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O estadista do reino de Deus

Para homenagear a memória e a vida do Rev. John Stott, falecido ontem em Londres, Inglaterra, aos 90 anos, republicamos aqui o artigo do bispo anglicano Robinson Cavalcanti, escrito para a revista Ultimato nº 270 por ocasião do aniversário de 80 anos de Stott.


John Stott – estadista do reino de Deus

O mundo cristão comemorou, com grande alegria, no dia 27 de abril deste ano, os 80 anos do nascimento de um dos mais importantes teólogos do último século, o Rev. John Stott, ministro anglicano e autor de, entre outros, Cristianismo Básico, um clássico traduzido para 50 línguas, com mais de 2 milhões e meio de cópias vendidas. Há dez anos, estive presente ao seu 70º aniversário, em Oxford.

Stott nasceu em 1921 no seio de uma família de classe média alta de Londres. Seu pai, um humanista, era um renomado cardiologista. Sua mãe, uma cristã tradicional, ensinou ao pequeno John e a suas três irmãs a lerem a Bíblia, a orarem e a freqüentarem a igreja. Sua conversão se deu na adolescência, quando aluno da prestigiosa Escola Secundária Rugby, pelo ministério de um professor que organizava grupos de estudo bíblico e acampamentos de férias, visando ganhar para Cristo os filhos da elite inglesa.

Formou-se em letras (línguas modernas — francês e alemão) pela Universidade de Cambridge, onde se tornou um ativo líder do grupo local da Aliança Bíblica Universitária (IUF, sigla em inglês), sendo laureado. Obteve o seu título em teologia pelo Ridley Hall. Em 1945, foi ordenado ministro da Igreja da Inglaterra e designado coadjutor (pastor auxiliar) da Paróquia de All Souls, Langham Place, no centro de Londres. Em 1950, foi eleito reitor (pastor titular) da mesma paróquia, assim permanecendo por 25 anos. Em 1975, aposentou-se e recebeu o título de reitor emérito, e membro voluntário da equipe pastoral. Desde 1959, tinha sido designado para ser um dos capelães de S.M. a rainha Elizabeth II.

Durante todos esses anos viajou intensamente, a convite de várias denominações, falando, principalmente, em cruzadas estudantis e cursos de liderança promovidos por movimentos ligados à Fraternidade Internacional de Estudantes Evangélicos (IFES).

Ganhou notoriedade mundial ao ser um dos oradores do Congresso Internacional de Evangelismo (Berlim, 1966), auspiciado pela revista Christianity Today. Em 1974, apresentou, no Congresso para a Evangelização Mundial (Lausanne), a notável palestra Bases bíblicas para o evangelismo, e foi o principal redator do Pacto de Lausanne, o mais importante documento confessional do século 20. No fecundo período de 1974 a 1983, participou dos congressos e seminários patrocinados pela Comissão de Lausanne (LCWE) e pela Aliança Evangélica Mundial (WEF), que resultaram em relevantes textos, tendo sido o moderador do encontro sobre Evangelho e Cultura (Bermudas).

Na década de 70, travou uma polêmica com o líder congregacional Martim Lloyd-Jones, defendendo a permanência dos evangelicais nas igrejas históricas, em vez de deixá-las, optando por igrejas livres. Participou ativamente do Conselho Evangélico Inglês (interdenominacional) e da Associação dos Evangélicos na Igreja da Inglaterra. Fundou e dirigiu, por muitos anos, a Fraternidade dos Evangélicos na Comunhão Anglicana (EFAC).

Por sua estatura e sabedoria, os evangelicais tornaram-se a principal corrente do anglicanismo.

Evangélico e ortodoxo, Stott sempre defendeu com veemência a presença e a participação dos evangelicais no movimento ecumênico, pois este fora iniciado em meados do século 19 por evangelicais, em obediência à Oração Sacerdotal de Jesus e visando o melhor cumprimento da Grande Comissão.

