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Opinião

Ação de graças – uma reflexão a partir da Bíblia

Por Vilson Scholz

A Bíblia tem muito a dizer sobre gratidão e ação de graças. Como não será possível analisar todos os textos, cabe apresentar uma série de afirmações de caráter mais genérico, muitas das quais se baseiam em textos bíblicos ou remetem a textos, com ênfase no ensino do Novo Testamento.

1. Gratidão parece ser um bem cada vez mais raro. O “muito obrigado” e o “de nada” tendem a ser tão raros quanto outras “palavras mágicas”, como “com licença!”, “por favor!”, “desculpe!”, “lamento muito!” Os ingratos aparecem, na Bíblia. Raramente, mas aparecem. Deus é bondoso até para os ingratos, diz Jesus em Lc 6.35. Os ingratos, embora tenham existido em todas as épocas, são aqueles que ajudam a marcar os “tempos do fim” (2Tm 3.2).

2. Paulo, ao descrever a injustiça dos seres humanos no primeiro capítulo de Romanos, reconhece que as pessoas, mesmo tendo conhecimento de Deus, “não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças” (Rm 1.21). Extremamente atual. Apesar do crescente ateísmo, Deus é uma palavra que está nos lábios de muita gente. Dar graças a Deus é, como dizemos, “outro departamento”. A isto cabe acrescentar que ação de graças e oração de louvor não fazem sentido num mundo em que Deus não é reconhecido como presente e atuante, e numa realidade em que não se confia em Deus.

3. A canção inglesa “Words don’t come easy” deixa claro que algumas frases, como “eu te amo”, são difíceis de enunciar. “Eu agradeço!” está na mesma lista. Parece que a linguagem grosseira ou banal sempre brota com mais facilidade. No entanto, o texto de Ef 5.4 sugere que dizer “palavras de ação de graças” é poderoso antídoto contra o uso de linguagem grosseira, tola, indecente.

4. Ser grato é o oposto de ser egocêntrico. Quem não sabe agradecer não enxerga nenhum “outro”, quer seja outra pessoa quer seja Deus. Agradecer é ao mesmo tempo uma confissão. No mínimo, a confissão de que não somos autônomos nem autossuficientes. Seria o cúmulo de egoísmo alguém dizer: “Eu me agradeço”.

5. Normalmente, na Bíblia, a gratidão se dirige a Deus. No início de várias de suas cartas, Paulo elogia a fé que caracteriza a igreja (Rm 1.8; 1Co 1.4; Fp 1.3-5; Cl 1.3-5; 1Ts 1.2-3; 2Ts 1.3-4; Fm 4-5). No entanto, a sua gratidão se dirige a Deus. Examinando o uso do verbo “dar graças” (em grego, eucharistéo), encontra-se uma passagem diferente: Romanos 16.4. Ali, Paulo afirma que ele, juntamente com todas as igrejas dos gentios, agradece a Priscila e Áquila por terem se arriscado por ele. Este é sinal de que podemos, sim, ser gratos aos irmãos também. Nesta mesma linha, em Filipenses 4, Paulo expressa sua alegria pessoal pela ajuda recebida dos filipenses (Fp 4.10). No entanto, Paulo conclui esse “bilhete de agradecimento” com louvor a Deus (Fp 4.20).

6. A rigor, a gratidão chega a Deus por meio de Jesus Cristo. Sempre e apenas assim. A carta aos Romanos como que simboliza isto, na medida em que se inicia com uma ação de graças a Deus “por meio de Jesus Cristo” (Rm 1.8) e termina com uma glorificação do Deus único e sábio “por meio de Jesus Cristo” (Rm 16.27).

7. Um exame um pouco mais atento revelará que, na Bíblia, não existe diferença maior entre ser grato a Deus e louvar a Deus. A gratidão se expressa em louvor. Por isso, louvor é um tema que casa bem com “ação de graças”. Louvor se faz “com harpa e voz de canto, com trombetas e ao som de buzinas!” (Sl 98.1). No entanto, o louvor não se mede necessariamente pelo nível de decibéis. Som oco, vazio, não é louvor. Sacrifício de louvor, segundo Hb 13.15, “é o fruto de lábios que confessam o seu nome”, o nome de Deus. Se for com música, tanto melhor. Mas não é absolutamente necessário. Pode ser um simples gesto silencioso.

