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A fé cristã e o jovem do século 21

Por Cleiton Oliveira | Entrevista com Pedro Dulci
 
Em entrevista ao jornalista Cleiton Oliveira, o pastor e um dos preletores do Encontro Sepal 2019, Pedro Dulci, fala sobre os desafios da igreja no século 21, em especial, para aqueles que trabalham com a juventude.
 
Sepal: Ser jovem hoje. O que isso significa? Qual é a principal realidade que está nas entrelinhas desse enunciado?
 
Ser jovem hoje não é sinônimo de ser jovem em outros períodos da história. O próprio conceito de juventude tem uma trajetória curta. Há duzentos anos, quando alguém deixava de ser criança, já era considerado adulto. Não temos os diários adolescentes de Johann Sebastian Bach para ler, pelo simples fato de que ele não cultivou essa fase de sua vida, como faz um adolescente hoje. Ou seja, o processo de amadurecimento era muito mais implacável, sem nenhuma fase de transição. Com o desenvolvimento histórico e cultural foi, literalmente, criada uma fase de transição para marcar melhor o período de necessário amadurecimento moral dos indivíduos que já tinham corpos biologicamente “prontos”. Grosso modo, a juventude nasceu assim e carrega consigo este signo: o de ser uma fase da vida das pessoas em que, apesar de já terem “tamanho e hormônio”, não têm ainda o “capital moral” necessário para lidar com as situações mais típicas da vida adulta. 
 
Essa marca fundamental da juventude tem um agravante que se torna o grande diferencial nas entrelinhas de ser “jovem hoje”: nós vivemos em uma cultura marcada pelo espetáculo e entretenimento que elimina ao máximo as oportunidades de adquirirmos esse amadurecimento moral. Nós somos, literalmente, mantidos infantilizados. O termo cunhado na língua inglesa “kidult” [uma mistura de kid e adult] é um sintoma desse momento cultural que vivemos. Precisávamos de uma palavra para descrever os esforços da cultura em nos manter em um estereótipo de Peter Pan, um eterno garoto! Ser jovem hoje, portanto, é uma realidade de tensão entre a urgente necessidade de amadurecermos moralmente e estarmos situados em uma cultura que insiste em nos manter infantilizados por muito tempo, como meros consumidores da indústria do entretenimento. 
 
Como a igreja pode se mostrar relevante aos jovens de hoje? De que forma ela deve se aproximar desse público e conquistar sua atenção e confiança, principalmente em um contexto em que conceitos como fé e moral são amplamente relativizados na mídia, nas redes sociais e nas universidades? 

À luz do que foi mencionado anteriormente, a igreja tem muito a contribuir com os jovens hoje. Nossas comunidades locais são lugares privilegiados para os jovens e adolescentes encontrarem o ambiente propício de amadurecimento em meio a uma cultura infantilizadora. A igreja local, de acordo com as Escrituras, deve ser uma “incubadora de virtudes”, isto é, o lugar onde os valores e as virtudes típicas da nova vida em Cristo não só são ensinados, mas também cultivados através de um discipulado que visa nos fazer completos em Cristo Jesus. 
 
Se não oferecermos um programa alternativo de vida cristã e amadurecimento, alicerçados em discipulado e vidas compartilhadas pessoa a pessoa, então, sem percebermos, já fomos engolidos pelo contexto de fé relativizada tão comum nas mídias, redes sociais e ambientes universitários. 
 
Como os líderes de jovens podem se preparar para atuar eficazmente nesse contexto? 

Não existe nenhum segredo ministerial aqui. Seria cômico, se não fosse trágico, percebermos o fato de como vivemos em dias em que multiplicam-se publicações, eventos, materiais sobre liderança e ministérios eficazes, e como a igreja tem sido menos eficaz para salgar e iluminar a cultura em que estamos. O número dos professos evangélicos cresce no Brasil, mas nosso país não muda seus níveis de desigualdade, corrupção e rebeldia em relação aos valores do Reino de Deus porque, dentre outros fatores, nós não estamos formando lideranças marcadas pelas características bíblicas. 

