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Opinião

Como seria a educação na perspectiva dos reformadores?

Por Gabriele Greggersen

Quando se fala em educação cristã nos dias de hoje, pensa-se logo em escola dominical e de catecúmenos ou no catecismo, ou, no máximo, em ensino religioso nas escolas, mas isso já é considerado secular demais. Ou então, quando se lê um pouco mais sobre o assunto, percebe-se que a matéria tem a ver com temas morais e de conduta cristã, mas que muitas vezes, na literatura, são tratadas de forma moralista.

Já quando o assunto é a Reforma, logo se faz associações aos fundamentalistas religiosos e os calvinistas radicais de várias vertentes. Então, as pontes entre educação cristã e a Reforma se reduzem, nessas duas concepções equivocas, ao moralismo.

Mas não havia nada mais longe dos reformistas do que o fundamentalismo e não havia educação cristã como a entendemos hoje. Isso se aplica apenas a alguns dos seus pretensos seguidores e epígonos, que pularam certas partes na leitura desses homens, se é que os leram.

Na verdade, os reformadores eram um grupo de intelectuais que se colocava à frente de seu tempo, defendendo o diálogo, a transformação social e religiosa, e a abertura das fronteiras da igreja para a sociedade, que estavam muito fechadas, hierarquizadas e engessadas no romanismo da época.

Educação integral e holística


Sem entrar no mérito de cada um deles (Calvino, Lutero, Zwinglio, Melanchton entre outros), que demandaria mais espaço para tratar, podemos achar alguns pontos em comum entre eles e um deles era, sem dúvida, a valorização da educação. Nenhum deles, exceto Comênio e Melancthon, tinha um tratado sobre educação ou poderia ser considerado um pensador da educação. Mas todos eles a viveram como um “óbvio não dito” e todos eram unânimes em defender as Artes Liberais, que eram o Trivium e Quadrivium. Ou seja, defendiam o ensino da geometria, da aritmética, da gramática e da astronomia juntamente com as ferramentas da educação, que são a lógica, a dialética (filosofia), a retórica e a teologia nas escolas públicas.

Ou seja, a proposta educacional era uma educação secular que também englobava a teologia. Isso porque eles estavam convencidos de que as duas coisas deveriam andar juntas. Eles não defendiam a criação de escolas confessionais fundamentalistas, que praticam o proselitismo e o isolamento do mundo, como se fossem ilhas em meio ao oceano do mundo, numa atitude segregacional, como vemos crescer hoje no Brasil. Isso é criação bem posterior a eles. Eles pensavam a educação de forma integral e holística.

Se pensamos em educação, a pergunta central que temos que fazer é: que pessoa, que ser humano é esse que queremos formar? E não podemos pensar o ser humano dividido em partes ou fragmentado, muito menos numa contradição eterna entre sagrado e profano. Os pensadores do protestantismo acreditavam na colaboração entre eles, ou seja, na eterna conexão entre essas esferas da realidade social em prol de um mundo melhor. Os dois âmbitos não existem de forma estanque, ou mutuamente excludente, contraditória, mas fazem parte de um todo. Ambas as partes, representadas pela igreja e o Estado, têm que ser ouvidas e dar a sua contribuição para a formação dos cidadãos, que sempre está em transformação.

A rigor, não existe educação cristã e não cristã. Existe simplesmente educação em diversos graus e níveis. Para os reformadores a educação era tratada como excelência: excelência moral, religiosa, profissional, nas artes e nas ciências. E era para todos, sem exceção: ricos, pobres, alfabetizados, não alfabetizados, piedosos e pagãos. Essa era a grande novidade (sendo que os outros aspectos ainda concordam com os pais da igreja que são comuns a todos os cristãos). Diferente do conceito romano de que a boa educação era para as elites e a padrão, para os outros.

Afinal, o que é educação?

Então, educação não é nem evangelismo, nem crescimento espiritual, embora ela o envolva no caso dos cristãos, mas Bildung (que, no alemão vem de Bild, figura, imagem), ou seja, formação no sentido da cultura e dos valores/direitos que são comuns a toda humanidade, ricos e pobres. Se quisermos considerar a concepção protestante de ser humano, a educação pode ser confundida com o amadurecimento espiritual. Pois, segundo essa concepção, somos imagem e semelhança de Deus, então, educar é formar a imagem de Deus em cada ser humano, criado por Deus.

Mas isso não significa tornar as pessoas deuses, mas torná-las cada vez mais como Deus as pensou originalmente, naquilo que ele queria que elas fossem e não são, por suas limitações naturais e pela Queda.

O trabalho do mal é de destruir essa imagem de Deus no homem, então, a tarefa da educação é negativa: de desfazer a obra do mal na vida da pessoa. Mas não de forma moralista, ou maniqueísta, como se o bem lutasse contra o mal com iguais forças, mas como o dono verdadeiro do nosso ser reconquista algo usurpado por um poder inferior, ilegítimo e já derrotado pela obra expiatória de Cristo.

Não se trata, portanto, de combater o pecado como uma força separada e todo-poderosa, mas de afirmar a vitória de Cristo sobre ele. Isso muda toda a perspectiva da educação cristã de uma visão moralista e maniqueísta, para uma perspectiva reformada, no sentido da metanóia, da transformação da pessoa nela mesma. Como já dizia Platão, e Agostinho, Tomás de Aquino e os reformadores concordariam e se encarregaram de lembrar o mundo católico, o segredo da formação do ser ou da educação é: “Conhece-te a ti mesmo”, ou na versão de Píndaro: “Torna-te no que tu és”.

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Imagem: Photo by Jessica Ruscello on Unsplash.
É mestre e doutora em educação (USP) e doutora em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
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