8. Deus “é grande e digno de ser louvado” (Sl 96.4). Deus é louvado pelos seus atributos. No entanto, muito mais frequente é a enumeração de seus feitos. O Salmo 96, por exemplo, menciona salvação (v. 2), criação (v. 5), reinado (v. 10), julgamento (v. 13). O belo, mas pouco conhecido, texto de Judas 24-25 é semelhante, na medida em que exalta aquele que é o único Deus. Entretanto, o que mais recebe destaque são os atos de Deus, que “é poderoso para evitar que vocês tropecem e que pode apresentá-los irrepreensíveis diante da sua glória, com grande alegria” (v. 24).

9. Será difícil encontrar um personagem bíblico que agradeça a Deus pelo dom, sem louvar o Doador. Maria confessa que o espírito dela se alegra em Deus, o Salvador (Lc 1.47). Fala de si, brevemente (Lc 1.48-49), passando logo a exaltar a reviravolta salvadora que Deus promove no mundo (vs. 51-53). O dom deveria sempre remeter ao Doador.

10. A ação de graças anda de mãos dadas com a súplica, como acentua muito bem o texto de Fp 4.6. O texto de Cl 4.2 confirma isso: “Continuem a orar, vigiando em oração com ação de graças”. Martinho Lutero, ao explicar o pedido “o pão nosso de cada dia nos dá hoje”, acentua esse aspecto de gratidão embutido na prece, ao dizer: “Deus, na verdade, também dá o pão de cada dia sem a nossa prece. Suplicamos, porém, nesta petição que nos faça reconhecê-lo e receber com agradecimento o pão nosso de cada dia”. Isto significa que, em cada súplica, está embutida também uma ação de graças.

11. Um dos cânticos de louvor e ação de graças mais marcantes de toda a Bíblia é o Salmo 22. Começa com o conhecido grito de angústia: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (v. 1). O salmista/Messias é afrontado e zombado (vs. 6-7), tem as mãos e os pés traspassados (v. 16), acaba no pó da morte (v. 15). Mas a isso se segue um pedido de socorro (vs. 19-21). E o Senhor ouviu o grito de socorro (v.24). Esta resposta desencadeou uma onda de louvor impressionante, que continua até hoje. Em primeiro lugar, o próprio salmista/Messias louva (v. 22) e conclama aqueles que temem o Senhor a que também louvem (v. 23). Depois, esse louvor passa aos confins da terra (v. 27) e virá também da posteridade (v. 30), que somos nós. O texto de Fp 2.8-11 soa como comentário resumido do Salmo 22.

12. Um padrão semelhante aparece em 2Coríntios 1.3-12. Também ali a ação de graças brota onde menos se poderia esperar. Os sofrimentos de Cristo transbordaram sobre Paulo, apóstolo de Cristo (v.5). Ele passou por uma tribulação que o levou a perder a esperança da própria vida (v.8). No entanto, ele louva e enaltece a Deus, dizendo: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação!” (2Co 1.3). Paulo pede que orem a favor dele (v.11) e antecipa como essa história irá terminar: Por muitos, serão “dadas graças a Deus a nosso respeito, pelo benefício que nos foi concedido por meio da súplica de muitos” (v.11). O ato final é a gratidão a Deus.

À luz disso, cabe lembrar: “Sejam agradecidos!” (Cl 3.15) “E tudo o que fizerem, seja em palavra, seja em ação, façam em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai”. (Cl 3.17) “Em tudo, deem graças, porque esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus”. (1Ts 5.18)

Nota: As citações bíblicas são tiradas da Nova Almeida Atualizada.

• Vilson Scholz é pastor e professor de Teologia Exegética, tem mestrado e doutorado na área do Novo Testamento. Consultor de Tradução da Sociedade Bíblica do Brasil, Scholz é professor da Universidade Luterana do Brasil, em Canoas (RS), tradutor do Novo Testamento Interlinear Grego-Português (SBB) e autor de Princípios de Interpretação Bíblica (Editora da Ulbra).
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