Na minha opinião, o melhor livro sobre liderança que já foi escrito até hoje é o antiquíssimo Plano Mestre de Evangelismo, de Robert Coleman (Editora Mundo Cristão). A força desse material está em sua simplicidade: a atuação eficaz de pastores e líderes na vida das pessoas é proporcional à capacidade que nós temos de reproduzir a metodologia de Jesus conduzir seus discípulos. Muito antes do Movimento de Igrejas em Células, estratégias de Pequenos Grupos ou outras metodologias de administração e crescimento de igreja se tornarem moda, Coleman estava nos chamando atenção para o fato de que Jesus gastou muito tempo com poucas pessoas. Cristo concentrou-se em manter vínculos relacionais profundos com um grupo pequeno e bem escolhido de pessoas, as quais o observaram trabalhar enquanto estavam juntos, até chegar a hora de repetirem o mesmo processo com os outros. Só isso! A grande questão é que, quando olhamos a maioria dos ministérios e filosofias de gestão eclesiástica, o que está sendo ensinado é o exato oposto: líderes eficazes são aqueles que conseguem influenciar o maior número de pessoas com o menor tempo. A maioria dos manuais quer nos ensinar como você conseguirá atingir as multidões sem manter praticamente nenhum contato com elas. 
 
Nossos paradigmas hoje são os youtuber’s e influenciadores digitais. Quantos pastores não trocariam suas igrejas locais, cheias de pequenas picuinhas para administrar, por um canal no YouTube com 100 mil inscritos? Quantos líderes de jovens avaliam a eficácia de seu ministério pelo número de likes e views? O plano mestre de Jesus pastorear e formar novas lideranças é considerado hoje, mesmo dentro de nossas igrejas, uma perda de tempo absoluta! Concentrar-se três anos em profundos laços relacionais com homens simples, privilegiando poucas pessoas e deixando todo seu legado a esse grupo seria considerado, em muitos congressos evangélicos, um sinal de fracasso. Todavia, acredito que não existe nada mais urgente do que a atuação de pastores e líderes que resistam à cultura do espetáculo e do entretenimento em ministérios cada vez mais locais, que ensinem as pessoas a serem maduras em Cristo, e não a manejarem técnicas de como fazer amigos e influenciar pessoas. 
 
Muitas vezes, no intuito de se aproximar dos jovens, algumas igrejas acabam por se aproximar demais de comportamentos, linguagens e abordagens demasiadamente parecidos com os vivenciados por aqueles que não confessam a fé bíblica. De que forma é possível conciliar inovação e modernidade sem perder as bases e as práticas intrínsecas à obediência à Palavra e ao bom senso em relação à vida cristã?

O grande dilema é que muitas igrejas, na tentativa de se aproximarem do público mais jovem, acabam tentando conquistar sua atenção e confiança através da repetição dos padrões culturais de infantilização que vivemos. Trata-se de busca, a qualquer custo, de uma relevância cultural que acaba produzindo o seu exato contrário: comunidades irrelevantes, por não serem sal da terra e luz do mundo.
 
Comunidades que procuram alcançar jovens tão somente através da lógica do espetáculo, do evento, do show e até das mídias estão destinadas apenas a contribuir na manutenção de um grupo de jovens longe das expectativas e dinâmicas do Reino de Deus. Se uma igreja quiser realmente alcançar uma faixa etária específica de jovens e adolescentes, ela precisa buscar formas criativas de contribuir com o amadurecimento desses indivíduos em Cristo. Manter jovens entretidos em nossos cultos é muito diferente de cultivá-los no evangelho e desenvolvê-los em Cristo. Entretenimento não é formação cristã.
 
De que forma a Bíblia se torna um manual seguro para o jovem que deseja desfrutar a juventude plenamente, livre de práticas nocivas à vida e ao seu desenvolvimento integral, pessoal, profissional e espiritual? 

