Grand Rapids: Eerdmans, 1997. p. 200.
2. Veja, por exemplo, Defence without the bomb: the report of the Alternative Defence Commission. Londres: Taylor and Francis, 1983.
Artigo publicado originalmente em STOTT, John. O cristão em uma sociedade não cristã: como posicionar-se biblicamente diante dos desafios contemporâneos. Trad. de Markus Hediger. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2019. pp. 147-150. Reproduzido com permissão.
Imagem: Unsplash.
REVISTA ULTIMATO – LEMBREM-SE: ‘DEIXO COM VOCÊS A PAZ, A MINHA PAZ LHES DOU”
Durante a última ceia com os discípulos, Jesus se despede com palavras de paz: “Deixo-vos a paz; a minha paz vos dou. Não a dou como o mundo a dá. Não vos perturbeis, nem vos atemorizeis”.
Por meio dos artigos de capa desta edição, Ultimato quer ajudar o leitor a se lembrar dessa verdade. Para fazer frente aos dias difíceis em que vivemos.
É disso que trata a edição 417. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Lendo o Sermão do Monte com John Stott, John Stott
» O Cristão e a Arte em um Mundo em Desencanto, Rodolfo Amorim
Por John Stott
Jesus falou de guerra e de paz. De um lado, ele nos alertou de “guerras e rumores de guerras”; de outro, ele incluiu em sua caracterização dos cidadãos do Reino de Deus o papel ativo de pacificadores. Ele declarou seus seguidores pacificadores abençoados por Deus e pelos filhos de Deus (Mt 5.9). Pacificação é uma atividade divina. Deus fez paz conosco e entre nós por meio de Cristo. Não podemos alegar ser filhos autênticos de Deus se não nos empenharmos na pacificação. Quais iniciativas pacificadoras práticas podemos tomar?
Pacificadores cristãos precisam recuperar sua moral
Existem duas tendências, na Igreja de hoje, que minam a moral cristã. Ambas precisam ser repudiadas com firmeza.
A primeira é a tendência de banalização. Preferimos a passividade de sermos entretidos ao desafio de nos envolver. É fácil ignorar os problemas do mundo, reduzindo-o à nossa própria agenda. Mas nada poderia ser mais urgente do que a ameaça da autodestruição, o sofrimento de milhões ou a destruição do nosso estilo de vida.
A segunda tendência que mina a moral é ser tão pessimista sobre o futuro a ponto de uma rendição à postura geral de impotência. Mas tanto indiferença quanto pessimismo são inapropriados aos seguidores de Jesus. Somos chamados a nos envolver com a nossa cultura contemporânea, em vez de sermos indiferentes a ela, e a ser um exemplo de esperança numa cultura de desespero em que as pessoas se tornaram cínicas em relação a qualquer possibilidade de mudança para melhor. É importante que a voz da Igreja Cristã seja ouvida não só local, mas também nacional e internacionalmente, e isso significa apresentar nossas visões claramente nas mídias e pressionar o governo quando mudanças forem necessárias. O mundo precisa de pacificadores militantes.
Pacificadores cristãos precisam orar
Por favor, não rejeitem essa exortação como irrelevância pietista. Para os cristãos, a oração não é nada disso. Independentemente da lógica e da eficácia da oração, fomos ordenados a praticá-la. Jesus, nosso Senhor, instruiu-nos especificamente a orarmos por nossos inimigos. Paulo afirmou que nossa primeira obrigação, quando nos reunimos como congregação adoradora, é orar por nossos líderes nacionais, para que “tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade” (1Tm 2.2). Hoje, porém, “muitas vezes, a oração pastoral na adoração pública é breve e superficial; as petições são tão entediantes e obsoletas a ponto de beirarem ‘vãs repetições’; e as pessoas cochilam e sonham em vez de orar”. 1 Existe uma grande necessidade de levar a sério o período de intercessão na adoração pública e de orar por governadores e governos, paz e justiça, amigos e inimigos, liberdade e estabilidade, bem como pelo livramento do vulto da guerra. O Deus vivo ouve as orações sinceras de seu povo e responde.
Pacificadores cristãos precisam dar o exemplo como comunidade de paz
Deus nos chama não só para “pregar a paz” e para “fazer a paz”, mas tam¬bém para incorporá-la. Seu propósito, por meio da obra de seu Filho e de seu Espírito, é criar uma sociedade reconciliada em que nenhuma cortina, nenhuma parede e nenhuma barreira seja tolerada e na qual as influências divisórias de raça, nacionalidade, posição e sexo tenham sido destruídas. Ele quer que sua Igreja seja um sinal de seu reino – isto é, um modelo de comunidade humana que se submete ao seu reinado de justiça e paz. Uma comunidade autêntica do reino desafiará o sistema de valores da comunidade secular e oferecerá uma alternativa viável.
