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Opinião

Como pastorear em meio à pandemia

Por Luiz Fernando dos Santos
 
“Consolem, consolem o meu povo, diz o Deus de vocês.” (Isaías 40.1)
 
Esses dias, conversando com alguns colegas de ministério e alguns presbíteros, fiz uma brincadeira, disse que depois dessa quarentena eu precisaria de umas boas férias. Poucas vezes na vida me vi tão ocupado e tão preocupado com as minhas tarefas e responsabilidades pastorais. 
 
Não foram poucas as noites em que eu perdi o sono e me vi perguntando como estaria aquela ovelha viúva, solitária. Como seria a noite daquele idoso, em tratamento rigoroso contra uma enfermidade severa, não a Covid-19. A saudade doída dos avós impedidos de acariciarem os seus netos e os filhos que não podiam abraçar os pais. Não foram poucas as vezes que sentei para almoçar e, enquanto dava graças, fui assaltado pela lembrança de irmãos que poderiam estar passando alguma necessidade básica, como alimento e remédio, por exemplo. 
 
Em minhas devocionais perdi a conta de quantas vezes revisei a listagem do rol de membros da igreja para ver se não tinha pulado o nome de alguém. Confesso que até a minha leitura bíblica sofreu alguma alteração nesses dias. Lia a Palavra de Deus na esperança de encontrar um texto, uma perícope, um versículo que pudesse consolar, encorajar, jogar luz nesse momento difícil de nossa história. 
 
Algo que aguçou e muito a minha perspectiva sobre o que eu poderia e deveria fazer nesse momento foi ler e entender o significado dos paramentos sacerdotais de Aarão, que deveria carregar no peitoral, no simbolismo das pedras, junto ao seu coração, a lembrança-presença das tribos de Israel: "Toda vez que Arão entrar no Lugar Santo, levará os nomes dos filhos de Israel sobre o seu coração no peitoral de decisões, como memorial permanente perante o Senhor” (Êx 28.29). Depois disso, passei a intensificar o ministério de intercessor, lembrando nominalmente de cada membro da igreja, procurando me recordar de cada história e contexto vital e suplicar por cada demanda em seu contexto. 

Em um desses dias, quando o templo estava aberto para a limpeza semanal com a solitária presença de nossa auxiliar diarista, uma vez que não há expediente por conta do afastamento social, resolvi entrar e me acomodei na cadeira presidencial, no púlpito. Lá, fiz o exercício mental de buscar o rosto dos meus irmãos, que costumam sentar quase sempre nos mesmos lugares e orei mais uma vez. Isso me fez sentir, como nunca, ser pastor de um povo concreto. 
 
Um outro expediente abençoado e abençoador tem sido a gravação diária de uma devocional. Em cada dia procuro transmitir a ideia de que ninguém está realmente só, estamos juntos, sempre! A igreja não está dispersa, está organizada de uma maneira diferente, mas tanto a adoração quanto a missão estão a todo vapor. 
 
Em cada devocional procuro ser o mais pessoal e o mais natural possível. Também para demonstrar que pastorear é fazer-se presente para consolar os tristes, encorajar os temorosos, amparar os enfraquecidos, estimular os mais fortes a perseverarem no amor e a desafiar a igreja a dar uma resposta de esperança e de paz para um mundo amedrontado e confuso. Desafiar os irmãos a se engajarem como e quando puderem nas muitas necessidades e causas desses dias. 
 
Mas há um outro papel do pastor, esse menos confortável, porém necessário, que é preparar os crentes para a possibilidade da morte e não temerem-na. Ensinar a Igreja a glorificar a Deus também nesse momento e através da dor. Evidentemente, oramos para que o Senhor nos livre de tal acometimento, mas nem o pastor, nem o crente podem ignorar a possibilidade. Com isso, em cada devocional, procuro fazer com que cada membro descanse nos juízos santos, sábios, perfeitos e agradáveis do Eterno e confie em seu Rei e Senhor Jesus Cristo, cujo reinado é inabalável. 
 
Com a limitação da dinâmica social, as redes sociais se tornaram verdadeiros espaços de comunhão, em muitos casos verdadeiros gabinetes pastorais e em alguns momentos algo muito parecido com um confessionário. Nunca o celular e o notebook foram tão decisivos e tão eficientes no cuidado pessoal e comunitário do povo de Deus. O smartphone e o computador servem de versões modernas do cajado pastoral. 
 
E o que falar das “lives” e transmissões online? Claro que não substituem o culto solene e o ajuntamento do povo de Deus. Mas é evidente que passada essa fase crítica e quando aprendermos a conviver com o vírus até que a cura chegue, ainda usaremos esses recursos suplementares ao culto presencial para assistir aos nossos irmãos do grupo de risco ou os mais vulneráveis. Porém, não é tudo. 
 
O cristianismo é uma experiência afetiva e o pastorado é feito de afeições santificadas que devem ser demonstradas sempre que possível. Por isso, vez ou outra, sem proximidade ou contato, sem adentrar às residências e devidamente resguardado, passo pelas casas e da calçada, contemplo a face das minhas ovelhinhas, deixo uma porção das Escrituras, uma oração e a bênção. 
 
E assim, no meio dessa pandemia, usando a criatividade e a tecnologia, contando com a compreensão e o reconhecimento de muitos irmãos, Cristo, por meio dos seus limitados cooperadores, exerce o cuidado pastoral e passa pelas vidas tocando-as com a sua graça. A pandemia é uma belíssima especialização já com estágio para a teologia e a prática do ministério pastoral. Que cada pastor traga consigo o “peitoral de Arão” e que o povo de Deus esteja sempre em seu coração quando comparecer na presença do Supremo Pastor.

Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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