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Opinião

O debate sobre religião e ciência -- uma introdução*

Essas diferenças entre a ciência e a teologia levaram alguns a supor que elas seriam completamente desconectadas entre si, ocupadas com formas de discurso separadas e até mesmo incomensuráveis. Se isso fosse verdade, não poderia haver um debate verdadeiro entre ciência e religião. Essa imagem de duas linguagens sem conexão tem sido popular entre cientistas que não desejam ser desrespeitosos com a religião, entendida por eles como atividade cultural, mas que tampouco querem considerar seriamente as reivindicações cognitivas da religião quanto ao conhecimento de Deus. Quando essa posição é adotada, a comparação que se segue entre ciência e teologia é frequentemente posta em termos que, na verdade, são desfavoráveis para a religião. Muitas vezes, sustenta-se que a ciência lida com fatos, ao passo que a religião supostamente se funda apenas em opiniões. Há aqui um duplo erro.

Análises produzidas pela filosofia da ciência no século 20 deixaram claro que a busca científica pela compreensão é baseada em algo muito mais sutil do que uma confrontação não-problemática entre fatos experimentais indubitáveis e predições teóricas inescapáveis. Teoria e experimentação se entretecem de formas intrincadas, e não há fatos científicos interessantes que não sejam simultaneamente fatos já interpretados. O apelo a teorias é necessário para se explicar o que realmente está sendo medido por um aparato sofisticado. Por sua vez, a teologia não se baseia na mera asserção de verdades inquestionáveis derivadas das declarações de alguma autoridade inquestionável. A crença religiosa tem as suas próprias motivações, e seu apelo à revelação ocupa-se da interpretação daquelas ocasiões singularmente significativas de desvelamento divino, e não de verdades proposicionais comunicadas de um modo misterioso.

Uma série de considerações mostra que a hipótese da independência entre ciência e teologia é muito ingênua para ser convincente. “Como?” e “Por quê?” são questões que podem ser levantadas simultaneamente e, muitas vezes, ambas devem ser consideradas se quisermos obter uma compreensão adequada da realidade. Um bule ferve tanto porque o gás em chamas aquece a água quanto porque alguém quer preparar um chá. As duas questões são, sem dúvida, logicamente distintas, e não há uma conexão inevitável ligando as duas respostas, embora deva existir um grau de consistência entre elas. Colocar o bule no refrigerador com a intenção de fazer chá não faz muito sentido.

A teologia precisa ouvir a explicação científica da história do universo e determinar sua relação com a crença religiosa de que o mundo é a criação de Deus. Se há um desajuste total, alguma forma de revisão pode ser necessária. Fundamentalistas religiosos creem que tal revisão sempre teria de ser do lado da ciência, enquanto fundamentalistas cientificistas creem que a religião é simplesmente irrelevante para a compreensão do cosmo. Essas posições extremas correspondem à imagem de um conflito entre a ciência e a religião, tendo cada lado a missão de obter a vitória total no debate: uma visão seriamente distorcida que falha em reconhecer a complementaridade entre as duas formas de busca da verdade. Uma visão mais equilibrada seria a de que ambas as explicações merecem ser escrupulosamente abordadas em seu relacionamento mútuo, o que nos dá uma agenda criativa para o debate entre ciência e religião.

Tanto a ciência quanto a teologia têm sido rotuladas pelo pós-modernismo como metanarrativas lendárias, construídas e endossadas socialmente. Em resposta, ambas apelam às motivações experienciais de suas crenças e reivindicam o que foi denominado realismo crítico como a melhor descrição de suas realizações: embora não alcancem conhecimento exaustivo -- pois a exploração da natureza revela continuamente fatos novos e inesperados, e a realidade infinita de Deus sempre excederá a compreensão de seres humanos finitos -- ambas creem ser capazes de obter verossimilhança, ou seja, descrições de aspectos da realidade que são adequadas para alguns, embora nem todos os fins. Com suas reivindicações crítico-realistas, a ciência e a teologia exibem um grau de parentesco, e este fato por si só seria suficiente para encorajar o diálogo entre elas.
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