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Opinião

Refugiados: xenofobia é a resposta?

O drama dos refugiados está hoje no centro das preocupações mundiais. Segundo o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), aproximadamente 60 milhões de pessoas – o maior número desde a Segunda Guerra Mundial – estão em condição de deslocamento forçado, obrigadas a deixar seu local de origem para fugir de conflitos armados e perseguições políticas, étnicas e religiosas.

É uma tragédia humana profunda e de múltiplas dimensões que os números e as estatísticas não são capazes de expressar na totalidade. Os sujeitos e suas histórias – cheias de dor, mas também de extraordinária coragem e capacidade de resistir – são silenciados nos campos de refugiados e nas fronteiras fechadas por cercas de arame farpado e policiais armados e, quando conseguem chegar a um novo país, pelas barreiras linguísticas, sociais e econômicas que lhes reservam posição de subalternidade e vulnerabilidade. Sem mencionar aqueles que ficam pelo caminho, por exemplo, os milhares de mortos em naufrágios de embarcações precárias e clandestinas.

A Síria é o caso mais notório. Desde 2011, arrasta-se no país uma guerra civil entre o governo e grupos rebeldes, com Rússia e Estados Unidos apoiando lados opostos, enquanto o Estado Islâmico conquistou território, avançando, com terror, a partir do vizinho Iraque. Devastado, o país caiu em desgraça. Mais de 270 mil sírios morreram.

Segundo a ONU, 83,4% da população síria vive hoje abaixo da linha da pobreza (renda inferior a 1,90 dólar por dia) – número que era de 28% em 2011. A expectativa média de vida caiu de 70 anos, em 2010, para 55, em 2014. Metade dos 493 hospitais foram destruídos, e danos causados ao sistema de abastecimento reduziram em quase 50% a água potável disponível.

A economia, que previa crescer 32% entre 2010 e 2015, caiu 55%, e a produção agrícola diminuiu 60% no mesmo período, levando às alturas os preços de alimentos. Cerca de 5 milhões de sírios tiveram de deixar o pais, engrossando, com afegãos e iraquianos, as fileiras de refugiados às portas da Europa.

Mas não é só no Oriente Médio. Na África Central, há mais de 2,7 milhões de refugiados no lago Chade, que banha Níger, Camarões, Nigéria e Chade, região assolada por conflitos que têm no grupo Boko Haram o personagem mais conhecido. Também o norte da África testemunha a catástrofe: é de lá que milhares de desesperados arriscam-se na travessia do mar Mediterrâneo em pequenos botes, na tentativa de encontrar melhor sorte na Itália.

Há ainda multidões de imigrantes em busca de melhores condições de vida em outras terras, mesmo que não oriundas de contextos de guerra ou perseguição. O fenômeno é tal no mundo todo que especialistas já falam numa nova onda imigratória global. No Brasil, por exemplo, a chegada de haitianos tem tido grande repercussão, para ficar num único exemplo.

A xenofobia como resposta
Se do lado de quem deixa sua região de origem o desafio é encontrar paz num novo lugar, a questão que se coloca para as populações dos países em cujas portas batem imigrantes e refugiados é como lidar com a demanda. E o que se tem visto é o alarmante aumento de um determinado tipo de resposta: a xenofobia.

O termo tem origem grega: “xenos” significa estrangeiro e “phóbos”, medo. Precisamente, é a aversão a estrangeiros. Na língua portuguesa, “estrangeiro” tem etimologia próxima à palavra “estranho” e é quase sinônimo dela. Essa relação ajuda a começar a mapear o pensamento xenófobo.

O estrangeiro é aquele que me é estranho: vem de fora, é desconhecido, diferente de mim. Por essa razão, é também ameaçador. Pior ainda: culturas narcisistas como a nossa consideram inferior tudo o que é diferente de si. Portanto, esse estranho é menos importante ou nada importante. Do lado de fora, será ignorado; do lado de dentro, se conseguir entrar, será sempre um rebaixado.

