SUMÁRIO
Edição 348
Maio-Junho 2014
RESTAURAÇÃO de pessoas, da criação, da igreja, da história
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Colunas — Ponto final
Maio-Junho 2014
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O enigma da cruz
Tempos de Páscoa me parecem misteriosos.

Talvez o maior enigma, desde os tempos antigos, seja aquele que envolve todos; o mais presente, o mais corriqueiro. De tão próximo, não o percebemos como mistério, embora nos atinja com o mesmo tom dramático de batalha -- o da nossa batalha da cruz. Refiro-me às turbulências que agitam o nosso coração enquanto ele espera, enquanto busca; quando se decepciona, quando se ressente; quando é atingido, desamparado, ou abandonado -- enfim, o mistério do coração que sofre. A batalha consiste em mantê-lo “devoto”.
Como aquela alma atribulada haveria de resistir à antiga sugestão de amaldiçoar seu Deus e morrer (Jó 2.9)? Como reagir com submissão à percepção de que Deus o havia desamparado (Mt 27.46)?
A adoração implica uma harmonia de coração -- afetiva e afetuosa -- com o que Deus é e faz. O caminho da “vitória” consiste em “oferecer” nossas dores a Deus, como gesto de adoração: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.46). Essa devoção, essa “oferta” que vem do nosso coração, tende a ser interrompida pela contrariedade, pelo ressentimento a que as tribulações nos induzem. O caminho mais comum é o da ruptura, temporária ou definitiva, com o “autor” delas.
O livro de Jonas nos conta de um coração assim. Que, embora ainda diga boas coisas de Deus (Jn 4.2b), já não consegue adorá-lo, porque discorda de seus planos. Deus busca conciliá-lo, dizendo: “É razoável essa tua ira?”. Jonas responde: “É razoável a minha ira até à morte” (Jn 4.9).
Sim, tudo o que nos é mais familiar e humano nos empurra para distanciamentos e separações, quando a tribulação bate à porta. Isso torna a cena da cruz ainda mais enigmática. Em especial quando aprendemos que aquela vitória consistiu em “ser obediente até a morte” (Fp 2.8) -- Foi devoto e morreu. E o que ganhou com isso?
Talvez a solução desse enigma da cruz esteja em olhar para o lugar certo. Enquanto todos pensavam que a morte seria o fim e, portanto, a derrota, houve olhos que viram nela apenas o final da guerra. No coração dócil e devoto -- até o fim --, a vitória.
Não, a derrota nunca esteve na morte do corpo, mas na blasfêmia do coração. O desafio não é sobreviver. Este é o engano, pois, afinal, todos nós morreremos. A grande questão é o tipo de coração que teremos cultivado quando ele parar de bater.
Onde encontrar as forças para tão tremenda batalha do coração (Pv 4.23)? No amor de Deus, “que é derramado em nossos corações, pelo Espírito Santo” (Rm 5.5). Minha tradução: nossa força vem da certeza de que “ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte [...] tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam” (Sl 23.4).
• Rubem Amorese é presbítero na Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília. Foi professor na Faculdade Teológica Batista por vinte anos e também consultor legislativo no Senado Federal. É autor de, entre outros, Fábrica de Missionários e Ponto Final. Acompanhe seu blog pessoal.
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