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Opinião

Quem foi João Calvino, segundo C. S. Lewis

Por Paulo F. Ribeiro
 
Em sua principal obra literária, Literatura Inglesa no Século Dezesseis (English Literature in the Sixteenth Century) (*), C. S. Lewis faz vários comentários sobre a importância de Calvino e do calvinismo na literatura do século dezesseis, na Inglaterra e Europa. Lewis também comenta sobre o contexto do puritanismo e humanismo daquele período. Aqui sumarizo algumas citações para informação daqueles que não tem acesso a essa grande obra do Lewis, ainda não traduzida para o português. Enfatizo aqui que as palavras de Lewis foram escritas da perspectiva literária e sem nenhum juízo de valor do ponto de vista teológico.
 
Entendendo o contexto da época: puritanos e calvinistas

“Por puritanos, os elisabetanos consideravam aqueles que desejavam abolir o episcopado e remodelar a Igreja da Inglaterra como Calvino tinha feito em Genebra. Os puritanos não eram separatistas ou (no sentido moderno) dissidentes. Eles geralmente permaneciam no sistema e desejavam a reforma de dentro. Havia, portanto, graus de puritanismo, e é difícil traçar uma linha exata e rápida. Vou usar a palavra para significar protestantismo ʽavançadoʼ ou ʽradicalʼ: as marcas de um puritano, no meu entendimento, são uma forte ênfase na justificação pela fé, uma insistência na pregação como indispensável, nos meios de graça, e uma atitude para com os bispos que varia de tolerância relutante a hostilidade implacável.”
 
Calvino sobre usura e ofertas

“Quando chegamos a Calvino, a situação é reconhecidamente diferente, e encontramos uma tentativa real de reinterpretar a ética cristã em relação a uma sociedade que não é mais medieval. Deve-se, no entanto, ser lembrado que a sanção de usura moderada não conseguiu a aprovação de muitos teólogos protestantes. No dever de dar ofertas, e mesmo nas corrupções sutis de dar ofertas, poucos homens escreveram melhor do que o próprio Calvino. O limite de dar deve ser o limite de nossa capacidade de dar.”
 
Sobre Serveto

“Herdada desde a Idade Média, havia a suposição de que o homem cristão poderia viver apenas em uma política teocrática que tinha o direito e o dever de impor a verdadeira religião por meio da perseguição. Aqueles que resistiam à sua autoridade não o faziam porque pensaram que não tinham direito de impor doutrinas, mas, porque pensavam que estavam impondo as erradas. Aqueles que foram queimados como hereges estavam frequentemente (e, em suas premissas, logicamente) ansiosos para queimar outros sob a mesma acusação. Quando Calvino liderou o ataque contra Serveto, que acabou sendo queimado em Genebra, ele estava agindo sob princípios medievais aceitos".
 
NB: Calvino embora concordasse com a execução de Serveto sugeriu a decapitação ao invés de ser queimado na fogueira.
 
Sobre o carisma de Calvino

“Muitos se renderam; todos foram influenciados pela figura deslumbrante de Calvino. Deveria ser mais fácil para nós do que para o século XIX para entender sua atração. Ele era um homem nascido para ser o ídolo dos intelectuais revolucionários; um doutrinário sem hesitação, implacável e eficiente em colocar sua doutrina em prática. Embora educado como advogado, ele encontrou tempo antes dos trinta anos para produzir o primeiro texto das Institutas (1536) e nunca fez nenhuma modificação séria em sua teoria. Em 1537 ele já estava em Genebra e os cidadãos, já desfilavam diante dele em grupos de dez para jurar por seu sistema de doutrina.”
 
Calvinismo: vida cristã total

“A perspectiva de Calvino da vida totalmente cristã era menos hostil ao prazer e ao corpo do que a de Fisher; mas Calvino exigia que todo homem deveria ser feito para viver uma vida totalmente cristã. No jargão acadêmico, baixou o padrão de honras e aboliu o grau de aprovação.”
 
“Com certeza, existem padrões pelos quais os primeiros protestantes poderiam ser chamados de ʽpuritanosʼ; eles consideravam adultério, fornicação, e perversão como pecados mortais. Da mesma forma o papa os considerava. Se isso é puritanismo, toda a cristandade era então puritana. Na medida em que havia alguma diferença sobre a moralidade sexual, a velha religião era a mais austera. A exaltação da virgindade é um traço romano, a do casamento, um traço protestante.”
 
Paralelos entre o calvinismo e o marxismo

“Os paralelos modernos são sempre, até certo ponto, enganosos. Ainda, por um momento apenas, e para se proteger contra equívocos piores, pode ser útil comparar a influência de Calvino naquela época com a influência de Marx em nosso próprio tempo; pois, Calvino expôs o novo sistema em teoria e o pôs em prática. Isso vai pelo menos servir para eliminar a ideia absurda de que os calvinistas elisabetanos eram de alguma forma grotescos, pessoas idosas, fora da principal corrente de vida. Em sua própria época, eles eram, é claro, as últimas novidades. A menos que possamos imaginar o frescor, a audácia, e (em seguida) a tendência do calvinismo, nós erraremos em nossa imagem. Era o credo dos progressistas, mesmo de revolucionários. O calvinismo apelou fortemente para aqueles temperamentos idênticos aos quais apelou os marxistas nos anos trinta. O feroz jovem professor, a senhora erudita, o cortesão com inclinações intelectuais, eram provavelmente calvinistas.”
 
