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Opinião

O perigo dos livros populares em pequenos grupos

Por Isabella Passos
 
As estatísticas costumam facilitar o entendimento sobre determinados fatos. Porém, quando interpretadas de forma enganosa podem levar o observador casual a acreditar em algo diferente do que os dados afirmam. Nesse sentido, um mau uso da estatística ocorre quando um argumento baseado nos dados afirma uma falsidade, ou seja, quando afirma algo que os números não estão demostrando. 
 
O mesmo pode ocorrer com a tese geral de um livro. Mesmo apresentando um bom argumento escrito sob boa intenção, um livro pode conter falsificações; seja quando analogias, metáforas, inferências, juízos de fatos ou valores distorcem conteúdos significativos do conhecimento do qual se parte ou quando, pela dificuldade imposta pelos limites da linguagem, trata-se um tema complexo ou abstrato de modo muito simplificado. E ainda é preciso lembrar dos vários vieses cognitivos que podem obscurecer as informações daquele que interpreta um determinado assunto e o expõe ao seu leitor. Nesse sentido, a linguagem pode mais confundir do que esclarecer e, ao confundir, induzir afirmações enganosas a respeito de um assunto qualquer que impacte na tese geral de um livro.  
 
Esses são alguns dos problemas que podem ser encontrados em livros populares. E o uso desses livros em pequenos grupos eclesiásticos é o tema de Aimee Byrd no imprescindível ‘No Little Women: Equipping All Women in the Household of God’ (2016), ainda sem tradução no Brasil[1]. A autora argumenta em prol de sua preocupação com os malefícios advindos de más doutrinas disseminadas por livros populares amplamente utilizados em pequenos grupos. Livros que contêm argumentos e orientações sutis em franca contradição à teologia ensinada no púlpito, mas que passam despercebidos por seus leitores mais desatentos e por aqueles que se constituem como responsáveis da educação cristã. 
 
Pelo título do livro fica claro que a autora está analisando livros utilizados em ministérios de mulheres, no entanto, ela reconhece que sua preocupação responde aos riscos inerentes à quaisquer livros indicados a grupos menores ou a uma pessoa individual. E a questão é: por que deveríamos nos preocupar com a literatura cristã mesmo quando recomendada por igrejas e pessoas com sólida fundamentação teológica? Por que deveríamos nos preocupar mesmo quando se trata de livros com forte adesão por parte significativa de crentes? 
 
Aimee Byrd vai direto ao ponto: porque a Palavra de Deus é importante; porque os crentes que entram em contato com esses livros são importantes; e, porque, ao nos reunirmos em uma sala lateral da igreja ou em nossas salas de estar, depositamos confiança despreocupada em livros que passam a moldar nosso crescimento, bem como o crescimento daqueles que nos rodeiam por meio de nossa influência diária. E no caso das mulheres, a autora ainda nos lembra que elas são bastante influentes tanto na igreja quanto em suas casas, mas que ‘há muitos livros comercializados para mulheres cristãs que parecem piedosos, enquanto um olhar mais atento revela que eles não estão de acordo com as Escrituras’, minando silenciosamente a qualidade teológica de muitas igrejas, uma vez que, relativamente ao seu contingente, as mulheres compõem em maior número a membresia de muitas delas.  
 
Se mantivermos o rigor da preocupação de Aimee, poderíamos ainda afirmar que o problema não origina-se somente na má literatura que falsifica o Evangelho, mas também na dedicação do ensino sobre insistente recorte de parte da vida das pessoas. Livros para mulheres, por exemplo, costumam conferir atenção demasiada em temas relacionados a costumes ou concentram-se demais em aspectos parciais da ordem privada de suas vidas, o que se mostrará pouco estimulador no fomento do apreço para lidar com tópicos mais substanciais de teologia, criando, naturalmente, sérios desafios ao aperfeiçoamento integral dos santos. 
 
Em tempos de ebulição social, parece prudencial conceder atenção dobrada à formação das mentalidades, não pecando por omissão ou por ação inócua e desatenta. Mulheres que se mantêm engajadas em sedimentar estereótipos de feminilidade dos anos de 1950 serão mulheres colocadas à deriva em qualquer desafio prático de 2020. Ano em que nós que lemos este texto precisamos contar sabiamente nossos dias e desenvolver a boa carreira com temor, intrepidez e segurança confessional. Aimee ainda reforça que muitas mulheres verdadeiramente motivadas estão lidando com estudos superficiais, ou pior, com ensinos falsos, perdendo oportunidade de se tornarem trabalhadoras maduras da causa de Cristo, verdadeiras parceiras dos homens que estão aos seus lados.
 
Mas não somente as mulheres. Qualquer membro da igreja precisa de Bíblia, de leitura diária de jornais e de boa literatura (cristã ou não). Todavia, precisa dessas leituras com qualidade. As duas primeiras, inclusive, já nos foram recomendadas por um famoso teólogo. E se há dificuldade da igreja de tornar assuntos mais exigentes atrativos aos seus membros, é preciso repensar o que se comunica como importante aos que ali se reúnem debaixo de sua orientação. Discernir o tempo e equipar os comissionados a responder sabiamente é parte da tarefa fundamental daqueles que se preocupam com a mentalidade dos crentes. Nesse sentido, os grupos menores são oportunidades ímpares de formar cristãos fortes e seguros em sua caminhada. Afinal, é por meio dos pequenos grupos que se trava a batalha direta contra crenças patológicas, já que é nesses lugares que as pessoas têm - ou deveriam ter - a oportunidade de comunicar suas crenças pessoais ao serem estimuladas a expô-las sob a orientação da igreja na forma da boa “desculpa” do estudo de um livro. 
 
Mas como responder a tais desafios? Aimee sugere que mestres da igreja se responsabilizem por conhecer os livros que circulam em suas igrejas. Que avaliem e ensinem as pessoas a identificar as discordâncias, equipando-as a discernir, confrontar e responder ao mau argumento e à má teologia. Ensinando-as a procurar o que determinado autor fala sobre Deus, sobre a Sua palavra e sobre o ser humano. Todos os crentes precisam aprender a ler um livro, primeiro a Bíblia, depois, e com o mesmo espírito, os livros que dizem compartilhar uma porção do que contém na Bíblia.  Deve ficar claro que não basta a um livro encher suas páginas de versículos. É preciso avaliar se a interpretação segue o Espírito do autor dos versículos. E deveria ser especialmente encorajador a convivência de uma comunidade em que todos sejam intencionais acerca do que aprendem ao se mostrarem bons leitores individuais e coletivos. Somente assim poderia haver alguma certeza de que a doutrina do Sola Scriptura não estaria em risco e que seus estudos, mesmo em pequenos grupos, seriam mais bíblicos do que culturais. O que não quer dizer que bíblicos e culturais devam ser tomados como autoexcludentes. 
 
• Isabella Passos é formada em Filosofia pela PUC Minas. Mora em Belo Horizonte e congrega na Igreja Esperança.

Nota da autora
1. Há um projeto de tradução aguardando aceite da autora para a publicação no Brasil. Estamos em busca de editoras interessadas.

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