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Opinião

Saúde coletiva, responsabilidade cristã e vida em comunidade

Por Giovanni Hsiao, Deborah Khoe, Isaac Sui, Aline Cho e André Tsin Chih Chen em nome da Associação Médica Ágape
 
Em tempos de crise, um dos grandes desafios da sociedade e da igreja é manter uma mentalidade que olha para a comunidade. Jesus chamou isso de amor ao próximo. Em situações de incerteza e medo, o que parece simples na teoria, torna-se incomum na prática.
 
Vimos um exemplo disso nos últimos dias, após a divulgação de estudos clínicos em andamento avaliando o uso da cloroquina no combate ao novo coronavírus. Houve uma busca frenética por esse medicamento, com pessoas tomando a medicação por conta própria (sem orientação médica). Por um lado, isso levou a casos de efeitos colaterais cardíacos graves[1,2], inclusive overdose e óbito[3]. Por outro lado, o estoque de muitas farmácias se esgotou, levando ao risco de pessoas que comprovadamente se beneficiam e precisam do medicamento a ficarem sem (a cloroquina é usada de forma contínua no tratamento de doenças reumatológicas, como o lúpus e a artrite reumatoide). O medo excessivo e a desinformação levam a decisões ruins; estas podem produzir uma falsa sensação de segurança, mas em última análise prejudicam a sociedade como um todo[4].
 
A discussão entre egocentrismo e altruísmo é antiga na filosofia e na ciência[5]. Do ponto de vista biológico, é difícil entender como um comportamento de auto sacrifício pode continuar existindo, já que, apesar de ajudar a espécie, pode prejudicar o indivíduo. Como cristãos, nossa capacidade de amar de forma abnegada vem de Deus e de Seu Cristo (2Co 5:14-15). É o Senhor quem nos ordena e capacita a colocar as necessidades do todo acima de nossas necessidades individuais. Esse mandamento se torna ainda mais importante em tempos de crise.
 
Uma situação semelhante à atual aconteceu na Europa a partir do séc. XIV. A chamada Peste Negra devastou um terço da população europeia. Em 1527, tendo a praga chegado à cidade de Wittenberg, Marinho Lutero foi  questionado se seria apropriado a um cristão fugir de uma praga mortal[6]. Ele argumenta que o instinto de salvar a própria vida não é ruim, e temos muitos exemplos disso na Bíblia (Davi fugindo de Saul e Absalão, Elias fugindo de Jezabel, etc.). Porém, a fuga apenas é aceitável se, ao fugir, o indivíduo não deixa para trás sua responsabilidade para com seu próximo. Lutero também argumenta que é impossível viver em comunidade sem alguma dose de auto sacrifício. O inimigo se aproveita do medo para nos deixar desesperados e despreparados para lidar com a morte. Tendo nos esquecido de Cristo, a Luz e a Vida, abandonamos nosso vizinho nos momentos de necessidade. Como em 1527, nos dias atuais, talvez uma das formas mais importantes de cuidar do próximo seja agindo com responsabilidade e tomando o devido cuidado para não infectar outras pessoas[7,8]. Escrevemos um texto específico para orientações de ONGs e missões de assistência social, que pode ser acessado aqui.
 
Lutero também encoraja os cristãos a não perguntarem o que Jesus faria no nosso lugar, mas a perguntar o que faríamos se Jesus estivesse no lugar dos nossos vizinhos (Mt 25:31-46). O que faríamos se Jesus fizesse parte da população de risco e pudesse contrair o vírus por causa de um descuido nosso? O que faríamos se Ele fosse um trabalhador temporário sob risco de perder a fonte de renda por causa do confinamento? O que faríamos se Ele tivesse dificuldades para conseguir itens básicos? Precisamos proteger nosso próximo da melhor forma. Devemos dar a devida atenção às recomendações das autoridades civis e em saúde[9,10]. Enquanto as recomendações não forem contrárias à Palavra de Deus[11], é mandamento das escrituras sagradas nos submetermos às autoridades[12]. Elas têm trabalhado com dedicação para conter o crescimento exponencial da curva e reduzir o número de casos, de modo que os serviços de saúde consigam absorver a demanda (“achatar a curva”)[13,14].

Manter a unidade é essencial para a igreja. Uma metáfora que a Bíblia usa para o cristão é a de soldado (2Tm 2:3-4; Ef 6:13-18). Nos dias atuais, obras cinematográficas retratam soldados que têm capacidade de lutar sozinho, os super-heróis. Todavia não foi assim nos tempos bíblicos, e não é assim com a Igreja. Nós precisamos muito uns dos outros. O distanciamento físico pode prejudicar o senso de unidade e pertencimento, mas temos que combater isso constantemente. Ao lembrarmos que a batalha para redimir um mundo caído ainda está acontecendo, percebemos que o coronavírus é mais um pano de fundo. Lutamos na medida em que cuidamos das pessoas, testemunhamos do Evangelho, formamos discípulos e buscamos a justiça. A unidade em Cristo nos direciona para a missão.
 
Sugestões práticas:
 
• Precisamos ouvir a voz do SENHOR dos Exércitos. Podemos aproveitar o período de quarentena para orar mais e buscar a vontade dEle, para as coisas grandes e pequenas. Acheguemo-nos a Deus para receber consolo, sustento e também formas palpáveis de alcançar os que estão precisando.
 
• Identificar indivíduos sob risco ao nosso redor e em nossa comunidade. Um exemplo são os idosos ou pessoas que vivem sozinhas, que necessitam de cuidado e prezam por tempo de conversa e por serem ouvidos. Em meio à solidão, coisas simples como uma ligação ou ajuda para fazer compras podem fazer muita diferença. 
 