Calvino expande a prática protestante

“Nas Institutas, Calvino parte da experiência protestante original para construir um sistema, para extrapolar, para levantar todas as questões obscuras e dar, sem vacilar, respostas sombrias. É, no entanto, uma obra-prima da forma literária; e podemos suspeitar que aqueles que leem com mais aprovação foram perturbados pelo destino dos predestinados a vasos de ira quase tanto quanto os jovens marxistas em nosso próprio tempo estão preocupados com a liquidação que se aproxima da burguesia.” 
 
O impacto nos jovens e na criação de universidades

“O perverso bispo de Diótrefes reclama que universidades ʽpuritanas [calvinistas] começam todos os diasʼ. Travers escreveu seu Explicatio quando tinha vinte e seis anos, e Penry e John Udall tinham vinte e oito anos quando aquele escreveu seu Tratado à Rainha.”
 
“A juventude é a acusação comumente trazida contra os líderes puritanos por seus oponentes: juventude e presunção. Quando reconhecemos isso começamos, talvez, a nos perguntar menos como um trabalho como As Institutas foram recebidos com tanto entusiasmo.”
 
[É importante lembrar que três grandes universidades americanas, Harvard, Yale e Princeton foram fundadas por protestantes calvinistas.]
 
Diferença entre puritanos e calvinistas

“É claro que nem todos os calvinistas eram puritanos. Nem estou sugerindo que os grandes lutadores puritanos que corriam o risco de ruína e tortura em seus ataques aos bispos estavam apenas se conformando com a moda. Devemos distinguir um núcleo duro de puritanos e um círculo muito mais amplo daqueles que foram, em vários níveis, afetados pelo calvinismo. Mas uma certa severidade (por mais sério que possamos pensar) foi difundida até mesmo por aquele círculo mais amplo, no sentido de que a denúncia do vício passou a fazer parte do estoque de escritores da moda e até frívolos.”
 
Calvinismo na Escócia

“Na Escócia, Knox estava preparado para estabelecer o calvinismo por uma revolução armada. Os puritanos ingleses eram no início mais suaves: mas Udall em sua Demonstração (1588) já estava dizendo que, uma vez que os métodos pacíficos falharem, ʽse vier por ações que causem seus corações doerem, culpe-os.”
 
“A psicologia do puritano propriamente dita não era tão facilmente determinada como o da linha meramente calvinista: assim como, em nosso próprio tempo, sabemos muito bem que esses tipos de pessoas estarão próximos da esquerda, mas não querem se identificar como comunistas de verdade. Como em toda a profunda convicção, há algo que atravessa as divisões comuns de idade, sexo, classe e cultura.”

 
Uma visão geral do contexto teológico da época: puritanos, humanistas e calvinistas

“Em 1569, Spenser ingressou no Pembroke Hall em Cambridge. O mais interessante em sua carreira universitária é que passou por ela sem se apegar a nenhum dos dois movimentos intelectuais pelos quais Cambridge foi então agitada. Não podemos deixar de chamá-los de ʽpuritanismoʼ e ʽhumanismoʼ, mas nenhuma das palavras significava o mesmo que hoje. Por pureza, o puritano elisabetano não significava castidade, mas teologia ʽpuraʼ e, ainda mais, disciplina da igreja ʽpuraʼ. Ou seja, ele queria uma igreja presbiteriana toda poderosa, uma igreja mais forte que o estado, estabelecida na Inglaterra, no modelo da igreja de Calvino em Genebra. Knox, na Escócia, exigiu em voz alta, e pelo menos um puritano inglês insinuou, que isso deveria ser feito por uma revolução armada. Calvino, o grande doutrinário de sucesso que realmente estabeleceu a ʽnova ordemʼ, foi o homem que deslumbrou a todos. Devemos imaginar esses puritanos como o oposto daqueles que levam esse nome hoje: como jovens, ferozes, intelectuais progressistas, muito na moda e atualizados. Eles não eram abstêmios; os bispos, não a cerveja, eram sua aversão especial.”
 
Finalmente, Lewis nos alerta a termos cuidado em interpretar o passado

“O ponto é que nunca podemos conhecer esse conteúdo [completamente]. A maior parte da vida realmente vivida em qualquer século, semana ou dia, consiste de detalhes minuciosos e não comunicados, até mesmo incomunicáveis, de experiências que escapam a todo registro. O que sobrevive, sobrevive em grande parte por acaso. Com base nisso, parece-me impossível alcançar o tipo de conhecimento que está implícito na própria ideia de uma ʽfilosofia da históriaʼ. Isso também há de ser dito sobre todos os ʽespíritosʼ, ʽsignificadosʼ ou ʽqualidadesʼ atribuídos a períodos históricos; eles são sempre mais visíveis nos períodos em que estudamos menos. Os ʽcanaisʼ em Marte desapareceram quando obtivemos lentes mais fortes.”
 
“Examinai tudo. Retende o bem.” 1 Tessalonicenses 5:21
 
(*) Obras citadas:
1 - English Literature in the Sixteenth Century Excluding Drama, Oxford University Press, 1954. Lewis era Professor em Oxford quando escreveu esse livro que foi publicado em 1954, mesmo ano em que Cambridge criou a cadeira de Literatura Medieval e Renascentista para Lewis.
2 - Studies in Medieval and Renaissance Literature, Cambridge University Press, 1966.

Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, foi Professor em Universidades nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Holanda, e Pesquisador em Centros de Pesquisa (EPRI, NASA). Atualmente é Professor Titular Livre na Universidade Federal de Itajubá, MG. É originário do Vale do Pajeú e torcedor do Santa Cruz.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao

Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
  • Textos publicados: 67 [ver]

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