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Somente os maias estão errados?

Qual o propósito de Deus para esse mundo? Esta é a pergunta que, segundo o escritor e bispo anglicano N. T. Wright, traz o drama maior dentro do qual se desenrolam nossos pequenos dramas.

À véspera do “fim do mundo” anunciado pelos maias há tempos e que aconteceria amanhã, dia 21/12/2012, vale a pena perguntar: que ideia move nossa esperança (ou nossa desesperança)? O autor de Surpreendido pela Esperança, mostra duas opções bem populares hoje, mas que diferem da proposta cristã de esperança. Leia abaixo trechos de “Futuro Cósmico: progresso ou desesperança” (capítulo 5 de Surpreendido pela Esperança).


Futuro cósmico: progresso ou desesperança
N. T. Wright

Podemos sugerir, arriscando-nos a parecer demasiadamente simplistas, que existem duas maneiras diferentes de considerar o futuro do mundo. Ambas têm sido confundidas com a esperança cristã por incorporarem alguns de seus elementos em suas narrativas, porém, nenhuma das duas chega perto da imagem oferecida pelo Novo Testamento, da qual temos alguns vislumbres no Antigo. A proposta cristã não se coloca numa posição intermediária, combinando os pontos fortes de ambas e eliminando os fracos, ela é única.

Opção 1: evolucionismo otimista
A primeira é o mito do progresso. Políticos, jornalistas, comentaristas políticos e muitas outras pessoas ainda acreditam nesse mito, recorrem a ele e nos incentivam a considerá-lo seriamente.

O mito do progresso está profundamente enraizado na cultura ocidental contemporânea, e algumas dessas raízes são cristãs. A ideia de que o projeto humano (na verdade, o projeto cósmico) continuaria a crescer e a se desenvolver, levando a um progresso ilimitado em direção à utopia, remonta à Renascença e teve seu impulso decisivo no Iluminismo europeu do século 18. O pleno florescimento dessa crença ocorreu na Europa, no século 19, quando a combinação entre os avanços científicos e econômicos de um lado, e as liberdades democráticas e a disseminação da educação de outro, produziu um forte sentimento de que a história estava caminhando a passos largos na direção de um alvo extraordinário. O “eldorado” estava próximo, o milênio no qual o mundo viveria em paz. A prosperidade se propagaria a partir da Europa e da América, alcançando o mundo inteiro. Nem todos os filósofos, cem anos atrás, concordavam com essa linha de pensamento, mas muitos deles, inclusive alguns de enorme influência, como Hegel, aderiram a ela com entusiasmo. Muitos políticos atuais ainda buscam inspiração nessas ideias.

O sonho utópico, entretanto, não passa de uma imitação da visão cristã. O reino de Deus e os reinos do mundo se unem para produzir uma visão da história caminhando em direção a um alvo que emergirá de dentro da própria história, e não de outro lugar. De acordo com essa visão, os seres humanos estão evoluindo inexoravelmente em direção a esse alvo. O mundo está à nossa disposição para ser descoberto, explorado e desfrutado. Em vez de dependermos da graça de Deus, nós desenvolveremos todo o nosso potencial por meio da educação e do esforço pessoal. No lugar da criação e da nova criação, a ciência e a tecnologia transformarão a matéria-prima desse mundo no material da utopia. Como o Prometeu mítico, desafiando os deuses e tentando governar o mundo por conta própria, o modernismo liberal crê que o mundo pode se tornar tudo o que desejarmos se nos empenharmos um pouco mais e ajudarmos a empreender a grande marcha rumo a um futuro glorioso.

O verdadeiro problema com o mito do progresso é que ele não sabe lidar com o problema do mal. Quando digo isso, não estou me referindo apenas ao aspecto teórico ou racional, embora isso também seja verdade; estou me referindo ao aspecto prático. Ele não consegue desenvolver uma estratégia que busque uma solução para esse grave problema.

O mito do progresso fracassa porque ele, na verdade, não funciona; porque ele é incapaz de resolver o mal cometido no passado; e, por fim, porque subestima a natureza e o poder do mal em si mesmo, deixando de enxergar a importância vital da cruz — a rejeição de Deus ao mal, que abre a porta para o seu “sim” à criação. Só no cristianismo — e certamente não nas histórias seculares da modernidade — faz algum sentido afirmar que os problemas do mundo não se resolvem pelo nosso esforço para alcançar a luz, mas pelo Deus criador descendo às trevas para resgatar a humanidade e o mundo de sua triste condição.

