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Opinião

Adolescente – nem algoz nem vítima – parte 1

Adolescentes não são vítimas nem demônios. Antes são, junto com os adultos, corresponsáveis na construção de relacionamentos

Entrevista
Parte 1


“Catito” e Dagmar são os responsáveis pela coluna “Família” na revista Ultimato há quatorze anos. “Catito” é autor de quatro livros publicados pela Editora Ultimato. Há muito tempo trabalham com terapia familiar, no consultório e na igreja, por meio de palestras e cursos. Eles estão atentos aos riscos que a modernidade, especialmente a internet, traz para a família, em especial para crianças e adolescentes. “Catito” e Dagmar também estão envolvidos na liderança da EIRENE, associação dedicada à saúde integral da família, presente em diversos países da América Latina.

O que vocês diriam aos pais que se esforçam para acertar com os seus filhos adolescentes, mas se sentem perdidos e frustrados diante dos desafios persistentes, da agressividade, da falta de empatia por parte destes? Eles sempre devem segurar as pontas ou há limites? Quando é preciso procurar ajuda?
“Catito” e Dagmar:
Infelizmente alguns pais só se atentam em acertar com seus filhos quando, às vezes, é tarde demais. A agressividade dos filhos precisa ter limites estabelecidos na mais tenra infância. Vejo alguns pais extremamente permissivos com os filhos quando são pequenos e limitam-se a dizer ao filho: “Filhinho, não faz assim...” quando o filho faz birra ou quer ganhar coisas no grito ou mesmo afronta os pais desobedecendo algumas ordens explícitas. Em vez de olhar nos olhos dos filhos, segurá-los com firmeza e falar assertivamente: “Não faça assim!”, os pais são passivos até não aguentarem mais e terem explosões emocionais, com gritos e algumas vezes agressões físicas. Filhos odeiam pais emocionais capazes de gritos e tapas, mas que não agem em princípios de justiça, coerência e integridade. Se um filho se mostra agressivo em relação aos pais e não existe mais respeito no relacionamento, o tempo de buscar ajuda é ontem! Torna-se urgente buscar um espaço onde a comunicação não violenta possa ser restabelecida e os limites demarcados novamente com afeto e com clareza – esse espaço é a terapia familiar que entenda a família como um sistema no qual as relações são vistas não em forma linear de causa e efeito, mas de forma circular e interacional onde todos são corresponsáveis pela construção da harmonia.

O que vocês diriam aos professores cristãos que trabalham num contexto escolar desolador, importam-se com seus alunos adolescentes, mas se sentem também frustrados frente a tantos desafios, como falta de recursos e de apoio, problemas de disciplina, despreparo para lidar com algumas questões etc.? A igreja poderia ter um papel relacionado a esses professores?
“Catito” e Dagmar:
Realmente não é fácil ter a nobre carreira de professor nos dias atuais. Entendo toda carreira de professor como uma vocação, um chamado a atuar em prol de um futuro melhor para todas as pessoas por meio da educação (nem todos se sentem assim). Entretanto, paradoxalmente, é uma das carreiras mais mal remuneradas que existe. Professores deveriam ganhar mais que políticos, pois sua tarefa é muito mais importante. Com a desvalorização, poucos recursos didático-pedagógicos, o ideal de ajudar na formação de um novo ser vai se esvaindo e logo chega o estresse e a desmotivação, fazendo com que muitos professores (nem todos) passem a repetir o conteúdo de suas matérias no automático, sem inovação nem criatividade – que em geral são marcantes nos primeiros anos profissionais. É preciso “reacender a chama do primeiro amor”! Não acomodar-se ao padrão usual, mas “transformar-se pela renovação da mente” (Rm 12.2); resgatar o sentido “missionário” da profissão, e nesse campo a igreja tem um papel fundamental, especialmente restaurando o princípio de sacerdócio universal e dando apoio a que cada pessoa, em seu campo profissional, veja no mesmo um espaço de “fazer missão” – e aqui não digo que os professores devem usar a sala de aula para fazer pregações ou qualquer tipo de proselitismo, mas, por meio de sua integridade, ética, solidariedade e ações responsáveis, ajudar os alunos a corrigirem valores distorcidos introjetados pelas mídias sociais e influencers. Estudos têm mostrado que crianças que nascem em contextos familiares extremamente disfuncionais podem encontrar em professores um referencial de vida e assim tornarem-se adultos emocionalmente saudáveis – esses estudos chamam-se resiliência! De igual forma, os professores podem ter uma “escuta ativa” em relação aos adolescentes. Na maioria das vezes pensamos no adolescente como uma pessoa que precisa ser ensinada e por isso os que trabalham com eles querem “dar orientações e conselhos”. Entretanto, adolescentes precisam muito serem ouvidos, mesmo quando achamos que o que eles falam é bobagem. Os professores podem ser esses “ouvidos que se emprestam” e a partir disso terem subsídios maiores para compreender a vida de seus alunos.