• Incentivar os irmãos a planejar ativamente formas conjuntas de ajuda às pessoas ao nosso redor. Cada pessoa tem uma forma única de encorajar ao próximo. Unir pessoas para pensar juntas sobre problemas comuns é uma boa forma de criar comunhão, mesmo à distância. Isso pode ser feito através de células ou pequenos grupos, caso já existam. Devemos planejar formas reais de ajuda material a pessoas com dificuldade em necessidades básicas, como moradia, alimentação e medicação de uso contínuo. O corpo de Cristo precisa “pôr a mão no bolso” em favor do necessitado (Dt 15:11; Sl 41:1-2; Pv 14:31; Is 58:6-11; Lc 3:11-14; Lc 6:38; 2Co 9:1-14), para de fato ajuntar tesouro nos céus (Lc 12:31-34). 
 
• Promover cultos online da comunidade local. É natural que igrejas grandes e com mais recursos transmitam seus cultos com imagens em alta definição e produção de qualidade. Somos gratos a Deus pelo ministério que têm desenvolvido. Não obstante, é importante também continuar se reunindo com os irmãos de nossas próprias igrejas locais, com a comunidade de fé com quem estabelecemos relacionamentos pessoais, com nossos companheiros de caminhada. Além do mais, essa é uma oportunidade de lembrar das pessoas que chegaram faz pouco tempo, que estão distantes ou que não estão bem integradas na igreja. Talvez o que elas precisem seja de alguém que vá em direção a elas nesse momento difícil.
 
• Incentivar as pessoas a conversarem, orarem juntas, compartilharem alegrias e dificuldades. Por vezes, no dia a dia de nossas reuniões, estamos tão ocupados em manter as atividades funcionando que nem sempre olhamos para os relacionamentos como um ministério. Entretanto, relacionamentos são uma das partes essenciais da igreja local. Ser obrigado a simplificar estrutura e atividades é um convite para refletirmos sobre o que é importante nas nossas igrejas. Como priorizar aquilo que é essencial? Cremos que muitas dessas lições serão valiosíssimas quando a epidemia em curso passar. 

Referências
  1. Malloy T. Guidance on patients at risk of drug-induced sudden cardiac death from off-label COVID-19 treatments 2020. https://newsnetwork.mayoclinic.org/discussion/mayo-clinic-provides-urgent-guidance-approach-to-identify-patients-at-risk-of-drug-induced-sudden-cardiac-death-from-use-of-off-label-covid-19-treatments/ (accessed March 28, 2020).
  2. Reações adversas e efeitos colaterais do Difosfato de Cloroquina 2020. https://consultaremedios.com.br/difosfato-de-cloroquina/bula/reacoes-adversas (accessed March 28, 2020).
  3. Beaumont P, Ratcliffe R. Chloroquine: Trump’s misleading claims spark hoarding and overdoses. New York Times 2020. https://www.theguardian.com/science/2020/mar/25/can-chloroquine-really-help-treat-coronavirus-patients (accessed March 28, 2020).
  4. Ropeik D. The consequences of fear. EMBO Rep 2004;5:S56–S60. doi:10.1038/sj.embor.7400228.
  5. Rachlin H, Locey M. A behavioral analysis of altruism. Behav Processes 2011;87:25–33. doi:10.1016/j.beproc.2010.12.004.
  6. Luther M. Whether One May Flee from a Deadly Plague - Living and Dying as a Christian. 1527. https://tryingsmall.files.wordpress.com/2014/08/luther-on-plague.pdf
  7. Nacoti M, Ciocca A, Giupponi A, Brambillasca P. At the Epicenter of the Covid-19 Pandemic and Humanitarian Crises in Italy : Changing Perspectives on Preparation and Mitigation. N Engl J Med 2020:1–5. doi:10.1056/CAT.20.0080.
  8. Horowitz J. We Take the Dead From Morning Till Night. New York Times 2020. https://www.nytimes.com/interactive/2020/03/27/world/europe/coronavirus-italy-bergamo.html.
  9. Ministério da saude 2020. https://coronavirus.saude.gov.br/ (accessed March 29, 2020).
  10. World Health Organization. Coronavirus disease 2019 WHO situation report. 2020.
  11. Atos 4:1-21. 
  12. 1 Co 13:1-7.
  13. Coronavírus: por que é fundamental “achatar a curva” da transmissão no Brasil 2020. https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51850382 (accessed March 21, 2020).
  14. Centers for Disease Control and Prevention. Interim Pre-Pandemic planning Guidance: Community Strategy for Pandemic Influenza Mitigation in the United States 2007. http://pandemicflu.gov/professional/community/. 

• Giovanni Hsiao é membro da Igreja Presbiteriana Vida Nova de São Paulo; médico residente de Psiquiatria pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
 
• Deborah C. Khoe é membro da Igreja Presbiteriana Vida Nova de São Paulo; formada em farmácia-bioquímica pela Universidade de São Paulo.
 
• Isaac I. Sui é ministro da Igreja Presbiteriana Vida Nova de São Paulo; com formação em teologia pela Faculdade Latino-americana.
 
• Aline J. M. Cho é membro da Igreja Presbiteriana Unida Coreana de São Paulo; médica psiquiatra formada no HC-FMUSP; residência em Psiquiatria da Infância e Adolescência no Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq-USP), atualmente Médica Preceptora da Residência em Psiquiatria da Infância e Adolescência no IPq-FMUSP.
 
• André Tsin Chih Chen (MD, PhD) é membro da Igreja Presbiteriana de Formosa de Mogi das Cruzes; mestrando em divindade pelo Seminário Teológico Servo de Cristo; médico radio-oncologista do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, HC-FMUSP; coordenador de Pesquisa Clínica do Departamento.
 

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