Aposentado, criou o Instituto por um Cristianismo Contemporâneo (Londres), centro de educação continuada, com uma diversidade de cursos e seminários, visando relacionar a fé cristã com a realidade. Fundou também o Langham Trust, para o patrocínio de publicações e bolsas de estudo, que administra os direitos autorais dos seus 35 livros, como A Cruz de Cristo, O Silêncio Culposo, Tópicos que Desafiam os Cristãos Hoje, Ouça o Espírito, Ouça o Mundo e tantos outros, lidos pela liderança de praticamente todas as denominações.

Seus sermões expositivos e comentários de livros da Bíblia foram importantes contribuições. Sempre enfatizou a autoridade das Sagradas Escrituras, a expiação na cruz e a santidade de vida com compromisso social.

São deles as palavras: “Eu não poderia crer em Deus se não fosse pela cruz”. E ainda: “Nosso ser (self) é uma mistura complexa de bem e de mal, de glória e de vergonha. O ser que devemos negar, destronar e crucificar é o nosso ser caído; o ser que devemos afirmar e valorizar é o ser criado, tudo o que em nós é compatível com Jesus — lembrando o seu ensino de que quando perdemos a nós mesmos (auto-negação) é que nos encontramos.”

Na velhice, tem lamentado o divisionismo evangélico: “a despeito da influência dos evangélicos, pela graça de Deus, não temos sido capazes de uma influência maior, que seria possível caso fôssemos unidos”.

Um cavalheiro de educação refinada, tímido, mente brilhante, celibatário, tendo como hobby a contemplação de pássaros. Sabe prender a atenção do seu auditório e sabe fazer e manter amizades. Ninguém, no século 20, fez mais para dar articulação, visibilidade, relevância e unidade ao evangelicalismo, tanto no conjunto do cristianismo, quanto no interior da Comunhão Anglicana. Um verdadeiro estadista do reino de Deus, cujas propostas de missão integral, evangelicalismo lúcido e anglicanismo com ênfase reformada constituem-se em alternativas das mais válidas diante do confuso e imaturo quadro religioso do nosso país.

Stott veio ao Brasil duas vezes: em 1980, para o Congresso Nacional da Aliança Bíblica Universitária, no Recife, e em 1989, para o Congresso Vinde para Pastores e Líderes. Nesta última, confessou-se incomodado com a deselegância de alguns dos nossos fundamentalistas que insistiam em questionar as suas simpatias para com a escatologia aniquilacionista (“segunda morte” — destruição de Satanás, dos anjos caídos e dos perdidos).

Conheci John Stott em dezembro de 1967 na Conferência Missionária de Urbana (ABU dos Estados Unidos), expondo a Segunda Carta a Timóteo, e na Assembléia Mundial da IFES (Mittersill, Áustria, 1975), expondo a Carta aos Efésios. Pude trabalhar com ele (1974-1983) na Comissão de Lausanne e na Comissão Teológica da Aliança Evangélica Mundial e, até 1991, na Comissão Executiva da Fraternidade dos Evangélicos na Comunhão Anglicana (da qual sou hoje vice-presidente) e em inúmeros congressos e seminários ao longo de 33 anos. Tenho-o como líder e amigo, recebendo-o em minha casa e sendo recebido na sua. Eu não seria hoje um bispo anglicano não fosse a sua influência (ao lado da vida e obra de Dietrich Bonhoeffer e Martin Luther King Jr.), embora uma vez tivesse me aconselhado a permanecer como leigo (“nossos gurus cristãos não são infalíveis...”, ironizou o bispo David Evans).

Como todo bom discípulo, também tive minhas sinceras e respeitosas divergências com o mestre. Afinal, somos de diferentes gerações (1921 versus 1944), formação acadêmica (letras versus ciências sociais) e culturas (Londres versus interior do Nordeste brasileiro); ele, celibatário e eu, jamais...

Feliz aniversário e longa vida, Rev. John Stott!

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