Dificilmente podemos chamar o mundo à paz enquanto a Igreja não consegue ser a comunidade reconciliada que Deus espera que ela seja. Se caridade começa em casa, o mesmo vale para reconciliação. Precisamos banir toda malícia, raiva e amargura da Igreja e do lar, transformando-os em comunidades de amor, alegria e paz. A influência das comunidades de paz em favor da paz é inestimável.

Pacificadores cristãos precisam contribuir para a construção da confiança
Não existe razão pela qual o conceito de “medidas de construção de confiança” deva limitar-se a questões especificamente militares. Em toda situação na qual as pessoas se sintam ameaçadas, nossa reação cristã deve ser remover o medo e construir confiança. Eu já falei sobre a necessidade de “gestos audaciosos de paz”, e estes precisam ser seguidos por medidas de construção de confiança. Seja na criação de escolas integradas para crianças protestantes e católicas romanas, seja na reunião de famílias palestinenses e israelenses, para que compartilhem suas culturas, as medidas de construção de confiança são vitais para a paz. Contatos pessoais destroem caricaturas e ajudam as pessoas a descobrir umas às outras como seres humanos. É ainda mais importante que cristãos viajem para servir e compartilhar, a fim de que se descubram como irmãos e irmãs em Cristo.
Pacificadores cristãos devem promover o debate público
Movimentos de paz contribuem para a pacificação apenas se conseguirem estimular uma discussão informada. Sempre existe a necessidade de um debate renovado com perguntas atuais. Por que precisamos de arsenais de armas de destruição em massa? “Posse moral, uso imoral” é uma postura viável ou totalmente contraditória em si? Existe o que às vezes se chama de “política de defesa alternativa”? 2 O aumento de exércitos “convencionais” tornaria mais segura a redução de armas de destruição em massa, ou será que ambos podem ser reduzidos simultaneamente? Em algum momento seria justificável comprar defesa nacional às custas de milhões de vidas civis? O que é mais importante no fim: integridade nacional ou segurança nacional? Essas perguntas – e muitas outras – precisam ser levantadas e debatidas.
Cada cristão é chamado para ser um pacificador. As bem-aventuranças não são um conjunto de oito opções, para que alguns possam escolher ser mansos; outros, misericordiosos; e outros, pacificadores. Juntas, elas são a descrição de Cristo para os membros de seu reino. Sim, não conseguiremos estabelecer uma utopia na terra, tampouco o reino de justiça e paz de Cristo se tornará universal durante a história.
Apenas quando ele retornar, as espadas serão forjadas em arados; e as lanças, em instrumentos de poda. Mas esse fato não nos dá a permissão para a proliferação de fábricas de espadas e lanças. A predição de fome por Cristo nos impede de buscar uma distribuição mais justa de comida? De modo igual, sua predição de guerras não pode inibir nossa busca pela paz. Deus é um pacificador. Jesus Cristo é um pacificador. Então, se quisermos ser filhos de Deus e discípulos de Cristo, nós também precisamos ser pacificadores.
Notas
1. Evangelism and social responsibility. In: STOTT, John (Org.) Making Christ known. Carlisle: Paternoster, 1996; Grand Rapids: Eerdmans, 1997. p. 200.
2. Veja, por exemplo, Defence without the bomb: the report of the Alternative Defence Commission. Londres: Taylor and Francis, 1983.
Artigo publicado originalmente em STOTT, John. O cristão em uma sociedade não cristã: como posicionar-se biblicamente diante dos desafios contemporâneos. Trad. de Markus Hediger. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2019. pp. 147-150. Reproduzido com permissão.
Imagem: Unsplash.
REVISTA ULTIMATO – LEMBREM-SE: ‘DEIXO COM VOCÊS A PAZ, A MINHA PAZ LHES DOU”Durante a última ceia com os discípulos, Jesus se despede com palavras de paz: “Deixo-vos a paz; a minha paz vos dou. Não a dou como o mundo a dá. Não vos perturbeis, nem vos atemorizeis”.
Por meio dos artigos de capa desta edição, Ultimato quer ajudar o leitor a se lembrar dessa verdade. Para fazer frente aos dias difíceis em que vivemos.
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