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Opinião

Cristãos: verdadeiros revolucionários?

Por Ricardo Wesley

“Corrupção, revolução! Corrupção, revolução!”

“Corrupção, revolução! Corrupção, revolução!”. As palavras de ordem entoadas com força por milhares de estudantes na Maidan, a praça da independência, em Kiev, na Ucrânia, instantaneamente me emocionaram. Possivelmente você encontre cenas mais fortes ou outras mais inspiradoras no excelente documentário “Winter on Fire – Ukraine’s Fight for Freedom”, de 2015, que nos apresenta de maneira eletrizante os 93 dias de protesto, ocupação e resistência, que levaram um presidente indesejado à sua fuga para o exílio na Rússia de Putin.

Os olhos vidrados no documentário, possivelmente, também se deram por ver que muitos dos nossos países da América Latina passam por convulsões políticas e sociais. A desigualdade, a pobreza, a violência, o abuso dos direitos, em especial dos mais vulneráveis, a corrupção que tira os recursos dos menos favorecidos, os sistemas políticos, sociais e econômicos que marginalizam e oprimem, que parecem, pela sua repetição e magnitude, roubar a vida e a esperança de muita gente. Inclusive daqueles que não poderiam perdê-la, por causa de Cristo, pelo Reino, pela consciência da presença de Cristo e de seu Reino no mundo e na história.

Quem deveriam ser os verdadeiros revolucionários?

Nessas épocas conturbadas venho encontrando algum alento na leitura de um livro já bem antigo, de 1948. Seu autor foi um filósofo francês, sociólogo, professor universitário, teólogo, pastor leigo, escritor prolífico e provocador: Jacques Ellul. A pequena obra primeiro me chamou atenção pelo seu título em inglês, “A presença do Reino”, talvez pelo meu desejo de meditar em como esse Reino de Deus se faz presente em nosso meio. Minha surpresa posterior foi descobrir o título da tradução em português: “Cristianismo Revolucionário”1.

Ellul ali afirma que os cristãos são “uma inesgotável força revolucionária no mundo”. Claro, para ele as coisas não são fáceis nem simples, uma vez que “nós pertencemos a duas cidades” (uma clara referência a Santo Agostinho), o mundo e a cidadania celestial. Em meio a essas duas cidadanias, Ellul reconhece que nós vivemos à luz da certeza do retorno de Cristo para completar seus propósitos. Assim, não pertencemos de maneira plena a este mundo. Como nós temos outro Senhor e pertencemos a outra ordem, isso significa que aqueles que vivem pelo poder de Cristo aqui são então “verdadeiros revolucionários” que “fazem mais real a vinda do Reino” no cotidiano de nossas vidas.

Uma luta e resistência radical, mas não violenta

Quanto à pergunta sobre como isso se daria, Ellul diz que o caminho não seria imaginar de maneira ingênua trazer o Reino ou estabelecer o paraíso aqui, mas sim trabalhando para tornar o mundo, em suas palavras, mais “tolerável”, reduzindo a oposição entre a desordem do mundo e o propósito de Deus para o mesmo. Acima de tudo, de acordo com Ellul, o fazemos ao proclamar as boas novas da salvação. Dessa maneira, o autor nos chama a um “estilo de vida” distinto, ao estar no mundo em nome de Cristo como sal, luz e como cordeiros no meio de lobos. Esta última talvez uma referência à sua preferência de que a nossa luta e resistência não sejam violentas, ao mesmo tempo em que é radical na exortação para a fidelidade como profetas e agentes de mudança no meio da realidade que nos toca viver.

O que me leva a outro episódio que vivi há muitos anos, sobre transformações e revoluções. Era o ano de 1999, quando éramos parte da delegação da ABU na Assembleia Mundial da IFES2, na Coréia do Sul. O ocorrido se deu no momento da discussão do plano quadrienal para o ministério. Em um determinado momento a nossa delegação brasileira sugeriu um parágrafo para a seção acerca do que esperávamos do trabalho entre profissionais. Sugerimos algo que apontava para nossa esperança de que os profissionais cristãos formados pelos movimentos estudantis erguessem voz e ações proféticas para a transformação de nossas sociedades. Talvez pareça algo simples ou ingênuo hoje, mas a proposta gerou polêmica. Não sei se pela expressão “profética”, ou “transformação”, ou por alguma leitura política não desejada. Lembro-me de alguém perguntar se éramos da teologia da libertação (uma suposição que muitos amigos meus achariam no mínimo engraçada) ou se pretendíamos uma “revolução”. Sobre essa última recordo quase haver devolvido: “qual o problema com a palavra ou o conceito de revolução?”. Mas eu era demasiado pacífico para querer provocar distúrbios indevidos na unidade do corpo.

Confesso que não me recordo bem o desfecho. Mas, sim, gravei bem uma lição: não queria ser rápido ao julgar, tampouco ao ser julgado pelo outro, através de estereótipos ou caracterizações simplistas, acerca de nossa influência na sociedade (ou sobre qualquer outro tema). Também fui aprendendo a importância de caminhar juntos, em construção de consensos, porque se não houver unidade em uma esperança comum, focando naquilo que é essencial, em uma agenda mínima da comunidade em missão, poderíamos abandonar qualquer expectativa de fazer diferença em nosso entorno.

Em tempo, um documento estratégico da IFES, que foi aprovado em 2007 e que norteia essa missão estudantil ao redor do mundo nos últimos anos, trouxe essa formulação da visão: “Estudantes que formam comunidades de discípulos, transformados pelo evangelho e que impactem a Universidade, a Igreja e a sociedade para a glória de Cristo”. Curioso observar que em 1999 estaríamos bem contentes com essa síntese que aponta para a esperança de um impacto transformador.

Esperança e revolução

Seria possível esperar com esperança que a corrupção que oprime abra espaço à revolução que liberta? Talvez ainda haja muito que aprender com a população ucraniana que resistiu nas ruas de sua capital. Ou que ainda resiste, já que esses processos são lentos e complexos. Com o presidente deposto, o que se seguiu foi um conflito violento e ainda não resolvido com os rebeldes apoiados pela Rússia. Volto então à provocação de Ellul sobre o papel de cristãos revolucionários no mundo ao proclamar essas boas novas da salvação em Cristo. Sobre esse novo estilo de vida, essa esperança comunitária, firmada na Palavra, que provoca transformação, não só no âmbito pessoal, mas com um foco de influência e transformação, na universidade, na igreja, na sociedade, em qualquer esfera onde vivemos e nos movemos, não para trazer nossa própria agenda ou projeto, com o perigo de confundi-las com o Reino, mas para que em nossa fidelidade e perseverança essas expressões e sinalizações do Reino possam trazer glória a Cristo. Nesse sentido sim aspiro ser um melhor e digno agente revolucionário.

Notas:
1. Curiosamente essa obra tem um título diferente em sua edição original em francês, “Présence au monde moderne” (“Presença no mundo moderno”).
2. IFES (International Fellowship of Evangelical Students) ou CIEE (Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos), a associação de mais de 160 movimentos cristãos estudantis ao redor do mundo, a qual a Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB) é filiada.

Imagem ilustrativa: Freeimages.com.
É casado com Ruth e pai de Ana Júlia e Carolina. Integra o corpo pastoral da Igreja Metodista Livre da Saúde, em São Paulo (SP), serve globalmente como secretário adjunto para o engajamento com as Escrituras na IFES (International Fellowship of Evangelical Students) e também apoia a equipe da IFES América Latina.
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