Quando desacreditamos dessas metodologias pragmáticas de liderança e crescimento pessoal, automaticamente as Escrituras se reapresentam para nós como uma fonte de (re)condução de vida espiritual, pessoal e cultural sem comparações. Quando nos dedicamos a ler, entender e praticar o que já encontra-se explícito nas primeiras páginas de Gênesis, já fica óbvio que se trata de uma alternativa a tudo que está a nossa disposição na cultura. Francis A. Schaeffer, um grande evangelista do século passado, sempre dizia que a igreja é muito rápida e capaz de anunciar uma mensagem de reconexão espiritual entre o ser humano e Deus. Mas nos primeiros dois capítulos da Bíblia, lemos sobre nossa relação com todo o cosmo criado. A fé cristã não começa com “creia no Senhor Jesus e será salvo…”, ela começa com “no princípio criou Deus os céus e a terra”. Tão somente quando aprendemos a nos relacionar com o Deus Criador, relacionando-o com sua obra de Deus Redentor, é que conseguiremos ensinar à juventude modos divinos de ser humano. 
 
Multiplicam-se os livros sobre “fé e trabalho”, “fé e cultura”, “fé e razão”, simplesmente porque nós não aprendemos em nossas igrejas a ler Gênesis (o primeiro livro da Bíblia) procurando entender como Adão trabalhava de uma forma que glorificava a Deus, como ele conservava e cultivava a cultura de uma maneira divinamente ordenada ou, simplesmente, como ele se relacionava com Eva de uma forma plena. 
 
E o que você diria para o jovem que está lendo esta entrevista e muitas vezes se sente confuso sem saber em que confiar e onde apoiar a sua fé?

Meu conselho é: não se deixe confundir com as pressões culturais que você vive. Questione-as, antes que elas questionem sua fidelidade ao Senhor! Ao invés de ficar se perguntando se está certo em permanecer fiel, mesmo que seu compromisso aparentemente não esteja dando os frutos que todo mundo valoriza, questione os critérios das pessoas que estão criticando você. Não fique desanimado porque não se encaixa no padrão de sucesso que os líderes midiáticos e secularizados propagam. Você não foi chamado para fazer sucesso, mas para ser fiel ao Senhor. Mantenha-se trabalhando como quem sabe da própria identidade em Cristo!
 
No Encontro Sepal 2019, você participará do Painel Nova Geração, que trará reflexões sobre o relacionamento da igreja com a juventude de nossos dias e os respectivos desafios vivenciados pelas lideranças cristãs no tocante ao assunto. Qual é a sua expectativa para o evento?

Estou orando, pensando e preparando um conteúdo sobre as tendências e ritmos mais contemporâneos que caracterizam a Nova Geração de pastores e líderes no globo. Ainda não posso prometer quais reações isso poderá provocar nas pessoas, mas meu esforço será na direção de observarmos fenômenos sutis e silenciosos que estão ganhando espaço em nosso meio e que podem ser fatais para a igreja de Jesus que está no Brasil. Portanto, será um tempo de muita reflexão e oração pela Noiva de Cristo. 
 
Uma mensagem aos nossos leitores

Se você tem a oportunidade de comparecer ou enviar alguém ao Encontro Sepal 2019, não deixe de fazê-lo. Invista nos seus líderes, divulgue entre seus amigos. Fazendo assim, com certeza, irá contribuir para a renovação de pessoas através da oportunidade de lembrar o que o Senhor Jesus espera de nós.
 
Saiba mais sobre o Encontro Sepal 2019

O evento acontecerá entre os dias 6 e 10 de maio em Águas de Lindóia, São Paulo. Durante quatro dias, pastores e líderes cristãos de todo o Brasil estarão reunidos para o estudo, a reflexão e a troca de vivências em assuntos relacionados à igreja brasileira. Para obter mais informações, acesse o site: encontrosepal.org.br

Serviço:
Encontro Sepal 2019
Data: de 06 a 10 de maio
Local: Hotel Monte Real – Rua São Paulo, 622 – Águas de Lindóia/SP. 
Programação, valores e informações adicionais: encontrosepal.org.br
Assessoria de Imprensa: Elis Amâncio (31) 9 9502-1305
Para saber mais, acesse www.sepal.org.br
 
 
Autor de Fé Cristã e Ação Política, Pedro Lucas Dulci, é filósofo e pastor presbiteriano. Casado com Carolinne e pai de Benjamin, desenvolve pesquisa em ética e filosofia política contemporânea e estudos sobre o diálogo entre ciência e religião, com estágio na Vrije Universiteit Amsterdam. É teólogo e coordenador pedagógico no Invisible College.
  • Textos publicados: 24 [ver]

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