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Opinião

Da academia à teologia, a mulher vive entre o preconceito e a desvalorização

Por Gabriele Greggersen

Devo ter sido uma das mulheres mais jovens a conseguirem um doutorado na USP, no final dos anos 90. Isso na área de humanas, mais precisamente, educação, que sempre foi dominada por mulheres. Mas, um artigo recente [1] apontou que, embora as mulheres sejam maioria nos cursos de graduação, elas vão se tornando cada vez mais raras, em geral, à medida que vão galgando a carreira acadêmica. O artigo também mostrou que uma enquete da Folha de S. Paulo, feita em 2016, sobre o posicionamento dos intelectuais sobre a gestão Dilma Rousseff, constatou que havia apenas três mulheres entre os trinta entrevistados.

O texto mencionou ainda que:
As mulheres são, atualmente, 60% dos estudantes universitários brasileiros; entre os mestres, são 53%; entre os doutores, caem para 47%. Na hora de avançar na carreira, no entanto, vai se acentuando de forma assustadora a tendência já visível nos dados anteriores: somos apenas 23% entre os pesquisadores 1A do CNPq, e muito menos do que isso entre os professores titulares.

Quando se trata de incentivos à pesquisa pelos órgãos de fomento, novamente os homens são os recordistas e as áreas por eles dominadas são as privilegiadas. Também são raras as mulheres que ajudam a decidir a concessão de verbas no CNPq e na Capes. A articulista do texto cita vários possíveis motivos para tal, desde o autoconceito baixo, até a queda de desempenho das mulheres ao longo dos anos de sua carreira, mas nenhum tão convincente quanto o mais puro preconceito. Para isso, as mulheres representam 84% dos profissionais da educação básica e de outras profissões que aparentemente exigem menos qualificação. O que acontece, na verdade, muito antes é que as profissões dominadas por mulheres é que são consideradas desqualificadas. Mas ninguém fala sobre isso nas universidades. Há um completo silêncio sobre o assunto.

Já o artigo de Jacqueline Leta [2] diz que o percentual de mulheres nos cursos de graduação e pós no Brasil tem aumentado, desde a metade do século XX, e que hoje a proporção de mulheres doutoras supera a dos homens.

Mas há ainda uma segregação territorial e hierárquica, sendo que as mulheres se concentram em determinadas áreas e são menos reconhecidas do que os homens, tanto em termos de prestígio, quanto salarial.

Apesar de esse artigo ser mais positivo e otimista em relação ao percentual das mulheres que se destacam no meio acadêmico, os homens continuam a ser privilegiados em termos de produtividade e reconhecimento de desempenho acadêmico.

Finalmente, o artigo de Pablo Nogueira [3] faz referência à primeira doutora e professora da Sorbonne, Marie Curie, que se destacou na área de Física. Mas ele diz que, hoje, embora a estatística geral da presença das mulheres no banco de pesquisadores do CNPq se equipare à dos homens, esse fenômeno é muito setorial. Enquanto elas são a maioria nas letras, linguística e áreas da saúde, são minoria nas áreas das ciências “duras”, como a matemática e as engenharias.

A presença de estereótipos com relação ao papel da mulher na família e na sociedade faz com que elas procurem mais as ciências ligadas à educação, aos alimentos, ao cuidado de saúde, como enfermagem, entre outros. Consequentemente, essas áreas também são menos valorizadas.

E, pasmem, há discussões amplas até sobre a pretensa superioridade cognitiva e biológica do cérebro masculino, baseadas em resultados de testes de matemática entre homens e mulheres, mas, além de a proporção de mulheres que se dão bem nesses testes ter aumentado vertiginosamente nos últimos anos, não poucos trabalhos científicos questionam essas pesquisas de base evolutiva.

Também se constatou uma relação da desvalorização da mulher com sua procedência social. As mulheres em geral procuram os cursos menos valorizados, ou são menos valorizadas por procurarem esses cursos – o que veio antes, o ovo ou a galinha?

Finalmente, a relação entre pesquisa, docência e orientação tem sido desigual. Enquanto os homens se dedicam mais à pesquisa, que é mais valorizada pelos órgãos de fomento à pesquisa e nos concursos públicos, as mulheres se dedicam mais à docência e orientação de trabalhos acadêmicos.

Elas também encontram mais obstáculos para subirem na carreira acadêmica.

Mas nos últimos anos, têm surgido políticas diversas para o incentivo da presença das mulheres no meio acadêmico, principalmente voltadas para o apoio à família dessas mulheres, como extensão do prazo da bolsa para gestantes e concessão de auxílios à família para bolsistas.

Eu poderia, agora, falar das muitas outras mulheres que se destacaram na ciência ao longo dos anos, o que justificaria mais um artigo, mas prefiro falar delas no campo da teologia.

Para termos uma ideia do quanto ainda estamos na face oculta da lua no campo da teologia basta olhar para o corpo docente das grandes faculdades de teologia, para o conselho editorial das revistas teológicas, ou quem é convidado para ser palestrante nos grandes eventos teológicos. E isso, não apenas por causa da não ordenação de mulheres por algumas denominações, mas também devido ao estereótipo de que a teologia seja coisa de homem. Posso afirmar, por experiência, que isso é um mito, ou melhor, um preconceito, e que a teologia brasileira cresceria muito se desse mais espaço às mulheres. Que tal nos mobilizarmos nesse sentido?

Notas:
[1] Mulheres nas universidades: por que precisamos aprender a contar? [Rosane Pinheiro Machado]
[2] A presença da mulher brasileira no mundo acadêmico e científico [Jacqueline Leta]
[3] Mulheres cientistas ainda sofrem com estereótipos no meio acadêmico [Pablo Nogueira]

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É mestre e doutora em educação (USP) e doutora em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
  • Textos publicados: 68 [ver]

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