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Opinião

A República que ainda não foi

Uma grande expectativa foi criada em torno da Proclamação a República no dia 15 de novembro de 1889. O novo regime imposto por meio de um golpe político prometia fazer do Brasil uma nação de cidadãos. O exército, a maçonaria, o Partido Republicano, o positivismo e segmentos políticos dirigentes foram alguns dos agentes e forças que deflagraram a mudança do regime numa combalida monarquia.

Até então muito popular, a monarquia tropeçava em si mesma com a idade e a enfermidade do imperador D. Pedro II, além das dúvidas quanto à sucessão do trono. A sua base política ancorada nos latifundiários do nordeste e na Igreja Católica pelo padroado enfrentava aguda crise expressa na questão religiosa e na instabilidade dos gabinetes. O escravismo se tornava cada vez mais inconciliável às demandas econômicas e sociais em curso. A única monarquia escravista do continente americano caminhava para o seu fim depois de quase sete décadas.

Se “o povo assistiu bestializado” a marcha do marechal Deodoro da Fonseca em direção ao paço imperial isto não significou a sua passividade. A frase do jornalista Aristides Lobo projetou a ideia da ignorância e da aceitação sem resistências do jogo que as forças políticas e econômicas estabeleciam naquele momento. No entanto, o que parecia ser uma mera parada militar seria um acontecimento que liberaria tensões e conflitos nos anos seguintes. Na verdade, este povo tinha outras percepções do jogo a partir do lugar de excluídos políticos a que estavam sujeitos.

A cidadania da letra não se transformara em mais igualdade, distribuição de renda e participação universal nos processos de decisão política. A exclusão como herança colonial e imperial permaneceu como a lógica na mentalidade das elites, até os nossos dias. A massa dos libertos em 1888 experimentou mais outro processo da diáspora africana concentrando-se nas periferias e nos morros das favelas em formação, abandonados à própria sorte nos novos quilombos urbanos.

A instabilidade política foi a norma dos primeiros anos do novo regime, temeroso com a volta da monarquia, do jacobinismo dos setores médios e das pressões populares. O estado de sítio imposto pelo marechal Floriano representou o autoritarismo que se impôs pela força e pela violência do estado sobre a população. Deu-se o fracasso econômico do encilhamento e, depois, o maior endividamento do estado, num cenário internacional de declínio do café que culminou na crise de 1929.

Uma sucessão de revoltas e de movimentos sociais expressou as tensões, os conflitos e a não passividade da população diante da frustração da república proclamada: a revolta da armada, os messianismos de Canudos na Bahia e de Contestado em Santa Catarina, a revolta da Vacina no Rio de Janeiro (1904) e as ondas grevistas de 1903 a 1917. Inauguraram-se os tempos do coronelismo, da política do café-com-leite, da marginalização das populações empobrecidas e dos baixos salários da insurgente classe operária das fábricas.

Os poucos protestantes existentes no Brasil em 1889 saudaram a república junto com os maçons e os liberais, pois partilhavam as mesmas aspirações quanto ao estado laico e a crítica anti-clerical ao domínio político e religioso da Igreja Católica. Lideranças pastorais, entidades civis e jornais protestantes anteviram tempos de avanço da pregação evangélica. Miguel Vieira Ferreira, pastor da Igreja Evangélica Brasileira, participou ativamente dos círculos republicanos e positivistas.

Com a república, os protestantes ansiavam por um país mais moderno, liberal, progressista e que tivesse no protestantismo a religião coparticipante deste processo, a exemplo dos países mais prósperos como Inglaterra e Estados Unidos. O catolicismo mostrou-se, segundo pensavam, historicamente incapaz de promover a modernidade, pois agora era a hora e a vez do protestantismo mostrar a que veio.

Este projeto civilizacional seria realizado por meio das suas escolas, da distribuição maciça de Bíblias, da disseminação da mensagem evangélica pelos missionários e colportores, das associações de moços e de moças para formar uma juventude saudável na mente e no corpo, da imprensa, da alfabetização dos convertidos e das denominações com seus templos e seminários. No entanto, os protestantes não fizeram críticas ao modelo político em suas contradições responsáveis pela reprodução das desigualdades sociais.

Por um lado, foram 125 anos de república marcada pelas tentativas de controle e supressão das liberdades e da cidadania plena, a exemplo do golpe civil e militar de 1964. Por outro, foram anos de lutas por conquistas sociais e políticas, justiça social e democracia. Hoje, há protestantes evangélicos que se envolvem na construção de uma sociedade mais justa e não reproduzem os discursos antidemocráticos e de medo das mudanças que transformem as pessoas em cidadãs, ou seja, que, de fato, façam a república ainda acontecer.


Referências:
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
_________________________. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
_________________________. Dom Pedro II. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

Lyndon de Araújo Santos é historiador, professor universitário e pastor da Igreja Evangélica Congregacional em São Luís, MA. Faz parte da Fraternidade Teológica Latino-americana - Setor Brasil (FTL-Br).
  • Textos publicados: 35 [ver]

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