A xenofobia chega a esboçar uma racionalidade econômica para se justificar. No modo de vida ocidental, as relações sociais cotidianas são mediadas pela competição por recursos escassos: emprego, salário, contatos e tudo o mais que dê acesso ao padrão de consumo associado à noção prevalente de boa vida.

Nessa ótica, imigrantes são um risco. Primeiro, porque aumentam a concorrência. Em segundo, porque, se vencidos na competição, ocuparão, nas nossas sociedades de desigualdade escandalosa, o lugar dos perdedores: a pobreza e o desemprego, sempre inconvenientes e potencialmente caso de polícia.

Dessa forma, para o xenófobo, o estrangeiro é indesejável. E qualquer que seja a solução do problema ela tem de estar do lado de lá da fronteira. Cada um no seu quadrado.

Na Europa, partidos com bandeiras abertamente anti-imigração e sustentados por movimentos xenófobos obtiveram grandes vitórias em eleições recentes. E, no Brasil, também crescem discursos de tom semelhante, sempre com altas doses de desinformação. Uma ascensão da xenofobia, fato muito familiar à história do Ocidente nos últimos cem anos.

A resposta cristã: a filoxenia de Gaio
O “xenos”, esse estranho, é o exato oposto do que a Bíblia chama de “próximo”. E era isso que os judeus tinham em mente quando perguntaram a Jesus a respeito. Sabiam que deveriam amar o próximo, mas queriam delimitar quem se encaixava nessa definição, a fim de que ficasse mais fácil descartar o estranho.

O efeito demolidor da resposta de Jesus em dizer aos judeus que o samaritano era o próximo estava em condenar aquele tipo de xenofobia e deixar bem claro que, na nova aliança, o estrangeiro também é o próximo. Cristo inaugura uma proximidade ampliada entre todos os seres humanos.

No Novo Testamento há um personagem exemplar da resposta cristã para essa questão colocada no mundo de hoje. Gaio, a quem o apóstolo João dedica sua terceira epístola, se destaca pelo amor com que servia os irmãos, especialmente os “xenos” que passavam por sua cidade (3 João, v.5).

Gaio era reconhecido entre os cristãos da época por sua hospitalidade, uma virtude a que o Novo Testamento dá status de mandamento. “Sejam hospitaleiros uns aos outros, sem reclamação”, diz 1 Pedro 4.9. A palavra grega do original bíblico traduzida como hospitalidade é “philoxenia”, que significa literalmente amizade com estrangeiros (philos: amizade; xenos: estrangeiro).

Aqui, portanto, tem-se o valor autenticamente cristão que deve ser contraposto à prática hoje tão frequente de recusa a quem vem de fora das nossas fronteiras. A filoxenia no lugar da xenofobia. A recepção ao invés da aversão. Braços e mãos estendidas em vez de ombros virados. Mesmo para com aqueles que são estranhos, os estrangeiros. Como Gaio fazia.

Contra o narcisismo cultural que promove inferiorizações, respondemos preferindo o outro em honra. Em oposição à racionalidade egoísta da competição, optamos por compartilhar com alegria. Contra o etnocentrismo que vê no outro um estranho, respondemos chamando-o de próximo. A filoxenia cristã.

Tais valores e práticas fazem-nos agir como Deus Pai, que trouxe para perto aqueles que eram estranhos (Ef. 2.13, 18). Mais ainda: nos dá a honra de servir concretamente a Cristo, que um dia revelará: “Fui estrangeiro” (Mt. 25.35). E, por último, anuncia a esperança cristã de novos céus e nova terra, onde haverá paz abundante e ninguém mais precisará migrar ou buscar refúgio. Uma esperança que, ao mesmo tempo, denuncia o atual estado de coisas e aponta uma nova cosmovisão e uma nova ética para superá-lo desde já.

• Paulo Henrique Barbosa é membro da Igreja do Evangelho Quadrangular, em Pompéia, SP, é advogado trabalha na Universidade da Família, Bacharel e Mestrando em Ciências Sociais. Está seguindo para o Oriente Médio com vistas à Ajuda Humanitária para Refugiados.

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