Pais de adolescentes, professores e pastores que trabalham com esse público devem “adolescer” junto com eles? É preciso mergulhar de maneira consciente e responsável no cenário dos adolescentes para acompanhar a transição?
“Catito” e Dagmar:
Algumas vezes quando damos palestras para pais de adolescentes fazemos algumas perguntas aos pais, tais como: Qual o nome dos três melhores amigos(as) de seu/sua filho(a)? Quais as últimas três séries ou filmes que ele(a) viu na TV? Quais os três sites ou blogs ou podcasts mais acessados por seu/sua filho(a)? Você é capaz de dizer o nome das três bandas, cantores ou conjuntos musicais preferidos de seu/sua filho(a)? Qual o nome do último filme que você foi assistir no cinema junto com seu/sua filho(a)? Quais os lugares que você foi com seu/sua filho(a) nas últimas quatro semanas que eram de interesse dele(a)? Qual o sonho que seu/sua filho(a) tem para o futuro? Assustadoramente um número significativo de pais não sabe responder a nenhuma dessas questões e isso me indica que eles simplesmente não se interessam pela vida de seus filhos. Transferem responsabilidades intransferíveis: transferem para a escola a transmissão de valores; transferem para a escola dominical o cuidado da alma; transferem para os amigos e colegas a responsabilidade de ensinar sobre sexualidade; transferem para a internet, redes sociais e videogames o tempo de lazer dos filhos – essas responsabilidades são intransferíveis! Sim, criar filhos dá trabalho e a única forma de não ter trabalho no processo de criação de filhos é não tendo filhos. E se os pais chegam esgotados em casa e nos finais de semana só querem saber de descansar e deixam os filhos a seu bel-prazer? Isso significa, para mim, que esses pais estão investindo suas energias em coisas equivocadas (dinheiro, ascensão profissional, aumento patrimonial etc.) e não sobra energia para aquilo que realmente importa: tempo de qualidade com os filhos. Entrar no mundo deles é esse “adolescer” de forma saudável, e vejo muito pais sem essa disposição hoje em dia.

Que papel a família extensa do adolescente (avós, tios, padrinhos, amigos da família) pode ter no cuidado e no processo de amadurecimento dos adolescentes?
“Catito” e Dagmar:
De uma forma geral, a interferência da família extensa na educação dos filhos não é bem-vista nem aceita pelos pais. E infelizmente existem muitos familiares que desrespeitam e até mesmo desqualificam os ensinos dos pais a seus filhos adolescentes, como por exemplo tios/tias que levam sobrinhos(as) para certo tipo de festas que os pais haviam proibido o adolescente de frequentar. Isso só piora a situação, pois empodera o adolescente que já tem tensões no relacionamento com os pais, podendo ampliar o conflito e até a violência. Por outro lado, se os familiares percebem que o adolescente está se isolando cada vez mais e os pais não tomam nenhuma iniciativa em relação a isso, esses familiares (avós, tios, padrinhos etc.) podem, amorosamente, convidar o adolescente para atividades que sejam interessantes para eles – sem desrespeitar as normas estabelecidas pelos pais. Fazer passeios, praticar algum esporte, ir ao cinema, são algumas formas saudáveis de envolver-se e tirar o adolescente de seu isolamento ou vivência exclusivamente virtual. Muitas vezes esse familiar disposto a ajudar pode se tornar um referencial de vida e de valores que ajudarão bastante o adolescente em seu processo de amadurecimento. Tal qual os professores, eles também podem oferecer uma escuta ativa para criar vínculos saudáveis e confiáveis, ajudando os adolescentes a expressarem suas ideias, dúvidas e ansiedades e, desta forma, se tornarem apoios efetivos de ajuda em questões mais complexas que envolvam a vida dos adolescentes.

>> Leia aqui a parte 2 da entrevista Adolescente - nem algoz nem vítima <<


Entrevista publicada originalmente na matéria de capa da edição 414 de Ultimato.


REVISTA ULTIMATO – ADOLESCÊNCIA – ONLINE E OFFLINE
Muito já se falou da adolescência como uma fase crítica da vida, em que as dificuldades próprias da idade inspiram cuidados especiais – o que é ainda mais importante hoje.

Os adolescentes desta geração são o grupo mais impactado pelo ritmo acelerado das mudanças. A matéria dessa edição oferece subsídio para melhor conhecer e atuar com esse grupo. Nos depoimentos dos 12 adolescentes que participam eles pedem: “Acreditem em nós!”.

É disso que trata a
edição 414 de Ultimato. Para assinar, clique aqui.

Imagem: Adobe Stock.

Saiba mais:
» Pais Santos, Filhos Nem Tanto – A trajetória de um pai segundo o coração de Deus, Carlos "Catito" Grzybowski
» Série “Adolescência”: o que a igreja tem a ver com isso?, live de Diálogos de Esperança
» Cuidemos de nossos adolescentes, por Carlos "Catito" Grzybowski
» Da tela ao abraço: como proteger nossos filhos na era digital, por Emiliane Rezende

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