Opção 2: almas de passagem
Platão ainda é o pensador mais influente da história do mundo ocidental. Para ele, assim como para Buda, o mundo presente constituído de espaço, tempo e matéria é apenas uma ilusão, como sombras tremeluzindo em uma caverna; cabe ao homem entrar em contato com a verdadeira realidade, que está além do espaço, do tempo e da matéria. Para Platão, essa realidade seria a “forma” eterna, e para Buda, o eterno “nada”. De acordo com essa visão de mundo, o modo de nos libertarmos da mortalidade seria livrando-nos de tudo que pode se deteriorar e morrer, ou seja, nosso próprio corpo.

A influência platônica sobre o pensamento cristão pode ser sentida desde o começo, principalmente no fenômeno conhecido por “gnosticismo”. Como Platão, os gnósticos acreditavam que o mundo material era um lugar inferior e escuro, e intrinsecamente mau. Dentro desse mundo, porém, podiam ser encontradas algumas pessoas que estavam ali por um propósito diferente. Esses filhos da luz seriam como estrelas cadentes, pequenas centelhas de luz, geralmente ocultas por um corpo material grosseiro. Entretanto, uma vez que tomassem conhecimento de quem eles eram, esse “conhecimento” (em grego “gnosis”) lhes permitiria entrar em uma existência espiritual, na qual o mundo material não mais teria importância. Após terem entrado nessa existência espiritual, eles passariam a viver espiritualmente, por meio da morte, em um mundo infinito, além do espaço, do tempo e da matéria. O mito gnóstico frequentemente sugere que a única maneira de escaparmos de toda a confusão desse mundo seria retornando ao princípio de tudo, ao estado em que vivíamos antes da criação do mundo. De acordo com essa visão, a criação, em si, é a “queda”, por ter criado a matéria, que é verdadeiramente má. Essa visão imita alguns aspectos do cristianismo, mas ao mesmo tempo diverge profundamente dele.

Muitos cristãos ocidentais — e muitos não-cristãos — acreditam que o cristianismo tem se deixado contaminar por uma versão amenizada do pensamento de Platão. Uma grande quantidade de hinos e poemas cristãos revela uma tendência ao gnosticismo. A espiritualidade “de passagem” (como na canção “spiritual” que diz: “Este mundo não é meu lar/ eu estou apenas “de passagem”), embora tenha, é claro, algumas afinidades com o cristianismo clássico, estimula uma atitude gnóstica: o mundo criado é, na melhor das hipóteses, um lugar irrelevante, escuro, perverso e sombrio, onde as almas imortais, que existiam originalmente em uma esfera diferente, aguardam ansiosamente o momento de retornar a ela, tão logo isso lhes seja permitido. Há uma suposição geral, entre os cristãos do Ocidente, de que o motivo principal para alguém se tornar cristão é a garantia de poder “ir para o céu quando morrer”. Textos que não se referem ao céu muitas vezes são interpretados como referindo-se a ele, e textos que dizem o oposto, como Romanos 8.18-25 e Apocalipse 21–22, são simplesmente ignorados, como se não existissem.

Em várias partes do mundo, os cristãos estão sendo atraídos por uma visão do futuro que apela para a destruição final da ordem criada e a um destino puramente “espiritual”, no sentido de ser completamente não-material. Essa percepção popular tem subsistido dentro e fora da igreja, e é, supostamente, a visão dos cristãos em relação ao “céu” e à esperança que temos em Cristo.

Contrariamente a essas visões populares e equivocadas, o cristianismo declara que a obra que o Deus criador fez em Jesus Cristo, e acima de tudo em sua ressurreição, é a mesma que ele deseja fazer pelo mundo inteiro — “mundo” no sentido de todo o cosmos, com toda a sua história. Essa é esperança.

Nota: artigo baseado no capítulo 5 do livro Surpreendido pela Esperança.

______________
N. T. Wright é um dos mais conhecidos e respeitados estudiosos do Novo Testamento da atualidade. Bispo anglicano de Durham, na Inglaterra, foi professor das universidades de Cambridge e Oxford por vinte anos. É autor de mais de quarenta livros, entre os quais Simplesmente Cristão, O Mal e a Justiça de Deus e Eu Creio. E Agora?, publicados pela Editora Ultimato.

Leia mais
Criação, salvação e o futuro do cosmos
O que esperam os cristãos? E o que fazem enquanto isso?
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Equipe Editorial Web
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